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As novas configurações de paitrocínio PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 08 December 2020 21:39

Para quem tem mais de 40 anos – meu caso e o de meus amigos – tenho uma notícia preocupante. Não, não tem nada a ver com o recém encerrado “novembro azul”, que quem foi inteligente e consciente (não vou colocar a rima aqui porque sei que a chefia de edição vai censurar). O problema é ainda mais grave.

 

O idioma do Brasil está mudando! Não é mais o português que aprendemos no colégio ou mesmo as gírias que vieram com o tempo enriquecendo o vocabulário. A molecada de hoje fala uma coisa ininteligível, com algumas palavras de português no meio, mas que soa incompreensível para a nossa geração.

 

Na semana passada meu moleque só não tomou uns tapas porque hoje em dia, tem essas coisas de “lei menino Bernardo”, que pode dar até cadeia para os pais que baterem nos filhos (e porque aos 16 anos e com 20 centímetros a mais que eu, não sei se seria uma boa ideia), ele me respondeu uma coisas que eu não entendi: “pai, suas configurações precisam ser atualizadas”!

 

O que diabos (a palavra não era bem essa...) isso quer dizer eu não fazia a menor ideia e o ar de deboche típico da adolescência me deixou furioso. A minha filha, rindo, veio me explicar o que era e essa relação de pais e filhos em alguns casos parecem ser meio complicadas e estão ficando assim cada vez mais. Em alguns casos, pelo menos que tenho visto, não só complicadas como dispendiosas. Eu pedia dinheiro para comprar um pião pra jogar na rua. Meus filhos pedem coisas que talvez eu comprasse uma fábrica de piões com o valor delas. Também está ficando assim no automobilismo.

 

Antigamente eu ouvi muito a palavra “paitrocínio” quando se falava de automobilismo. Algo que faz muito sentido. Tem um programa de TV passando onde o Rubinho Barrichello fala que seu pai vendeu o carro para ele poder disputar o campeonato brasileiro de kart daquele ano. Em um esporte caro como automobilismo, o investimento é fundamental e no caso dos pilotos que estão começando no kart, sem patrocínio, o dinheiro sai – naturalmente – de casa. Isso aconteceu com praticamente todos. Se não foi o pai foi a mãe, os tios ou avós.

 

 Nonô Figueiredo, um dos melhores pilotos de tursmo do Brasil, teve o suporte técnico e financeiro de seu pai, o NdG Carol Figueiredo.

 

Assim como Barrichello, milhares de pilotos pelo mundo inteiro começaram suas vidas nas pistas assim: com “paitrocínio”. Mas como meu filho se referiu, as “configurações foram atualizadas”! Além dos custos estarem cada vez mais altos, a coisa do “paitrocínio” ficou algo ridiculamente caro depois que Lawrence Stroll comprou uma equipe de Fórmula 1 para seu filho. Lance Stroll não é um mau piloto, mas talvez não estivesse nem na categoria sem o combustível financeiro paterno, quanto mais numa equipe média, com potencial de pódios, como é a “Racing Daddy”, apelido dado pelo nosso colunista, Alexandre Gargamel.

 

Falando em “Racing Daddy”, houve inclusive disputa e o “Daddy” poderia ser outro. Dmitri Mazepin, pai do piloto que está em terceiro lugar no campeonato da Fórmula 2, Nikita Mazepin, fruto de um desses milagres capitalistas pós esfacelamento da União Soviética, Dmitri, natural de Minsk, Belarus (que nos meus tempos de colégio era Bielorussia) é o bilionário dono da empresa Uralkali, empresa de fertilizantes (obrigado Google). Ele tentou comprar a então Force Índia, mas perdeu a corrida para o também bilionário canadense Lawrence Stroll , que pagou 90 milhões de libras pelo time e que tornou-se sócio depois da associação com a Aston Martin. Mazepin levou o caso para a justiça na Inglaterra, alegando que a venda não se deu “pela proposta mais alta”. Isso sim é que é briga de cachorro grande!

 

 Desde as primeiras corridas nas categorias de base que papa Dmitri traçou o caminho do seu filho pra F1... custasse o que custasse.

 

Dmitri Mazepin, disposto a tudo para colocar seu pimpolho na Fórmula 1 este ano (detalhe interessante: o piloto nem sequer tinha os pontos para a superlicença quando o pai entrou na briga), ele foi à luta e “fechou acordo” com a Haas. Gene Haas e seu escudeiro, o simpaticíssimo Guenther Steiner, juram de pés juntos que o empresário dos Urais não veio plantar nada na equipe que não seja um lugar para seu filho correr na Fórmula 1 nos próximos anos e que nem comprou parte da mesma, apesar da nota de divulgação do contrato dizer que Nikita será piloto da equipe “por vários anos”.

 

Outro “paitrocinador” de peso na categoria é o pai de Nicholas Latifi, Michael Latifi. CEO da empresa de alimentos Sofina, que estampa seu nome nas laterais dos carros da equipe Williams, Michael Latifi, iraniano naturalizado canadense, é outro bilionário que vem investindo pesado para que seu filho tenha lugar no seleto grid da Fórmula 1. Ele não economizou dinheiro nesse projeto. Primeiro, comprou 10% da McLaren, mas as coisas por lá não eram tão simples e o piloto precisava pilotar mais do que o seu filho pilota.

 

 Michael Latifi diversificou: atirou em mais de uma direção para colocar seu filho, Nicholas, na F1. Hoje é o maior credor da Williams.

 

Sem oportunidades na McLaren, os Latifi foram para a Williams, então desesperada por dinheiro. Chegaram e, inicialmente, garantiram a vaga com um vultoso patrocínio, mas em seguida, vendo a situação do time que podia nem terminar a temporada de 2020, Michael Latifi emprestou 50 milhões de libras para a equipe continuar no campeonato, mas não fez lances para a compra da equipe, vendida ao grupo Doriton Capital por 136,5 milhões de libras, mas que o deixa, por conta do empréstimo, em uma posição bastante vantajosa para manter seu filho “por vários anos” na categoria.

 

Assim, três das 20 vagas na Fórmula 1 estão garantidas pelo bilionário mercado de papais ricos e seus “paitrocínios”, que garantirão seus filhos na categoria por muitos anos. Em paralelo a isso, ainda temos um outro tipo de “paitrocínio”: o hereditário! Se formos olhar a quantidade de filhos, sobrinhos e netos de pilotos buscando seguir a carreira de sucesso de seus pais, tios e avós pra chegar na Fórmula 1, dá pra fazer um grid com 20 carros e uma categoria (Fórmula Family?).

 

 Que o dinheiro pesa muito, todos já chegaram a esta conclusão. E um sobrenome com peso de ouro? Quanto vale isso no mercado?

 

Mas uns tem mais “capital biológico” do que outros. Esse é o caso de Mick Schumacher, filho de Michael Schumacher. Em 2017 e até a metade de 2018 era um piloto de “meião de grid” na Fórmula 3 europeia quando, de uma hora pra outra, passou a ganhar tudo e terminou o ano como campeão. Ganhou assim mesmo um lugar “pela janela”, na Academia de Pilotos da Ferrari, que começa com os pilotos iniciando na Fórmula 4.

 

Em 2019 foi pra Fórmula 2 e andou no “meião do pelotão”, errando, batendo rodando... mas continuou na estrutura da Equipe Prema. Começou o ano tomando pau do companheiro de equipe, Robert Shwartzman, campeão da Fórmula 3 em 2019 e piloto Ferrari desde a Fórmula 4. Daí, novamente, do nada, começou a andar bem, ganhar corridas, fazer largadas fenomenais e antes mesmo de ser decidido o campeonato da categoria, foi anunciado como companheiro de equipe de Nikita Mazepin na Haas, com todo o suporte técnico e material da Ferrari. Com isso acho que podemos dizer que são 4 e não 3 os pilotos “paitrocinados”.

 

 É 'seu Laurêncio'. o senhor ajudou a piorar uma coisa que já estava ruim no automobilismo com seu "paitrocínio selvagem".

 

E assim o funil da Fórmula 1 vai ficando cada vez mais estreito para pilotos que sejam apenas talentosos e rápidos, contudo, órfãos.

 

Abraços,

 

Maurício Paiva