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Automobilismo em Pernambuco PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Thursday, 23 September 2010 04:42

 

 

Quem passa pela Rua Arpoador, número 58, no bairro do Setubal, na divisa entre os municípios do Recife e de Jaboatão dos Guararapes, cidade da região metropolitana da capital pernambucana, custará a acreditar no que os seus olhos mostrarão:  

 

A rua de terra, sem calçamento, com enormes buracos que enchem d’água a cada chuva, tem entre os imóveis que lá estão, um terreno com uma pequena construção no fundo. Este é o endereço – segundo o site da CBA – onde estaria funcionando a sede da Federação Pernambucana de Automobilismo. 

 

O mato alto, o portão de grade, com corrente e cadeado, e a pequena casa fechada é um triste retrato do estado em que se encontra o automobilismo pernambucano, que um dia foi o mais proeminente da região nordeste. 

 

 

A angustiante visão do nosso fotógrafo quando viu onde era a "sede" da FPA, o fez ligar para mim imediatamente. 

 

Sendo Pernambuco o estado natal do atual Presidente da Confederação Brasileira de Automobilismo, Cleyton Pinteiro, não há como não lembrar de um dos dizeres populares mais famosos da região: Em casa de ferreiro, o espeto é de pau! 

 

Um pouco da história. 

 

Nos anos 50 e 60, Recife era a capital do automobilismo da região, sempre realizando provas que atraíam alguns dos mais importantes pilotos da época para correr nos circuitos de rua dos bairros da Boa Viagem, o bairro da famosa praia recifense, e – posteriormente – no circuito do Derby, um bairro mais próximo do centro administrativo da cidade. Era comum virem carros das principais equipes do país, como a Simca, a Willys e a Vemag, participarem de eventos na cidade que, àquela época, era a terceira cidade mais importante do Brasil em termos econômicos. 

 

Na praia da Boa Viagem - não na areia, claro - foram disputadas diversas provas de rua do automobilismo em PE nos anos 50/60. 

 

Ainda nos anos 60, quando da construção do campus universitário no que seria hoje o bairro da Várzea, e que teve parte dele passando a ser chamado de Cidade Universitária, as largas avenidas entre os prédios, com seu piso de placas de concreto mostravam-se uma excelente opção para serem feitas provas de velocidade sem complicar o funcionamento do trânsito em outros pontos da cidade. O circuito desenhado tinha 2600 metros de extensão e uma largura de pista – nas retas – de mais de 14 metros. 

 

 

Muita fera de renome foi enfrentar as placas de concreto da Cidade Universitária. Marinho Camargo bateu recorde por lá. 

 

Provas como as 3 Horas de Velocidade, que foi disputada em 14 de março de 1965 tiveram lugar neste circuito. Esta, em particular, contou com a presença de Mario Camargo Filho, ao volante de um DKW projetado por Rino Malzoni e que tinha a sua carroceria toda em fibra de vidro, sendo 150 Kg mais leve que o modelo feito em aço. Era o máximo. Um carro de ponta das pistas brasileiras corria em Recife. Marinho bateu o recorde da pista e liderou sem problemas até a 47ª volta, quando a quebra da embreagem fez com que ele tivesse que abandonar a prova, que tinha 97 voltas. 

 

 

Ainda na Cidade Universitária, uma disputa feroz de um VW "Topo Gigio" com um Puma. O público? Segurança zero! 

 

As corridas no estado eram organizadas pelo Automóvel Clube de Pernambuco e depois, também por um grupo dissidente, a Associação Amadora de Automobilismo. Foi apenas em 1972 que veio a ser fundada a Federação Pernambucana de Automobilismo, cujo primeiro presidente foi o senhor Alceu Leal. Em 1973, as provas de velocidade pararam de ocorrer na Cidade Universitária, deixando o público pernambucano sem um palco para as corridas até o final daquela década. 

 

 

A recém inaugurada Avenida Agamenon Magalhães também foi palco de disputas (Arrancadas, no caso) no início dos anos 70. 

 

Foi apenas em 1981 que ficou pronta a adaptação feita a um espaço que era dado como perdido: o “estacionamento rotativo” da Ilha Joana Bezerra.  

 

A prefeitura da cidade do Recife, alguns anos antes, numa tentativa de melhora o trânsito no centro da cidade, tentou implementar um sistema de transporte alternativo e diferenciado, criando bolsões de estacionamento que seriam servidos por ônibus especiais que levaria os passageiros até seus locais de trabalho, em linhas circulares pelo centro da cidade... a idéia não deu certo e os espaços ficaram ociosos até que, com a ação do presidente da FPA na época, o senhor Francisco Pinto de Castro e o impulso dado pelo desempenho do piloto Antônio Teixeira no campeonato Norte-Nordeste de F-VW 1300 no ano anterior, tiveram no apoio do prefeito, senhor Gustavo Krause, o suporte necessário para utilizar o ocioso estacionamento – que ficava ao lado de uma das maiores favelas da cidade – como palco para alavancar novamente o automobilismo pernambucano.  

 

 

O Autódromo da Ilha Joana Bezerra não era grande coisa... mas foi o melhor que se conseguiu para correr nos anos 80. 

 

O autódromo foi montado em pouco mais de dois meses e tinha 1725 metros de extensão. A maior das duas retas tinha apenas 680 metros e houve uma precipitação na época, quando se tentou inaugurar a pista com uma prova extra-oficial no dia 18 de janeiro: a quantidade de público foi muito acima do esperado e houve invasão da pista, causando a interrupção da corrida. 

 

A reabertura, desta feita com uma prova oficial do campeonato pernambucano de velocidade aconteceu no dia 27 de setembro, com a presença de mais de 20 mil espectadores para aplaudir os 32 carros entre FIATs e Passats que rasgaram o asfalto do Joana Bezerra. Desta vez, a única ameaça de invasão foi da parte de um bode, residente na Favela do Coque, vizinha ao autódromo mas que acabou não acontecendo.  

 

 

Prova no Joana Bezerra: Na primeira fila, Zeca Monteiro e Joca Ferraz (Gol nº 70) foi mais de uma década de grande disputas.

 

O Autódromo da Ilha Joana Bezerra manteve-se em atividade até o ano de 1990, do jeito que era possível, quando foi desativado. Algum tempo depois, foi erguido no local o prédio que abriga o Fórum da Cidade do Recife, e que, com isso, também encerrou as atividades do kart, que ocorriam na parte interna do estacionamento. 

 

O Kartismo pernambucano também padeceu durante décadas com o improviso, com corridas em estacionamentos do aeroclube, na Cidade Universitária, no Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães – o Geraldão – antes de ir para o Joana Bezerra. Nos últimos anos o palco das competições era o estacionamento do Shopping Center Guararapes, na cidade vizinha de Jaboatão.  

 

 

Provas em Caruaru: Arrancada 2010, o Pernambucano de velocidade de 1999 (abaixo) e no início dos anos 2000 (a direita).

 

O pernambucano não desiste nunca! 

 

Com a força de vontade de guerreiros como os que expulsaram os holandeses no século XVII e se rebelaram contra o governo central do Brasil diversas vezes, o kartismo pernambucano começa a ser novamente alavancado com o kartódromo da Serra do Tamboriu – homenagem a uma imponente árvore que tem este nome e que foi deixada no perímetro da pista. O novo circuito está localizado na cidade de Paulista, que faz parte da região metropolitana do Recife, ao norte desta, na Fazenda Mumbecas, próximo ao Sítio do Picapau Amarelo, conhecido local de lazer na região. 

 

 

O projeto do Kartódromo: Parte dele já está pronto. Faltam 400 metros para a homologação como Kartódromo Internacional. 

 

A pista foi inaugurada para fins de treino no último dia 09 de maio, contando com a presença de trinta e oito pilotos de todas as categorias, desde a cadete até a sudam. Sem exceção, todos os pilotos elogiaram o desenho da pista, a qualidade do asfalto e suas dimensões, que atualmente conta com 635 metros de comprimento por 8 metros de largura em todos os pontos.  

 

O investimento para esta empreitada partiu das mãos – e bolsos – de particulares, de amantes do kart, tendo sido construída exclusivamente com recursos privados, tendo a frente do projeto, como proprietários, investidores, e desportistas, o engenheiro Carlos Teixeira (Carlinhos Teixeira) e o senhor Sergio Dourado.

 

 

Largada em prova na Serra do Tamboriu. Ainda há muito o que ser feito, mas os primeiros passos já foram dados. 

 

O circuito ainda será ampliado, chegando a extensão de 1.060 metros de comprimento, o que possibilitará a realização de competições até de nível internacional. Além da pista em si, a pista terá 40 boxes fechados e 40 abertos, além de outras construções de apoio. Ainda falta o que fazer, mas pelo menos para começar a criar meios para o fortalecimento da categoria, é um início. 

 

 

O projeto para a reforma do Autódromo Internacional de Caruaru pretende habilitá-lo a receber as principais categorias do país.

 

Em Caruaru, o projeto para reforma do Autódromo Internacional Ayrton Senna encontra-se na reta final para a liberação da verba e início das obras em si. O projeto não é algo estratosférico nem envolve somas altíssimas. O investimento de 3 milhões de reais irá proporcionar, na visão do Diretor do autódromo, Sr. Pedro Manuel, a possibilidade de Caruaru receber as principais categorias do automobilismo do país e do continente. As obras consistem nos seguintes pontos: 

 

1 - Alargar a reta oposta em 2 metros, pela parte externa da mesma;

2 - Suavizar a chicane da reta oposta, criando assim um ponto melhor para ultrapassagens;

3 - Criar uma curva de alta velocidade, ligando a curva um á curva três, criando assim um novo traçado, porem mantendo o atual;

4 - Alongamento de 150 metros da reta dos boxes, aumentando a pista de arrancada;

5 - Tornar os boxes individuais, em duplos e três triplos;

6 - Fechar todos os boxes com portas corrediças;

7 - Construir 14 postos de sinalização;

8 - Construir uma sala  para a administração do autódromo;

9 - Transformar a lanchonete e os banheiros laterais em dois galpões;

10 - Construir um galpão por trás da sala de imprensa;

11 - Realocar o muro frontal do autódromo, aumentado o espaço interno;

12 - Realocar o lago, deixando livre a área de manobras e estacionamento das carretas;

13 - Realocar o muro entre as curvas um e três, aumentando a área de escape, da curva de alta;

14 - Refazer o piso dos boxes;

15 - Terraplanar e aplainar toda a área em volta da pista;

16 - Reparar a rede elétrica e hidráulica;

17 - Reparar os telas de proteção;

18 - Reparar e pintar as arquibancadas;  

19 - Impermeabilizar a torre e o ambulatório;

20 - Cobrir o acesso ao terraço da torre;

21 - Recapeamento de todo o circuito, inclusive área dos boxes. 

 

Velozes Filhos da Terra. 

 

Pernambuco já teve destaque em campeonatos nacionais e até em participações internacionais com seus pilotos ao longo das ultimas décadas da nossa história nas pistas. Toninho da Fonte participou de diversas provas pelo país no final dos anos 60 e nas décadas de 70 e 80. Nos anos 70 e 80, Zeca Monteiro – o atual presidente da FPA – e Joca Ferraz travaram acirradas disputas desde o kart até as provas de turismo e endurance. A disputa, saudável entre eles veio até poucos anos atrás. 

 

 

Toninho da Fonte, Joca Ferraz e Lulu Geladeira em uma largada de uma prova disputada - segundo relatos - em Salvador... bem antes da Stock!

 

Quem assistiu as provas do campeonato brasileiro de marcas e pilotos nos anos 80 e da Fórmula uno nos anos 90, certamente vai se lembrar de Rogério Santos, conhecido como – pasmem – “o Jegue Voador”. Que surgiu para o cenário nacional como um cometa ao vencer uma prova do brasileiro de marcas com um Passat praticamente todo branco, sem patrocínios, derrotando os principais pilotos do país. Rogério ainda tem o mérito de conseguir lavar para Caruaru, no – na época – recém inaugurado autódromo, uma etapa da F. Uno, competição onde alinhavam quase 50 carros.  

 

Rogério Santos, o Jegue Voador. Esse disputava de igual para igual com os maiores pilotos do país nas categorias de turismo. 

 

Outros pilotos pernambucanos nos anos mais recentes chegaram até a disputar categorias internacionais e correr na Europa, como foi o caso de Pinteiro Neto, filho de Cleyton Pinteiro.  

 

 

Nos anos 90, a Fórmula Uno era um sucesso. O Grid tinha mais de 50 carros em algumas provas e Rogerio andava na frente! 

 

Outro piloto da geração mais nova entre os filhos de Pernambuco dispensa apresentações: Beto Monteiro. Filho mais velho de Zeca Monteiro, Alberto Luiz Evaristo Monteiro Neto – ou Beto como ficou conhecido – iniciou a carreira em Pernambuco, mas o estado logo ficou pequeno para ele e – ao que parece – os carros também! Beto é uma das estrelas da Fórmula Truck, onde foi campeão no ano de 2004.  

 

 

No escritório de Zeca Monteiro, em Recife, uma foto para não esquecer: pai e filho, sobrenome de sucesso nas pistas. 

 

O “cabra” não teme desafios e este ano foi correr numa das provas de uma das categorias regionais da NASCAR, nos Estados Unidos. Além de ter se saído muito bem, sem nenhuma experiência prévia em circuitos ovais, saiu de um 22ºlugar na largada para um ótimo 7º lugar no final da prova. Beto ainda foi eleito o piloto mais combativo da etapa.  

 

Em resumo, “mão de obra” de qualidade não falta por lá... mas, o que estaria faltando? Para responder esta e outras perguntas, nada melhor do que ouvir o Presidente de FPA, Zeca Monteiro.

 

José Luiz da Costa Evaristo Monteiro nasceu em 08 de março de 1952, na cidade do Recife. Filho de portugueses, tinha em seu pai, Alberto Luiz Evaristo Monteiro, o vínculo com a velocidade, uma vez que, mesmo antes de vir para o Brasil, ele já era piloto e um piloto versátil, tendo pilotado em provas de Rally, de motos e de velocidade em Portugal.  

 

'Seu' Alberto veio para o Brasil no início dos anos 50 e assim, Zeca acabou nascendo aqui, sendo o seu irmão mais velho, português como o pai. Ele começou a frequentar provas em Recife desde os 6 anos de idade, onde seu pai já corria, inicialmente no circuito de boa viagem, bairro próximo à praia, posteriormente no Derby, mais próximo do centro e pôde presenciar a inauguração do circuito da cidade universitária. 

 

Começou a correr no kart no final da década de 60, com 16 anos, e iniciou sua vida nos carros aos 18, em 1970, tendo permanecido nas pistas por 35 anos, sendo um dos maiores nomes do automobilismo local e protagonista de grandes momentos e disputas com outra fera da cidade, seu amigo e duro adversário Joca Ferraz. 

 

Ainda estava ativo nas pistas quando pode presenciar o surgimento de um outro Monteiro para o mundo da velocidade, seu filho Roberto, que todo o Brasil conhece como Beto Monteiro, piloto da Fórmula Truck e campeão da categoria no ano de 2004. O filho de Beto Monteiro, a 4ª geração de pilotos, foi campeão pernambucano de kart em 2009! 

 

Casado, desde 1971, com Eliane Maria Monteiro, pai de três filhos, é dono de uma das maiores empresas de reboque da cidade, onde hoje, de certa forma, também funciona a Federação Pernambucana de Automobilismo, uma vez que a sede, na Rua Arpoador, nº 58, encontra-se fechada. 

 

NdG: O senhor está na presidência da Federação Pernambucana há quanto tempo? 

 

Zeca Monteiro: Estou no meu segundo mandato. Cada mandato tem quatro anos e este é o segundo ano, contudo, só concorri novamente por um acordo de que ficaria apenas mais dois anos. Estarei deixando o cargo em janeiro de 2011. Neste acordo, o vice presidente, Valter Bernardo, seria a pessoa que assumiria a presidência. Eu não queria ser reeleito por motivos pessoais e profissionais, mas me foi pedido que ficasse mais um pouco para a conclusão de alguns projetos e eu aceitei sob estas condições.  

 

NdG: O presidente da CBA é também um filho da terra, Cleyton Pinteiro. Independente disso, como é a relação FPA / CBA? 

 

Zeca Monteiro: O Cleyton foi presidente da FPA durante 3 gestões. Nossa relação é perfeita, trabalhamos em sintonia e ele tem uma atenção muito grande não só com Pernambuco, mas como um todo. Ele está fazendo um grande trabalho e eu lutei muito para que ele chegasse à presidência da CBA. A confederação teve muitos vícios no passado e não se consegue colocar tudo como se deve ou como se quer em pouco tempo, em um ou dois anos. Existem coisas que ainda precisam ser melhoradas, mas ele vem trabalhando duro e tem todo o apoio aqui da FPA. Na minha opinião, ele está fazendo uma grande gestão. 

 

NdG: Como foi o processo de criação da Federação Pernambucana de Automobilismo? 

 

Zeca Monteiro: Apesar de já termos corridas aqui no final dos anos 50, início dos anos 60, a FPA foi criada no início de 1972. Antes disso, as corridas eram organizadas pelo Automóvel Clube de Pernambuco, de onde meu pai chegou a ser um dos diretores. Nos anos 60, houve uma dissidência e três pessoas, cujo os nomes começavam pela letra A, fundaram a AAA – Associação dos Amadores do Automobilismo. Eles ficaram como organizadores até que em 1972, um grupo de empresários do ramo de automóveis e que viviam envolvidos com as corridas criou a federação e logo filiou-se à CBA. Muitos deles eram amigos do meu pai e eles fizeram tudo por conta deles, custeando as despesas de organização, aluguel de salas, contratação de pessoal. 

 

NdG: Existe um acervo da memória do automobilismo pernambucano com o senhor ou em algum lugar? 

 

Zeca Monteiro: Eu tenho um álbum com alguma coisa porque meu pai, além de piloto era jornalista. Tenho algo da década de 50. Da década de 60 não se tem muita coisa e a FPA pecou neste ponto, ao longo da história e quase nada foi preservado. Não são nem fotos, são mais recortes de jornais da época. Dos anos 80 eu tenho fotos do tempo em que corríamos no autódromo da ilha Joana Bezerra que na verdade foram feitas por uma fã minha e que eu ainda não consegui digitalizar. 

 

NdG: Hoje a FPA organiza que tipos de evento? 

 

Zeca Monteiro: Atualmente nós temos o campeonato pernambucano de velocidade, que está capengando este ano, mas nós realizamos as duas primeiras etapas, temos o campeonato de Rally, que está em andamento, o campeonato de arrancadas, que costuma levar um bom público para o autódromo de Caruaru e o kart que está agora com um novo kartódromo na cidade de Paulista. 

 

NdG: Quantos pilotos estão federados à FPA no momento? A quantidade de pilotos vem aumentando, diminuindo, está estável... 

 

Zeca Monteiro: Este ano estamos com algo em torno de 180... e este número vem diminuindo no ano passado tínhamos 263. Além destes, temos mais cerca de 70 kartistas. 

 

NdG: A Federação provém algum tipo de serviço para os pilotos federados, tipo, emissão de carteira internacional, renovação de habilitação junto ao DETRAN... algum outro? 

 

Zeca Monteiro: Nós já tivemos a emissão de carteiras internacionais junto com o Automóvel Clube de Pernambuco, mas atualmente não temos mais isso. Não há serviços, só o credenciamento para poder disputar os campeonatos. 

 

NdG: Nós estivemos no endereço que o site da CBA indica como sendo a sede da FPA e foi com imenso desgosto que vimos o que vimos. Como foi que a Federação Pernambucana de Automobilismo chegou à esta condição? 

 

Zeca Monteiro: Eu vou contar tudo para vocês. Nós utilizávamos a nossa sede, era lá que se faziam reuniões e até mesmo encontros sociais, pois a área na frente é grande, o problema é que eu tinha que colocar dinheiro do meu bolso e tanto e tanto, e sem retorno que uma hora eu disse “chega”. Meu maior custo era o pagamento da secretária, porque aquela sede é própria, que eu tive que dispensar. O local onde foi feita a sede não é bom, a rua não é calçada... eu até falei com Cleyton que nós deveríamos vender aquela propriedade e montar uma sala num empresarial desses aqui na cidade, que seria algo mais lógico, mas existe uma questão sentimental envolvendo aquela sede: foi na gestão dele que ela foi erguida. Na época a CBA dividiu uma parte do caixa entre as Federações e Cleyton pegou o dinheiro, comprou o terreno e construiu a sede junto com outras contribuições que vieram dos automobilistas do estado. Na verdade, ele queria deixar algo de concreto para o automobilismo pernambucano... ele até aceita a idéia da sala, mas não quer vender a sede, sugeriu o aluguel... mas até para alugar é complicado. Recife tem passado por sérios problemas de segurança pública e era preciso manter vigilantes e depois firmas de segurança para preservar o local contra invasões, assaltos... era mais uma despesa. Ficou insuportável!  

 

NdG: E como a FPA se custeia diante deste cenário tão adverso? 

 

Zeca Monteiro: Uma Federação de Automobilismo vive da taxa de renovação das carteiras dos seus pilotos federados. Esta taxa é muito pequena e não tem como ser muito maior porque, se for, ninguém renova. Com isso a receita também é pequena. Os clubes filiados a nós também passam por dificuldades, mal conseguindo equilibrar suas contas, quanto mais pagar taxas federativas. Aí, por paixão ao esporte, a gente começa a fazer coisas do próprio bolso, a abrir mão das coisas... eu comprei uma ambulância! Sim, uma ambulância para a federação em parceria com os clubes, pois chegamos a conclusão que saia mais barato ter a ambulância e cuidar dela do que manter um contrato com uma empresa de saúde para levar uma ambulância a cada evento. Agora, você sabe quem é que paga o custo desta ambulância? Zeca Monteiro. 

 

NdG: Sobre as modalidades de disputa, temos o autódromo de Caruaru, onde acontecem as provas de velocidade no asfalto. Depois do Joana Bezerra, já foram feitas outras corridas em circuitos de rua ou semi permanentes? E as provas de velocidade na terra, como são feitas e onde são feitas? 

 

Zeca Monteiro: Provas de rua não fazemos, é tudo em Caruaru. Já as provas de velocidade na terra, temos o clube de velocidade na terra de Pernambuco que organizava as provas no passado mas que está com problemas com relação a área onde estas provas eram feitas. Hoje as pessoas que tem terreno tem medo de uma invasão ou que tentem tomar na justiça seus terrenos e com isso, nem alugar um espaço a gente consegue. Nós estamos tentando alinhavar um acordo com o Jockey Clube para fazer lá as provas de velocidade na terra. Alguns diretores são a favor, outros são contra. O clube de velocidade na terra é bem organizado, mas a gente não consegue fazer o campeonato acontecer por causa disso: falta o local.  

 

NdG: Bom, pelo menos no kart a situação tem se mostrado mais promissora, especialmente com o novo kartódromo, na cidade de Paulista... 

 

Zeca Monteiro: Que dois pilotos bancaram do bolso! 

 

NdG: Como? Do bolso?  

 

Zeca Monteiro: Sim. O kartódromo em Paulista foi um empreendimento custeado por três pilotos que compraram o terreno, providenciaram o projeto, partiram para a construção e está lá. Hoje já estamos fazendo provas lá em Paulista, mas para deixar o projeto completo como está no papel, ainda faltam 400 metros de pista e, assim que estiver pronto, temos a promessa de ter um Campeonato Brasileiro de Kart aqui no estado. 

 

NdG: Como está a situação do kart no estado? Antes do novo kartódromo, como eram feitas as corridas? No tempo do Joana Bezerra era lá também, certo? 

 

Zeca Monteiro: Hoje nós temos cerca de 70 pilotos de kart federados. Eu acompanho isso mais de perto porque meu neto, o filho de Beto, está correndo. Atuantes, somando todas as categorias temos 46, distribuídos nas categorias Mirim, Cadete, Novatos, Graduados e Sudam. O kart aqui teve uma vida de nômade. Corremos no estacionamento do prédio de engenharia da Universidade Federal, teve corrida no estacionamento do aeroclube, na Avenida Boa Viagem, durante muitos anos correu-se no estacionamento do Geraldão (Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, o maior da cidade), posteriormente, no estacionamento da Ilha Joana Bezerra. 

 

NdG: A organização dos Rallys aqui em Pernambuco é feita diretamente pela FPA ou também é feita por um clube filiado?  

 

Zeca Monteiro: O Pernambuco Offroad é um dos clubes filiados à FPA e que organiza as competições de rally no estado. Nesta área nós temos inclusive uma questão legal por conta de um grupo que fundou e registrou uma “Federação de Jipe”, que, na verdade, não tem cunho de federação e é um caso até para o Ministério Público. Eu tenho buscado o caminho da conciliação e tentado trazer este pessoal para dentro da federação. Acontece que, em várias cidades temos a criação de um “clube de jipe” e eles organizam eventos por lá. Gostaríamos que o trabalho fosse conjunto, mas para isso, estes clubes teriam que formar uma associação e esta ser filiada à federação. Não posso filiar 10, 15 clubes de jipe e cada um ter um voto porque isso descaracterizaria o propósito da federação pois deixaria o kart, a velocidade e a arrancada em segundo plano. O campeonato oficial do estado é o do Pernambuco Offroad, que também vem passando por algumas dificuldades, por falta de patrocínio. Mas eles vem fazendo. 

 

NdG: Com tanta dificuldade como o senhor tem mostrado, como é que o senhor consegue fazer, organizar, um calendário de eventos? 

 

Zeca Monteiro: Olhe, em dezembro nós mandamos para todos os clubes um comunicado para que eles façam as suas solicitações de datas, para que não haja conflitos nos finais de semana. Como o quadro de comissários de provas da FPA é muito pequeno, nós não temos como atender muitos eventos ao mesmo tempo 2010. Destra troca de informações sai o pré-calendário, que até março costuma sofrer um ajuste ou outro. 

 

NdG: Em muitos estados do Brasil, que não tem circuitos de velocidade no asfalto, a modalidade de arrancada é a maior força de expressão do automobilismo. No amazonas, por exemplo, que nem tem uma federação, um grupo privado construiu uma pista de arrancada de excelente padrão, nos moldes de pistas americanas e do Velopark. Esta modalidade costuma levar grandes públicos aos locais de disputa. Acontece o mesmo aqui? 

 

Zeca Monteiro: Acontece. O público das provas de arrancada são maiores que os das provas do Pernambucano de velocidade. Só não é maior porque é em Caruaru. Se fosse aqui em Recife, seria algo estupendo.  

 

NdG: Por tudo que o senhor falou até agora, assumir a Federação Pernambucana de Automobilismo é uma tarefa de um sacrifício quase ingrato. Mais parece um castigo do que uma honra... 

 

Zeca Monteiro: Aqui no nordeste, quando algo não dá certo e não dá certo de jeito nenhum a gente fala que tem uma “cabeça de burro” enterrada naquele lugar. Pois parece que tem uma cabeça de burro enterrada aqui nessa cidade, neste estado, virada para o automobilismo que por mais que a gente tente, faça, trabalhe, nada dá certo. É impressionante. Desde os tempos do meu pai é uma luta desgraçada e a coisa não vai prá frente. O autódromo, por exemplo: foram 40 anos brigando para fazer um autódromo e esse autódromo que temos hoje em Caruaru só saiu por causa do bairrismo, da disputa entre as duas cidades (Recife e Caruaru). Havia um acordo com o governo do estado para que fosse feito o comodato de uma área na Ilha de Itamaracá (cerca de 45 Km do Recife) por 40 anos. Só que os moradores da ilha protestaram, que não queriam, que ia ter muito barulho... daí o governador da época, Carlos Wilson Campos nos chamou e disse o protesto era tão grande que a gente até podia fazer o autódromo, que o comodato já estava assinado, mas que aquilo iria trazer enormes prejuízos políticos para ele. Assim, ele propôs que nós devolvêssemos o terreno que ele conseguiria outro. E assim ele conseguiu com João Lira o terreno em Caruaru. E só assim que foi feito. Agora estamos tentando conseguir uma verba de dois milhões de reais para deixar o autódromo em condições de receber mais de uma categoria ou duas, na verdade queremos trazer todas as grandes categorias do país para correr aqui... só que está uma luta para liberar esta verba que nem é tão grande assim... Estamos com a faca e o queijo na mão para trazer todas as categorias do país para correr aqui e na dependência de dois milhões de reais... o que é isso para o Governo do Estado? Nada! 

 

NdG: Opa, agora o senhor nos deixou preocupado. Estivemos em Caruaru e o Diretor do Autódromo, Sr. Pedro Manuel, nos disse que a verba já tinha sido liberada, que o levantamento começaria agora em setembro e a obra em novembro, inclusive falou que o montante passou para três milhões... 

 

Zeca Monteiro: Que Deus o ouça! Mas ele estar sabendo e eu não, é algo meio complicado. O que eu sei é que está sendo feito um trabalho feito por mim junto à Secretaria de Esportes, que havia um projeto e um orçamento feito pela Prefeitura de Caruaru e que foi encaminhado para a Secretaria de Esporte, Dr. Geraldo Braga. O Secretário mandou uma equipe até lá para fazer um levantamento para saber se estava tudo certo, o que gerou um aumento do orçamento e o projeto foi então levado para o Ministério do Turismo em Brasília. A gente precisa sim desta certeza até outubro para montarmos, para depois das obras o nosso calendário. A GT3 Prometeu que vem, a F3 volta, a Truck vem também, queremos trazer a Stock. Se a gente tiver 5 eventos nacionais por ano em Caruaru, vai ser sensacional para nós e para o nordeste.  

 

NdG: A reforma do autódromo é – hoje – o maior desafio da FPA? 

 

Zeca Monteiro: É um dos. O outro grande desafio é a formação de pilotos para podermos ter a estruturação de categorias fortes no estado. Isso a gente só vai conseguir através de um kart forte. Com o novo kartódromo temos um local para fazer isso, precisamos agora fazer com que surjam novos kartistas. Temos projetos, temos idéias, mas às vezes a gente esbarra em cada coisa... é a tal da “cabeça de burro”. No ano passado, nós tivemos a possibilidade de fazer aqui em Pernambuco, no kartódromo novo, uma prova no modelo do desafio das estrelas. Conseguimos o apoio de diversos pilotos. Felipe Massa, Rubens Barrichello, Cacá Bueno... mas não conseguimos da secretaria de turismo a liberação das passagens. Ia ser uma festa incrível, uma pré-inauguração e que teria mídia no país inteiro... mais uma vez, falou mais alto a cabeça de burro! 

 

NdG: O fato de haver uma sinergia muito grande com a pessoa do presidente da CBA não deixa a FPA numa posição de uma certa subserviência? Do tipo: concordar com tudo por ser uma mesma linha de administração? 

 

Zeca Monteiro: De forma alguma! Nós apoiamos a CBA, a candidatura e a eleição de Cleyton, mas a partir do momento que houver algum ponto de discordância, não tem essa de ficar calado. Agora há pouco mesmo ele me ligou. Tenho uma reunião com ele esta tarde e vou levar alguns pontos sobre alguns eventos nacionais que considero terem que ser levadas à ele. Não tem essa de mar de rosas... e, aí entra a vantagem, pelo relacionamento que temos, ele me ouve. 

 

NdG: O trabalho da CBA nesta gestão tem agradado, independente desta amizade? 

 

Zeca Monteiro: É um trabalho que está começando. Está sendo feita uma base e está sendo bem feita. Acredito que os frutos que colheremos serão de grande benefício para o automobilismo em todos os estados e no país como um todo.  

 

Agradecimentos: À Zeca Monteiro, presidente da FPA; à Pedro Manuel, Diretor do Autódromo Internacional de Caruaru; ao "chefe", pela entrevista e à Fernando Paiva, pela ajuda na pesquisa.

 

 

 

 

Last Updated ( Monday, 11 October 2010 23:29 )