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Pesos, medidas e interpretações PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 05 August 2020 20:39

Caros Amigos, no último final de semana, meu filho, adolescente, chegou no meu escritório (em casa) com o livro “1984”, do escritor britânico George Orwell. Ele disse que tinha terminado a leitura e que estava impressionado com algumas situações, que o livro descreveu há 36 anos atrás, fazendo parte das nossas vidas hoje.

 

Apesar de sua idade e de como os jovens estão amadurecidos, propus uma “troca” e dei para ele ler, do mesmo autor, “A revolução dos bichos”. Ele sorriu e disse que já tinha lido – nas palavras dele – “a crítica do escritor à revolução russa e a instalação do regime socialista da União Soviética”. Aproveitei o comentário para desviar o assunto do livro anterior e conversarmos mais sobre a experiência dele com este livro em particular e como ele chegou às suas conclusões.

 

Além de ter sido muito interessante ver meu filho tão consciente sobre relações sociais e políticas, uma frase em particular que ele disse acabou como tema desta nossa coluna semanal: “o conceito de pesos e medidas que as pessoas com poder usam, têm sempre uma interpretação própria de modo a beneficiá-las”.

 

Na minha coluna da semana passada, abordamos aqui os fatores não muito claros, uma vez que há um sigilo entre as partes no que tange compromissos, responsabilidades e partilha de dividendos, do que é dever e direito do Grupo Liberty Media, dono dos direitos sobre a Fórmula 1, e a Interpub, empresa de Tamas Rohonyi, promotora do Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1 no nosso país até o final de 2020.

 

Os proprietários dos direitos da categoria, sob a alegação de que, por motivo de força maior, nomeadamente a situação do país em relação ao combate do coronavírus, o número de casos e de óbitos, acabou encontrando “a desculpa perfeita” para encerrar um contrato que lhes era inaceitável, com o promotor nacional estando isento do pagamento por receber o evento, o que vinha ocorrendo desde 2018, graças a um acordo entre Tamas Rohonyi e Bernie Ecclestone, na época o CEO da FOM, e quem realmente mandava na categoria.

 

Partamos do princípio que o Grupo Liberty Media está totalmente correto em não querer trazer a categoria para o Brasil, face os assustadores (pelo tamanho) número de casos e óbitos ocorridos no país e mais especificamente em São Paulo, estado (e também no caso da capital) com maior número absoluto de casos da infecção. Juntemos a isso as medidas anunciadas de restrições de circulação de pessoas, abertura de parques, escolas, cancelamento de eventos, fechamento de igrejas, etc. Esse conjunto medidas dá respaldo aos donos da categoria em se mostrarem em fazer o investimento de trazer a categoria até o Brasil, sem receber algo (e este algo não muitos milhões de dólares, que os demais promotores das corridas pagam) diante – também – do discurso antagônico entre as autoridades do país em relação a como proceder no caso da pandemia.

 

A compreensão sobre movimentos no sentido de fazer-se o que tem que ser feito levou-me a ver – agora que voltamos a ter uma coluna específica sobre a Fórmula Indy – como os promotores da categoria norte americana não hesitaram em cancelar a etapa da categoria que aconteceria em Mid-Ohio neste próximo final de semana em razão do crescimento do número de casos de infectados pelo coronavírus.

 

Nas últimas semanas os casos também tiveram um crescimento abrupto na Espanha como um todo e em particular na Catalunha, onde a Fórmula 1 estará daqui há uma semana. O governo britânico estipulou neste mesmo período que pessoas vindas da Espanha, mesmo cidadãos britânicos, teriam que se submeter a um período de quarentena antes de poder voltar às suas atividades no território, que também vem experimentando uma retomada ascendente na curva de casos. Entretanto, isso não impediu a realização do GP da Grã-Bretanha na semana passada, não vai impedir a realização do GP comemorativo dos 70 anos da Fórmula 1 neste final de semana e, até o momento, não há nenhum indício de que teremos a postergação ou cancelamento da corrida em Barcelona.

 

Definitivamente, há uma diferença de pesos e medidas nesta relação comercial entre o Grupo Liberty Media e a Interpub quando comparamos com os casos acima apresentados. Esta, inclusive, pode ser um problema para o futuro do GP Brasil de Fórmula 1 caso o nível de desgaste e/ou desconforto tenha chegado a um grau onde a cordialidade entre as partes seja apenas um pró-forma enquanto vigente o contrato entre elas.

 

Até onde isso pode dar margem ou levantar temores sobre como continuarmos a ter o GP Brasil nos próximos anos – seja em Interlagos ou Brasília uma vez que continuo incrédulo quanto ao Rio de Janeiro – pode ter diversas interpretações.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva