Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Perdas e Danos: a corrida da Mercedes contra o tempo PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 30 March 2022 21:42

Caros Amigos, Atuar na gestão de uma empresa significa, dentre outras coisas, estar preparado para tomar decisões que efetivamente agreguem valor ao negócio. A verdade é que, ao mesmo tempo em que uma decisão errada pode, por sorte, não causar grandes problemas para uma empresa, um erro mínimo pode ter efeitos catastróficos para outra.

 

Estas regras aplicam-se perfeitamente a uma equipe de Fórmula 1 e isso desde muito antes dos vínculos atuais das mesmas com as grandes montadoras, plataformas de negócios, parcerias que vão além dos “simples patrocínios” – até os não expostos como o da Marlboro à Ferrari.

 

Então o segredo está em ser conservador para não correr riscos desnecessários, sempre buscando tomar decisões certas ou ser arrojado e tentar um caminho que não passa pela mente dos seus concorrentes para, com isso, ter uma vantagem sobre eles?. Correr riscos faz parte de qualquer negócio. O que pode – e sempre deve – ser questionado é: até onde podemos ou devemos correr esses riscos e, muito importante, quais as consequências que poderão advir em caso de erro de decisão?

 

Assim como os chamados “sete pecados capitais” (corriqueiramente ligados à igreja católica, mas que sequer constam da bíblia), no mundo corporativo também existem sete pecados capitais que podem colocar uma empresa em um caminho problemático. São eles: Não (re)conhecer o problema; Não limitar as opções; Interpretar os dados erroneamente; Subestimar os riscos; Não acertar o momento; Não considerar o futuro; e desconsiderar o histórico.

 

Todas as vezes que a Fórmula 1 buscou mudanças grandes nos seus regulamentos técnico e desportivo, sempre com a motivação “aumentar a competitividade”, “permitir mais ultrapassagens” e/ou “aumentar a segurança”, sempre trouxe em seu bojo – implícita ou explicitamente – a busca da quebra de uma hegemonia estabelecida. A história recente mostra isso com as mudanças de 2004, que quebrou hegemonia da Ferrari e a de 2013, que mudou o controle da categoria das mãos da Red Bull para as da Mercedes, que mesmo com algumas pequenas tentativas de mudança, conseguiu permanecer no topo.

 

A mudança para 2022 foi grande, as equipes trabalharam de direções distintas e nesses caminhos, é sempre possível alguém tomar um caminho cujo resultado não venha a atender aquilo que foi planejado. Mudanças de regulamento permitem que, por vezes, ousadias se façam permitir, como fez a BAR nas mãos de Ross Brawn, que enxergou uma possibilidade no regulamento e isso levou o time a conquista do título de 2009.

 

Quando a Mercedes chegou ao Bahrain com um carro praticamente sem sidepods, com estranhos “suportes de retrovisores” (que já estão proibidos para 2023), gerou muita polêmica e, com os carros na pista, não faltaram suposições de que os alemães estavam “escondendo o jogo”, andando com o carro sempre pesado... mas a realidade era que, se no ano passado o carro começou a temporada com problemas, este ano eles estão com um carro com enormes problemas.

 

A reintrodução do “efeito solo” trouxe de volta um fenômeno antigo com os quais os carros do final dos anos 70 e início dos anos 80 tinham que lidar quando os carros atingiam altas velocidades e, devido às cargas aerodinâmicas crescentes. Quando o assoalho do carro fica muito baixo, mais próximo do que seria o ideal para o fluxo de ar passar e provocar o “efeito solo”, a força sob o piso se perde e grande parte da força descendente é perdida. Esse fenômeno libera o carro de volta, então a altura assoalho para o solo aumenta novamente. A rápida repetição deste ciclo causa um efeito curioso e dramaticamente prejudicial. Todos os carros estão passando por isso, mas nenhum com a intensidade que a Mercedes vem experimentando.

 

Entretanto, este não é o único problema que os especialistas identificaram na campeã mundial de construtores. O carro “perde a traseira” nas curvas lentas e médias, exigindo mais dos pneus que além de estarem ficando mais quentes, estão se degradando mais rápido que o constatado em outros carros. Apenas neste quesito, a perda no Bahrain era entre 3~4 décimos por volta, que somado ao problema de estabilidade em trechos de alta velocidade por perda do “efeito solo”, tirou a equipe e seus pilotos da luta por vitórias, ao menos neste início de temporada.

 

Na Arábia Saudita a equipe buscou um “caminho alternativo” com o carro de Lewis Hamilton e o resultado foi oposto ao desejado. Enquanto George Russell manteve o carro como “terceiros do grid” – o que certamente é pouco na visão dos gestores da Mercedes – Lewis Hamilton não passou do Q1. Apesar de ainda ser um carro competitivo em relação às demais equipes, a Mercedes não se vê em outro lugar que não na disputa pelo título, tanto de pilotos quanto de construtores.

 

Entre os dois primeiros GPs e a terceira etapa, na Austrália, teremos um intervalo de duas semanas e este tempo precisa ser suficiente para que a Mercedes apresente alguma reação, lembrando que o desenvolvimento de motores ficará “congelado” até 2025, não teremos “canhões” como o do final da temporada 2021 para empurrar os carros – agora – prateados, no momento, sob pesadas nuvens negras.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva