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Written by Administrator   
Monday, 12 August 2019 16:10

Olá fãs do esporte a motor,

 

Neste mês em que a Fórmula 1 está de férias e que eu também tenho férias da universidade onde estou fazendo meu doutorado, mas em compensação, no consultório...

 

Esta época ainda coincide com a reta final antes dos playoffs da NASCAR e do campeonato da Fórmula Indy. Em outras palavras, minhas férias de verão aqui em San Diego eu passo mais tempo nas sessões do que em qualquer outro lugar, incluindo a minha casa.

 

Como sou uma apaixonada pelo meu trabalho e ainda tenho a felicidade de exercê-lo em um seguimento pelo qual tenho amor e DNA (sou filha de piloto), sinto-me muito à vontade no que faço e para quem faço.

 

Uma das coisas – lá vou eu escrever isso novamente, mas é que recebi muitos emails sobre as duas últimas colunas em que a questão da ética foi levantada – que sempre deixei claro sobre meu trabalho como colunista de automobilismo é que todos os meus pacientes sempre tiveram suas colunas aprovadas antes de serem publicadas e jamais expus nada em meus textos que já não tivesse sido abordado pela imprensa e respondido por eles em entrevistas ou redes sociais.

 

Alguns pacientes, claro, não tem interesse em abrir este canal de comunicação com o público. Tenho alguns pacientes que vocês, amados leitores, não sabem que ele vem até aqui para um acompanhamento terapêutico... e talvez nunca fiquem sabendo. É o direito deles e o meu dever não falar sobre nossas sessões.

 

 Nico Hulkenberg foi um dos maiores campeões entre os vencedores da GP2 (hoje F2) em seu caminho para a F1.

 

As vezes, contudo, pode haver uma mudança de pensamento e por isso, pela primeira vez, Nico Hulkenberg, que é meu paciente desde 2015, decidiu que poderíamos falar aqui nesta coluna sobre assuntos de nossas sessões. Nico é uma pessoa muito boa de se conviver e muito atencioso com aqueles que estão à sua volta. Não passa nem perto daquele estereótipo (detesto estereótipos) de que alemães são frios e sem sem sentimentos.

 

Eu fico muito entristecida quando leio nos meios de mídia comentários negativos sobre ele. Aquela coisa de dizer que “brasileiros não tem memória” poderia ser perfeitamente estendida para pessoas do mundo inteiro, ao menos no automobilismo. As pessoas adoram falar e escrever que Nico tem 170 GPs de Fórmula 1 na carreira e nenhum pódio, mas esquecem que ele, no seu ano de estreia na categoria marcou uma improvável pole position com a Williams no GP Brasil de 2010.

 

 Em seu ano de estreia na F1, pela Williams, marcou um a pole position em Interlagos, superando os pilotos da Red Bull.

 

Antes disso, Nico foi campeão de forma esmagadora na então GP2, com 5 vitórias (o mesmo número de vitórias que Lewis Hamilton) em 2009, com atuações espetaculares que o levaram, mesmo sem ter um grande patrocinador ou empresário de grande influencia para a Fórmula 1. Este – talvez – tenha sido seu grande problema ao longo da carreira: depender apenas de seu talento em um meio onde os “bastidores” falam mais alto que os cronômetros.

 

A falta de “força” nestes chamados “bastidores” talvez tenha sido seu pior adversário nestas 10 temporadas disputadas na categoria. A equipe mais forte em que ele conseguiu estar foi a Force India... e acabou tendo que deixá-la quando a equipe precisou de injeções de dinheiro maiores do que vinha tendo para tentar salvar sua permanência na categoria. Quem sabe o que ele seria capaz de fazer ao volante de uma Mercedes, Ferrari ou Red Bull?

 

 Quando foi para Force India, equipe em acensão, Hulkenberg era visto como um futuro campeão da categoria. 

 

Existe na psicologia algo que chamamos de “a perda do momento”. Trabalhar duro para atingir um objetivo e depois descobrir que o melhor que se deu não foi o suficiente pode ser extremamente frustrante. Ter expectativas pressupõe frustração, então não seria diferente quando isso envolve o fato de não se ter uma oportunidade como se merece. E méritos para ter uma grande oportunidade nunca faltaram para Nico.

 

Apesar do fato de todos nós sabermos que a vida nunca nos deu uma garantia de que seríamos tratados de forma justa e que as coisas ruins não acontecem para nós, por vezes somos tomados de surpresa quando levamos um golpe que achamos não merecer. Ficamos presos no passado e paralisamos a nossa vida. Por mais que se tente seguir em frente depois de um revés, muitas vezes os golpes sofridos no passado tornam-se numa tormenta ao bem-estar no presente.

 

 Em 2017, finalmente uma "equipe de fábrica". A chance para - quem sabe - rumar para o título. Mas nunca teve carro pra isso.

 

Quando se viu “fora dos planos” da Force India, a Renault, reabrindo seu projeto de formação de uma equipe oficial de fábrica e, consequentemente, sem aquela “dependência financeira” dos patrocinadores dos pilotos. Em seus dois primeiros anos, tendo Jolyon Palmer e Carlos Sainz Jr. como companheiros de equipe, ficou à frente de ambos na pontuação geral do campeonato, embora a limitação de equipamento nunca o permitisse brigar por um pódio.

 

Este ano a Renault investiu em trazer um “piloto de ponta” para a equipe além de – ao menos em suas declarações – ter feito um grande investimento tecnológico em suas unidades de potência para permitir melhores resultados... que ainda não vieram, mas não faltaram problemas com as mesmas e abandonos, o que explica a baixa pontuação de Nico em relação ao ano passado e o ar de tristeza no olhar de Daniel Ricciardo, o piloto que “chegou para liderar o time”.

 

 Este ano, em 2019, com Daniel Ricciardo na equipe, passou a condição de segundo piloto e seu sonho está ficando mais longe.

 

Isso não deixou de ser um golpe no psicológico de Nico, que com 9 temporadas completas e realizando a 10ª, deixou de ser uma “promessa”, um “futuro campeão” para ser “mais um piloto” no grid ou – pior – aos olhos dos mais críticos, uma “decepção”. Ele sabe muito bem, depois de tanto tempo, que este é o nível de cobrança sobre ele e que episódios como o acidente em Hockenheim, quando poderia ter conquistado o melhor resultado deste ano para a Renault, pesam nesta cruel balança.

 

O final da temporada está chegando e com ela novos pilotos vindo da Fórmula 2, buscando um lugar na categoria principal e aqueles que não entregam resultados estão sempre com o cockpit à prêmio. Nico e eu temos trabalhado isso desde o início da temporada e não podemos perder... nem o foco, nem o lugar no grid.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares