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Emoção (e frustração) em 3 atos no final de semana de velocidade PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 30 August 2021 09:17

Olá leitores!

 

Mais um final de semana com grandes corridas para o fã do esporte a motor se entreter, um final de semana com decisão, com superação, com comédia pastelão, um final de semana o qual passamos da emoção para o ódio, da sensação de satisfação por ver os frutos de um trabalho dando certo até a sensação de tempo desperdiçado inutilmente. A palavra chave para o fim de semana foi emoção. Como uma boa obra de arte, vamos dividir em 3 atos.

 

O primeiro ato foi a última corrida da temporada regular da NASCAR, no circuito de Daytona, no sábado à noite. Uma pista que geralmente promove surpresas, e dessa vez não foi diferente. A direção da categoria escolheu uma configuração de carro que não tinha sido testada ainda, com maior apoio aerodinâmico e cavalaria reduzida. O resultado acabou sendo bom, com os pilotos andando juntos na pista na maior parte da corrida, e com o consumo levemente reduzido permitindo estratégias diferenciadas que foram testadas nos segmentos. Espero que essa configuração volte a ser utilizada em superspeedways, foi uma senhora corrida. O primeiro segmento ficou nas mãos de Chase Elliott e o segundo teve em Joey Logano o vencedor. Até aí, sem grandes surpresas, afinal o que todos esperavam era o pessoal que tinha chances matemáticas de ir para os playoffs aprontando alguma estratégia para se dar bem no segmento final. Só que Daytona não é uma pista que perdoa erros, e como tínhamos um bocado de pilotos se comportando de maneira nervosa na pista, os acidentes começaram a acontecer perto do final da corrida. Ao todo foram 3 “Big Ones”, o último literalmente na volta final da prova, que terminou em bandeira amarela por conta desse enrosco todo na última volta. A lista de pilotos no Top 10 me lembrou o título de um velho filme italiano do começo dos anos 70, “La Classe Operaia Va In Paradiso”, tamanha a quantidade de pilotos “azarões” que terminaram bem colocados por conta dos “figurões” terem se envolvido em acidentes. A vitória ficou com Ryan Blaney (Ford), que foi muito bem na relargada da prorrogação e no momento do último acidente estava com uma vantagem razoável para o segundo colocado Bubba Wallace (Toyota), que assim conseguiu o melhor resultado até agora para a equipe de Michael Jordan. Em 3º lugar chegou Ryan Newman (Ford), outro piloto que foi muito hábil em escapar dos enroscos em que os outros se enfiavam. Na 4ª posição apareceu Ryan Preece (Chevrolet), mais um resultado de “quebrar a banca” da casa de apostas, à frente de Tyler Reddick (Chevrolet), que chegou em 5º. Em 6º, após largar em 28º lugar, surgiu Justin Haley (Chevrolet), à frente de um dos mais promissores pilotos da Hendrick Motorsports, Alex Bowman (Chevrolet), que terminou em 7º, e do atual campeão Chase Elliott (Chevrolet) que chegou em 8º. 9º e 10º lugares ficaram, respectivamente, com B.J. McLeod (Ford) e Josh Bilicki (Ford). Alguns desses pilotos certamente conseguiram a melhor posição de chegada de suas carreiras na categoria principal nessa corrida...

 

Próximo final de semana já começam os Playoffs, com os seguintes pilotos no “funil” da disputa do título da temporada: Kyle Larson, Ryan Blaney, Martin Truex Jr., Kyle Busch, Chase Elliott, Alex Bowman, Denny Hamlin, William Byron, Joey Logano, Brad Keselowski, Kurt Busch, Christopher Bell, Michael McDowell, Aric Almirola, Tyler Reddick e Kevin Harvick. Que os jogos comecem...

 

O segundo ato se deu em Silverstone, onde o Mundial de Motovelocidade fez uma etapa das mais interessantes, inclusive pelo fato da categoria largar onde realmente deve ser feita a largada, logo após a curva Woodcote, e não naquele mausoléu nababesco e de gosto questionável construído pra receber a Fórmula Barbie. Na Moto3 um pódio inteiramente devotado ao “Fratelli d’Italia”, com a vitória de Romano Fenati, o 2º lugar de Niccolò Antonelli e o 3º lugar de Dennis Foggia. Foggia inclusive batalhou bastante por esse pódio em uma acirrada disputa contra Izan Guevara, que realmente vendeu caro esse lugar no pódio. Na Moto2 uma das melhores corridas dos últimos tempos, uma excelente diversão para o espectador que – no mesmo horário – aguardava o pessoal da Fórmula Barbie decidir se arriscavam a chapinha na chuva ou não. Após uma acirrada disputa, Remy Gardner fez papai Wayne se estufar de orgulho (inclusive com ultrapassagens no mesmo padrão de arrojo que o papi utilizava em seus tempos de piloto na 500cc) e ampliou sua liderança no campeonato vencendo a corrida, seguido de perto por Marco Bezzecchi (que por sua vez mostrou que a aposta feita nele pela equipe de Valentino Rossi foi muito acertada) e tendo como companheiro no pódio Jorge Navarro, que mostrou um desempenho muito forte nas voltas finais. Na categoria principal (que correu antes da Moto2 pra evitar coincidência de horários com a categoria que deveria ter largado, mas não largou no mesmo dia) uma corrida emocionante do começo ao fim. O momento bizarro ficou por conta de Marc Márquez, que quis dar o troco na ultrapassagem recebida do jovem Jorge Martín, errou o golpe de vista e fez um strike que tirou ambos da prova... uma verdadeira manobra de iniciante. Pol Espargaró até tentou fazer valer a sua pole position duramente conquistada no sábado, e efetivamente por alguns momentos foi o líder da corrida... até que Fabio Quartararo o alcançasse, ultrapassasse e fosse embora lá na frente para conquistar sua 5ª vitória na temporada e abrir a confortável vantagem de 65 (isso mesmo, sessenta e cinco, não leram errado não) pontos no campeonato. Para seu azar, Pol Espargaró não teve o ritmo de corrida necessário para conquistar um pódio a partir da sua pole position e sua ótima largada, mas de qualquer forma o 5º lugar conquistado foi o melhor resultado dele como piloto do HRC. Em 2º chegou Alex Rins, que fez uma corrida cerebral com sua Suzuki partindo da 10ª posição e conquistou o melhor resultado que poderia com Quartararo na pista e sem cometer erros. O francês realmente estava inalcançável esse domingo. Em 3º chegou a grande, enorme surpresa do domingo: Aleix Espargaró lutou incansavelmente do começo ao fim da corrida, e nas últimas voltas conseguiu se impor sobre Jack Miller após algumas trocas de posições para dar à Aprilia o seu primeiro pódio na MotoGP. Comemoração nos boxes da equipe italiana claro que foi equivalente à conquista de um título, e o resultado coroou os trabalhos da equipe no desenvolvimento do equipamento. Desde o início do ano já dava para perceber que o projeto da moto desse ano é bom, faltava era um resultado que mostrasse isso no final da prova.

 

O terceiro ato se deu em Spa-Francorchamps na forma de uma ópera bufa, e que não foi culpa única e exclusiva do tempo não exatamente muito agradável na Floresta das Ardenas. Foi uma monumental sequência de erros, alguns com mais de 20 anos. Como diabos uma categoria possui um regulamento técnico de centenas de páginas e não prevê uma altura mínima para a configuração de chuva dos carros, de forma que não aquaplanem por estarem muito baixos em relação ao solo? Onde o ‘jênio’ da segurança achou que suavizar o trajeto do conjunto Eau Rouge e Raidillon de forma a tornar a curva mais rápida (não se enganem, hoje em dia as duas curvas são MUITO mais fáceis do que eram nos anos 70; onde os carros passavam na época hoje em dia é ocupado por barreiras de pneus, a pista atual era um gramado que ficava atrás do guard-rail) iria aumentar a segurança da curva? Aquele trecho de saída da Raidillon onde a inclinação do morro diminui virou quase uma rampa de lançamento nos dias atuais, não existe mais aquela coisa de antigamente de precisar ter o carro absolutamente perfeito para tentar fazer as duas curvas de pé cravado no acelerador, você mexe muito menos o volante em relação ao traçado original. Como raios isso seria “mais seguro”???? Com tempo frio, e portanto com maiores dificuldades pra manter a temperatura ideal dos pneus, até para carros de Fórmula 3 o trecho se tornou inviável, como demonstrado no acidente da classificação da W Series na sexta-feira. Agora pedem “mudanças na curva”... do jeito que esse povo utiliza bem os seus neurônios (só que não) provavelmente vão fazer uma chicane antes da curva como fizeram em 1994, já que a atitude correta (retornar ao traçado original e desbastar o morro atrás da curva para criar a área de escape) seria “muito cara” e “antiecológica”... não comentarei a respeito de pilotos e direção de prova, já que meu desprezo pela atual geração de ambos é sobejamente conhecido. Fico pensando o que Graham Hill, Jack Brabham e James Hunt diriam a respeito dos pilotos atuais... nada muito abonador, certamente. Niki Lauda, sozinho, tinha mais coragem que o grid atual inteiro, incluindo os pilotos reserva. Só nos resta torcer para que próximo final de semana tenhamos corrida...

 

Por falar na W Series, as garotas foram para a pista no sábado mesmo com chuva e fizeram bonito. A vitória – mais do que merecida – ficou com a finlandesa Emma Kimiläinen, que tem uma história de batalha para se manter nas pistas muito bonita, tendo sofrido um hiato de 5 anos por falta de fundos, e aproveitando as condições difíceis de aderência... digamos que ela aplicou aquele conhecimento de falta de aderência que a Mãe Natureza ensina aos finlandeses e conseguiu a vitória com folga sobre a líder do campeonato, Jamie Chadwick, que com o segundo lugar conquistado ampliou um pouco mais sua vantagem sobre Alice Powell, que terminou a corrida em 4º. O degrau mais baixo do pódio foi ocupado pela espanhola Marta Garcia. A representante brasileira, Bruna Tomaselli, infelizmente teve um dia difícil e terminou apenas no 15º lugar. Fica a torcida por dias melhores, onde ela possa mostrar o talento que sabemos que tem.

 

Até a próxima!

 

Alexandre Bianchini

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid.