Na transmissão da última corrida da Fórmula 1, entre as pérolas proferidas pela ‘tríplice lambança’ da transmissão televisiva teve uma que quase me derrubou da cadeira. Nem tanto pelo fato, mas mais pelo conteúdo. O tal do “papagaio”, enquanto a câmera mostrava o bom velhinho andando pelo grid, mandou uma que teria sido falada pelo próprio mecenas da categoria. Segundo o matraca, o oitentão falou que graças a ele a Fórmula 1 é o que é hoje, que todos os donos de equipe ficaram ricos... OPA!!! Todos quem cara pálida? Só se for os compadres (ou seria melhor chamar comparsas) dele, como o Max Mosley, que se apossou dos recursos de diversos pilotos, entre eles o nosso Alex Dias Ribeiro, nos tempos da March, que o Bernie conseguiu colocar na presidência da FIA e que, quando deixou de ser interessante, puxou o tapete. A situação da Fórmula 1 de hoje é crítica em termos de dinheiro. Nem as grandes equipes tem como escapar da necessidade de ter grana sendo injetada por patrocinadores de pilotos. Senão vejamos: A Ferrari tem com Fernando Alonso – o maior dos pilotos pagantes da categoria – um contrato de cinco anos onde o Banco Santander está enfiando nos cofres de Maranello 300 milhões de Euros, 60 por ano. A equipe poderia se manter na categoria sem este dinheiro? Sim, mas não com a força que tem. A Ferrari é uma empresa que dá lucro nos dias de hoje, mas se não fossem as fortes parcerias, dificilmente teria como manter o nível de competitividade sem ter um comprometimento sério de suas finanças. Para Bernie Ecclestone e seus amigos, como um dia foi Max Mosley, está tudo bem e o negócio é faturar! A McLaren contratou agora o mexicano Sergio Perez para o lugar de Lewis Hamilton. A equipe de Ron Dennis está perdendo este ano o patrocínio da empresa de telefonia Vodafone. Para não entrar no vermelho (financeiramente falando) e continuar no vermelho (pictograficamente falando), agora passa a ter o patrocínio da Claro, também vermelha. Os valores do patrocínio que vai ser injetado por Carlos Slim é um segredo – por enquanto – mas que em breve, de uma forma ou de outra vai acabar vazando. A situação mais grave entre as equipes maiores é a da Nega Genii, que esses meus “colegas de mídia” insistem em chamar de Lotus, de Renault, de Lotus-Renault... Renault deixou de ser faz tempo. Tem até que pagar pelos motores. A tal da Lotus, que ganhou na justiça o direito de usar o nome de Lotus, deixou de colocar dinheiro na equipe desde o começo do ano (Só falta agora cobrar pelo uso da marca). O Grupo Genii – originário do pequeno e rico Luxemburgo – está passando por dificuldades financeiras e há fortes rumores de venda de parte ou todo controle acionário da equipe, que em Abu Dhabi, conquistou sua primeira vitória. Para os diretores do Grupo Genii, donos da "Nega Genii", o negócio não está dando retorno e há uma possibilidade de venda. Se as maiores equipes estão nesta situação, não seriam as médias que iriam escapar. A Williams está “na draga” tem quase uma década! Nem a vitória do Maldonado este ano pode ser a salvação da equipe, que correu o risco de perder sua “galinha do queixo de ouro” caso o Chavez não fosse reeleito presidente da Venezuela. Bruno Senna está perdendo o lugar na equipe para Valttery Bottas para 2013. O protetor do finlandês é um dos investidores da equipe e, independente da capacidade dele – e o jovem é competente – se não houver dinheiro em caixa, a equipe tende apenas a andar para trás. Frank Williams já teve dias de dureza, depois, dias de marajá. Há alguns anos, vive de vender lugares para pilotos com dinheiro. Outro que vai perder o lugar por falta de dinheiro da equipe é Kamui Kobayashi. Com a saída de Sergio Perez, Peter Sauber precisa de outro financiador de caixa. Na verdade, o caminho mais fácil é manter o mesmo, com a promoção do piloto de testes – o também mexicano Esteban Gutierrez – e assim manter o patrocínio da Claro. Como a equipe fechou negócio com o alemão Nico Hulkenberg, que deixa a Force Índia, o Japonês está tecnicamente a pé. Quem também está mal das pernas – e neste caso das rodas e das asas – é justamente a equipe de Vijay Mallya. Lutando atualmente para salvar do colapso sua companhia área, a Kingfisher Airlines, .tomou recentemente a controversa decisão de barrar os investimentos na empresa em um momento que o segmento de áreas de baixo custo estava em expansão, na tentativa de conter as perdas. Andou passando alguns cheques sem fundo e esteve ameaçado de prisão pouco antes do GP em seu país. Peter Sauber vai ser forçado a abrir mão de seu talentoso Kamui Kobayashi para manter o patrocínio da mexicana Claro. Originário do ramo de bebidas. Sua empresa, a United Spirits, é dona de diversas marcas indianas, como a Whyte & Mackay, produzida por meio de uma e joint venture com a cervejaria Heineken. Há ainda investimentos em outros ramos. Uma operação de US$ 2 bilhões anunciada na semana passada, relevou a transferência do controle acionário da empresa de bebidas para o Diageo Group, que também atua no segmento, além de participações minoritárias em outros negócios da holding United Spirits. Essa injeção de recursos na holding de Mallya, segundo analistas econômicos do mercado indiano, terá como principal papel salvar a empresa aérea, em dificuldades crescentes. Já um aporte financeiro na equipe de Fórmula 1 sediada em Silverstone, em que pese necessário para os planos de crescimento, ainda não foi anunciado. Ou seja a vaga aberta com a saída de Hulkenberg vai ser um verdadeiro leilão! Quem pagar mais, leva. Vijay Mallya quase foi preso por calotes na praça em seu país. Agora, vai acabar fazendo um leilão por um lugar na Force Índia. Das nanicas eu nem vou perder meu tempo falando – e nem o leitor lendo – mas é importante mencionar que o Tony Fernandes, que brigou e brigou pelo nome Lotus com o pessoal da Proton, que comprou a marca inglesa, está se afastando da direção da Catheram. Ao que parece, apenas a Red Bull e suas duas equipes e a superpotência Mercedes estão ao largo da crise que o bom velhinho parece não estar muito preocupado. Afinal, ele consegue cada vez mais fechar mais contratos, ganhar mais dinheiro e a distribuição de parte dos lucros com as equipes... o não fechamento do pacto da concórdia diz tudo. Abraços, Mauricio Paiva |