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Fernando: Cair, levantar e prosseguir PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 23 May 2019 23:30

Olá fãs do esporte a motor,

 

Escrevi esta coluna durante o vôo entre San Diego e Indianápolis onde irei, junto com a Maria da Graça, acompanhar in loco mais uma edição das 500 Milhas. Será minha terceira vez e a segunda em parceria com esta baiana maravilhosa que Deus colocou na minha vida.

 

Acredito que, como eu, estamos todos ainda sob o choque da perda do inesquecível Niki Lauda. Falei na noite seguinte ao receber esta doída notícia com o meu pai e pedi para ele guardar com muito carinho o boné que Niki me deu depois de uma ida ao meu consultório em San Diego alguns anos atrás, no auge da disputa entre Lewis e Nico dentro da Mercedes.

 

Está sendo uma semana difícil. Na segunda-feira, meu ultimo paciente do dia era a imagem da decepção. Quando Fernando entrou na sala de espera do meu consultório eu já estava esperando por ele. A expressão no seu rosto era pior do que nos anos em que a McLaren usava “motor de GP2” como ele chamou uma vez o motor Honda. Ele não precisava abrir a boca para dizer nada... seu olhar dizia tudo.

 

 Fernando voltou para Indianápolis depois da grande performance de 2017, mas as coisas eram muito diferentes este ano.

 

Algo que as pessoas não fazem ideia é que Fernando é uma pessoa muito carinhosa. Ele trata as pessoas próximas a ele com muita atenção e gentileza. Depois de um tempo como meu paciente, o formal aperto de mão se tornou um abraço carinhoso, como se fôssemos amigos e não terapeuta e paciente. Ele se sente bem com pessoas que o fazem se sentir bem. Isso ajudou em muitos pontos do nosso trabalho ao longo destes anos.

 

Fernando e a equipe McLaren vieram para os Estados Unidos com um projeto diferente do que foi feito na vinda anterior, em 2017. Ao invés de associar-se a uma equipe bem estabelecida, como a Andretti, eles partiram para um projeto em separado, contando com algum suporte de Michael e seu Staff, mas nada nem perto do que havia sido feito em 2017, quando Fernando chegou com o status de um piloto ativo na Fórmula 1.

 

 Depois do "divórcio litigioso" com a Honda, sem o apoio da Andretti, a McLaren apostou numa parceria com a Carlin em 2019.

 

Algumas coisas certamente pesaram e Fernando compactuou desta linha de raciocínio ao relembrar que em  2017, a McLaren pôde entrar em uma estreita parceria com a equipe da Andretti Autosport. Ao contrário de 2019, esta não foi uma entrada completa da McLaren, mas a equipe britânica foi capaz de apoiar extensivamente a equipe de Michael Andretti e seu conhecimento da corrida e nos resultados consistentes nas últimas edições, inclusive com vitória (2016, com Alexander Rossi).

 

Fernando, polidamente, não apontou culpados, falou em “série de fatores”, em “aprendizado” e “realidades diferentes”, mas o caso é que devido às circunstâncias (o rompimento com a Honda da forma com se deu) a A McLaren acabou se contentando com algo um pouco diferente do que Alonso teve em 2017, e para este ano fez uma parceria com a Carlin, uma “quase novata” apesar de ter algum sucesso nas categorias juniores e na Indy Lights, mas apenas em seu segundo ano no grid da categoria principal.

 

 Tendo passado ileso em 2017, este ano Fernando descobriu como é duro o muro de concreto de Indianápolis.

 

Todos sabiam que a aposta era alta: Zak Brown, Gil de Ferran e o próprio Fernando e isso ficou evidente logo nos primeiros reinos de pista: estava faltando alguma coisa que ele, o piloto excepcional e acima da média, não conseguia compensar. Os preparativos para a corrida estavam longe do ideal. Os dias com chuva atrasaram sua participação no teste de ‘rookies e refreshers’ no início de maio, limitando-o a apenas 29 voltas. Uma diferença enorme em relação aos seus preparativos há dois anos, onde ele teve a chance de testar em particular antes que esses mesmos eventos acontecessem. Não andar em ovais faz falta. O piloto perde as referências, disse Fernando.

 

Durante a semana de abertura da corrida, Alonso bateu forte depois de perder o controle de seu carro enquanto seguia um rival. Aquela foi a “apresentação oficial” de Fernando ao muro de um oval e ele não gostou da sensação e também de ter estado forçando a linha do limite muito além que costumava fazer. A batida custou a ele todo o treino de quinta-feira e colocou a equipe em “modo rush” para preparar, de modo urgente, um carro reserva. Zak Brown admitiu que a equipe McLaren que havia sido especialmente construída para esta Indy 500 não foi tão eficiente quanto poderia ter sido e nas reuniões da equipe isso estava evidente, confessou.

 

 No domingo chuvoso que antecedeu as 500 Milhas, a última chance no "Bump Day" acabou sendo frustrante para Alonso.

 

A classificação para a corrida foi ficando algo dramático e quando Fernando se viu no tal do “bump day”, algo inimaginável dois anos antes, muitas coisas passaram por sua mente, desde a assinatura do contrato com a McLaren para a Fórmula 1 até a forma como ele se relacionou fora da redoma protetora e regime de cumplicidade com Flavio Briatore. Sim, aquela era mais uma parcela da dívida que Fernando estava pagando pelos anos anteriores.

 

Apesar de tudo, Fernando fez o seu melhor e certamente ninguém ou muito poucos ao longo da história fariam tanto quanto ele fez, mas as 0,019 milhas por hora que Kyle Kaiser conseguiu para conquistar a 33ª e última posição no grid, com um carro da também novata na categoria Juncos Racing, sem nenhum patrocínio foi um golpe mais duro do que todo staff da Mclaren poderia esperar. Estar fora desta maneira não passava pela cabeça de Fernando. Ele lembrou que na classificação inicial sua média de quatro voltas foi apenas 0,002mph mais lenta do que Pippa Mann em P30, forçando-o para o tiroteio de seis carros para determinar a última fila do grid.

 

Perguntei a ele se ele estaria em Indianápolis durante o final de semana das 500 Milhas e ele disse que ainda não havia decidido se ficaria nos Estados Unidos ou não. A única coisa que ele deixou claro foi que o desejo de voltar a Indianápolis, correr e vencer as 500 Milhas continuavam vivos e que ele iria buscar meios para fazer deste desejo, deste sonho, uma realidade.

 

 A expressão no rosto de Fernando Alonso dispensava qualquer palavra que pudesse ser dita. 

 

Daqui há três semanas Fernando vai disputar a última corrida da “super season” do campeonato mundial de endurance, as 24 Horas de Le Mans, onde pode conquistar sua segunda vitória. Depois desta corrida, Fernando terá uma agenda sem compromisso, uma vez que – ao menos por enquanto – declarou que não pretende disputar outra temporada completa na categoria, algo que poderia abrir uma possibilidade para sua participação em outras corridas na Fórmula Indy, em circuitos ovais, contudo, Fernando desconversa sobre este assunto, diz que outras coisas precisam ser pensadas e que nada é tão simples.

 

Ele se despediu e disse que, independente de sua continuidade em campeonatos regulares, gostaria de continuar com as sessões comigo, que foi se tornando uma pessoa melhor e que esta “corrida” ainda estaria longe da bandeira quadriculada... ganhei o dia!

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares