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O pequi que virou abóbora PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 11 November 2020 22:27

Começo a coluna desse mês mandando um abraço para meu amigo Shrek, grande goiano que eu sei, não dispensa um arroz com pequi. No norte do meu estado, Minas Gerais, também tem muito pequi e ele é usado na culinária do norte mineiro, não só no arroz, mas também no frango, na galinhada mineira.

 

O pequi, fruto do pequizeiro, é nativo do cerrado brasileiro. De cor verde, quando maduro, possui em seu interior um caroço revestido por uma polpa macia e amarela, a parte comestível. O pequi pertence à família das cariocáceas (tem alguma coisa com o Falcon ou com o Patropi), pode ser encontrado em toda a região Centro Oeste (considerada a capital da fruta), nos estados de Rondônia, Minas Gerais, Pará, Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia e Ceará, visto que somente em Goiás podem ser encontradas todas as espécies.

 

O consumo do pequi requer cuidado, em razão dos inúmeros e minúsculos espinhos encontrados debaixo da polpa. Assim, é indicado que se roa o caroço, lentamente, ao invés de mordê-lo.

 

 Protegido por leis ambientais, os pequizeiros da região do norte e oeste de Minas Gerais não podem ser derrubados.

 

A região de Curvelo é uma das áreas em Minas Gerais que tem longas extensões de pequizeiros e foi ali, no meio de uma área de preservação florestal que um grupo de empresários decidiu construir um autódromo que – no projeto – deveria ser capaz de receber a Fórmula 1 e a MotoGP, com olhos bem direcionados para o mundial de motovelocidade, que já passou pelo Brasil com corridas em Goiânia e no falecido Jacarepaguá.

 

Em um estado com uma extensão de terra enorme (586.528.000 metros quadrados), tinham que fazer o autódromo justamente ali? Distante 150 km de Belo Horizonte e com uma população de 80 mil habitantes, é quatro vezes maior do que Guaporé (cidade cujo o maior atrativo turístico do município é o autódromo), mas três vezes menor do que Cascavel, cidade com um autódromo próximo e que tem grande tradição automobilística.

 

 A distância para Belo Horizonte não é um problema. O problema é que Curvelo tem uma infraestrutura precária.

 

Mas o tamanho da cidade (e a pequena rede hoteleira para quem tinha planos tão grandes) além da falta de um automobilismo forte no estado precisaria que o projeto fosse capaz de atender uma necessidade dos pilotos locais, limitados ao limitado autódromo de Santa Luzia (na grande Belo Horizonte) e para ter o retorno de um investimento do município em infra estrutura (a rede hoteleira, por exemplo, é bem deficiente), precisaria de um planejamento em conjunto (o que não pareceu ter acontecido).

 

E aí o autódromo de nome pomposo (Circuito dos Cristais) foi ser implantado no meio do pequizeiro (e por isso eu chamo de “Circuito dos Pequizais”). Sem poder cortar qualquer árvore, o jeito foi desviar delas. O resultado prático disso foi um traçado com mais de 4.400 metros, com 18 curvas e nenhuma reta (pelo menos uma reta decente). Lembro que na apresentação do projeto havia um piloto na equipe (Bruno Junqueira)... será que deram ouvidos a ele?

 

 Construído e logo em seguida reformado, a projeção de ser a casa do motociclismo no Brasil não se concretizou. 

 

Durante a construção do circuito os proprietários chegaram a convidar pessoas da Federação Internacional de Motociclismo para ver o projeto e analisar a viabilidade da pista para que eles pudessem tentar a homologação junto ao órgão internacional para tentar trazer o mundial de motovelocidade para o novo autódromo. Acontece que, para receber corridas de motociclismo as normas de segurança são ainda mais rígidas das que são usadas no automobilismo e, como veremos adiante, nem para o automobilismo as áreas de escape do circuito estavam com um tamanho que desse segurança em caso de corridas com carros mais velozes.

 

Serpenteado entre os pequizeiros, asfaltaram a pista, conseguiram uma homologação junto à CBA, na época presidida pelo ‘cidadão sorridente lá de Pernambuco’ (gentileza retribuída com o voto no candidato da situação na eleição meses depois) e levaram a Stock Car em 2016 para a “inauguração oficial do Circuito dos Cristais”, numa pista sem caixas de brita ou asfalto nas áreas de escape, sem guard rails ou barreiras de pneus nas curvas e – o pior – muros de limite de área de escape feito de tijolos, como se viu no acidente de Felipe Lapenna nos treinos.

 

 Nos treinos para a primeira corrida da Stock Car os promotores, o público e a mídia descobriu que os muros eram de tijolos.

 

Como cancelar a corrida seria um problema muito sério para a organização da categoria (será que ninguém inspecionou o autódromo antes?) e a CBA não iria “deshomologar” (essa palavra nem deve existir) o circuito, foi feita uma vista grossa daquelas e a corrida aconteceu. A Fórmula Truck, na época da D. Neusa Felix, nem se meteu a por as rodas por lá vendo que o circuito não tinha condições de receber a categoria.

 

No ano seguinte, com a CBA “sob nova direção”, os proprietários do autódromo fizeram uma “ponte de safena” no traçado, tirando a parte mais perigosa (a curva onde Lapenna bateu, que era após o ponto de maior velocidade, em descida) e criaram um “circuito alternativo”, encurtado para 3.300 metros. Isso levou a Stock Car de volta a uma disputa em 2017. Depois disso, a categoria não voltou mais por lá.

 

 Os caminhões só estiveram em Curvelo com a Copa Truck em 2019. A Fórmula Truck não o considerava como uma opção segura.

 

A Fórmula Truck, mesmo com a mudança do traçado, continuou longe de Curvelo. Apenas em 2019, no novo formato – a Copa Truck – a categoria, levando as competições das categorias de apoio como a Copa HB20 e o Mercedes Challenge, mas não programaram retorno para 2020, mesmo antes da pandemia ter suspendido as competições no Brasil.

 

Apesar dos olhos voltados para o motociclismo, o principal evento de competições sobre duas rodas do país – a Superbike Brasil – passou longe de Curvelo nos últimos 4 anos. Com isso, o autódromo que os seus proprietários pretendiam colocar no mapa do mundo tem ficado restrito às competições regionais, algo que deve ser frustrante para todos os envolvidos no empreendimento, a menos que o projeto do “autódromo clube”, com a associação de aficionados, donos de carros possantes para fazer track days e que construíram casas no entorno da pista venha dando o retorno financeiro ambicionado pelos investidores.

 

Potenza.

Para terminar de cravar os espinhos do pequi na língua e no céu da boca dos donos do Circuito dos Cristais, mineiramente, sem chamar muita atenção e com o cuidado devido para não tentar voos mais altos do que permite o tamanho do esporte a motor brasileiro, já está na reta final o autódromo Potenza, em Lima Duarte, próximo a Juiz de Fora, na beiradinha do estado, com um circuito moderno, bem estruturado, capaz de receber competições para todas as rodas.

 

 Na reta final das obras, o Potenza, próximo a Juiz de Fora, além de ser o melhor autódromo de MG, vai ser a melhor opção para o RJ.

 

Mesmo sendo um município pequeno, com 16 mil habitantes, a proximidade com Juiz de Fora (20 km) resolve o problema de logística para equipes e promotores. Além disso, é mais perto de Petrópolis (capital fluminense do esporte a motor) e da capital do estado do que Campos dos Goitacazes, onde um corajoso vem fazendo um autódromo praticamente do próprio bolso, mas que (ainda) não tem condições de ser homologado para competições nacionais.

 

E assim se conta a história de como um pequi virou abóbora como a carruagem da Cinderela.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva 
Last Updated ( Thursday, 12 November 2020 21:46 )