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Um tetracampeão merece respeito PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 27 October 2020 13:11

Olá fãs do esporte a motor, quando se trabalha no acompanhamento terapêutico de pessoas, somos obrigados a lidar com um enorme número de situações – algumas delas bem desconfortáveis – onde o paciente está com um comportamento alterado.

 

O comportamento alterado de uma pessoa pode ser algo relativamente comum. Situações do cotidiano podem nos levar a ter algumas alterações de humor durante o dia. Algo que não sai conforme o planejado, ônibus cheio, trânsito. Mas quando ocorre um processo de desgaste acumulativo, a pessoa pode simplesmente “explodir como um vulcão”.

 

As pressões que um piloto da Fórmula 1 sofre por resultados é algo enorme. Como tenho pilotos de outras categorias como pacientes, é muito fácil perceber isso e por mais diferenciado que estes pilotos sejam (acreditem, eles são pessoas acima da média), o acúmulo de pressões tem um limite e em algum momento a “armadura mental” pode romper-se, expondo o lado mais humano do ser humano: a reatividade.

 

Tive uma difícil sessão com Sebastian na terça-feira após o GP de Portugal e antes disso, conversei com ele por videochamada no sábado, após o treino de classificação. Passando por um ano particularmente complicado, onde as coisas se precipitaram ao saber, no início de 2020, antes mesmo da primeira corrida (que não aconteceu) na Austrália, por Mattia Binotto que não teria seu contrato renovado.

 

 Sebastian chegou na Ferrari para ser campeão, mas por erros (dele e da equipe) as coisas não sairam como se queria.

 

A relação entre o piloto e a escuderia italiana começou a desgastar antes mesmo dos carros entrarem na pista, mas Sebastian sabe que aquele acidente no final do GP Brasil teve um peso enorme nesse processo e já disse algumas vezes que, se tivesse como, voltaria atrás, mas também que o instinto de defesa de um piloto em corrida é algo que sai do controle. Se formos ver bem a história, ele tem razão, não foi o único e nem será o último.

 

Acostumado a ser a referência nas equipes onde passou, ter o status de principal piloto e geralmente andar na frente dos companheiros de equipe, desde o ano passado Sebastian passou a ser superado com certa frequência por seu companheiro de equipe, Charles Leclerc, sem conseguir ter bons desempenhos com sua Ferrari. Em minha análise, aquela saída de pista quando liderava tranquilo em Hockenheim  em 2018 é algo que ainda pesa muito sobre seus ombros.

 

 Para completar o leque de dificuldades, o carro de 2020 saiu do computador com problemas e junto com um motor fraco...

 

Em 2020, “com a carta de aviso prévio nas mãos” e tendo que lidar com um carro com graves deficiências, tanto de motor quanto de aerodinâmica, as coisas so poderiam piorar, especialmente estando de forma absurda atrás de Charles Leclerc no campeonato. Foram apenas 18 pontos marcados até este GP em Portugal enquanto Charles tem 75, incluindo dois pódios.  do monegasco. Mesmo que não seja o melhor ano da escuderia de Maranello, Leclerc conquistou dois pódios e chegou em quarto no GP de Portugal enquanto Sebastian ficou na décima colocação.

 

A “explosão” se deu quando Sebastian disse que seu carro não era igual ao do companheiro de equipe, o que tem um tom muito grave. Em agosto a equipe trocou o chassi do seu carro antes do GP da Espanha após “identificar um pequeno problema”. Ele tinha 10 pontos no campeonato, o que não era muito, e em Barcelona conseguiu um 7° lugar. Mas depois desta corrida foram outras seis e apenas 2 pontos marcados, com duas P10.

 

 A coisa ficou ainda pior no final de semana do GP de Portugal onde Vettel acusou a equipe e Binotto rebateu com força.

 

A declaração de Sebastian à RTL, emissora alemã que transmite a Fórmula 1 para seu país, caiu como uma bomba dentro dos boxes e a reação foi imediata, com Mattia Binotto negando esta diferença entre os carros e declarando que “esperava mais desempenho do seu segundo piloto”. No passado, por menos do que isso e com melhores resultados, a Ferrari rescindiu o contrato de Alain Prost após o GP do Japão, escalando Gianni Morbidelli ao lado de Jean Alesi.

 

Sebastian fez um quase desabafo quando disse que precisa olhar mais para si mesmo, que não está sendo fácil lidar com suas frustrações ante suas expectativas, especialmente porque as pessoas também esperam mais dele por ele ser um tetracampeão do mundo. Para ele, o que se fala pelo paddock, pelos canais de mídia não tem a relevância que muitos dão e que acham que ele dá. O mais complicado é processar o que acontece dentro do carro, porque, como qualquer piloto, qualquer atleta de alto nível, Sebastian está sempre em busca de superar seus limites.

 

 Ao fim da temporada, Sebastian Vettel vai deixar a Ferrari sem muitos motivos para sorrir, o que podemos voltar a ver em 2021.

 

Não pude fugir da questão sobre o que fazer neste final de temporada, com 5 corridas ainda a serem disputadas: cumprir o contrato ou mandar tomar a iniciativa de rescindir o contrato, uma vez que já tem endereço para 2021? Sebastian foi direto ao dizer que ele jamais rescindiria o contrato com a equipe, que tem respeito pela Ferrari e sua história, mas que não abre mão de um tratamento justo, digno e igual.

 

Ninguém é campeão mundial de Fórmula 1 por acaso, tetracampeão, tampouco. Sebastian merece respeito.

 

Beijos do meu Divã,

 

Catarina Soares

  
Last Updated ( Tuesday, 27 October 2020 13:49 )