O Brasil (na cabeça de alguns puristas), nunca teve um circuito oval. Muito bem. Mas o que é um “circuito oval”: Pistas ovais são circuitos dedicados ao automobilismo, usados predominantemente nos Estados Unidos (tem alguns fora de lá, sendo, talvez, o mais famoso, o de Monza, que há muitas décadas não é utilizado). Eles geralmente têm curvas inclinadas e alguns, apesar do nome, não são precisamente ovais, e o formato da pista pode variar.
Desde os anos 40 nós temos autódromos com anel externo – Interlagos, no caso – que fez grandes corridas nos anos 60/70/80 por este traçado antes da mutilação pra impedir que a Fórmula Indy viesse pra cá nos anos 80. Nos anos 60 foi feito o falecido autódromo de Curitiba, que tinha um anel externo e foi muito utilizado antes da reforma dos anos 90 que inverteu o sentido do circuito para o sentido horário e criou aquela chicane no final da reta onde quase sempre as coisas se complicavam, especialmente nas largadas. Nos anos 70 o autódromo de Goiânia também apareceu com um anel externo e até recentemente a Stock Car, a Stock “ex-Light” (como chama o Shrek) e outras categorias andaram fazendo corridas neste traçado.  Nos anos 90, no falecido autódromo de Jacarepaguá, hoje parque de elefantes brancos pós-olimpíadas do Rio de Janeiro, foi feito um “oval, aproveitando a reta oposta, cum uma curva de raio longo no seu final, com muro e tela, depois uma reta no sentido oposto e uma conexão com a curva que fazia a entrada na reta oposta e que exigia uma freada que não existe em circuitos ovais. Esse, talvez tenha sido o mais perto que chegamos de ter um circuito oval de verdade no Brasil... até este ano!  O circuito do Parque dos Pequizais, aqui em Curvelo, no meu estado, distante 161 km da capital mineira (onde a Stock Car vai correr), numa negociação com o promotor da NASCAR Tapuia (mais uma vez, como a chama o Shrek), está usando um trecho que já existia e estava asfaltado, no lado de fora do traçado misto para completar com uma nova curva e assim configurar um circuito oval de verdade. Vai ser o primeiro “oval raiz” do Brasil. O planejamento – que é muito melhor do que a interminável recuperação do autódromo de Brasília – aponta para estarmos com mais esta opção de traçado para corridas no Brasil no final de outubro deste ano e a NASCAR Tapuia colocou no seu calendário o encerramento da temporada no dia 17 de novembro com uma “edição especial”, que se for como já foi feito em outras ocasiões, terá três corridas no final de semana. A extensão da novíssima pista oval em construção em Curvelo tem 1.250 metros (3/4 de milha) e uma inclinação de 16 graus em uma das curvas. A categoria que tem mais pilotos, corridas com melhor nível e disputas mais quentes que a Stock ex-Light (como chama o Shrek) passou a ter não só o nome, mas o selo da categoria de turismo de maior sucesso dos Estados Unidos há alguns anos, mas até então tinha suas corridas disputadas em circuitos mistos, como são os do Brasil e onde em poucas ocasiões a NASCAR original disputa corridas (Um dos compromissos pactuados com a NASCAR era a construção de um traçado oval até 2025). Atualmente, onde apenas o anel externo do autódromo de Goiânia mantém essa possibilidade de traçado, o novo oval dos pequizais vai ser o primeiro traçado de corridas no Brasil puramente construído para corridas neste formato e que, se vai ser bom para a categoria ficar “mais próxima” de sua categoria inspiradora, também vai dar ao parque dos pequizais uma redenção ante os erros de projeto que levaram à construção de um autódromo onde os principais eventos do automobilismo nacional não vai. Agora vem a preocupação do colunista: eu gosto muito da categoria e acho que seu promotor, Thiago Marques (ex-piloto e membro de uma família tradicional do automobilismo brasileiro) tem um grande espetáculo, com transmissão na TV, inclusive. Mas tem um detalhe: os carros da categoria são estruturas tubulares com cobertura de fibra e as corridas nos ovais (a gente assiste as corridas na NASCAR todos os domingos pela TV) são repletas de “toques” (para não exagerar no conceito) entre os carros.
Acontece que os Camaro, Mustang e Camry (modelo da Toyota) que correm a NASCAR Cup Series são carros com a “bolha” de aço, é a “lataria dos carros”, diferente dos carros da categoria aqui no Brasil... que não vai aguentar os toques! A estrutura tubular dos carros, por baixo da bolha de fibra de vidro, certamente é segura e forte o suficiente para absorver uma batida num muro (e como o traçado é curto, as velocidades com certeza serão mais baixas), mas os toques entre os carros podem trazer um festival de perigosos pedaços de fibra para a pista e provocar furos nos pneus. Abraços, Mauricio Paiva Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. |