Em uma época em que eu tinha mais tempo para assistir corridas de categorias de base e kart, eu ia vendo uns molequinhos acelerando e vez por outra dizia pra mim mesmo: “esse aí leva jeito”... raramente errei. Foi assim com Lucas Di Grassi, Sérgio Jimenez, Danilo e Dennis Dirani e vários outros. Uma das minhas primeiras coberturas de competição como enviado do Site dos Nobres do Grid para competições foi o Brasileiro de Kart de 2009, disputado no hoje – infelizmente – depauperado Raceland, de propriedade da família Oms, em Pinhais-PR. Neste campeonato tive a oportunidade de conhecer três pilotos que me chamaram atenção e seus pais: Pedro Bianchini, Sabrina Kuronuma e Felipe Fraga. Os três tinham um enorme potencial para ter brilhantes carreiras no automobilismo, mas por diferentes circunstâncias, apenas o último chegou ao profissionalismo dentro do automobilismo. Em 2014, no Autódromo de Interlagos, em frente aos boxes de sua equipe, do experiente e grande mestre, Mauro Vogel, que ele dividia com o veterano Luciano Burti, perguntei para Felipe como ele estava se sentindo dividindo a equipe com um piloto que andou na Fórmula 1 como seria o desafio para superá-lo. A resposta – que alguns poderiam considerar arrogante – a mim soou como as palavras de um piloto extremamente confiante e que poderia estar em qualquer categoria no mundo: “Ele? Não estou preocupado em superá-lo. Eu vou fazer isso. Eu quero derrotar aquele ali”, apontando para seu “coach”, piloto da equipe A.Mattheis, Cacá Bueno. A diferença na tabela de pontos no final daquela temporada (apenas 7 pontos em favor de Fraga) não refletiu o que se viu no campeonato. Como em vários episódios da história do automobilismo, onde o novato cheio de vontade “detonava” seu experiente companheiro de equipe, Felipe Fraga decolou na categoria e no início da temporada de 2015 chamei-o num canto no Box e falei pra ele: “o Brasil é pequeno demais para você”! Ele me olhou meio desconfiado, talvez até assustado e seu pai, que conheci em 2009, estava perto e repeti as palavras para ‘seu’ Irineu. Foi assim que conheci Felipe Fraga e vendo suas atuações como kartista, pensei comigo: esse aí vai longe... (foto: NdG) Alguns anos depois, já na equipe CIMED, comandada por William Lube, correndo ao lado de Marcos Gomes e caminhando para a conquista do título, a equipe fez uma entrevista coletiva para anunciar a contratação de Cacá Bueno para ser o companheiro de Marcos Gomes na temporada de 2017. Na mesa estavam os dois pilotos, William Lube e o assessor de imprensa, quando perguntaram se os jornalistas tinham perguntas, deram o microfone para mim antes dos outros. A pergunta gerou um certo constrangimento: depois de parabenizar a equipe, perguntei para eles como, tendo ali os dois pilotos para a temporada seguinte, eles estariam deixando em segundo plano o virtual campeão da temporada (e Felipe foi o campeão de 2016)? A Stock Car é uma categoria extremamente equilibrada, onde décimos de segundo fazem a diferença entre a vitória ou nem ficar no pódio e mesmo nos últimos anos, com o tricampeonato de Daniel Serra, Felipe Fraga sempre esteve entre os primeiros, vencendo corridas e disputando títulos. Em 2019 ele fez uma série de corridas na Europa, entre elas as 24 horas de Le Mans, além de etapas do Blancpain Series e mostrou um grau de maturidade que sua velocidade natural precisava demonstrar e o resultado disso veio com o convite da Mercedes Benz para que ele fosse piloto oficial de GT da categoria a partir de 2020. O desempenho de Felipe Fraga em provas de endurance na categoria GT chamou atenção da Mercedes (Foto: Blancpain). Além do “sim”, Felipe Fraga tomou outra decisão: a etapa que decidiu o título de 2019 era sua última corrida como piloto oficial da equipe CIMED e da categoria. Em 2020 não teremos mais Felipe Fraga regularmente em nosso maior campeonato. Quem sabe, não havendo choque de datas e limitações de regulamento, talvez o vejamos na corrida de duplas, na abertura do campeonato em Goiânia, e quem sabe um dia, daqui há alguns anos, um retorno. Em um momento eu o lembrei e a seu pai do que eu havia dito em 2015. Que Felipe Fraga abra para os pilotos brasileiros um novo caminho para se consolidar carreiras no exterior. Longe de esquemas milionários, critérios “estranhos” e temperamentos mais ainda. Grande Abraço, Flavio Pinheiro |