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Mentiras Sinceras Interessam? PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Monday, 03 October 2011 08:08


O mês de outubro poderia ser um mês sensacional no que diz respeito às atividades do automobilismo em solo brasileiro. Além dos campeo-natos nacionais, estavam programadas para acontecer duas etapas da “Super Liga” (aquela categoria de mono-postos que os carros tem a pintura de alguns times de futebol e que já tiveram carros com as cores do Flamengo e do Corinthians e que hoje correm com as cores de alguns países, como o do Brasil, com Antônio Pizzonia ao volante). 

 

Além dos monopostos, o FIA GT retornaria ao país, para compor com a Argentina as duas últimas etapas do campeonato, desta vez, tendo como palco o Autódromo Internacional de Curitiba, “casa” da dupla brasileira que começou o campeonato correndo junta – Enrique Bernoldi e Ricardo Zonta – e que agora conta apenas com Bernoldi ao volante de um Nissan GT-R da Sumô Racing.

 

Como disse, seria. Seria porque não vai ter mais! As três etapas, duas das quais em Curitiba, foram canceladas.

 

No caso do FIA GT, Segundo o Diretor da SRO Latin América, Francisco Barros, braço da SRO – a organizadora do campeonato – houve a intenção de se voltar a fazer a prova aqui no Brasil, mas em nenhum momento a data reservada e o local foram confirmados. O Sr. Itaciano Ribas Neto, Administrador do AIC, informou ter sido procurado no início do ano, em relação à realização da etapa em Curitiba, mas que não houve prosseguimento nas conversas. Interessante é que, o site da categoria, que é visto no mundo todo em tudo que é idioma, tinha a corrida brasileira no calendário até o início de agosto. Ou seja, a idéia persistia até o final de julho, pelo menos.

 

 

O mundial de Grand Turismo da FIA esteve por aqui em 2010. Já para 2011, a etapa foi cancelada (a argentina está mantida). 

 

Por trás de tudo isso pode estar o senhor chamado Antônio Hermann, empresário, rico, com grandes ligações dentro e fora do automobilismo, com algum sucesso em corridas de turismo e gran turismo, dono dos direitos (não usado desde 2008) de organizar e realizar as Mil Milhas Brasileiras, que ele tentou transformar em etapa do mundial de endurance e “colocou para correr” os empreendedores nacionais, equipes de “fundo de garagem” e outros entusiastas das pistas, era o diretor da SRO até o início de julho deste ano e até então – ao menos no site – estava tudo certo.

 

Antônio Hermann era a pessoa que estava à frente da SRO, com sede em São Paulo, e tinha como parceiros Francisco “Kiko” Barros e Walter Derani. Oficialmente, a sua saída deveu-se à outros compromissos profissionais de Hermann, mas é muita coincidência a notícia do cancelamento da etapa brasileira do FIA GT acontecer algumas semanas depois. Outra coisa que chamou atenção foi o fato da equipe dele na GT3 Brasil e mais um Porsche, do Porsche GT3 Cup, terem sido anunciados à venda... fora do país! É claro que boato não é notícia, mas o que corre pelos bastidores é que um grande patrocinador do automobilismo brasileiro estaria enfrentando problemas de ordem fiscal e legal, devendo sair da cena do automobilismo e outros esportes para 2012. Essa a gente precisa esperar pra ver.

 

 

Teria a saída da SRO do empresário Antônio Hermann sido uma das ou a razão do cancelamento. Afirmar, não, mas suspeitar... 

 

No caso da Superleague, a frustração foi em dose dupla. Afinal, seriam duas etapas aqui no Brasil, em Goiânia e Curitiba, nos finais de semana de 7 a 9 e de 14 a 16 de outubro, que foram canceladas poucas semanas antes do que seria a data limite para embarcar os carros para o Brasil em navio (muito mais batato do que fazer tudo por avião como fazem a F1 e a Indy).

 

O que podemos estranhar (?) neste processo em particular é o possível desconhecimento por parte dos organizadores da categoria sobre o impraticável estado do asfalto do autódromo de Goiânia. A GT3 chegou a fazer um teste ainda este ano, pensando em levar uma etapa do Itaipava GT Brasil, mas o teste mostrou que o asfalto existente não aguentaria a tração dos carros com motores em torno dos 600 cavalos.

 

 

A Fórmula Superleague queria fazer uma rodada dupla aqui pelo Brasil, mas a escolha de Goiânia como um dos palcos foi estranha... 

 

Será que senhor Robin Webb, diretor da Superleague não sabia que o autódromo não tinha condições? Tudo aponta na direção contrária. O autódromo chegou a ser visitado e uma lista de necessidades a serem atendidas chegou a ser feita. Havia rumores de que governo do estado e prefeitura chegaram a cogitar a montagem de um circuito de rua, usando as largas avenidas da capital do estado, mas nada foi realmente apresentado.

 

O autódromo de Goiânia, além do asfalto (que tem que ser removido e colocado um novo), necessita trocar todos os suportes dos seus guardrails (os mesmos mourões de madeira enfiados na terra desde a inauguração em 1974), além de substituir os mesmos por sistemas com duas ou três lâminas, Também é preciso reformar a mureta de Box, que não possui uma tela com cabos de aço ou algo resistente a “detritos voadores”. Com início e fim na reta, a mureta tem o “formato Fortaleza”, aquele que quase dividiu um carro e seu piloto no meio no ano passado.

 

 

O autódromo da capital de Goiás não tem - no momento - a menor condição de receber uma etapa de uma categoria sequer nacional. 

 

Se houvesse boa vontade (e como isso é difícil) os organizadores poderiam encontrar alternativas. Curitiba é o segundo melhor autódromo do país, pouco ou nada precisaria ser feito (mas como, segundo os europeus, não compensava fazer a viagem para correr uma etapa apenas), onde encontrar outro autódromo? Campo Grande poderia ser uma opção... mas será que o asfalto resistiria? O Velopark uma outra, mas será que os europeus iriam achar aquela “pistinha de duas retas e dois zigue-zagues”? A pista de Brasília jamais seria aceita com aquelas áreas de escape nas curvas rápidas (muito pequenas para carros que andam na velocidade dos monopostos da Superleague). Santa Cruz do Sul deixa a incógnita de quanto público poderia levar... com isso podemos concluir que precisamos de autódromos melhores se quisermos receber categorias de padrão internacional!

 

Mas o negócio é o seguinte: não querer colocar a culpa só nos autódromos, ou nos governos e prefeituras. Quando os interesses falam mais alto, esse pessoal dá jeito. É preciso ser direto, sem “rodeios” ao âmago da questão e assumir:“faltou dinheiro”! Primeiro que para trazer uma categoria do outro lado do oceano ou do mundo, como seria o caso da viagem de navio dos carros do FIA GT da China até o Brasil. Depois, o promotor de qualquer categoria não é um samaritano como este que vos escreve, que não ganha um tostão para fazer pesquisas, dar telefonemas interurbanos e fazer 3º expediente como “jornalista”.

 

 

Além de estreito (12 metros de largura), sem guard rails decentes, o asfalto do autódromo goiano precisaria ser todo refeito. 

 

Além de quitar os custos, ele vai querer levar uma “burra” cheia de dinheiro, Tio Bernie que o diga... faz isso todo ano em São Paulo! Com ele não rola desconto nem "parcelamento no cartão". Com isso, além dos patrocinadores da categoria, contrato com a televisão e outros veículos de cobertura, sempre é feito um contrato e um contrato com organizadores locais para que esses consigam vender quotas de patrocínios que vão gerar receita. Os ingressos ao público são a variável da equação: não se pode contar com aquele dinheiro como receita. Da bilheteria, o que vier é lucro. Quem fatura com ingresso no Brasil, além da F1 e da Indy são a Stock e a Truck. O resto vive de quem coloca seus banners, bandeiras para “enfeitar o autódromo”, de quem leva as “torcidas de convidados”, todo mundo com camisa da mesma cor, de quem fecha com alguém em contrapartida de alguma coisa.

 

Quando o Augusto Farfus corria no WTCC, a corrida era em Curitiba e sempre tinha uma enorme estrutura por trás da realização da prova. Em 2010, último ano do brasileiro na categoria, o ingresso – para garantir uma boa lotação – foi de dois quilos de alimento não perecível (onde que em qualquer lugar sério um ingresso para ver um campeonato mundial ia custar 2 Kg de fubá?). Foram arrecadadas 43 toneladas, ou seja, havia 21.500 “pagantes” nas arquibancadas! Quem “pagou a conta” foi um banco, e esse monte de comida, virou obra social, que foi abatida no imposto de renda... e assim o mundo gira!

 

 

O outro palco, seria o autódromo de Curitiba. Mesmo sendo "o segundo autódromo do país" os organizadores "viram deficiências".  

 

No início do ano, o FIA GT tinha dois paranaenses correndo juntos, na mesma equipe, dividindo o carro, ambos – Zonta e Bernoldi – filhos de grandes empresários e que certamente teriam como (tecnicamente falando) arregimentar um pool de investidores para “bancar” a etapa do campeonato, até mesmo com uma “venda casada” com os argentinos, uma vez que os carros estariam vindo de navio para o Brasil, saindo por terra para a Argentina e embarcando de lá para a Europa. O Zonta largou o campeonato no meio para focar na Stock... até onde isso teria comprometido a realização da prova?

 

Se não tiver quem banque, a coisa não rola, e isso vai até as mais altas esferas... de grana e interesses. Querem ver como são as coisas? Quem aqui se lembra daquela corrida que ia ter em Interlagos com a “Historic Fórmula 1”? A prova que aconteceria em Interlagos no mês de agosto de 2009 prometia trazer de volta – o que realmente é a proposta da categoria – carros dos anos 70 e 80 que marcaram época. Até aí tudo bem. Arranjaram data, local... e quem “garantisse o sucesso” da festa: a TV Globo.

 

 

O WTCC corre em Curitiba há seis anos. Casa cheia e evento patrocinado enche autódromo. Em 2011, correu junto com a Stock. 

 

Acontece que os carros eram aqueles históricos... mas os pilotos que os conduzem até hoje (a categoria continua existindo e correndo pela Europa) são endinheirados desconhecidos e aí começou a surgir a desconfiança sobre o sucesso da empreitada: Quem iria ver a Lotus preta e dourada que, ao invés de pilotada por Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna (esse último nem tinha como) ou mesmo pelo prosaico Conde Dunfries, teria que vê-la com o “John ‘das Candongas’” ao volante! Do mesmo jeito que Tyrrels, Brabhams e McLarens teriam o “Peter ‘das Couves’”, o Vicenzo “Spaghetti’” e o Fritz “Aruela” (que não é parente do Frank Biela).

 

Apesar da empresa responsável pela promoção da prova dizer que teve uma “enorme procura de ingressos”, a TV Globo, que afirmou ser “apenas transmissora do evento”, e não uma das patrocinadoras, ainda assim teria que vender suas quotas de publicidade para transmitir a corrida. Afinal, deslocar uma equipe, equipamentos, pagar horário em satélite, abrir espaço na grade de programação... tudo isso custa caro. Assim, antes da canoa afundar, a Globo pulou fora! Isto é, se é que ela não era coo-promotora como o site da categoria informava. Os promotores lamentaram, pediram desculpas e disseram que iriam “trabalhar” para trazer a categoria para o Brasil no ano seguinte (que seria o ano passado). Pergunta: alguém mais ouviu falar em “Historic F1” por aqui depois de 2009?

 

 

Não adianta apenas vontade. Para se fazer um evento, o organizador não vai fazê-lo sem que haja retorno. Filantropia não existe. 

 

E para "fechar o caixão", a World Series by Renault, cujo nome inicial era Fórmula Renault 3.5 e que no ano que vem pode contar com mais um brasileiro, o atual campeão inglês da Fórmula 3 inglesa, Felipe Nasr, estava com sua programação para fazer sua primeira etapa fora do continente europeu. Destino? Brasil.

 

Pois é... mais uma que foi para o vinagre! A categoria divulgou seu calendário e, na data que estaria reservada para a vinda ao Brasil (25 e 26 de agosto), já aparece como "a definir". Pelas datas anteriores e posteriores, com um intervalo de 36 dias após a etapa na Russia e com 20 dias para a etapa na Hungria, tempo suficiente para fazer o transporte por via marítima, inclusive (ter um Capitão de navio como consultor ajuda...). A categoria principal viria sozinha, devendo usar categorias locais nas preliminares.

 

 

No calendário da Superleague para 2012 planejava-se vir para o Brasil. Os planos já foram por água abaixo e a data esta aberta. 

 

Acontece que, se a Renault aqui no Brasil não investe um mísero centavo no seguimento de competição, apesar das promessas. (em 2009, o site dos Nobres do Grid foi ao Renault Speedshow e o 'Chefe' entrevistou o 'Monssieur Christian Pouillaude', Vicepresidente Comercial na época. Depois de afirmar, e temos isso gravado, que a Renault investia na Copa Clio, menos de dois meses depois a montadora comunicou o fim da categoria). Com um suporte local como esse, que categoria cruzaria o oceano para correr aqui?

 

O título da coluna – mentiras sinceras – retrata uma verdade: somos todos apaixonados por um esporte que, para os que o conduzem, transformou-se num grande negócio! Ninguém está nem aí se vai ter ou não corrida, se vai ter ou não transmissão na tv, se vai ter ou não público nas arquibancadas. Ele – o promotor do evento – tendo o seu retorno, dane-se o resto! Está aí Tio Bernie e sus corridas no oriente que não me deixam mentir.

 

Abraços,

 

Mauricio Paiva

Last Updated ( Monday, 17 October 2011 01:25 )