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GP do Brasil de 1975 - O dia de Pace PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 10 May 2010 17:01

 

 

O dia 26 de janeiro de 1975 tem um significado especial para a história do automobilismo brasileiro. Neste dia, José Carlos Pace chegou ao lugar mais alto do pódio no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, tendo ao seu lado, seu amigo Emerson Fittipaldi, na primeira dobradinha conquistada por nossos pilotos. Um momento para ser eternizado aqui, como já o é nas mentes e corações daqueles que assistiram a corrida. 

 

Era o terceiro GP do Brasil a contar pontos para o campeonato mundial de Fórmula 1, o quarto, se formos contar a prova extraoficial de 1972. 

 

Estando em pleno verão, é fácil dizer que o calor que os pilotos e os carros estavam para enfrentar seria enorme, assim como foi na prova de abertura, na Argentina. 

 

Nos treinos, surgia o favorito. 

 

A primeira sessão de treinos, na sexta-feira, já apontava o que poderia vir a acontecer na corrida. O Frances Jean Pierre Jarier, ao volante do Shadow DN5, um carro com a pintura na cor negra, como a Lotus com a qual Emerson vencera em 1973 e muito bem acertada, marcou 2m31.52s, sendo seguido por James Hunt, com 2m31.7s. O melhor dos brasileiros foi Jose Carlos Pace, fazendo o quarto tempo com 2m32.25s. O campeão do mundo, Emerson, ficou apenas com o quinto tempo, 2m32.40s.  

 

 

Assim como dominou os treinos em Buenos Aires, Jean Pierre Jarier e sua Shadow dominaram os treinos em Interlagos. 

 

A segunda sessão, ainda na sexta-feira, com a pista um pouco mais limpa e emborrachada, praticamente todos os pilotos conseguiram melhorar seus empós, exceção apenas a Ronnie Peterson e a James Hunt. Jarier foi novamente o mais rápido, marcando 2m30.34s. Este tempo foi suficiente para a quebra de uma outra marca: pela primeira vez na história do circuito, um piloto conseguia completar uma volta com uma média de velocidade acima dos 190 Km/h. Tudo começava a indicar o jovem Frances como o favorito daquela prova. 

 

Se na sexta-feira o calor “escaldou” carros, pilotos e mecânicos, no sábado não foi diferente, com o termômetro passando fácil dos 30 graus centígrados. Na pista, seguia o domínio de Jean Pierre Jarier e sua Shadow, cada vez virando mais rápidos. Foi o Frances o primeiro piloto a fazer uma volta em Interlagos abaixo dos 2 minutos e 30 segundos, marcando 2m29.88s, logo no primeiro treino do dia e que acabaria por ser o tempo da pole position.  

 

 

Pace, que fizera o segundo melhor tempo na prova de abertura, desta feita não conseguiu nada melhor que o sexto tempo.

 

Na segunda sessão, enquanto o Frances e sua equipe preocupavam-se com os acertos de corrida, os demais brigavam para melhorar seus tempos e tentar largar o mais à frente possível. Se bem que, é preciso lembrar, especialmente aos mais novos, que Interlagos possuía diversos pontos de ultrapassagem e não apenas um (quando muito) dos autódromos atuais.  

 

Ao final do dia, Emerson Fittipaldi mostrou porque era o atual campeão da categoria e conhecedor de todos os “atalhos” de Interlagos, marcando o segundo melhor tempo do dia e o melhor da última sessão, com 2m30.68s (oito décimos de segundo mais lento que Jarier). Carlos Reutemann terminou com o terceiro tempo, com 2m31.00s e Niki Lauda, mostrando a recuperação da Ferrari, marcou o quarto, com 2m31.12s. José Carlos Pace ficou apenas com o sexto tempo, largando ao lado do suíço Clay Regazzoni, com a outra Ferrari. 

 

 

Com um carro novo, já que o anterior ficou destruído na Argentina, Wilsinho Fittipaldi estava confiante em relação a prova.

 

Wilsinho Fittipaldi, estreando um novo carro (o primeiro pegou fogo após o acidente no Grande Prêmio da Argentina, mostrava o quão difícil era (e ainda é) fazer um carro de Fórmula 1, ficando o brasileiro com o vigésimo primeiro tempo, com 2m36.05s. 

 

A corrida. 

 

Assim como aconteceu nos outros dias, o domingo foi de sol intenso e a torcida que lotou as dependências do autódromo, mas de 100 mil pessoas segundo a estimativa da policia militar e do corpo de bombeiros. O intenso calor levou os bombeiros a uma atitude inusitada: banhar a torcida! Os caminhões pipa abriram a água e esta foi uma benção, um alívio para a massa que se espremia nas arquibancadas. 

 

 

O calor intenso fez com que os bombeiros usassem parte da água que levaram para refrescar os mais de 100 mil torcedores.

 

No warm up, todos se pouparam, mostrando que a preocupação com as quase duas horas de prova era evidente. Uma coisa é correr umas poucas voltas em busca de um tempo baixo outra é correr sob aquelas condições e, lembrando que, os carros da época não eram nada parecidos com os “praticamente inquebráveis tanques de guerra” dos dias de hoje. 

 

O ponto negativo foi o vandalismo do público que atirou latas e garrafas na pista... atrasando o warmup em quase uma hora e, por consequência, a largada. Um ato de vandalismo inaceitável e que, certamente, nos dias de hoje, poderia até tirar do país a sua corrida. 

 

O diretor de prova, Mario Patti, avisou a todos que a largada seria de acordo com o novo procedimento estabelecido (Ao sinal de 1 minuto os motores deveriam ser ligados. Aos 30 segundos, os carros deveriam tomar as suas marcas no grid de partida. Faltando 10 segundos o diretor de prova levantaria a bandeira e depois a baixaria, dando a largada). 

 

 

Na largada, Reutemann larga bem e toma a ponta. Emerson, que nem ficou no enquadramento, largou mal e caiu para sétimo.

 

Emerson Fittipaldi nunca foi dos melhores largadores nos seus tempos de ativa, mas, naquela corrida, ele “exagerou”. Largando pessimamente, perdeu cinco posições, caindo para a sétima posição ainda na entrada do retão. Quem largou muitíssimo bem foi o argentino Carlos Reutemann, que colocou seu carro entre os de Jarier e Emerson e contornou a curva 1 já na liderança. 

 

Quem também largou muito bem foi José Carlos Pace, que saltou na frente das duas Ferraris e, beneficiado pela péssima largada do compatriota, assumiu a terceira posição. 

 

Os carros entraram na curva 3 na seguinte ordem: Reutemann, Jarier, Pace, Regazzoni, Lauda, Schekter, Fittipaldi e Depallier, compondo o primeiro pelotão. Watson, Ickx, Merzario e Mass vinham um pouco atrás. A cena dantesca ficou por conta de Ronnie Peterson, que ficou parado no grid, saindo com muito atraso em relação a todos. 

 

A liderança de Carlos Reutemann e sua Brabham não iam durar muito tempo. Com sua pista larga e diversos pontos de ultrapassagem, segurar um carro muito mais rápido era uma missão praticamente impossível e, atrás do argentino, estava ninguém menos do que o “senhor de Interlagos” naquele final de semana: Jean Pierre Jarier. 

 

 

Reutemann só conseguiu segurar Jarier e a Shadow por 5 voltas... o francês não tinha como ser parado. A vitória era certa...

 

Surpreendido na largada, perdendo a primeira posição, o campeão da Fórmula 2 de 1973 levou um tempo para colocar os nervos no lugar e se reencontrar com seu veloz carro. Claro que não demorou muito para isso acontecer e Reutemann começou a ser pressionado ainda na segunda volta.  

 

Reutemann fez o que pode para conter o impetuoso francês, mas na quinta volta, no final do retão, não teve mais como segurá-lo e acabou cedendo a liderança. 

 

Nas posições intermediárias a disputa também era intensa, com Jochen Mass fazendo uma de suas melhores corridas em toda carreira, subindo o pelotão.  

 

Livre da Brabham de Reutemann, Jarier abria mais de 1 segundo por volta em relação ao pelotão de perseguidores.

 

No final do pelotão, a torcida brasileira vibrou quando Wilsinho superou Rolf Stommelen. 

 

Sem ninguém pela frente, Jean Pierre Jarier mostra o porque de toda a sua superioridade nos treino e começa a abrir mais de 1 segundo por volta... a vitória parecia já ter dono. 

 

Enquanto isso, o pelotão que ia do segundo ao sétimo colocado permanecia com os competidores relativamente próximos uns dos outros, com Depallier, o oitavo, não muito longe.  

 

As voltas entre a 14ª e a 19ª foram cruciais. Pace conseguiu ultrapassar Reutemann, e com isso ter pista livre para tentar perseguir Jarier. Scheckter não conseguia mais manter o ritmo de corrida do grupo, desgastando por demasiado os pneus nas voltas iniciais, acabou parando e Emerson subia uma posição e partia par cima de Niki Lauda.  

 

 

Quando Pace conseguiu passar seu companheiro de equipe, partiu em busca da Shadow... mas a distância só aumentava.

 

As Ferraris eram muito rápidas de reta, mas nas curvas, especialmente as do miolo, perdiam terreno... e foi aí que Emerson Fittipaldi se aproveitou e passou o austríaco na freada da curva do sargento na 19ª Volta.  

 

Reutemann realmente não conseguia mais manter o ritmo inicial e acabou ultrapassado por Regazzoni na mesma 19ª volta, na entrada da curva 3, assumindo a terceira posição. Duas voltas depois, foi Emerson Fittipaldi quem passou o argentino e, já bem estabilizado na proa, partiu em busca do outro piloto ferrarista. 

 

Jarrier ia abrindo frente, com Moco em segundo fazendo o que era possível, mas perdendo terreno para o piloto da Shadow. No final do pelotão, Wilsinho Fitipaldi e o Copersucar vinham bem, avançando e fazendo a torcida vibrar... parecia que desta vez o carro brasileiro terminaria a prova em grande estilo: chegando ao final e brigando por posições. O progresso só não foi maior porque uma falha estrutural fez soltar-se a lateral direita do aerofólio traseiro, impedindo que Wilsinho desse continuidade ao avanço sobre os adversários logo à frente: Graham Hill e Jacques Laffite.  

 

 

A grande disputa da prova foi protagonizada pelos pilotos que disputaram o mundial de pilotos do ano anterior: Fittipaldi e Regazzoni.

 

Quem também vinha fazendo uma corrida sensacional era o companheiro de Emerson Fittipaldi na McLaren, o alemão Jochen Mass. Mass largara em 13º e veio galgando posições, virando de forma rápida e constante. Com o passar dos anos, pode se dizer que estava fazendo uma das melhores corridas de sua passagem na Fórmula 1. Seu grande feito nesta prova foi ter, na 23ª volta, ultrapassado e “despachado” Patrick Depallier e Niki Lauda. 

 

Fittipaldi x Regazzoni. 

 

Clay Regazzoni era um piloto extremamente experiente, daqueles que conhecia todos os truques para utrapassar e para não ser ultrapassado e, com um carro veloz de reta, era um osso duríssimo de ser enfrentado, mesmo para o bicampeão do mundo. Devido as dificuldades na parte de baixa do circuito, Regazzoni não conseguia acompanhar o ritmo da Brabham de José Carlos Pace e, com a aproximação de Emerson, passou a guiar de forma mais defensiva, com isso, perdendo mais terreno ainda.

 

 

 

Após uma disputa intensa, Emerson mostrou porque era o bicampeão do mundo: ultrapassou Regazzoni na entrada do "S".

 

Ao contrário de Lauda, Regazzoni não parecia ter as mesmas dificuldades no contorno da curva do sol, que antecedia a curva do sargento... o ponto de ultrapassagem teria que ser outro e não restavam muitos outros no miolo... a entrada do “S”, após a curva do laranja ou o bico de pato. Foram quase 15 minutos de batalha – seis voltas – até que, quando o suíço menos esperava, Emerson, que conseguira sair colado da curva do laranja, mergulhou por dentro na primeira perna do “S” de uma forma que o piloto da Ferrari não teve mais como fechá-lo. Vibra Interlagos... Emerson era o terceiro. 

 

Carreras son Carreras... 

 

A mítica frase de Juan Mauel Fangio ainda é repetida em todos os autódromos e em todas as categorias há mais de 50 anos e, mesmo 15 anos após sua morte, ainda é a que melhor define o que é uma corrida de automóveis. 

 

 

Assim como na Argentina, Jarier não terminou a prova. Se na abertura do campeonato, nem completou a primeira volta, aqui foi pior...

 

Faltando 10 voltas para o final, a fatura parecia liquidada. Jarier tinha mais de 20 segundos de vantagem para Pace, que tinha mais de 12 segundos de vantagem para Emerson Fittipaldi. Contudo, com mais de 100 mil pessoas “secando” o Jarrier e seu carro preto, a corrente de pensamento parece ter dado certo. 

 

Na 30ª volta, o Jarier ainda liderava tranquilo, mas a vantagem caíra para pouco mais de 13 segundos. Poderia ser uma “administração da vantagem”... mas não era. Na volta seguinte, o Shadow começou a apresentar problemas, mais tarde descobriu-se que foi na bomba de combustível e, na volta seguinte, acabou parando na reta oposta. 

 

 

Consciente de que a vitória era certa, o jovem francês chorou sentado no guardrail da reta oposta... era o fim do sonho do pódio.

 

Desolado com o infortúnio, Jarier não conseguiu conter o choro pela vitória praticamente certa ter se esvaído entre os dedos. 

 

Com José Carlos Pace em primeiro e Emerson Fittipaldi em segundo, 12 segundos atrás, a única luta por posições entre os pilotos da frente era entre Clay Regazzoni, que perdera muito terreno em relação a Fittipaldi, e Jochen Mass, que ultrapassara Niki Lauda e Patrick Depallier, avançando rápido. Desta feita Regazzoni não conseguiu duelar por muito tempo e na 33ª volta o segundo carro da McLaren passava a ocupar a terceira posição. 

 

 

Não há como se negar que o público fora muito mais para ver Emerson Fittipaldi... mas aquele era o dia de um outro brasileiro: Pace.

 

Emerson ainda tentou “buscar” a Brabham de Pace, mas após algumas voltas, decidiu poupar o carro a um desgaste excessivo e uma eventual quebra, mantendo assim a liderança do campeonato, com os 6 pontos somados aos 9 da vitória na Argentina. Ele parecia ter consciência de que perdera a chance de vencer com a péssima largada. 

 

A festa brasileira. 

 

Assim, após 40 voltas, muito calor e suor, a corrida terminou com a primeira dobradinha brasileira na categoria, com José Carlos Pace conquistando sua primeira – e que viria a ser a única – vitória na carreira como piloto de Fórmula 1. 

 

 

Pace agitava a bandeira brasileira com a esposa - Elda - ao seu lado no alto do pódio. Jochen Mass tratava de "encher a taça".

 

A festa no pódio, extremamente acanhado em vista do que se vê nos dias de hoje, foi intensa. Com os pilotos cercados por jornalistas e fãs que invadiram a pista.  

 

Pace e Emerson, amigos desde a adolescência em São Paulo e que tantas vezes correram juntos naquela pista, de tudo que se poderia correr estavam ali, no alto do pódio da categoria mais importante do mundo. Elda Pace, a esposa e companheira de todas as horas estava lá, ao lado do marido naquele dia que ficará para sempre na memória de todos nós.

 

 

Fontes: Revistas Autoesporte e Quatro Rodas, Jornais Estado de São Paulo e Folha de São Paulo.

 

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Last Updated ( Sunday, 10 October 2010 10:03 )