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As Iron Dames Conquistam o Brasil PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 24 July 2024 08:17

 

Você, Nobre Leitor, conhece o Projeto Iron Dames? Acelere conosco e venha conhecer mais a fundo este magnífico trabalho feito por uma equipe de grandes mulheres.

 

Em 2018, Deborah Mayer lançou o Projeto Iron Dames voltado para uma de suas grandes paixões: O esporte a motor!

 

Ao longo destes anos o Projeto Iron Dames vem empurrando os limites da competitividade nas corridas pelo mundo além dos limites das barreiras de gênero.

 

Assim como os velozes carros de corrida, o projeto que vem colhendo vitórias do carro cor de rosa (e não é “rosa bombom”, é “rosa choque” mesmo, para impactar onde chega, não tem previsão de parar ou “deitar em berço esplêndido” como fala o hino nacional brasileiro. Elas não param e cada vitória, como na etapa do campeonato europeu ou mesmo nos momentos difíceis como o abandono no Brasil depois de conquistarem a pole position e liderarem a 1ª hora de corrida, é uma razão a mais para o crescimento e desenvolvimento das pilotas e da equipe.

 

 

A equipe não para e tem observado potenciais jovens pilotas pelo mundo, tendo incorporado algumas que começaram na WSeries há alguns anos e que hoje estão não apenas na FIA F. Academy, como Marta Garcia e Natàlia Granada, por exemplo, ou as ainda kartistas Victória Farfus (filha de Augusto Farfus Jr.) e Mia Oger, e deixaram claro que os atentos olhos passam também por Antonella Bassani e Aurelia Nobels.

 

Quem é Deborah Mayer?

A criadora do Projeto Iron Dames nasceu na França e teve uma carreira como piloto de Gran Turismo entre os anos de 2016 a 2020. Foi neste período que ela decidiu encarar um dos maiores (talvez o maior) desafio de sua vida: Fazer um projeto para promover pilotas a competir de igual para igual contra os homens. Seu trabalho intenso e de sucesso a levou a conquistar credibilidade em todos os seguimentos do automobilismo em seu país, na Europa e no mundo.

 

 

Após 12 anos presidida pela campeã de Rally Michelle Mouton, a Comissão de Mulheres no Automobilismo da FIA passou a ser presidida por Deborah Mayer, dando continuidade ao trabalho de sua antecessora e empreendendo iniciativas globais que não apenas buscaram aumentar a conscientização, mas também inspirar vocações, criando uma nova dinâmica que contribui significativamente para o avanço da igualdade de gênero. Deborah cumpriu um mandato apenas – de 2022 a 2024 – voltando-se no início deste ano ao Projeto Iron Dames que além das pistas de corrida tem recentemente um projeto com competições de hipismo. Mas este assunto vamos deixar para os “Nobres do Turfe”.

 

Iron Dames em São Paulo – Conversando com as Damas de Ferro

Durante a etapa de São Paulo do WEC, o público que visitou o pitlane no sábado e no domingo fez diante dos boxes da equipe Linx Lamborghini uma fila gigantesca (e embaraçosa) Todo o assédio dos fãs parecia voltado para as três pilotas do carro rosa choque, com os pilotos do carro amarel (Claudio Schiavoni, Matteo Cressoni e Franck Perera) sendo bem pouco solicitados (uma situação injusta ante a qualidade do trio). Conversamos com as três pilotas da equipe (Rahel Frey – que é também gerente do projeto – Michelle Gatting e Sara Bovy) durante o final de semana em meio a extensa agenda que elas tinham que cumprir.

 

 

Rahel Frey, nascida em 23 de fevereiro de 1986 na Suíça, é uma das mais experientes e bem-sucedidas pilotos de corrida femininas em atividade. Ela começou no kart em 1998, tornando-se a primeira pilota a vencer uma corrida do então Campeonato Alemão de Fórmula 3 em 2007. Piloto competitiva e comprometida, o sonho de Rahel se tornou realidade quando ela assinou seu primeiro contrato oficial para se tornar uma pilota profissional de corrida pela Audi Sport no DTM. Com quase 400 corridas disputadas, com 21 vitórias e 74 pódios, a “pequena notável” nos recebeu no HC da equipe na véspera da corrida.

 

 

NdG: O que motivou você a se tornar uma pilota de corrida e não seguir uma outra profissão, como Médica, Arquiteta, Advogada, por exemplo?

Rahel Frey: Na verdade meu sonho era ser pilota de avião! Eu estudei em uma escola técnica que iria me formar como pilota de aeronaves, mas eu tinha em casa o meu pai eu era um grande fã de corridas e um dia ele me levou para andar de kart e eu gostei de pilotar e assim comecei a competir, deixando de lado o sonho de pilotar aviões para pilotar carros. O plano passou a ser chegar à Fórmula 1. Meu pai me incentivou em tudo

NdG: Então seu pai é o culpado por você estar nas pistas...

Rahel Frey: Sim, ele é. A minha mãe não gostou nem um pouco disso. Ela preferia que eu me tornasse uma bailarina ou qualquer outra coisa, talvez, mas jamais ser pilota de corridas.

NdG: Há uma considerável diferença de altura entre você e as outras duas pilotas do carro (Michelle Gatting e Sarah Bovy). Sabemos que há o encosto moldado que se coloca no banco para ajustar isso em relação ao volante, comandos e pedais, mas para dividir um carro são três pilotas e cada uma tem a sua guiada, seu estilo. Como conciliar isso em uma prova longa de 6 horas ou, mais, 24 horas, como Le Mans? Estilos diferentes por vezes exigem um setup diferente para o carro...

Rahel Frey: Em corridas de endurance onde dividimos os carros com outros pilotos, no caso, as pilotas, é importante entendermos como somos e complementarmos umas as outras. Em corridas de endurance nós sabemos que precisamos umas das outras e fazer com que sejamos todas rápidas isso requer um compromisso muito grande e então buscamos entender e respeitar estas diferenças e fazer com que isso trabalha a nosso favor, não contra nós.

NdG: Você disse que quando começou no kart seu sonho imediato foi chegar à F1. Como foi lidar com isso de não conseguir chegar lá? 

Rahel Frey: Quando somos jovens, crianças, adolescentes, sonhar e ter uma ambição é bom e saudável. Ela te motiva a aprender, crescer, melhorar, ganhar confiança em si mesma e você vai buscar ser a melhor, a mais técnica, a mais veloz. Você simplesmente vai! Com o tempo a gente aprende também que nem todos chegam na F1. Na verdade, bem poucos chegam. O Importante neste caminho é entender isso, não se desmotivar, continuar confiante e se ama as corridas, continuar competindo de forma positiva e saudável.

NdG: Antes de vir para Interlagos, certamente vocês treinaram no simulador. Como foi “sentir a pista” em comparação com o simulador?

Rahel Frey: Na verdade o propósito do uso do simulador foi conhecer o traçado. Isso é de grande ajuda para os pilotos antes de chegar em uma pista nova. Pessoalmente, eu não gosto dos movimentos que o simulador faz. Em alguns pontos ele age de uma forma mais intensa do que o que se sente quando se vai para a pista nos treinos, mas para um piloto profissional quando temos o contato com a pista percebemos logo esta diferença e nos adaptamos rapidamente, então, tiramos o melhor do que aprendemos quando visualizamos o traçado. É algo importante.

NdG: Interlagos é o traçado mais curto da temporada e em alguns pontos a largura da pista não é tão grande. Com a diferença de velocidade entre LMGT3 e Hypercars, como vocês estão conversando entre si para lidar com as situações que irão acontecer durante a prova?

Rahel Frey: Gerenciar as situações de tráfego é um ponto chave nas corridas de endurance e são duas perspectivas bem distintas quando se é o mais rápido e de quando se é o mais lento. Nos conversamos bastante entre nós e com os engenheiros, mapeando pontos críticos e analisando como não perder tempo. Nesses pontos mais sinuosos é preciso frear um pouco antes e deixar uma linha clara para os Hypercars passarem, evitando qualquer contato. Na teoria o plano está bem traçado, mas nas situações de corrida podemos nos ver envolvidas com outras questões e então é preciso antecipar os movimentos para fazer essa interação da melhor forma possível e não perdermos tempo em demasiado. Gerenciar o tráfego é tão importante quanto ter um bom setup, gerenciar seus pneus e fazer sua estratégia de corrida.

NdG: Durante a sessão de autógrafos para o público pudemos observar o enorme assédio dos fãs às Iron Dames, mas vimos na bancada do lado os seus colegas de equipe (Matteo Cressoni, Claudio Schiavoni e Franck Perera) bem pouco procurados em comparação com vocês, é até um tanto injusto com eles. Como você vê esse sucesso de vocês com o público?

 

 

Rahel Frey: Eu fico muito feliz em ver como o público que vem para o Grid Walk nos procura e faz questão de estar conosco, de tirar uma foto, de pedir nossos autógrafos em todos os lugares onde vamos. É incrível como este número de fãs cresce corrida a corrida, mas ficamos surpresas com a quantidade de fãs aqui no Brasil e isso nos deixa muito felizes com tanta receptividade e carinho. Como o tempo da sessão de autógrafos é limitado, fica uma ponta de frustração por não conseguir atender todos que nos procuraram. Isso nos deixa de coração partido, mas temos um cronograma apertado para seguir na organização do evento. Nós só podemos agradecer e tentar retribuir ao máximo para os fãs que nos seguem e torcem por nós. Espero que possamos atender as pessoas que não conseguiram no próximo ano.

NdG: O projeto Iron Dames tem Doriane Pin e Marta Garcia na F. Regional Europeia e Doriane também está na F. Academy, que é voltada só para pilotas, sucedendo a WSeries. O que uma categoria voltada apenas para pilotas trás de positivo e eventualmente de negativo na formação delas?

Rahel Frey: Eu prefiro não entrar em detalhes nesse ponto. O que posso dizer é que nós apoiamos totalmente Doriane e Marta em seus projetos competindo em monopostos. Temos outras pilotas nas quais investimos e apoiamos desde o kart, como Victoria Farfus, por exemplo. O importante é conseguir prover, e nisso o Projeto Iron Dames tem trabalhado muito forte, é conseguir apoiar as pilotas na sua formação técnica, em estudar, aprender, se desenvolverem e seja no automobilismo ou no hipismo, que é parte do nosso projeto também, conseguir com que nossas atletas possam competir em igualdade de condições com os homens no mais alto nível do esporte e acreditamos que podemos chegar no mais alto nível do esporte, inclusive a F1. Isso pode levar algum tempo, mas acreditamos ser possível.  

 

Michelle Gatting nasceu em 31 de dezembro de 1993 na Dinamarca e ao longo de sua carreira vitoriosa mostra-se uma das mais rápidas pilotas femininas competindo no mais alto nível. Ela começou no kart em 2006 e terminou em terceiro na Fórmula Ford Dinamarca em 2011. Michelle correu pela Europa antes de se juntar às Iron Dames em 2020 e carrega em seu currículo pelas pistas o fato de ter se tornado a primeira mulher a vencer o prestigioso Ferrari Challenge Europe Trofeo Pirelli, consolidando seu legado entre as mulheres que aspiram realizar seus sonhos no automobilismo. Com mais de 200 corridas disputadas, com 16 vitórias e 64 pódios, a focada Michelle também nos recebeu no HC da equipe no sábado após a equipe conquistar a pole position.

 

 

NdG: Você fez a maior parte do tempo da Lamborghini na pista durante os treinos livres. Como isso funciona dentro da equipe? É sempre você que faz este trabalho de busca do setup antes do treino de classificação ou isso muda dentro da equipe?

Michelle Gatting: Nós sempre trabalhamos em equipe. Todas andam no carro. O treino de classificação vai ser feito pela Sarah [Bovy] e o que fazemos sempre durante os treinos livres é buscar deixar o carro o mais rápido possível. Mesmo que eu tenha ficado mais tempo no carro nos treinos livres, todas andamos, analisamos a telemetria e acertamos o carro juntas. É um trabalho em equipe e essa é nossa maneira de trabalhar em todas as corridas. Estamos nos sentindo bem aqui em Interlagos, andamos bem, fomos rápidas, mas sabemos que sermos rápidas nos treinos livres não significará nada se não formos rápidas no treino de classificação e o resultado do nosso trabalho será o que colhermos após a corrida. O resultado dirá se fomos rápidas e resistentes o suficiente ou não.

NdG: O que levou você a querer ser uma pilota de corrida e não uma Cientista de Foguetes, ou uma Médica, por exemplo?

Michelle Gatting: Acho que eu não tenho um cérebro tão bom pra isso (risos)... honestamente, eu penso em ser pilota desde que me lembro. Eu tinha 7 anos de idade quando sentei num kart pela primeira vez levada por meus pais para uma feira em um feriado e tinha uns karts lá para as crianças andarem. Claro que não eram karts de competição, mas foi o suficiente para eu me apaixonar por aquilo e não parar mais. Comecei a competir nos karts em alto nível com 10 anos de idade e sei que aqui no Brasil o kart é muito difundido. Eu estive aqui para uma 500 Milhas de kart e foi impressionante. Eu pude corre com Tony Kanaan, Rubens Barrichello, Felipe Fraga... ótimas lembranças daquele final de semana. Mas, voltando a sua pergunta, eu fui fazendo a minha carreira, consegui me destacar e vencer como pilota de GT na Europa e fazer parte do time Iron Dames. Estou muito feliz em estar aqui, Interlagos tem uma história e eu estou aqui hoje porque sou e sempre fui uma pessoa competitiva, sempre busquei ser a melhor, a mais rápida e amo o automobilismo porque ele nos desafia o tempo todo. Percorremos o mundo de autódromo em autódromo, em uns somos as mais rápidas, em outros somo superadas, mas não sem buscar a vitória... e é isso que me faz estar num carro de corrida. É isso que faz todas nós estarmos aqui.

NdG: Há algum tempo você está nas corridas de endurance, mas antes você competiu quase 10 anos no kart em alto nível, onde você preparava o kart à sua maneira, como nas categorias de Fórmula e GT em corridas curtas. Aqui é preciso fazer diferente? Dividindo o carro com outras pilotas que não tenham a mesma guiada que você? Como isso funciona? Alguns são mais agressivos, outros mais técnicos...

 

 

Michelle Gatting: Bom, isso é uma coisa que fazendo corridas de endurance temos que aprender. Confesso que sempre fui muito egoísta e exigente comigo mesma e me tornar uma pilota de endurance onde tenho que buscar um acerto comum para sermos mais rápidas a corrida inteira foi um desafio para mim, mas eu consegui incorporar o espírito. Em uma corrida curta com um carro só meu, se eu forçar demais, se eu errar, as consequências e responsabilidades cairão apenas para mim e numa corrida de endurance isso afetará as outras pessoas com quem estarei dividindo o carro além de, claro, a equipe nos dois casos. Por isso acho as corridas de endurance muito interessantes. Há um compromisso de todas aqui para o bom desempenho nos treinos e corridas e já estamos competindo juntas há um bom tempo. Nos conhecemos bem e nos entendemos muito bem, o que vale muito quando começamos o trabalho para uma corrida. Nós somos pessoas diferentes e pilotas diferentes, mas no final do dia, quando vamos analisar os dados, temos um ótimo entendimento e direcionamos bem o trabalho. Somos bem comprometidas entre nós e isso é fundamental para termos uma resposta positiva na pista. Eu posso pensar, por exemplo, em mudar o carro de forma que ele fique mais do jeito que eu gosto, mas pensando no todo, se isso for sacrificar o stint da Rahel ou da Sarah, precisamos encontrar o equilíbrio para as três serem rápidas e consistentes. Vencemos juntas e perdemos juntas. Se não trabalharmos juntas para vencer, não vai funcionar para nenhuma das três. Nós amadurecemos muito esse compromisso entre nós e para com o Projeto Iron Dames e estamos colhendo bons resultados.

NdG: Acredito que você conheça Bia Figueiredo, uma grande pilota brasileira e estamos vendo, bom... nós a vemos desde que ela tinha 7 anos de idade no kart... vendo surgir um novo grande talento: Antonella Bassani. Ela vem se destacando na Porsche Cup no Brasil. Como o Projeto Iron Dames observa e traz novos talentos, vocês tem acompanhado Antonella nas pistas?

Michelle Gatting: Sim, temos seguido seus passos. Ela foi muito bem no FIA Girls on Track, chegou duas vezes na fase final, mostrou muito talento e temos acompanhado ela nas corridas na Porsche Cup no Brasil. Sabemos das suas vitórias, mas sabemos que muitos dos competidores na sua categoria são gentleman drivers e pilotos com bem mais idade que ela. Ela está começando nos carros de GT, acho que é seu segundo ano e ela deve enfrentar pilotos mais qualificados, mais experientes e competitivos e jovens como ela para podermos ter uma ideia melhor de em que nível ela está. Ela tem talento e qualidades como piloto e precisa ser desafiada a competir com os melhores. Estamos observando.

NdG: Tanto Bia quanto Antonella já disseram que quando estavam no kart, os garotos ficavam furiosos quando eram ultrapassados e perdiam corridas para elas. Isso acontecia também na Dinamarca com você?

Michelle Gatting: Felizes com certeza eles não ficavam, mas com o tempo eles precisaram e todos os pilotos precisam aprender a respeitar as pilotas quando elas chegam em uma competição. Nós chegamos em um campeonato ou uma corrida para disputar e vencer, não para fazer número. Estamos conquistando cada vez mais espaço e respeito ano a ano e se impor com respeito é um trabalho que começa no kart. Precisamos ser corretas, éticas, competitivas, rápidas e estamos fazendo isso e conquistando nosso espaço de maneira saudável, competindo e provando que somos tão boas quanto qualquer piloto. Este desafio para as mulheres não é apenas nas corridas, mas em qualquer área profissional que ela chegue. É preciso provar que você é boa e ganhar o respeito dos que estão a sua volta e isso é em todo mundo. Nós conquistamos este respeito e vimo isso aqui em São Paulo com o apoio que estamos recebendo. Competimos contra homens e nos respeitamos mutualmente como profissionais do automobilismo, mas os olhos estão sempre sobre nós para verem o quão competitivas somos.

 

Nascida em 15 de maio de 1989 na Bélgica, Sarah Bovy tem como característica sempre entregar consistência e velocidade no mais alto nível. Começando sua carreira no kart em 2003, Sarah terminou em segundo no Belgian Racing Car Championship em 2011, vencendo a Touring Class em 2013. A sorridente belga se reuniu ao projeto das Iron Dames em 2021 e começou a competir no FIA World Endurance Championship, European Le Mans Series e GT World Challenge Europe, tornando-se uma das pilotas com classificação bronze mais respeitadas no paddock com seu currículo de 6 vitórias e 24 pódios em pouco mais de 100 corridas disputadas. Na sexta-feira, pouco antes do treino livre 2, Sarah, a “Miss Simpatia”, que distribuiu sorrisos todos os dias, nos recebeu no escritório da equipe no paddock de Interlagos.

 

 

NdG: O projeto Iron Dames teve início em 2018 e você se juntou ao projeto em 2021. Como foi o convite para se juntar as Iron Dames?

Sarah Bovy: Como você disse, eu me juntei ao projeto em 2021. Elas estavam procurando pilotas com experiência em carros de Gran Turismo e nas competições de endurance os pilotos tem categorias distintas e eu tina acabado de conseguir a categoria bronze e eu me reuni ao time no último momento, mas em verdade, não temos muitas opções para montar uma equipe totalmente feminina e este desafio que Deborah [Mayer] e a equipe do projeto assumiu e eu estava no lugar certo na hora certa e desde então eu venho dando o melhor de mim para a equipe e [e um ambiente tão bom que certamente você vai ouvir o mesmo da Michelle, da Rahel e de qualquer uma das pilotas da equipe. É claro que existem pilotas competindo pelo mundo, mas não em um grande número ou mesmo em uma quantidade suficiente para talvez se poder fazer uma escolha em um leque de opções, mas o que nós estamos fazendo dentro e fora das pistas certamente está motivando mais e mais jovens a vir para o kart e para o automobilismo. No futuro espero ver estatisticamente mais e mais pilotas acelerando ao nosso lado. É para isso que estamos aqui também.

NdG: Essa pergunta eu vou ter que fazer para todas vocês. Porque ser uma pilota? O que levou você a escolher isso para a sua vida?

Sarah Bovy: Quando criança eu gostava de muitas coisas, mas uma coisa que sempre fui foi ser muito competitiva. De uma forma geral, isso sempre esteve em mim. Eu pratiquei outros esportes antes de sentar pela primeira vez em um kart, o que aconteceu quando eu já era uma adolescente e fosse onde fosse eu queria ser uma vencedora. E no kart isso se tornou mais forte. Eu queria competir, eu queria vencer. Em outros esportes eu gostava quando vencia os meninos e no kart isso era mais gostoso ainda. Assim eu vi que pilotar era algo completamente natural para mim.

NdG: Você estava no colégio com outras colegas, meninos e meninas, quando começou a correr de kart e como era chegar na sala de aula e ouvir coisas tipo “eu jogo futebol”. “eu jogo vôlei”, “eu faço natação” e você dizia “eu sou pilota de corrida”. Como seus colegas viam isso?

Sarah Bovy: Era bem engraçado isso. Meus pais cobravam muito que eu fosse bem no colégio para continuar correndo. Eu não estava em nenhuma escola especial, com ensino diferenciado nem tinha um programa de treinamento no kart como outros pilotos da minha idade tinham. Eu não podia parar de estudar para andar de kart e eu via colegas que jogavam futebol na mesma situação. Tínhamos que estar na escola. O que foi muito engraçado foi que, aos 18 anos, no meu último ano no “High School” [ensino médio no Brasil] eu tinha uma corrida para disputar no dia da primeira prova dos exames finais do ano. Felizmente eu era uma boa aluna e procurei meu professor com uma proposta nada convencional: pedi para ele aplicar a prova para mim às 06:30 da manhã (em um final de semana) porque eu tinha uma corrida de kart para disputar às 10:30 e eu não podia fazer a prova depois. Felizmente ele foi bastante compreensivo e fez isso por mim. Eu passei no exame e fui bem na corrida! Desde este dia o automobilismo se tornou mais e mais importante na minha vida. Eu consegui meu diploma do “High School”, mas o meu foco passou a ser o automobilismo e eu me dediquei mais e mais desde então.

NdG: O automobilismo exige cada vez mais uma forte preparação física além da mental. Biologicamente, o corpo masculino tem mais massa muscular e isso é uma vantagem para eles. Como você e as outras Damas de Ferro se preparam para estar no mesmo nível para competir contra eles?

 

 

Sarah Bovy: A razão pela qual o esporte a motor acaba sendo uma boa plataforma para se competir em nível de igualdade contra os homens é que o conjunto de trabalho na preparação é um mix de força física, resistência, flexibilidade e força mental. Tem uma parte de casa e estar em boa forma como pilota é preparar todos estes aspectos e com foco e concentração. Isso nos deixa no mesmo nível que qualquer piloto e permite que superemos qualquer limitação, ao menos para o tipo de competição que temos aqui, com carros de Gran Turismo. Eu nunca estive neste nível de excelência pilotando em monopostos, que requerem outro tipo de preparação, mais intensa, talvez... eu não tenho muito como falar sobre isso, mas para carros de Gran Turismo e Endurance, conseguimos estar no mesmo nível. Pessoalmente eu tenho 1,85m uma constituição física muito forte e eu vejo alguns garotos pequenos que não parecem ser mais fortes que eu andando em monopostos ou aqui no endurance Quem sabe eu pudesse encarar um desafio desses, mas estou feliz aqui na equipe e fazendo o que faço.

NdG: Você mencionou os monopostos e tivemos por três temporadas a WSeries e agora temos a F. Academy em sua segunda temporada. Ter uma categoria exclusiva para pilotas é algo bom ou ruim? Pode criar uma barreira extra para as pilotas? Tem aspectos positivos e negativos? Doriane está na F. Academy, mas também está na FRECA...

Sarah Bovy: Na minha opinião é uma forma de dar mais oportunidades para as pilotas ter uma categoria como a WSeries ou a F. Academy. Eu competi na WSeries em 2019 e é uma forma de mostrar mais as pilotas competindo, isso é positivo para todas e é importante que categorias como hoje é a F. Academy seja um degrau na carreira delas e não o ponto de chegada. Eu acho que não é bom para o automobilismo ter uma separação de sexos, mas eu entendo que dar este ponto de partida para promover mais pilotas a virem pra pista é uma iniciativa positiva para permitirque as pilotas que competiam de kart tenham espaço e visibilidade para mostrar seu talento e conquistar espaço nas categorias acima em monopostos ou virem para as categorias de Turismo e Gran Turismo. Temos a Doriane fazendo isso e entendo que é uma abordagem perfeita é ela está em busca de crescimento. É assim que tem que ser no automobilismo. Não podemos ficar acomodados como esportistas. Se eu tivesse a idade da Doriane (20 anos), eu estaria fazendo o mesmo que ela.

 

Hyperpole

Na categoria dos carros LMGT3, as Iron Dames foram soberanas. Com Sarah Bovy encarregada de fazer a sessão classificatória, a piloto belga da equipe feminina foi a mais rápida da primeira parte da classificação, levando o Lamborghini Huracan rosa choque #85 para a definição da pole position.

 

 

Na chamada Hyperpole, ela onde conseguiu melhorar seu tempo em um segundo na parte final, marcando 1m34,413s, sem dar chances para os adversários e levantando o público nas arquibancadas que, sem cerimônia, adotou o trio das velozes pilotas.

 

 

Na entrevista coletiva após a classificação Sarah Bovy confessou que cresceu com pôsteres de Ayrton Senna em seu quarto. Mencionando talento que o brasileiro tinha para a classificação e vendo aquela pintura imensa ao lado da torre de controle, Bovy disse que se sentiu inspirada e ao ver a arquibancada aplaudindo de pé a pole position e o fato dos fãs saberem o nome delas foi algo que as inspirou para poder fazer na corrida uma retribuição àquele público.

A corrida

Na corrida, largando da pole position da classe LMGT3, Sarah Bovy largou muito bem e durante a primeira hora de corrida chegou a abrir 7s de vantagem sobre o carro da Manthey, mas no final da primeira hora de corrida, alguma coisa já parecia não estar bem.

 

 

A vantagem foi consumida e na parada nos boxes, com uma parada mais longa, as bravas damas de ferro já voltaram em 2° lugar. Elas tentaram manter o ritmo de corrida, mas um problema no sistema de arrefecimento com a bomba d’água forçou o abandono do Lamborghini Huracan antes do final da corrida.

 

 

Diante do acolhimento que tiveram em Interlagos, após a corrida, mesmo sem estar entre os vencedores, ou ocupantes do pódio, Rahel Frey foi para a zona mista na sala de imprensa e deu entrevistas para todos os veículos de imprensa que estavam lá.

 

 

Conosco, de forma resumida (provavelmente repetindo as mesmas palavras pela enésima vez), a pilota suíça lamentou o problema mecânico, viu que o carro quando estava 100% tinha vantagem e que elas tinham boas chances de vitória. Ela lamentou muito por ter sido um problema tão simplório (a quebra de uma conexão do sistema de arrefecimento, uma peça que não chega a custar 1 Euro e ter sido identificada durante o pit stop). Ela disse que problemas mecânicos acontecem em corridas e que mesmo com a perda da liderança, se manter na P2 era possível, mas com a quebra em definitivo o abandono foi inevitável, mas mesmo assim tinha sido um final de semana positivo para elas e que elas estavam muito agradecidas pela torcida brasileira no final de semana.

 

 

Até 2025, Iron Dames... 

 

Last Updated ( Friday, 26 July 2024 23:22 )