Olá leitores! Final de semana movimentado, com consagrações, despedidas, campeões e vilões. Emoções para o bem e para o mal fizeram parte deste final de semana, onde felizmente os bons momentos superaram os maus. Mais uma edição do Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1 aconteceu no Autódromo de Interlagos (oficialmente Autódromo José Carlos Pace), e a corrida começou morna para pegar fogo no final, graças ao excesso de zelo da direção de prova em liberar o safety-car na pista para a retirada do carro de Valtteri Bottas, que estava em um lugar onde poderia ser retirado sem problemas mas... com o safety-car, todos os pilotos se juntaram e as coisas – literalmente – pegaram fogo na pista. O lance mais bizarro foi, sem dúvida, o toque entre o decadente Sebastian Vettel e o ascendente (mas indisciplinado) Charles Leclerc. Assisti no site da Fórmula 1 diversas vezes a repetição do acidente. Leclerc tem culpa? Sim, uns 20 a 25% de culpa, pois não aliviou em momento algum da disputa enquanto manteve a trajetória em linha reta. O restante da culpa só pode ir para Vettel, que quando abriu o DRS estava a uns 30 cm da linha branca que delimita a lateral da pista e no momento do toque já devia estar a cerca de 1 metro de distância da mesma linha branca... se um piloto experiente não consegue fazer uma trajetória em linha reta, talvez seja o momento ideal de se aposentar. Aceito esse tipo de erro em um piloto na sua primeira temporada de F-1, não em um experiente. Mesmo caso da famigerada largada em Cingapura onde houve aquele acidente envolvendo ele, Max e Kimi. Se o maledetto do Vettel segue em linha reta, sem tentar pressionar ninguém, ele teria feito a curva na frente do Max, a corrida teria prosseguido, e as chances de vitória naquele dia eram reais. Mas, e sempre tem um mas, o “jênio” tedesco acha que por ele ser um tetracampeão os outros pilotos vão deixar ele passar sem oferecer resistência... deve ter aprendido essa com o Fernando Alonso, aquele cidadão que ajudou a Honda e a McLaren a se reabilitarem após deixar de correr por ambas e cujo talento era inversamente proporcional à capacidade de se relacionar com os outros. O segundo momento sem noção foi, sem dúvida, do maior fã de Ayrton Senna da Silva nas pistas atualmente, Lewis Hamilton, que assim como Senna em 1990 bateu em um carro mais lento na curva do Bico de Pato por pura afobação. A diferença é que na ocasião Senna quebrou o bico, ao passo que Hamilton apenas fez o coitado do Albon rodar e perder a chance de chegar em um ótimo 3º lugar – já que não tenho dúvidas que se o afobado aguardasse uns 300 metros poderia ultrapassar o adversário na subida dos boxes. Convenhamos, uma homenagem à altura para o grande ídolo dele. Aí a FIAcedes ainda fez a parte dela no pastelão: os nada digníssimos comissários (aliás, o abestado do Emanuelle Pirro estava DE NOVO como piloto convidado... imaginem o quanto ele deve ter ficado contrariado em ter que punir um piloto de equipe alemã, ele que fez boa parte de sua carreira pela Audi) esperaram os pilotos subirem no pódio, o Hamilton comemorar o 3º lugar, para algumas horas – afinal punição rápida só contra a Ferrari – após o final da corrida enfim dar a merecida punição (5 segundos no tempo final, saiu barato pacas a batida) que fez o inglês cair de posição e o competente Carlos Sainz Jr. conquistar seu primeiro pódio e o primeiro pódio da McLaren depois de 2.072 dias. Vitória merecida de Max Verstappen, que correu de maneira arrojada, mas madura, conseguindo reagir às investidas de Hamilton e às tentativas de “undercut” que a Mercedes tentou fazer. Simplesmente nada a criticar, excelente. Seu companheiro Alexander Albon (14º) também esteve em grande forma, e caminhava a largos passos para um 3º ou mesmo 2º lugar (se conseguisse segurar Lewis por mais uma volta e meia), mas foi vítima da afobação do hexacampeão e nem mesmo pontuar conseguiu. Uma pena. Em 2º lugar chegou Pierre Gasly, que fez uma corrida excelente com a Toro Rosso e conseguiu o terceiro pódio da história da equipe, após ter largado em sexto lugar. Monumental o desempenho extraído do carro neste final de semana. Provavelmente nesta segunda será feriado em Faenza... seu companheiro Daniil Kvyat (10º) teve uma vida mais difícil largando de 16º lugar, mas ainda conseguiu seu pontinho e deu sua contribuição para a equipe chegar ao 6º lugar no Mundial de Construtores. Um domingo grandioso para a equipe. Em 3º terminou Carlos Sainz Jr., trazendo de volta a McLaren para o pódio após anos de jejum. Ele conseguiu fazer funcionar uma estratégia de apenas uma parada para troca de pneus mesmo em uma corrida com duas relargadas após safety-car, e isso diz um bocado a respeito do quão bem o filho da lenda do rally pilotou. Muito, muito bom o que ele fez. Seu companheiro Lando Norris (8º) teve um belo resultado considerando que teve que aproveitar o safety-car para fazer uma parada extra a fim de retirar os pneus duros, que não reagiram como esperado na pista. Ainda bem que os estrategistas da McLaren são melhores que os da Ferrari... Em 4º e 5º lugares chegaram os pilotos da Alfa Romeo, respectivamente Kimi Räikkönen e Antonio Giovinazzi, melhor resultado da Alfa após seu retorno. Ao passo que Kimi estava levemente decepcionado por não ter conseguido ultrapassar Sainz, Giovinazzi (de contrato renovado pra 2020) estava radiante. Acredito eu que mais pela renovação do contrato que pela corrida, mas enfim... Em 6º terminou Daniel Ricciardo, após um começo de corrida muito ruim em que se enroscou com Magnussen – e recebeu 5 segundos de punição por isso – caindo para as últimas posições, tendo de fazer uma grande corrida de recuperação. Extraiu tudo que podia do carro e conseguiu um resultado que parecia inalcançável. OK, teve a cooperação de Hamilton e da equipe Ferrari para isso... seu companheiro Nico Hülkemberg (15º) não apenas não conseguiu extrair desempenho do carro como ainda levou uma punição de 5 segundos após a corrida por ultrapassagem em bandeira amarela... não foi um grande dia. Em 7º ficou Lewis Hamilton, em um dos raros momentos em que recebeu uma punição por algo que tenha feito contra algum outro piloto. Antes da corrida virar de pernas pro ar por conta das entradas do safety-car, ele seguia firme para terminar a corrida em segundo lugar, já que não conseguia alcançar Verstappen, mas aí os adversários começaram a colocar pneus mais velozes que os que ele tinha, a Mercedes se atrapalhou um pouco na estratégia, e ele poderia ter acabado a corrida em 3º ou 4º lugar se não fosse a afobação de tentar passar Albon na curva mais lenta da pista. Fosse outro piloto, a punição viria mais rápido e maior, mas... enfim, ele não pode reclamar. Seu escudeiro Valtteri Bottas (20º) vinha protagonizando boas disputas contra o Exército Brancaleone, digo, Ferrari até que o motor quebrou. Em 9º terminou Sérgio Pérez, reclamando de falta de velocidade nas retas mesmo com motor Mercedes... nessas condições, não foi um mau resultado. Seu companheiro Lance Stroll (17º) acabou tendo o carro danificado por restos de Ferrari na pista e acabou abandonando a corrida. Após uma corrida tão emocionante como essa, será difícil acompanhar a última etapa em Abu Dhabi, conhecida por etapas soporíferas, mas... estaremos vigilantes. Neste fim de semana também tivemos o grande final de semana de velocidade de Macau, onde os pilotos foram mostrar sua capacidade de se adaptar a longas retas largas (na parte nova da cidade) e estreitas curvas fechadas (na parte antiga da cidade), lugar onde o normal é acontecer algo de errado. E lá é disputada a Copa do Mundo de F-3, que foi vencida pelo holandês Richard Verschoor, acompanhado no pódio pelo estoniano Jüri Vips em 2º e pelo estadunidense Logan Sargeant (que nome espetacular...) em 3º. O melhor brasileiro foi Enzo Fittipaldi, que chegou em 16º lugar, à frente de David Schumacher (21º) e do outro brasileiro, Felipe Drugovich, que após sofrer na classificação não conseguiu nada melhor que o 24º lugar. Sophia Floersch, aquela alemã que teve um acidente pavoroso ano passado, acabou não terminando a prova abandonando a 7 voltas do final, e o (literalmente) nobre Ferdinand von Habsburg envolveu-se num acidente no começo da prova, sem maiores danos e sem provocar início de guerra mundial... (acharam que eu perderia a piada? Claro que NÃO!) Entre os carros GT, Augusto Farfus tentou defender a vitória do ano passado, mas o carro da BMW evoluiu menos que os concorrentes e ele teve de se contentar com o 4º lugar no final. Passando para as duas rodas, o Mundial de Motovelocidade fez sua etapa de encerramento em Valência, com direito a rodada dupla da MotoE (que, por incrível que pareça, consegue ter barulho pior que a Fórmula E; Fórmula E parece furadeira, a MotoE lembra multiprocessador na rotação máxima, verdadeiramente irritante) e grandes homenagens a um campeão que, ao contrário do Vettel, soube perceber quando chegou o momento de parar de correr, Jorge Lorenzo. A MotoGP teve um resultado previsível, com mais uma vitória de Marc Márquez, ficando as surpresas para o resto do pódio: Fabio Quartararo fez valer sua condição de melhor estreante do ano e terminou em 2º lugar com sua Yamaha privada, enquanto o 3º lugar ficou com Jack Miller, com a Ducati da equipe Pramac. Dois pilotos que estão fazendo por merecer uma vaga em equipes de fábrica, equipes essas que estão renovando contratos muito cedo com pilotos que nem fazem tanto por merecer essas vagas. Miller certamente merecia uma vaga na Ducati oficial, e Quartararo seria uma ótima aquisição pelo HRC para dividir equipe com o Márquez. Dovizioso ficou em 4º lugar, seguido da Suzuki de Alex Rins (que fez uma ótima prova, por sinal) em 5º e pela melhor das Yamaha de fábrica em 6º com Viñales. Em sua prova de despedida Jorge Lorenzo terminou em 13º lugar, recebendo grandes homenagens por conta do seu legado na categoria. Momento bizarro: Zarco caiu, largou a moto na área de escape e saiu da pista... de costas para a mesma. Não viu, portanto, que a KTM de Lecuona caiu no mesmo lugar, e foi atropelado pela moto. Felizmente para ele não ocorreu nenhuma fratura, mas que o acidente assustou, isso assustou. Mas o que interessa para os brasileiros é que o hino do Brasil voltou a ser ouvido no pódio, e por duas vezes: a MotoE teve rodada dupla neste final de semana, e seja no sábado seja no domingo o vencedor foi Eric Granado. Os mais sinceros parabéns para o garoto, que conseguiu lidar com os pneus frios (a categoria não tem volta de aquecimento de pneus) e os mais de 250 kg de peso da moto para fazer duas corridas muito boas, com a “faca entre os dentes” e não se intimidando nas disputas de posição especialmente no domingo, onde assegurou a liderança sobre Bradley Smith na última volta. Parabéns!!! Também se encerrou a temporada 2019 da NASCAR, com a consagração do melhor piloto da categoria na atualidade como campeão: Kyle Busch fez uma corrida tática e estrategicamente perfeita, e conquistou seu segundo título na categoria principal. E Kyle Busch comemorou a vitória na corrida e o título em grande estilo: cruzou a linha de chegada, encostou na mureta próximo de onde a equipe fica, colocou no carro a bandeira de campeão... e levou o filho Brexton Busch para uma voltinha comemorativa com o papai, agarrado aos tubos da gaiola de proteção do carro e rindo mais que o Coringa. Foi de arrepiar a comemoração. Em 2º lugar chegou Martin Truex Jr., após um erro que eu ainda não tinha visto na categoria: em uma das paradas para troca de pneus, simplesmente a equipe levou os pneus do lado esquerdo pro lado direito do carro... e claro que teve que fazer mais uma parada para corrigir a bobagem da equipe. Em 3º chegou Erik Jones, completando a trinca da Joe Gibbs nas 3 primeiras posições, seguido pelos Fords de Kevin Harvick (que foi muito bem nos dois primeiros segmentos mas perdeu rendimento no último e teve de se contentar com a 3ª posição no campeonato) em 4º lugar e Joey Logano em 5º. Para completar, esta coluna presta os pêsames à família e aos amigos de Christiano Chiaradia Alcoba Rocha, conhecido nas pistas como Tuka Rocha, que faleceu devido às queimaduras sofridas quando o jato executivo em que ele viajava para passar o feriado no sul da Bahia caiu na pista de pouso de um resort desativado e se incendiou, deixando Tuka com 80% do corpo queimado. Até o momento do fechamento dessa coluna, dos 10 ocupantes (9 passageiros mais o piloto) 3 faleceram. Ele já tinha escapado de um acidente em que o carro dele se incendiou no extinto autódromo de Jacarepaguá em 2011. Infelizmente, dessa vez não estava com o macacão antichamas... Até a próxima! Alexandre Bianchini |