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A crise de gestão no automobilismo brasileiro (2º Parte: os dirigentes) PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Wednesday, 14 December 2011 01:10

 

 

Nos últimos anos temos vivido uma série de problemas e questionamentos intra e extrapista no nosso automobilismo. Desde pesos e medidas sem a mesma lógica em decisões dos comissários durante as corridas, a regulamentos que dão margem a diferentes interpretações, termos praças de esportes sendo destruídas ou sob risco iminente de desaparecer e até mesmo a prisão de dirigentes. Vivemos uma crise de gestão no automobilismo brasileiro? Sendo este o caso, o que pode ser feito?  

 

Toninho de Souza – Promotor de eventos automobilísticos e proprietário de escola de formação de pilotos. 

 

É com muita tristeza que, depois de algumas décadas envolvido com diretamente com o automobilismo, vejo o automobilismo brasileiro literalmente no fundo do poço... em todos os sentidos. 

 

Temos um sério problema de base e quando falo “problema de base” me refiro não apenas à formação de pilotos ou na estruturação, mas no que é o “tripé” que o sustenta. Este tripé PE composto pelos clubes de automobilismo, aonde os pilotos são os atletas e são estes clubes que realmente tem que ser os organizadores dos eventos. Não importa que o clube transfira esta tarefa para um promotor, mas que estes clubes continuem sendo os responsáveis pelo evento. As federações estaduais, que são 17, sendo que cerca de 8 ou 9 tem uma boa estrutura, os demais tem uma péssima ou mesmo uma estrutura inexistente e a “casa-mãe”, que é a CBA, que precisa que fazer com que todas as partes trabalhem para o mesmo objetivo. 

 

Infelizmente nós não temos na CBA, um presidente à altura das necessidades que o esporte exige. Eu não estou aqui para ‘malhar’ o Cleyton [Pinteiro]. Ele foi eleito para um mandato de quatro anos e tem o direito de cumprir este mandato até o último dia. Ele foi eleito pelas 18 federações existentes na época, mas eu acho que, como presidente da CBA, ele não está fazendo nada! 

 

Além de não entender nada de automobilismo, a CBA não está fazendo nada. Espero que no seu último ano de mandato, que ele tem aí mais um ano e alguns meses pela frente, apesar de que, ele fala pra todo mundo que ele vai para uma segunda gestão – apesar de que eu acredito piamente que ele não vai – ele consiga fazer alguma coisa. 

 

O que ele pode fazer para “salvar” este último ano de gestão? O [Carlos] Col, que é o promotor número 1 do Brasil, apresentou uma proposta para a CBA no primeiro dia de mandato do Cleyton [Pinteiro]... e na gaveta onde ele guardou, talvez ainda esteja lá. Eu espero que ele aceite esta proposta e que começa pela organização da base da Confederação.  

 

A base da CBA é muito fraca. Se estão acontecendo decisões controversas por parte dos diretores e comissários, é por conta da falta de um trabalho de preparação, de formação. A gente tem hoje um diretor de provas atuando em algumas das mais importantes provas do país que foi promovido das provas do regional em seu estado quase que de supetão, sem passar por um preparação. Ele é uma boa pessoa, interessado, dedicado, mas isso só não basta. Ele ainda teria que estar aprendendo, ele pulou etapas. 

 

Então, dentro da estrutura da CBA, há que se fazer um trabalho sério de base, de formação e aperfeiçoamento do pessoal técnico. O que eu espero, independente dele vir ou não ter um segundo mandato, é que este projeto saia da gaveta e comece a ser implementado. Se for outro, que este outro o faça. É fundamental que a estrutura administrativa e técnica da confederação seja composta por pessoas preparadas. 

 

Uma corrida como uma Stock Cars envolve mais de 300 pessoas. As 24 horas de Interlagos, que iremos realizar em janeiro, vai envolver mais de 1500 pessoas. A gente não tem contingente de pessoal preparado nem para fazer a Stock! Em São Paulo a situação é menos crítica, mas se formos ver o país como um todo, esta é a realidade.    

 

Francisco ‘Kiko’ Barros – Diretor da SRO Latin América, Promotora da GT Brasil (GT3 e GT4) 

 

Acho que não. O que nós temos visto é uma evolução, uma profissionalização da organização das categorias que correm no automobilismo brasileiro. 

 

É preciso ver que o automobilismo não é mais “apenas um esporte”. Há muita coisa envolvida. Empresas, investimentos, pessoas altamente preparadas... então a profissionalização e a modernização da gestão do automobilismo também como negócio, que vem expor as marcas que estão envolvidas no evento. O profissionalismo é a marca do automobilismo atual. 

 

As empresas promotoras que gerenciam as principais categorias do país como a SRO, a VICAR, a Fórmula Truck, a Porsche Cup, a Fórmula Fiat, todas elas tem equipes de pessoas sérias, responsáveis, preparadas e vemos também que o motociclismo está passando por uma reestruturação e se desenvolvendo neste caminho.  

 

A CBA, por sua vez, tem buscado se adaptar a estes novos rumos e aqui por nossa parte, achamos que eles tem feito um bom trabalho, que vem acompanhando e se adequando a esta profissionalização que está acontecendo no nosso automobilismo. Nas competições da nossa categoria, observamos que há uma integração entre a organização e as equipes de comissários, de sinalização, de resgate, tudo buscando o que se pode fazer de melhor para a segurança do evento e para o espetáculo.   

 

Carlos Col – Diretor da VICAR, organizador da Stock Car, Copa Montana, Mini Challenge e Copa Petrobras de Marcas. 

 

Qualquer seguimento, qualquer empresa, qualquer entidade, com fins financeiros ou não precisa buscar constantemente  uma melhoria, uma qualidade de gestão.  

 

O automobilismo brasileiro, seja como esporte ou seja como negócio, porque não podemos dissociar o esporte do envolvimento da gama de empresas que participam de um evento como podemos ver em todas as categorias que correm no Brasil, precisa buscar uma modernidade de gestão. 

 

A estrutura da Confederação Brasileira de Automobilismo carece da necessidade de passar por este processo de modernização. Acontece que por razões estruturais, culturais e mesmo políticas existe um atraso neste processo, mas isto é algo que não nos permite mais conviver com o estado das coisas. 

 

O automobilismo, como um todo, no Brasil e no mundo, evoluiu muito. A profissionalização em todos os estágios da estrutura do automobilismo, nas equipes, nos promotores de eventos, no comprometimento dos pilotos é total e irreversível. O problema é que a gestão do automobilismo, pelos órgãos oficiais – clubes, federações e a confederação – não acompanhou este processo na mesma velocidade e há uma clara defasagem, sendo necessário que se criem meios para se implementar um processo que tire este atraso, que seja estabelecido um modelo de gestão adequado para uma entidade com tanta responsabilidade como é a CBA. 

 

Este processo para ocorrer não cabe apenas aos dirigentes. É preciso que eles tenham uma mentalidade aberta para compreender o comprometimento deste processo, mas cabe também aos organizadores e promotores se disporem a participar, a contribuir e se comprometer para que este processo possa acontecer. 

 

Infelizmente o ponto de partida deste processo não está em nossas mãos, uma vez que existe uma estrutura política que regulamenta as eleições nos órgãos gestores do automobilismo nacional, onde os clubes elegem os presidentes de federações e estes o presidente da confederação. As outras partes envolvidas não participam deste processo e tem que se submeter as decisões que são tomadas pelos órgãos gestores.  

 

O que nós, as partes que não tem direito a voto, mas que participam ativamente na estrutura do automobilismo brasileiro, é reivindicar, sugerir e se prontificar em colaborar para que o automobilismo evolua como um todo. 

 

Paulo Scaglione – Expresidente da Confederação Brasileira de Automobilismo (2001 – 2009) e advogado. 

 

O automobilismo brasileiro sempre viveu em crise. Em alguns momentos mais acentuada, em outros nem tanto, mas sempre em crise. No momento, parece que atingimos o ápice desta crise. 

 

Existe uma confusão entre o que é o automobilismo e o que é a gestão das federações e da confederação. O automobilismo é um esporte muito atípico. Todo mundo critica que não se cuida dos autódromos, que os autódromos estão ruins... mas a CBA ou as federações não são donas de nenhum autódromo. As federações, nos estados que há autódromo, fica limitada a tentar fazer com que os administradores se sensibilizem e cuidem dos seus autódromos, que os modernizem... e tentar impedir que eles desapareçam, como esta acontecendo no Rio de Janeiro, como tentaram fazer em Brasília e até mesmo aqui em São Paulo. 

 

No meio do automobilismo tem muito oportunismo. Um exemplo disso é o próprio envolvimento das fábricas, das montadoras. Quando querem colocar um produto em evidência, eles criam até uma categoria só dela e usam o automobilismo até atingir seu objetivo. Isso funciona assim há décadas e não é só aqui no Brasil. Seja no automobilismo de pista, seja no rally. 

 

Nós, apesar das dificuldades, ainda somos uma grande fábrica de pilotos, mas a dificuldade dos nossos pilotos conseguir patrocinadores é muito grande. Uma categoria como a Stock Car, por exemplo, consegue patrocinadores. Suas estrelas, que são os pilotos tem dificuldade em conseguir, assim como as equipes. A maioria delas tem dificuldades para fechar o orçamento. Porque isso acontece? Porque o patrocínio de maior vulto é dirigido para o evento. Lamentavelmente, os patrocinadores aqui no Brasil, não vêem o investimento no automobilismo como um projeto de longo prazo, mas como um projeto de curto prazo. 

 

Administrativamente, também temos problemas. Muitas federações tem dificuldades em cumprir o estatuto que as regem. Antes da eleição de 2009, eu encaminhei ofício a todas as federações estaduais informando que elas deveriam estar devidamente regularizadas para poder ter o direito ao voto. Em dezembro de 2008 apenas seis estavam em ordem! Atualmente, posso dizer com segurança que das 18 federações existentes, pelo menos 10 não tem condições de representar o automobilismo de seus respectivos estados.  

 

Existe em alguns lugares uma idéia distorcida do que é federação. Em alguns lugares se realizam um ou dois eventos por ano, reunindo se muito 50 pilotos, um evento que um clube poderia fazer. Sendo assim, temos um numero enorme de federações e uma baixa representatividade. Se formos analisar bem, temos na verdade seis federações de automobilismo no Brasil que possuem os requisitos legais, de serem instituições sem fins lucrativos. Porque isso, porque o estatuto de algumas federações determina que parte do que é arrecadado seja entregue ao presidente da mesma. 

 

Os problemas que vem se sucedendo em corridas, com relação aos protestos em torno de decisões tomadas é uma dessas coisas que não tem porque estar acontecendo. Temos muita gente boa, bem preparada, bem formada como comissários e como diretores de prova que, depois da mudança da gestão foram afastados, deixaram de ser chamados para trabalhar nos eventos de automobilismo. Este “ranço” que ocorre quando se muda a administração só fazem com que o automobilismo perca. Quem trabalhou na minha gestão, trabalhou na do Reginaldo [Bufaiçal], do Piero [Gancia]... nós não tivemos este tipo de postura. A atual gestão partiu por outro caminho... o resultado está aí.   

 

Hoje temos uma gestão feita por um expresidente de uma dessas federações que mal consegue agregar 50 pilotos e que, mesmo tendo um autódromo, tinha suas corridas organizadas pela federação do Ceará. Hoje existe uma falta de comando no automobilismo brasileiro não por falta de vontade, porque eu até acredito que ele tenha boa vontade, mas por falta de capacidade. Uma não sem comando não tem como manter o rumo e hoje a CBA é uma nau sem rumo, sem comando. 

 

Dilson Motta – Promotor e organizador da Fórmula 3 Sulamericana. 

 

Acredito que sim e não apenas por estes fatores, mas também por outros tantos que acabam culminando com este quadro geral que se apresenta e que vemos – ou melhor, não vemos. 

 

Porque não vemos? Não vemos porque o automobilismo é um esporte que não tem a mesma visibilidade que tem outros esportes. A gente vê outros esportes conquistando espaço nas TVs, público nos estádios e ginásios enquanto o automobilismo vem perdendo espaço, com públicos pequenos nos autódromos e baixa audiência na televisão. Até a Fórmula 1 tem perdido audiência. 

 

Este é o maior, o mais grave efeito desta crise de gestão pela qual o automobilismo vem passando. É preciso que haja uma renovação, uma mudança de mentalidade e uma real mobilização para que se mude a realidade do automobilismo brasileiro. Se continuarmos com o modelo atual, a tendência e que piore cada vez mais.  Não posso dizer que todos são ruins, que todos são incompetentes, mas é preciso que se abra espaço para aqueles que querem mudar o automobilismo nacional. Temos promotores dispostos a trabalhar em prol do fortalecimento do automobilismo, que é um esporte apaixonante, mas assim mesmo, no atual modelo de gestão, não conseguimos atrair a mídia, não conseguimos espaço público e não estamos nem conseguindo formar uma nova geração de pilotos campeões no cenário internacional. Pouco tempo atrás, conquistávamos diversos títulos todo os anos. Hoje, eles são raros.  

 

Na Fórmula 1 estamos prestes a ficar sem nenhum piloto no grid e não é algo que se reponha fácil e rapidamente.  

 

Tudo isso são só sintomas da falta de profissionalismo com o qual o automobilismo brasileiro é gerido. Ou mudamos esta realidade, desde como é feito o automobilismo nas federações e seus estados, a nível nacional e com o comprometimento de todos os setores envolvidos ou o automobilismo não terá futuro no Brasil.   

 

 

Last Updated ( Thursday, 29 December 2011 22:38 )