Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Fantasias e realidades PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 26 August 2020 21:54

Caros Amigos, esta coluna estava preparada para a semana passada, mas a assinatura do Pacto da Concórdia precisava ser comentada.

 

A maioria dos seres humanos nutrem uma tendência de se estabelecer um romantismo renovado, uma tentativa de se desenhar algo mágico, perfeito, que por algum tempo parece funcionar, mas que depois de algumas pressões, pode se revelar incompatível ou impossível.

 

Um bom exemplo das proporções que uma fantasia pode alcançar é o episódio vivido pelo personagem do escritor espanhol, Miguel de Cervantes, quando D. Quixote de La Mancha, na ânsia de alcançar a fama, ele vê na simples poeira levantada pelo vento em uma planície, dois exércitos lutando entre si. Ele divide com seu fiel escudeiro, Sancho Pança, a necessidade de ajudar o exército mais fraco, chega a inventar uma história que justificasse aquela batalha, descreve os escudos, as roupas e até dá nomes imaginários aos senhores que ali lutavam. Mas, ao se aproximarem, Sancho relata que, na realidade, a poeira era causada pelo movimento das ovelhas e seus balidos característicos.

 

Certas coisas que ocorrem diante dos nossos olhos no automobilismo brasileiro parecem ter sido tiradas desta famosa obra de Miguel de Cervantes e, infelizmente, isso ocorre com uma frequência maior do que os meus estimados leitores podem imaginar. Os exemplos são variados e independem de situação geográfica, posicionamentos políticos ou senso crítico. Exemplos? Vejamos.

 

Tivemos no Rio de Janeiro, há exatamente duas semanas e após dois adiamentos, a tão questionada audiência pública (que devido a pandemia do coronavírus precisou ser por meio virtual) promovida pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente do Rio de Janeiro (Cema) para discutir a construção do controverso autódromo em Deodoro. De forma surpreendente, das pouco mais de 100 pessoas que participaram remotamente, a partir de vídeo chamada, apenas duas se mostraram favoráveis à obra.

 

Audiências públicas são parte de processos como este e a mesma é a última oportunidade de a sociedade civil opinar sobre a viabilidade da obra. Em suas manifestações, o Ministério Público Estadual e o Federal afirmaram que o projeto é ilegal, mas na sala onde estava o presidente da audiência estavam outras cinco pessoas que, na prática, defendiam o projeto, incluindo o empresário JR Pereira, representante do consórcio. Durante duas horas, essas pessoas defenderam (entre eles um biólogo, o responsável pelo estudo ambiental) a viabilidade do projeto.

 

Daí vamos para São Paulo, onde a imprensa local, os clubes de automobilismo e os promotores de algumas categorias celebrando o cancelamento do GP Brasil de Fórmula 1 este ano e torcendo pela saída do circuito paulista do calendário da categoria como se, sem a Fórmula 1, Interlagos fosse continuar viável financeiramente, seguro tecnicamente e com as condições de pista que possui atualmente.

 

Certamente os leitores com um pouco mais de quilometragem que este humilde colunista vão se lembrar da condição lastimável na qual se encontrava o autódromo de Interlagos ao longo dos anos 80, com o mato alto, os buracos no asfalto, degradação dos boxes... como estaria Interlagos caso a prefeita Luiza Erundina não tivesse tomado a iniciativa de buscar recuperar o autódromo? E é bom lembrar que sua gestão sofreu fortes pressões para tornar o terreno em um projeto de habitação popular.

 

Não precisamos ir tão longe. Até bem pouco tempo as autoridades políticas do município e do estado eram favorável a um projeto de privatização que, nos moldes concebidos inicialmente, decretaria não apenas o final das atividades esportivas no terreno de um milhão de metros quadrados como também no seu desaparecimento, com a construção de prédios, shoppings, etc.

 

E na contramão do fantasioso e da falta de visão, A Pirelli apresentou na terça-feira da semana passada o “Circuito Panamericano”, maior complexo multipista de toda a América Latina, no que seria uma concepção de autódromo que simplesmente não existe no Brasil. Localizado na cidade de Elias Fausto, perto de Indaiatuba e Itu, a 127 quilômetros a noroeste de São Paulo. Fica a uma distância bem acessível tanto da capital do estado como da cidade de Campinas e o aeroporto de Viracopos.

 

Construído para os testes e desenvolvimento de novos pneus da Pirelli, mas também podendo atender as montadoras de veículos e de outros parceiros para a realização de avaliações técnicas e outras atividades, o complexo tem entre seus traçados um com 3.400 metros e outro com 2.500 metros. Ambos tem concepções de traçados de competição, com áreas de escape para uma volta em sentido horário. Olhando as fotos e as marcas do asfaltamento, o mesmo parece ter em grande maioria do traçado não mais de 10 metros de largura de pista, além de, no trecho que seria “a grande reta”, não há nenhuma estrutura que possa permitir a sua utilização (ao menos hoje) para uma competição (se é que isso passou pelas mentes das pessoas que conceberam o projeto), mas já tem programados eventos de clubes com track days e encontros de marcas famosas.

 

Em todo caso, seria interessante, mesmo com tendas e uma “plataforma de asfalto”, ter mais um autódromo para competições em São Paulo, algo que parece estar muito além da visão dos D. Quixotes do nosso automobilismo.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva