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Vem aí o “BH Stock Festival”. Cumpriram com os compromissos? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Tuesday, 09 July 2024 22:08

Faltando pouco mais de um mês para a etapa de Belo Horizonte da Stock Car, evento de automobilismo que acontece entre os dias 15 e 18 de agosto no entorno do estádio Mineirão, na Pampulha, a organizadora do evento iniciou, nesta quarta-feira (3/7), a montagem da pista.

 

O circuito temporário terá trajeto de 3,2 mil metros e não vai utilizar nenhuma área interna do estádio. Nesta manhã, começaram a ser colocadas as barreiras de concreto que delimitarão a pista, que depois irão receber as telas de proteção e que, juntas, farão parte do aparato de segurança da competição.

 

Segundo a VICAR, organizadora do evento, a conclusão da montagem do circuito se dará apenas às vésperas da corrida para evitar ao máximo o fechamento permanente das vias públicas. Vendo as fotos, acho que esses blocos são os mesmos que usaram na Fórmula Indy em São Paulo, com uma “mão de tinta azul”.

 

 

As obras para adaptação do entorno do Mineirão, como recapeamento e restauração funcional de pavimentos, para receber a Stock Car iniciaram em março e estão sendo executadas por trechos para minimizar possíveis transtornos no tráfego da região. A reta principal, ponto onde deverão acontecer a maioria das ultrapassagens, será na Avenida Coronel Oscar Paschoal, entre o Centro Esportivo Universitário (CEU) e o hall de entrada do Mineirão.

 

Desde que foi feito o anúncio do acordo para a realização da corrida, não faltaram polêmicas e protestos, especialmente envolvendo o corte de árvores para receber a competição. O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), os organizadores da Stock Car e a Prefeitura de Belo Horizonte assinaram, nessa segunda-feira (1/7), um acordo para a implementação de medidas de proteção ambiental e urbanística no entorno do Mineirão.

 

 

O contrato estabelece que os organizadores arcarão com todas as despesas necessárias. A etapa, como a categoria fez há algum tempo nas cidades de Ribeirão Preto e Salvador, acontecerá num circuito de rua. Entretanto, em nenhuma dessas cidades houve a necessidade do corte de árvores como na capital dos mineiros. Aqui em Belo Horizonte, o traçado como foi desenhado exigiu o corte de 55 árvores das avenidas Rei Pelé, Carlos Luz e Coronel Oscar Paschoal para receber, por cinco anos consecutivos, a edição anual da corrida.

 

Como compensação aos danos ambientais, conforme noticiado anteriormente pelo Estado de Minas, os organizadores da Stock Car deverão plantar dez vezes mais árvores, totalizando 688 novos plantios – embora não tenham especificado onde e quando serão feitos – e com a manutenção do traçado para os anos que se seguirão recebendo a corrida, essas árvores não serão colocadas nas avenidas de onde foram retiradas, com impacto negativo no paisagismo e conforto das sombras para os pedestres.

 

 

 

Além do corte das árvores, tem os impactos da poluição sonora e da descarga de poluentes. Em relação à poluição sonora. A Prefeitura de Belo Horizonte afirmou que os organizadores da corrida vão implantar barreiras acústicas (eu vou inspecionar isso pessoalmente) e um professor da universidade seria o responsável por coordenar o projeto. Ainda no mês de março, com grande divulgação, anunciaram o plantio das primeiras 63 árvores (menos de 10% do prometido) na região da Pampulha, distante do traçado da pista... podem procurar nos portais de notícias dos canais de imprensa ou mesmo da prefeitura sobre a continuidade do plantio. Não acharão nada!

 

A Câmara dos Diretores Lojistas, interessada no dinheiro que vai circular na cidade com a esperança de que o evento atraia muitos turistas de outras cidades e mesmo de outros estados que são esperados para assistir a corrida (segundo a VICAR, em entrevista que seu CEO, Fernando Julianelli, deu ao nosso site, os 80 mil ingressos para esta corrida já estariam vendidos), defendeu a realização da corrida.

 

 

Já a outra questão, referente ao impacto da emissão de carbono e outros poluentes que venham dos veículos, certamente o tráfego pesado na região tem um impacto muito maior, mas não houve derrubada de árvores para o transito convencional. A prefeitura informou que a VICAR responsável pelo BH Stock Festival, teria contratado um escritório especializado para implantar uma política de carbono neutro, visando reduzir emissões associadas ao evento e “contribuir para a redução de impacto das mudanças climáticas”. 

 

A “guerra” ainda não terminou. A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), por meio da Advocacia Geral da União (AGU), entrou com uma ação na Justiça Federal no dia 4 de julho para tentar impedir a corrida. Na ação, o procurador federal Rafael Pinheiro Dantas, pede que as obras preparativas para o evento, já em curso, sejam paralisadas, sob pena de multa diária de R$ 100 mil. Além disso, pede que os organizadores não realizem o evento no local pelos próximos cinco anos, conforme está previsto e acordado entre a empresa que vai realizar o evento e a Prefeitura de Belo Horizonte. A fundamentação da ação está na falta de um estudo prévio de impacto ambiental, de vizinhança, ou consulta aos possíveis atingidos por seus efeitos, além dos especialistas da UFMG não terem sido consultados.

 

 

Em paralelo, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com Ação Civil Pública com caráter de urgência pedindo que os organizadores apresentem um estudo de mitigação acústica que demonstre que o evento atenderá aos limites municipais sobre ruídos definidos pela legislação, devendo ser observados os limites de 70dB para áreas comuns e 55 dB para a região do Hospital Veterinário da UFMG. Não bastasse a questão ambiental, as obras de adequação do traçado retiraram seis travessias elevadas e rebaixadas do entorno da universidade, que pode causar transtornos em pessoas cegas, com baixa visão, com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e PCDs.

 

A VICAR reagiu e denunciou a UFMG pelo corte de cinco mil árvores nos últimos 22 anos, sem comprovar compensações ambientais e florestais. A acusação foi protocolada no Ministério Público Federal (MPF) e no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), nessa segunda-feira (08/7), depois de a universidade e associações de moradores terem entrado na Justiça alegando que a corrida e os preparativos para o evento prejudicam a fauna e flora na área da instituição educacional.

 

 

A denúncia apresentada pela Stock Car foi embasada em um laudo pericial realizado pela Geoline Engenharia, assinado por nove peritos ambientais, sendo três engenheiros ambientais, dois engenheiros florestais, um advogado especialista em direito ambiental, um engenheiro de agricultura, um geógrafo e um biólogo. Nele, constam fotos tiradas por meio de drones, fotos em solo, imagens do sistema do Google, mapeamento por GPS, medições específicas e outros levantamentos documentais. Segundo o laudo,  a área suprimida corresponde a 18 hectares, isto é, 18 campos de futebol. Os responsáveis pelo levantamento identificaram que 1.592 árvores foram cortadas em três áreas no campus Pampulha, em Belo Horizonte. Nelas, a UFMG teria de fazer o plantio compensatório de mais de 3 mil árvores, na proporção determinada pela lei municipal 4.253, de duas árvores plantadas para cada uma cortada. No entanto, o replantio não foi identificado no banco de dados da prefeitura. Apenas na gestão da atual reitora Sandra Regina Goulart, que está no segundo mandato desde 2023, o laudo afirma ter ocorrido o corte de 968 árvores. 

 

Além do fato de que um erro não justifica outro (ou outros), promessas de que tudo será lindo, maravilhoso e perfeito não estão faltando. Mas se as coisas fossem tão boas nessas corridas de circuito de rua, não é estranho que nem Ribeirão Preto nem Salvador estejam mais fazendo suas corridas? E eu pretendo estar na corrida, marcada para agosto, para conferir e principalmente questionar os envolvidos sobre as questões deste artigo.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

 

 

Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. 

 


Last Updated ( Tuesday, 09 July 2024 20:24 )