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Um calendário longe demais? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 26 August 2019 11:23

Quando era garoto, no alto dos meus dez, doze anos, imaginava calendários de Formula 1. E neles, não só viajava pelos quatro cantos do mundo, e em circuitos onde nunca tinham ido e gostariam que fosse - imaginei a Formula 1 em Laguna Seca, por exemplo - e cheguei a elaborar um calendário de 22 circuitos. Cedo cheguei à conclusão que era demasiado, com corridas muito curtas, a acontecer fim de semana sim, fim de semana sim. E falávamos de 1988.

 

Ora... afinal de contas, estava a ser profético. 

 

No inicio deste mês, logo depois do GP húngaro, escrevi sobre o possível calendário para 2020 e seguintes. Escrevi que pela primeira vez em 70 anos de Formula 1, poderíamos ter 22 corridas, com a chegada de Vietname e Holanda, apenas à custa de uma corrida, provavelmente Alemanha ou Espanha. Desde então até agora, li mais coisas interessantes, e achei que seria interessante voltar a este assunto, porque o futuro da Formula 1 também passa por aqui, mais do que chassis e tectos orçamentais das equipas.

 

Que a Liberty Media precisa de dinheiro, isso é real. Aliás, é o capitalismo dos nossos dias. E uma grande fonte de receita é aquilo que os organizadores pagam para ter os seus circuitos no calendário. Variando de país para país, organizador para organizador, a média anda pelos 20 a 25 milhões de euros, com extremos de 60 milhões, pelo menos nos países árabes, e se querem ser a prova inaugural do campeonato, como foi o Bahrein em 2010. Muitos desses contratos foram arranjados por Bernie Ecclestone, mas desde que Chase Carey e Sean Bratches chegaram para tomar conta do assunto, não conseguiram arranjar novos contratos com novas localidades aos mesmos preços que o anão tenebroso.

 

    A direção do Grupo Liberty Media e a FIA estão de olho nos petrodólares vindos da Arábia Saudita para a Fórmula 1.

 

Fala-se que o contrato com o Vietname é o mais modesto em mais de uma década, e o da Holanda não anda muito longe. Em contraste, o governo catalão ofereceu 18 milhões de euros para poder continuar a receber a Formula 1, enquanto os alemães, sem um patrocinador "master", como tiveram este ano com a Mercedes, que queria comemorar os 120 anos da sua fundação e os 125 anos do automobilismo, é provável que saiam do calendário.

 

Mas tem mais: alguns dos objetivos dos americanos não estão a acontecer como planeado. Queriam uma corrida em Miami, mas isso foi deixado de lado para os próximos tempos. E as chances de uma corrida africana vão ficar no circuito da fantasia - tal como os meus calendários de há 30 anos - porque não há qualquer interesse desses lados. Nem da África do Sul, o candidato mais provável, nem de outros países.

 

    O Príncipe herdeiro (mas que manda de verdade) Saudita quer fazer do país um pólo de turismo com eventos esportivos.

 

Quando escrevi pela primeira vez sobre isto, lembrei-ma do exemplo da NASCAR. Com um calendário de 40 provas - mais de metade que a Formula 1 tem agora - é uma competição que tem exclusividade nos Estados Unidos. E as equipas têm sempre dois e três grupos de mecânicos para evitar o desgaste emocional de ficar sempre na estrada, estando semanas, senão meses, fora do conforto do lar e fora das suas famílias. E isso é importante, porque sabe-se desde há algum tempo que os membros das equipas de Formula 1 - mecânicos e engenheiros - andam crescentemente a pedir para ficar nas suas sedes, na Grã-Bretanha, em vez de andar constantemente na estrada.

 

E a Formula 1 não é a NASCAR: andam pelo mundo inteiro. Imaginem ter 22 fins de semana fora da sua terra, da sua casa, andar constantemente a ver aeroportos. Vejo isso pelos jornalistas que acompanham o "Grande Circo": poucos são casados e com filhos. E quando fazem isso, acabam por abdicar de seguir a Formula 1 em direto porque, no final do dia, querem ver crescer os seus rebentos. Poucos são os que ficam mais de cinco ou seis anos a seguir constantemente, porque há uma vida lá fora.

 

 

 

E já me contaram que a chance de um calendário de 24 provas está de pé.

 

Se acontecer, eis o dilema. Vamos supor que teremos esse número de corridas. A Liberty Media quer colocar um teto salarial, para conter as despesas. Mas se as equipas fizerem o revezamento da NASCAR, com mecânicos a irem num máximo de doze provas por temporada, implicaria o dobro de mecânicos, com mais salários e mais despesas com pessoal. Sem corte, aumentam as despesas, o que contraria a politica da Formula 1. Mas se reduzir as provas para 20, vamos supor, é menos dinheiro que entra na Liberty Media e é distribuído pelas equipas. Uma quadratura do circulo, poderemos dizer.

 

    Em 2018 os árabes levaram a "Race of Champions" para o país, inclusive com carros de uma categoria de acesso da NASCAR.

 

E é isso que as equipas discutem. A Renault quer mais um MGU-K para serem usados por temporada - atualmente são dois. E a Williams disse que dificilmente aprovaria um calendário de 22 corridas se não existirem mais contrapartidas às equipas. Em suma, está tudo a ser negociado, e provavelmente isto é mais importante que o carro que vai aparecer daqui a duas temporadas.

 

No meio disto tudo, apareceu algo interessante: no passado dia 8, o governo saudita anunciou planos para acolher a Formula 1 no seu país, e Chase Carey, bem como o seu diretor financeiro, Sean Bratches, tem ido frequentemente ao país para conversações nesse sentido. Primeiro que tudo, já têm um acordo de 50 milhões de dólares por ano durante cinco temporadas para o canal MBC (Middle East Broadcast Corporation), válido a partir de 2020, tudo isto quando se sabem da existência de planos para a construção de uma pista de Formula 1 na cidade de Qiddiya, a 40 quilómetros de Riyadh, como fazendo parte de uma "cidade do entretenimento" semelhante ao que vemos em Abu Dhabi. Segundo os organizadores, a pista será semelhante a Spa-Francochamps.

 

    A temporada passada da Fórmula E também foi correr na Arábia Saudita, em mais um passo deste projeto da família real.

 

Contudo, os planos para a pista só estarão prontos em 2022, e provavelmente a primeira corrida seria em 2023, ou seja, só daqui a quatro anos é que a ideia de uma terceira corrida na Península Arábica seria possível. E com a Formula 1 a precisar cada e mais dos bolsos bem fundos do Médio Oriente, um acordo desses seria bem generoso.

 

Mas depois, pergunta-se: se em 2023 teremos um calendário com Arábia Saudita, Holanda e Vietname, com a manutenção de México, Espanha e provavelmente Alemanha, teremos os tais 24 ou 25 corridas, o calendário mais longo da história da Formula 1. Se todos começarem a queixar por causa da extensão do calendário, acumulado com as outras queixas sobre o dinheiro, os regulamentos, das televisões que acham que estão a pagar demasiadamente caro para isto, dos circuitos - quem paga a conta, na sua esmagadora maioria das vezes, são os Estados e não os promotores - para não falar das crises que aparecem em cada esquina... como é que isto terminará? Afinal de contas, é um balão do qual desconhecemos se já não está prestes a rebentar.

 

 

 

E depois volto a pensar nos meus calendários da fantasia. Até podem se tornar reais, mas sei que não duram para sempre.

 

Saudações D’além Mar,

 

Paulo Alexandre Teixeira 

 

 

 

Last Updated ( Tuesday, 24 September 2019 23:25 )