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Tentando explicar o inexplicável PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 11 July 2019 21:21

Caros leitores, no último G P da Áustria, tivemos mais um incidente que gerou muita controvérsia. Na volta 69, das 71 totais da prova, o piloto da Red Bull, Max Verstappen ganha a primeira posição sobre o piloto da Ferrari, Charles Leclerc em uma manobra completamente discutível, tanto que a decisão dos Comissários Desportivos sobre esta manobra só saiu após mais de 3 horas da corrida terminada.

 

Toda vez que incidentes como este acontecem, eu recebo uma série de ligações, mensagens, e-mails, etc., perguntando o que eu acho da tal manobra? Alguns amigos, além de me questionarem, já se manifestam, colocando suas interpretações sobre o fato, e se eu não concordo, então começam as discussões.

 

Mas o que eu quero dizer não é exatamente sobre o incidente entre o Leclerc e o Verstappen, o que quero falar é sobre os Comissários e “suas interpretações”.

 

 GP da Áustria 2019 – Max Verstappen x Charles Leclerc: imagem site F1

 

Da mesma forma que os meus amigos e os leitores têm cada um a sua opinião, entre os Comissários não é diferente, cada Comissário traz consigo experiências que muitas vezes são únicas e que as usam para tomar decisões sobre o que estão vendo e da forma como estão vendo. Não é TÉCNICO, se fosse seria tudo mais fácil.

 

Mas é para isso que os Comissários são convocados, para INTERPRETAR as ocorrências. E para tanto, diferente do público comum, eles têm um monte de recursos tecnológico para ajuda-los nas decisões (telemetria, imagens, etc.).

 

Outros questionamentos que sempre ouço são por conta das comparações com incidentes de corridas anteriores. Na verdade, é muito difícil que haja  incidentes iguais, eles são no máximo semelhantes, e pequenos detalhes, muitas vezes não observados por nós, não escapam aos Comissários que além de estarem em um colegiado, ainda trazem anotações sobre os incidentes de provas e de campeonatos passados. Então, por mais que, para nós, possa parecer igual, é preciso verificar as semelhanças e diferenças de cada acidente. (neste caso são muitas as variações, até mesmo o momento da corrida, quantas voltas faltam para o final, se o piso está seco, úmido ou molhado, tudo pode fazer a diferença na interpretação).

 

Isto posto, eu tenho certeza que vocês estão pensando: “o Berti está sendo corporativista, está tentando explicar o inexplicável.” Será?

 

Abaixo, mostrarei alguns exemplos, mas antes, gostaria de relatar algumas atividades realizadas pela CBA com intuito de melhorar a capacidade de avaliação sobre os incidentes e acidentes de uma corrida.

 

No início deste ano a CBA fez um pequeno “laboratório” em uma prova da Stock Car, convidando vários pilotos para participar. O exercício era muito simples. Foram apresentados uma série de acidentes em vídeo, que podiam ser repetidos várias vezes, e os pilotos deveriam “interpretar”, julgar e atribuir ou não penalizações. Exercício semelhante, nós, Diretores e Comissários fazemos pelo menos uma vez ao ano. Neste ano já fizemos 2 vezes (foto abaixo), os resultados foram os mais diversos possíveis, raramente houve unanimidade entre os Pilotos e quando concordavam que alguma ocorrência merecia penalização, quase sempre discordavam no tipo de penalização que deveria ser aplicada.

 

 Simpósio CBA para Comissários e Diretores de Provas em 05/07/2019

 

O resultado deste laboratório com os pilotos, não nos trouxe nenhuma surpresa, já que não foi nada diferente do que ocorre com os Comissários Desportivos no alto da torre de comando. Ficou claro que cada Piloto julgava de acordo com suas experiências e as discordâncias demonstravam uma visão diferente de cada Piloto,  algumas vezes até por conta de fatos ocorridos com eles em provas passadas. A diferença entre os Pilotos e os Comissários é que os Pilotos estavam julgando sem compromisso e os Comissários julgam “sob pressão”, sabendo que não podem errar, pois qualquer que seja o resultado alguém se dará bem e alguém se dará mal.

 

Sobre a ocorrência do Verstappen e do Leclerc no GP da Áustria, fui questionado se a decisão dos Comissários não deveria ser a mesma que ocorreu no mesmo circuito, na mesma curva em 2016 entre Nico Rosberg e Lewis Hamilton, ambos da Mercedes?

 

Minha resposta: NÃO SEI!!! No máximo eu poderia dar a “minha opinião”.

 

Sempre digo: Só quem está na torre no momento do julgamento, pode falar algo sobre os motivos que levaram os Comissários a chegarem àquela conclusão, lembrando que além dos Comissários, também existe um Piloto Consultor para orientar os Comissários conforme a visão de um Piloto profissional (mas lembram-se do “laboratório da CBA para os Pilotos???).

 

 2016 GP Áustria Rosberg (por dentro) e Hamilton (por fora): foto site F1

 2019 GP Áustria – Verstappen (por dentro) e Leclerc (por fora): foto site F1

 

Sobre os 2 incidentes, o de 2016 e o de 2019, apesar de serem semelhantes,  os Comissários, geralmente pensam em algumas possíveis condições antes de começarem a julgar, tais como:

- quem estava à frente no início da freada?

- alguém freou antes?

- alguém estava fora do traçado?

- alguém virou o volante de forma diferente?

- como foi o retorno à pista?

- quem levou vantagem ou prejuízo na manobra?

- a área de escape era asfalto, brita, grama?

Tudo isso, além de outras coisas podem interferir na interpretação dos Comissários.

 

 Vettel cortando pela grama GP Canada 2019 – Imagem extraída do site F1

 Vettel com volante virado para direita logo após retornar à pista – Imagem extraída do site F1

 

Para tentar entender o quanto é difícil chegar a uma conclusão, vejam o que está acontecendo no futebol, com o VAR, teoricamente muito mais fácil de verificar, muitas câmeras em um espaço pequeno, pode-se parar o jogo enquanto a observação é feita e normalmente após a interpretação do juiz notamos que alguns concordam e outros não e a discussão permanece entre os telespectadores, entre os repórteres e o público em geral.

 

Já dizia um amigo meu: “ao final de uma corrida de automóvel, apenas 2 pilotos ficam contentes, o 1º e o penúltimo”!

 

Então, seja qual for a interpretação de uma ocorrência e o resultado do julgamento, nós sempre teremos contentes e descontentes, quem levou vantagem e quem levou desvantagem, a diferença é que quem leva vantagem quase não se manifesta, e quem leva desvantagem se manifesta quase sempre.

 

No pódio, o primeiro colocado estará sempre contente, já o segundo... nem sempre! (as vezes o 1º fica um pouco envergonhado, mas por dentro está contente).

 

 2019 GP da Áustria – 1º Verstappen e 2º Leclerc

 2019 GP do Canadá – 1º Hamilton e 2º Vettel

 2002 GP da Áustria – 2º Barrichello e 1º Schumacher (sob vaias e envergonhado, cedeu o topo do pódio)

 

É isso!

 

Abraços,

 

Sérgio Berti 
Last Updated ( Thursday, 11 July 2019 21:37 )