Queridos leitores do Nobres do grid,
Após várias semanas sem corridas a coluna que aborda as categorias nacionais está de volta, por enquanto sob minha responsabilidade enquanto estamos tratando de algumas questões internas. Neste final de semana tivemos a abertura do calendário de eventos nacionais com as Mil Milhas Brasileiras, com sua largada à meia noite do sábado para o domingo, lembrando que o sábado, dia 25, é o dia do aniversário da cidade de São Paulo, que apesar da importância da data, cruelmente – para o fã de automobilismo – a corrida em São Paulo acontece no mesmo final de semana das 24 Horas de Daytona. O evento dividiu o autódromo com a primeira etapa dos campeonatos regionais de São Paulo e com a Gold Classic, categoria de carros clássicos que é promovida por Luc Monteiro. As Mil Milhas Brasileiras é fruto da persistência da minha querida amiga Elione Queiroz, que tantas vezes encontrei em Interlagos e outros autódromos. Há alguns anos à frente do evento, acabei encontrando na internet uma referência -–nossa – onde temos o registro de que em 2020 a corrida teve apenas 13 carros, muita desconfiança e muita resiliência da organização. Outra referência foi o ano de 2022, onde 34 carros estavam no grid. Este ano tivemos 70 (isso mesmo, setenta) carros no treino que definiu o grid para a largada, divididos em 15 categorias. Parafraseando Luc Monteiro, vai ter troféu pra todo mundo (ou quase), mas se eventos desta natureza tem um clima de festa, na pista não tem nada disso e a disputa é levada a sério.
Os primeiros treinos ocorreram na quinta-feira, dia 23, com os carros divididos em grupos, com velocidades mais próximas para que ninguém saísse prejudicado e o treino que definiu o grid aconteceu na sexta-feira à tarde. A pole position ficou com o protótipo da FTR Motorsport, com os pilotos Henrique Assumpção, Pietro Rimbano, Christian Rocha e Cassiano Trein. Os protótipos da categoria P1 ficaram com as três primeiras posições. O primeiro não protótipo foi o Porsche 911 da Stuttgart, equipe campeã do Brasileiro de Endurance e seu time completo, com Ricardo Mauricio, Marcel Visconde e Marçal Muller. A transmissão pelo Bandsports começou uma hora antes da largada e contou com uma equipe de primeira, com Luc Monteiro, Geferson Kern e Alê Eiras (que é o narrador oficial das etapas do campeonato Paulista) na narração, Max Wilson, Dedê Gomez e Bruno Vicaria nos comentários. As primeiras imagens mostraram a reta dos boxes simplesmente tomada de gente. Infelizmente as arquibancadas estavam praticamente vazias.
Como desafio adicional para os pilotos, além do imenso grid e da diferença de performance dos carros, a chuva ameaçava cair ainda na primeira hora de corrida e alguns pingos já eram notados minutos antes da largada. Largada que mesmo tendo sido ensaiada com os carros em duas filas diagonais, teve carro que não saiu na hora certa no meio do grid e isso ia dar trabalho para a direção de prova antes da bandeira verde, agitada após as voltas de apresentação e que teve uma largada limpa, mesmo com tantos carros largando. A chuva prometida chegou com 15 minutos de corrida, provocando a segunda bandeira amarela e o Safety Car (a primeira veio logo na 1ª volta) e o pole position, que caiu para 3° foi logo para os boxes. Alguns carros usavam – por regulamento – os pneus “semislick”, não tiveram que parar, por os pneus ser o mesmo para chuva e seco, mas os carros com pneus slick foram obrigados a trocar os pneus porque chovia grosso.
Ainda na segunda volta Renan Guerra ao volante da Ligier da equipe Autolog tomou a liderança e – tecnicamente – passou a controlar a corrida. Durante a madrugada, além da chuva tivemos direito a fogo no final da reta oposta no carro de Daniel Dias, num momento dramático provocando o mais longo dos Safety Car, onde foi necessário repor os extintores de incêndio que foram utilizados para debelar o fogo. Como em toda corrida de endurance não faltaram intervenções do Safety Car e a estratégia dos líderes vinha se mostrando perfeita... mas corrida só termina na bandeirada final e faltando uma hora e 15 minutos do final um erro do piloto da Ligier #53, Marco Pizani, líder da corrida com praticamente duas voltas de vantagem sobre o Porsche #55 da Sttutgart, que estava na pista na entrada da curva da descida do lago, balançou na tomada da curva, subiu na zebra interna, perdeu o controle e bateu na barreira interna e os danos foram terminais.
Isso abriu a disputa para o Porsche da Stuttgart e o Protótipo AJR da FTR Motorsport, que assumiu a liderança com uma parada estratégica do carro da GT3 e conseguiu entrar na hora final tendo quase uma volta de vantagem, mas os líderes tinham que fazer mais uma parada e a 40 minutos do final o protótipo AJR parou, devolvendo a liderança para o Porsche 911, que aproveitou o regulamento que exigia 4 minutos de parada nos boxes para estabelecer uma vantagem de uma volta e meia sobre o protótipo AJR.
As intervenções do Safety Car ajudaram a tripulação do protótipo AJR a reduzir a vantagem para “apenas” uma volta a 26 minutos do final da prova, que terminaria por tempo diante da impossibilidade de serem completadas as Mil Milhas (373 voltas) no atual traçado de Interlagos. O que esse colunista substituto não esperava era o Porsche #55 foi para os boxes na retomada da corrida (o que também pegou a transmissão de surpresa) e com isso o protótipo AJR voltou para a liderança e quando o Porsche 911 voltou pra pista estava na 2ª posição e com 2 voltas de desvantagem. Sem ter como tirar a desvantagem, só restava à equipe Stuttgart torcer para um problema com o AJR de Henrique Assunção, Pietro Rimbano, Cassiano Trein e Christian Rocha – que estava ao volante nos minutos finais. O “problema” não aconteceu e o AJR voltou a vencer, repetindo o feito de 2023 e impedindo o bicampeonato da equipe Stuttgart, que teve que se contentar com o segundo lugar no pódio, vencendo apenas na categoria GT3. O GT4 da grid Racing Team foi o 3° colocado.
Pílulas da semana. Seguindo o formato já bem conhecido, vamos manter este seguimento da coluna. - O Presidente da FIA Mohammed Bin Sulayem declarou guerra aberta ao que ele considera “inaceitável” e o ano começa com um clima pesado entre a entidade, as equipes e pilotos, especialmente na Fórmula 1. No ano passado George Russell, presidente da GPDA, já confrontou o mandatário quando este puniu pilotos por falarem “palavrões” e após a nova regulamentação, a Red Bull reagiu com força nas redes sociais. Vejamos o que vai acontecer este ano, último ano do mandato do Emirati que vai tentar a reeleição. - A administração do Autódromo de Interlagos correu contra o tempo e conseguiu reparar o dano na reta oposta provocado pela construção do novo túnel de acesso que passa sob o antigo retão e a reta oposta. O reparo foi feito, o asfalto refeito, mas não houve tempo de cura. O próximo evento é a etapa da Fórmula Truck, onde o local será submetido às quase 5 toneladas de peso dos brutos. - O STJD indeferiu o recurso das equipes Crown Racing e TMG Racing, punidas por adulterarem os pneus para chuva na etapa do Velopark no ano passado. Com isso Gabriel Casagrande foi confirmado como campeão da temporada 2024, seu terceiro título na categoria. - A Fórmula E anunciou que a próxima etapa, que acontecerá em Jeddah, na Arábia Saudita, num traçado mais curto que o utilizado pela Fórmula 1, vai ter a primeira experiência com o “pitstop” de carga rápida. Abordamos este aspecto no nosso Magazine (ver na frontpage). Os carros vão parar para uma recarga de 10% que acontece em 30s. Com as potenciais bandeiras amarelas da corrida, o momento das paradas pode dar uma boa misturada no pelotão da prova e influenciar o resultado final. Grande abraço, Flávio Pinheiro
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