Especiais

Classificados

Administração

Patrocinadores

 Visitem os Patrocinadores
dos Nobres do Grid
Seja um Patrocinador
dos Nobres do Grid
Entrevista: Mick Schumacher PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 29 July 2024 17:01

Carregar sobre os ombros o sobrenome Schumacher certamente pode abrir portas no automobilismo... e gerar muitas cobranças, provavelmente descabidas. Em 2008 apareceu na Alemanha um kartista chamado Mick Betsch mostrou-se muito talentoso e seu sucesso levou-o a conquistas em vários campeonatos (incluindo o segundo lugar nos Campeonatos Europeu e Mundial). Betsch é o sobrenome de solteira de sua mãe, Corinna. Assim começou a trajetória de Mick Schumacher como piloto e herdeiro do legado de seu pai, que de forma muito atenciosa nos deu uma entrevista exclusiva na etapa do WEC em São Paulo.

 

NdG: Nesses tempos de redes sociais em que muitas vezes é necessário mostrar para os seus fãs o que você está fazendo no seu trabalho, seja aqui no WEC, seja na F1, a gente vê quase tudo. Você se importa em falar um pouco sobre o Mick Schumacher que a gente não vê? Quem é o Mick fora das pistas?

 

 

Mick Schumacher: Desde criança minha vida sempre foi muito ligada ao automobilismo e isso acabou deixando pouco tempo para outras coisas e, acredite, eu uso muito do meu tempo livre para fazer mais coisas ligada a automobilismo. Nas minhas folgas eu gosto de ir para o kartódromo para me divertir, gosto muito de fazer drifting, controlar o carro colocando ele de lado, sabe... é divertido. Também gosto de andar de moto, mas sem rodas, por assim dizer, eu gosto de surfar, fazer skydiving... é tudo ligado a fazer esportes. Mais pessoal que eu tenho além de estar com minha família é brincar com meus cães. A vida de piloto é muito corrida.

 

NdG: Quase tudo na vida costuma ter dois lados, como uma moeda. O que dá mais prazer e o que dá mais frustrações a um piloto de corridas?

 

Mick Schumacher: É uma pergunta complexa... vamos ver se eu entendi aonde você quer chegar. É claro que o lado do prazer, da felicidade, está em vencer, em ter uma carreira de sucesso, em ser reconhecido como um grande piloto e em ter o prazer de estar pilotando um carro. A parte difícil vem quando você precisa ter em mente que estar ali é uma competição, que muitos gostariam de estar no seu lugar e que você não pode dar oportunidade para eles tomarem seu lugar. Você precisa ser um tanto quanto egoísta e forte mentalmente para sobreviver neste meio. Isso tem outras consequências. Pilotos com muito sucesso como meu pai, Lewis ou Ayrton acabam ficando muito isolados em suas vidas privadas. Esse acaba sendo um preço alto que se paga, mas o sucesso é algo que buscamos nesta vida como pilotos ou qualquer esportista e sabemos que este isolamento vai vir junto com o sucesso que você atinge. Mas apesar de tudo isso, eu amo o que faço. Pilotar é algo tão belo e puro pra mim, é tão maravilhoso... ter o controle de um carro no seu limite é vivenciar um sonho, é algo que talvez quem nunca teve chance de fazer isso nunca vá conseguir entender o que é poder fazer isso, sentir isso, ter palavras para descrever isso.

 

NdG: Você mencionou o seu pai e eu falei para a Índia [Fressange], Assessora de Imprensa da Alpine, que não faria perguntas sobre ele e não farei. Mas de uma pergunta eu não posso fugir: você carrega com você o fato de ser filho de seu pai, um dos maiores de todos os tempos. Até onde isso ajudou você e até onde isso te trouxe dificuldades? Outros filhos de pilotos passam por isso também, como você sabe...

 

 

Mick Schumacher: Como você mesmo colocou na pergunta anterior, tudo ou quase tudo tem benefícios e cobranças. Uma das coisas que considero positivas, para essa vida de piloto, é se acostumar com a pressão desde cedo e crescer com isso na tua formação como piloto. Para qualquer piloto o sonho é chegar no dia de estar no auge, vencendo, sendo cobrado por mais vitórias e nisso vem toda a pressão e se você convive com esta pressão desde cedo, você vai estar melhor preparado para lidar com ela. Talvez o aspecto negativo seja aquela expectativa de que você “tem que ser melhor que todos os outros”, as pessoas não entendem que para se chegar a um certo nível de pilotagem é preciso tempo para se desenvolver, aprender e elas querem que você esteja pronto de imediato. Algumas pessoas precisam de 2 anos, outras de 3 anos para chegar nesse ponto de maturidade e capacidade em uma categoria, especialmente na F1... e a cobrança vem em cima disso, de não darem tempo para você. Apesar de tudo eu vejo esta situação pelo aspecto positivo porque isso me fez crescer, isso me colocou onde eu estou, podendo estar entre os melhores e pilotando em alto nível. Ter o sobrenome Schumacher foi e sempre será um apoio que terei em minha vida.

 

NdG: Você mencionou a cobrança de muitos em cima dos pilotos sem darem tempo para o amadurecimento. Vários que nunca pilotaram e que são “conhecidos” (ou se dizem) especialistas em automobilismo, falaram muito sobre o fato de que, talvez, não tenha sido bom pra você dividir a equipe com um novato (Nikita Mazepin) no primeiro ano de F1, que teria sido melhor ter um companheiro experiente (aí lembramos de 2007, como foi a relação Alonso-Hamilton na McLaren). Você acredita que teria sido melhor ter um piloto mais experiente com você na equipe?

 

 

Mick Schumacher: Tem muitas coisas que pode ser conveniente falar sobre isso, outras não, espero que você entenda. Uma das coisas que se fala muito é o “e se”... isso é algo que não temos como saber. Penso que talvez alguns aspectos abordados por alguns jornalistas possam ter um fundo de verdade, mas o que elas sabem sobre o que realmente está acontecendo dentro de uma equipe? Especialmente na Fórmula 1 onde há um maior controle sobre tudo? O que eles tem para analisar são números, estatísticas, tomam planilhas e acabam montando seus comentários apenas com estas informações, mas eles não sabem os detalhes que geraram aquilo. Penso que para fazer suposições ou questionamentos sobre muito do que se escreve ou se fala na imprensa ou nas redes sociais, essas pessoas precisariam ter um conhecimento interno da equipe para poder opinar sobre isso.

 

NdG: Você assinou contrato para essa temporada com a Alpine para o Mundial de Endurance e mantem seu contrato como piloto de testes da Mercedes. É automobilismo, é competição, mas você sente que há uma diferença de atmosfera de uma categoria para a outra?

 

Mick Schumacher: Não tem como comparar. É completamente diferente a forma como as duas categorias funcionam e como é nosso trabalho nas duas equipes. Na Mercedes, mesmo como piloto reserva eu preciso estar sempre presente nas atividades da equipe, nas reuniões, nas análises de dados, fazendo horas e horas de simulador. Aqui na Alpine eu divido o carro com outros dois pilotos (Nicolas Lapierre e Mattieu Vaxiviere) e fazermos um trabalho conjunto para o carro estar bem equilibrado e rápido para as corridas. É “uma corrida de 2 horas para cada piloto” e isso exige muito entendimento e harmonia. Em um carro de Fórmula, por exemplo, você faz o acerto para deixar o carro da maneira que você se sente mais confortável enquanto no WEC todos tem que estar igualmente confortáveis.

 

NdG: E no aspecto técnico, o que você teve que se adaptar para conseguir andar em alto nível com um Hypercar e em um tipo de corrida tão diferente quanto as corridas de endurance?

 

 

Mick Schumacher: Penso que pilotos quando chegam a um determinado nível conseguem se adaptar às condições que surgem. Algumas coisas eu nunca tinha experimentado antes, mas o que foi mais difícil em correr com carros muito mais lentos que o nosso na pista, os LMGT3, foi alinhar [as ultrapassagens] corretamente, às vezes você tem que sacrificar uma certa curva para ultrapassá-los em um momento mais apropriado. Nesse aspecto, estou ficando melhor a cada corrida em antecipar o que os pilotos na minha frente estão fazendo, para que eu perca o mínimo de tempo possível. Também estou aprendendo muito com a forma como eles abordam certas coisas que são muito específicas para corridas de resistência. Estou realmente colhendo os benefícios disso, porque tudo o que posso aprender com eles me tornará um piloto mais completo e talvez mais rápido e talvez me dê uma vantagem sobre um piloto que não tem essa experiência.

 

NdG: Mas você tem como prioridade a Fórmula 1, certo? Se for preciso guiar um Fórmula 1 você vai ter que ir para lá?

 

Mick Schumacher: Esta foi um acordo que colocamos em contrato. A minha prioridade sempre foi a Fórmula 1. Não apenas este ano, mas a prioridade e o objetivo de toda uma vida. Então conseguimos chegar a este acordo, mas eu estou muito feliz pilotando o Hypercar da Alpine. É uma boa alternativa para quando você não tem opções na Fórmula 1, nunca foi segredo que meu objetivo é voltar para a Fórmula 1. É nisso que estou trabalhando e trabalhando para isso. É uma forma de se manter correndo. Isso é muito importante para qualquer piloto. A equipe é muito profissional, a tecnologia dos carros é muito grande e exige do piloto um trabalho muito preciso para manter o carro rápido e funcionando perfeitamente durante 6 horas e eu nem falo sobre as 24 Horas de Le Mans, que é um evento único, com uma atmosfera única e que exige e empolga qualquer piloto ao seu máximo. Somos uma equipe francesa e ficamos todos muito tristes com o abandono dos dois carros.

 

NdG: Você certamente é uma referência para muitos jovens kartistas que sonham em um dia chegar à F1. Eu não sei se você costuma ter oportunidade de estar com esses adolescentes e crianças o que você diria para elas se tivesse chance de fazer isso?

 

 

Mick Schumacher: Eu não sei se diria algo a elas que não fosse puramente motivacional. Diria que elas deveriam se dedicar ao máximo para serem o mais velozes possível, que ao longo de suas vidas elas vivenciariam muitas experiências e que deveriam aprender o máximo com elas e diria que elas jamais deveriam abandonar o kart, mesmo depois de crescerem, tornarem-se profissionais do automobilismo ou não, porque os anos do kart e as sensações do kart são as melhores que eles terão em suas vidas e que essas sensações não devem ser deixadas para trás. É o melhor tempo de suas vidas, acelerando e se divertindo, porque depois a pressão só cresce e virão momentos não tão felizes ou mesmo tristes. Então, mesmo olhando para o futuro e tendo objetivos, aproveitem esse momento único de suas vidas.

 

Last Updated ( Monday, 29 July 2024 21:30 )