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Written by Administrator   
Thursday, 28 March 2013 15:03

Saudações D’Além Mar!

 

Escrevo isto no dia a seguir ao GP da Malásia, e à famosa ultrapassagem de Sebastian Vettel. Observando as várias reações sobre o que aconteceu na imprensa, acho bem interessante ver que a maior parte das pessoas culpa Vettel por este ter desobedecido às ordens de equipa e ter-se armado em “Didier Pironi” (em referência à famosa desobediência entre pilotos da Ferrari no GP de San Marino de 1982) porque ele tinha vontade de vencer a corrida, mais do que obedecer às ordens e garantir uma dobradinha para a Red Bull. A dobradinha ficou assegurada, mas o ambiente ficou bem carregado, pelo que se viu no pódio.

 

Muitos gostam de apontar que tudo isto aconteceu porque Vettel não obedeceu às ordens da equipa de levar o carro até ao fim e ficar atrás de Webber. E a palavra de código que a equipa usou para ambos os pilotos abrandassem foi de “Multi 21”. Ora, a ironia disto tudo é que a famosa frase "Multi 21" - que tem a ver com a mistura do combustivel no motor, mais ou menos rica para o poder poupar para o resto da corrida - e do qual muitos afirmam que Vettel não o fez para se poder chegar mais rapidamente a Webber.

 

Ora, não tem qualquer impacto sobre o assunto, é um mito. A grande razão disso tudo tem a ver com os pneus.

 

Porquê? Vettel calçava médios, enquanto que o australiano tinha duros. O resultado? Uma simples análise das voltas que os pilotos tomavam (sobre isso, eu recomendo a leitura que o Claudemir Freire escreveu sobre esse assunto no Ultrapassagem.org) demonstra que Vettel, mesmo mantendo o ritmo, estava em média quatro décimos mais veloz do que o seu companheiro de equipa. E que inevitavelmente o iria apanhar, independentemente de ambos mexerem, ou não, no mapeamento do motor.

 

A dura disputa entre os companheiro de equipa foi dura... e perigosa. algo que todos nos boxes quiseram evitar.

 

Ainda no domingo, logo a seguir à corrida, escrevi um post no meu blog a defender a manobra de Vettel, considerando que ele têm o direito a vencer, dada a altura do campeonato. Sob o título “A era das Amélias”, escrevi o seguinte parágrafo:

 

“Não sei se gostam disso, mas eu neste campo sou antiquado: gosto de ver competições, não procissões. Se a Formula 1 quer isso, então mudem o regulamento e façam como tinham a extinta A1GP: eliminem o campeonato de pilotos e mantenham o de Construtores, Assim, colocavam um rodizio de pilotos nos carros, e estes andariam em fila indiana do inicio até ao fim, apenas amealhando pontos para o campeonato. As pessoas têm de entender que isto é competição e o primeiro adversário é o seu companheiro de equipa, não são ‘Batman e Robin’.”

 

Há outra coisa interessante sobre isto tudo: numa comunicação de rádio anterior, ele tinha dito que Webber estava muito lento e queria que a equipa o tirasse dali, deixando-o passar. A equipa fez orelhas moucas ao pedido dele – e fez bem – logo, ele teve de arranjar outra maneira de chegar lá. A atitude pode não ser ética, mas não se pode censurar a vontade de vencer do piloto alemão. E há outra coisa: Webber fechou a porta a Vettel, quando o alemão poderia ter feito isso e não o fez. E imediatamente após a corrida, o australiano fez uma manobra perigosa, rasando no carro de Vettel quase ao ponto de colisão. Isso, no meio do enxovalhamento que ele teve em todo o lado, não foi lembrado.

 

Sebastian Vettel saiu como o vencedor da batalha e Mark Webber mostrou todo o seu descontentamento sem uma palavra.

 

No final, Vettel pediu desculpas a Webber e à equipa, mas comprou uma guerra com o australiano e criou um embaraço dentro da equipa. Mas ele fez cair a máscara da “igualdade” que os energéticos muito gostavam de afirmar aos quatro ventos. Daí a resposta irónica de Fernando Alonso no Twitter, após a corrida: “Tive pena de não ter estado no pódio. Nós na Ferrari nós resolvemos esses problemas há algum tempo”. Sim, sabemos na Scuderia quem é o cavaleiro e o escudeiro…

 

Em suma, tudo se resume ao velho dualismo entre o bem maior da equipa e o egoísmo do piloto. Sobre isso, o veterano jornalista britânico Gerald Donaldson colocou no seu blog, F1 Speedwriter, uma citação de Ron Dennis, onde afirma: “Todos nós temos um intenso desejo de vencer, e esses desejos colocam-te [como director de equipa] numa situação complexa, pois traz o melhor e o pior dos indivíduos. Se conseguires encontrar as suas fraquezas, nós como equipa, poderemos compensá-lo. Daí a razão para ter uma grande estrutura atrás dele: tem a ver com o apoio da equipa ao piloto através dos mecânicos e dos engenheiros”.

 

No pódio, os dois pilotos pareciam estar em planetas diferentes. Não se falaram, não se olharam, não comemoraram a dobradinha.

 

Mas também há outra razão para toda esta agitação, mais profunda e do domínio psicológico: começa a existir uma certa aversão a Vettel. Por vencer constantemente, por exibir o seu contentamento quando vence – o famoso dedo indicador esticado – e por ser alemão. No último caso, as pessoas lembram-se do que foi a Formula 1 sobre o domínio de Michael Schumacher, que venceu constantemente e cometeu algumas manobras fora da lei, como em Melbourne 1994 e Jerez, em 1997. Vi muitas imagens jocosas ao longo deste dia que o colocam Vettel lado a lado com Schumacher, e de uma certa maneira começa a acumular-se um certo ódio a Vettel.

 

E isto tudo fez lembrar-me a confusão que foi no último GP do Brasil e a famosa manobra da Curva 3, onde muitos juraram a pés juntos que ele tinha passado sob bandeiras amarelas, porque estava o indicador no carro, quando depois foi mostrado que havia um comissário de pista a mostrar bandeira verde naquela curva. No fundo e no final, as pessoas já estão fartas de ver o alemão a vencer porque querem ver Alonso, ou Hamilton, ou outro piloto a ganhar. Não tem a ver com as manobras dele ou se ele é leal ou não. Apenas querem ver Vettel perder, porque estão fartos de o ver ganhar.

 

Na entrevista após a prova, um pedido de desculpas que não foi aceito e certamente não será aceito

 

Concluindo, creio que a Red Bull vai ter a capacidade de nos dias que se seguem, de amainar as coisas e apagar os fogos, mas a ironia disto tudo é que agora, isto pode ter atraído mais atenção a uma Formula 1 no qual as pessoas julgavam até agora ser artificial e insonsa. Como se diz no jornalismo: “good news is no news” (as boas noticias não são noticia).

 

Até à próxima!

 

Paulo A. Teixeira

 

 


 

 

Last Updated ( Thursday, 28 March 2013 17:25 )