Esse mês eu estava muito pouco inspirado e sem estímulo para escrever minha coluna mensal e até mesmo continuar escrevendo para o Nobres do Grid. Fui “impedido” de representar o site na etapa da Stock Car em Belo Horizonte pela maioria da administração. Obrigado a todos. Mas, a menos que me expulsem, me comprometi a escrever verdades aqui como falo verdades pra quem quer que seja. Agradeço ao apoio do meu amigo Shrek, que tem a coluna de automobilismo mais lida do site (e do Brasil) e ao Gargamel, que inspirou a coluna desse mês com seus comentários sobre a última etapa do TCR, no autódromo de San Juan, na Argentina. Em meados da década passada, dois grupos de investidores (um público e o outro, privado) deram início a projetos de construção de novos autódromos em suas respectivas localidades. Um deles é o Autódromo San Juan Villicum, localizado perto da cidade de Albardón, ao lado da simbólica Rota 40, uma estrada de 5.000 km que se estende do norte ao sul da Argentina, ao longo da Cordilheira dos Andes. A Rota 40 é uma atração turística não apenas para fãs de automobilismo, mas para todos os viajantes que vão descobrir algumas das melhores paisagens do país vizinho. Anunciado pela primeira vez pelo Governo de San Juan em 2015, o projeto de 170 milhões de pesos (30 milhões de reais pela cotação da época) viu inúmeras iterações de design, com a contribuição da FIM resultando no layout final, escrito pelo arquiteto argentino Leonardo Stella. A pista de 2,657 milhas / 4,276 km ostenta 19 curvas – 11 à esquerda e 8 à direita – bem como arquibancadas permanentes para até 10.000 pessoas. Possui ainda dois circuitos alternativos de 3.500 e 2.500 metros de extensão. Ele foi projetado para trazer corridas nacionais e internacionais de alto nível de volta à província de San Juan desde que o circuito El Zonda (existente na região) caiu em desuso por motivos de segurança. O trabalho começou em outubro de 2016 e progrediu até 2017, com sua inauguração oficial em 14 de outubro de 2018, apresentando as séries World Superbike e World Supersport no fim de semana de abertura. Jonathan Rea conquistou duas vitórias para a Kawasaki no World Superbikes, enquanto Jules Cluzel venceu a corrida Supersport. Mais tarde no ano, o Turismo Carretera e o TC Pista também fizeram suas primeiras aparições. Em seguida, a TC 2000, principal categoria de turismo do país incluiu o circuito em seu calendário e, depois de criada, a o TCR South America também passou a correr por lá. Já em agosto de 2019, as primeiras modificações foram feitas no percurso por sugestão dos pilotos do Turismo Carretera. Uma nova seção curta de reta foi adicionada entre a Curva 12 e a Curva 14, efetivamente passando pela Curva 13 completamente. A mudança aumentou a velocidade da Curva 12 e passou a permitir uma corrida reta até as duas curvas finais, mesmo com o tempo de volta ficando um pouco mais baixo, entretanto, aumentando as condições de ultrapassagem. Após vistoria dos principais órgãos do esporte a motor mundial – a Federação Internacional de Automobilismo e a Federação Internacional de Motociclismo, o autódromo San Juan Villicum recebeu as homologações nos padrões FIM Grau A e FIA Grau 2 (a mesma do Autódromo de Termas de Rio Hondo), que requer uma série de requisitos que vão além do traçado – bastante largo, com mais de 16 metros e em nenhum ponto com menos de 12 metros – incluindo as estruturas de apoio. O autódromo San Juan Villicum, possui um impressionante edifício onde estão a torre de controle e demais facilidades que promotores de eventos internacionais necessitam, pit lane com até 64 boxes, centro de tratamento para emergências, dois helipontos enquanto também há planos para um hotel no local, além de 11 sanitários públicos distribuídos pelo terreno para atender as mais de 30 mil pessoas que o circuito pode acomodar. Estão equipados com a mais moderna tecnologia para prestar o melhor serviço ao público. Enquanto isso, no Brasil, na mesma época, um grupo privado decidiu criar um projeto que recebeu o nome de Circuito dos Cristais. Com uma área de 4 milhões de metros quadrados, o Circuito dos Cristais (que eu chamo de Circuito dos Pequizais) é um empreendimento único na América Latina e traz para o Brasil o conceito de Race, Resort & Residence. Mais que um autódromo, o complexo conta com uma grande área verde, várias opções de esportes a motor, incluindo esportes off-road, condomínio clube residencial fechado, áreas comerciais e infraestrutura de turismo e lazer de alto padrão. Quando o projeto foi anunciado, empolgou todo o meio do esporte a motor no Brasil. O plano era a concepção de um autódromo que fosse capaz de conseguir as homologações de segurança e funcionamento para, se não receber a Fórmula 1, ao menos estar apto a receber a MotoGP e ser – além de um clube exclusivo para seus sócios – um centro de atração e fomento na região de Curvelo, município a cerca de 160 km de Belo Horizonte. O traçado principal tem 4.420 metros de extensão, 18 curvas e desnível de 30 metros, com a reta dos boxes tendo 15 metros de largura e o traçado 12 metros, permitindo disputas abertas às competições. São 18 postos de sinalização e infraestrutura para 30 boxes. É o segundo maior do Brasil em extensão de pista (atrás apenas do Autódromo Internacional Nelson Piquet em Brasília, atualmente em “intermináveis reformas”), sendo assim, atualmente, o mais extenso do Brasil em atividade. Após a sua inauguração, nos anos que se seguiram, foram feitas ligações para haverem traçados alternativos, com cerca de 3.000 metros. Atualmente, no chamado “campo de provas”, está sendo completado o asfaltamento para a criação de um circuito oval de 1.250 metros, assunto da minha coluna anterior. Em relação ao circuito misto, as altas expectativas não se concretizaram. O circuito não tinha a menor condição de receber corridas quando foi “oficialmente inaugurado” com uma etapa da Stock Car em 2016, sem haver colocação de guard rails na reta dos boxes, em suas curvas mais perigosas (o que provocou o quase capotamento de Galid Osman ao bater no barranco da raiz de um pé de pequi, árvore típica da região nos treinos), bem como terem “descoberto” que o “muro de concreto” no final do trecho de maior velocidade era, na verdade, de tijolos, quando Felipe Lapenna o atingiu. Os proprietários foram cobrados pela VICAR na época e fizeram as obras que precisavam ser feitas para melhorar a segurança, inclusive com a construção do traçado alternativo mais curto, tirando o trecho de maior velocidade para a Stock Car (que não mais retornou após 2017). Mesmo assim, o sonho de receber a MotoGP ficou pelo caminho e o circuito não tem homologação para receber eventos internacionais, tanto de automobilismo como de motociclismo. Mesmo assim, ele atende seu propósito de ser um clube exclusivo para eventos e lazer de seus sócios, recebendo eventualmente corridas de algumas categorias regionais ou nacionais com baixa potência em duas ou quatro rodas. Abraços, Mauricio Paiva Nota NdG: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Nobres do Grid. |