Para os que frequentam o Autódromo Internacional de Interlagos há muito tempo, as particularidades das variações meteorológicas são uma velha conhecida. Muitas vezes a previsão meteorológica que recebemos em nossos aplicativos de smartphones funcionam corretamente para toda a capital paulista... menos para a região do autódromo! O grande fator de influência está justamente no fato da região estar cercada de grandes concentrações de água, o que naturalmente já costuma elevar o nível de umidade do ar e provocar névoa úmida no início e no final dos dias, bem como concentração de nevoeiros nas partes mais baixas, o que – novamente – interfere no perímetro do autódromo, que foi construído em uma depressão do terreno que tem um lago em seu ponto mais baixo. Contudo, o grande fator de alteração das condições meteorológicas para as corridas em Interlagos é o lago formado pela represa de Guarapiranga. Esta imensa superfície de água fica a 1 km do autódromo e ainda há a desembocadura do Rio Pinheiros no lado oposto também a cerca de 1 km que geram um “corredor de umidade” sobre aquela faixa de terra entre as duas superfícies de água. Se em corridas da Fórmula 1 ou mesmo das categorias nacionais que normalmente tem um extenso programa de atividades, tomando todo o final de semana e com várias corridas no domingo, o monitoramento das condições meteorológicas com instrumentos instalados no local faz toda a diferença e a direção do Campeonato Mundial de Endurance tem um especialista trabalhando para eles em todas as etapas da temporada. Guy Bottlaender, chamado respeitosamente de “Monsieur Météo”, carrega mais de 30 anos de experiência na profissão como meteorologista e há 25 anos trabalha para o automobilismo, tendo sido por muitos anos o meteorologista da Citroën no Campeonato Mundial de Rally da FIA e desde 2023 está trabalhando para o Campeonato Mundial de Endurance, ficando instalado na sala de direção e controle de prova. Formado na Ecole nationale de la Météorologie, que fica em Tolouse, na França, o trabalho de Guy Bottlaender é extremamente respeitado em seu país de uma maneira geral e no meio automobilístico em particular. Trabalhando para o Campeonato Mundial de Endurance, ele viaja o mundo todo, estando em todas as etapas, onde leva um grande volume de equipamentos e organiza o trabalho com as equipes de suporte locais para a instalação dos instrumentos de medição que fornecerão dados para a direção de prova e que também são compartilhados para as equipes durante as corridas. Fomos convidados por Guy Bottlaender para conhecer um pouco de seu trabalho e tivemos a sorte de acompanhar uma rápida reunião de trabalho onde ele definiu o posicionamento de três instrumentos de medição que foram instalados no Autódromo de Interlagos ainda na quinta-feira, antes das primeiras atividades com carros na pista para garantir as informações a todos que teriam acesso a elas durante o final de semana e conversamos rapidamente com ele. NdG: Você é um profissional de meteorologia e muito respeitado em seu país. Porque você decidiu se envolver com o automobilismo? Guy Bottlaender: Eu sou formado em uma das melhores escolas de meteorologia da Europa e quando nos formamos, ou vamos trabalhar para o governo ou vamos trabalhar para a iniciativa privada. Na Europa partilhamos e cruzamos muita informação e somos muito precisos nas nossas previsões. Fui convidado para gerar s previsões para a Citroën Racing desde o Rally da Alemanha de 2003 e desde então estou envolvido com o automobilismo. NdG: Você já ouviu falar das peculiaridades sobre o clima aqui em Interlagos, com as mudanças que são provocadas pela represa de Guarapiranga? Guy Bottlaender: Sim, as informações são conhecidas. Tenho muitos amigos que trabalham na Fórmula 1 e conversei com eles antes de vir para o Brasil. É uma particularidade muito interessante e eu estarei atendo as eventuais mudanças. Tenho um bom programa e instrumentos para a geração de modelos meteorológicos capazes de identificar qualquer mudança e informar a direção de prova e as equipes. NdG: Interlagos é uma área pequena a ser coberta. Como é em Le Mans, com seus mais de 13 km de extensão? Guy Bottlaender: Le Mans é um desafio maravilhoso. A região tem variações interessantes entre o dia e a noite e em uma corrida de 24 horas evidentemente estamos mais sujeitos a variações de direção e intensidade de vento, umidade e mesmo de precipitação. A época onde acontece a corrida também é um período de transição de estação onde estamos saindo da primavera e nos aproximando do verão. É muito interessante. NdG: Se Le Mans é um “desafio maravilhoso”, ter trabalhado com a Citroën no WRC durante tantos anos deve ter sido fantástico, não? Guy Bottlaender: Definitivamente! Durante o mesmo dia estamos em locais diferentes do terreno e quando falamos do trajeto, quase sempre é fora de superfícies de asfalto como um autódromo. Uma boa previsão meteorológica para as competições de rally são cruciais. É preciso deslocar equipes antes do dia das etapas e ter uma troca de informações com os institutos locais para a construção dos modelos. Sem isso, é difícil ser preciso como as equipes necessitam. Como monitorar as condições em Interlagos? Na reunião na qual estivemos presentes, Guy Bottlaender conversou com técnicos responsáveis pelo cabeamento de fibra ótica que estavam fazendo toda a colocação de linhas para conexão de instrumentos para ver a melhor viabilidade de onde colocar os sensores para que os cabos fossem passados sem interrupções e com o menor risco de rompimento acidental durante os 4 dias de trabalho e estes locais estão marcados no mapa abaixo: 1) 1) Pitlane na altura do box 14; 2) 2) Curva do mergulho, próximo a antiga junção; 3) 3) Reta oposta, pela parte interna, equidistante das curvas do sol e do lago. Durante os treinos, apenas no treino livre 1 as equipes fizeram uso de pneus intermediários. Houve algum acúmulo de névoa úmida um pouco maior no sábado pela manhã e ao final da tarde, mas fora dos horários de atividades de pista. No domingo, tivemos tempo firme, com sol e a temperatura mais alta do final de semana. |