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O café amargo de Nico PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Saturday, 30 March 2013 16:14

 

Olá fãs do automobilismo,

 

Depois desta primeira “rodada dupla” de corridas da Fórmula 1 (serão seis na temporada. Seriam sete de não tivesse o problema do cancelamento da etapa de New Jersey), a agenda do consultório estava lotada. Pobre da minha assistente, fazendo milagres para encaixar todos sem que acontecessem encontros constrangedores na sala de espera além da tietagem. Afinal, não tenho apenas pilotos como pacientes.

 

Logo para a primeira consulta, o “pole position” foi uma surpresa. Os alemães são tidos como pessoas muito frias e equilibradas, além de não muito abertos. Sendo descendente de um povo nórdico então, a probabilidade de ter um cliente assim eu nem considerava. Mas... acabei tendo que morder a língua e começar a rever este conceito logo ao ver a expressão nos olhos do moço loirinho que entrou no consultório com um sorriso protocolar.

 

O caminho percorrido por Nico para chegar até o meu divã talvez tenha sido mais duro do que o seguido por ele para conquistar um lugar na Fórmula 1. Filho de um campeão do mundo, que tinha uma equipe na Fórmula 3 Europeia e uma “escola doméstica”. Em teoria tudo que seria preciso. Na prática, não. Visto que outros filhos de campeões tentaram o caminho das pistas e não foram tão longe quanto ele.

 

O conflito de Nico não é apenas com o presente, mas tem a ver com o passado. Quando ainda era um adolescente e piloto de kart, Nico tomou parte de um grande projeto na categoria, com uma equipe que foi estruturada para ser campeã do mundo e tudo parecia estar a seu favor. O pai, Keke, gerenciando a carreira. A alemã Mercedes, investindo pesado. O Bicampeão do mundo, o Finlandês Mika Hakkinen gerenciando o projeto... só faltava partir para enfrentar os adversários na pista, certo?

 

 

O problema é que o grande adversário era um piloto que faria parte do projeto junto com ele. A McLaren era parceira da Mercedes, que ainda não tinha equipe própria e o dono da equipe inglesa colocou uma promessa na qual ele apostava para compor o time. Um menino que foi descoberto aos 11 anos e que desde então, contava com as bênçãos de Ron Dennis e era visto como “o futuro da equipe”: Lewis Hamilton!

 

Nos quase três anos de projeto, apesar do bom clima de companheirismo entre os meninos, a competição também se estabeleceu, como seria natural. Só que durante a existência do projeto, Lewis andou na frente de Nico praticamente todo o tempo! Apesar de estar dando seu melhor, Nico viu o companheiro sagrar-se campeão europeu (ele ficara com o vice) e nos dois mundiais de kart, apesar da equipe não ter ganho, Lewis terminou ambos à sua frente.

 

 

O caminho dos dois se separaram e ambos foram correr em seus respectivos países nas categorias de base. Nico fez uma temporada fenomenal na Fórmula BMW em2002, sagrando-se campeão, vencendo 9 provas e ganhando o apoio necessário para entrar com moral no Europeu de Fórmula 3 em 2003.

 

Apesar de não ter sido campeão na categoria nos dois anos que a disputou, conseguiu um teste na equipe Williams de Fórmula 1, que usava os motores germânicos. Nos testes, aniquilou com os demais concorrentes, entre eles, Nelsinho Piquet. Tudo parecia encaminhado para o futuro. O teste rendeu a posição de piloto de testes e ele iria correr na nova categoria de acesso à Fórmula 1, a GP2.

 

 

Na GP2, Nico mostrou que não era apenas um sobrenome de campeão, mas um nome de campeão. Venceu cinco corridas, conquistou o campeonato e com isso a posição de piloto titular na equipe de Frank Williams no ano seguinte enquanto via diversos rivais de outros tempos, ainda percorrendo caminhos nas categorias de base.

 

A infelicidade de Nico foi que a Williams não era mais a poderosa Williams dos tempos em que seu pai foi campeão do mundo, dos tempos em que era o carro a ser batido e que não tinha concorrentes. Era um carro de meio para o fundo do pelotão e um pódio era algo quase impossível. Tanto que, em quatro anos na equipe, ele nunca aconteceu.

 

 

Em 2010, mais uma vez, a Mercedes entrou na sua vida novamente. Depois de comprar a estrutura da campeã do ano anterior, a Brawn GP, de Ross Brawn e levar toda a estrutura, Brawn inclusive, para um projeto de “budget  ilimitado”, Nico pensou: agora vai! Finalmente ele teria a estrutura necessária para ser campeão do mundo, depois de ter visto seu antigo colega de kart, Lewis Hamilton, ser campeão em 2008 enquanto ele fazia o impossível para levar o carro aos pontos.

 

Contudo, não ia ser fácil. O companheiro de equipe seria o ídolo e egresso da aposentadoria Michael Schumacher. Apenas o maior vencedor de todos os tempos da categoria. Talvez isso fosse o suficiente para intimidar o jovem Nico... não foi! Na pista é um contra o outro e Nico mostrou que poderia derrotar o antigo campeão. Certamente os três anos de inatividade pesaram, mas Nico não tomou conhecimento, sendo via de regra mais rápido que Michael, talvez até tendo sido o responsável pela “segunda aposentadoria” dele.

 

Para 2013, a máquina do tempo das nossas cabeças fez Nico voltar uma década... a Mercedes contratou, a peso de ouro, o antigo companheiro de equipe dos tempos de kart, Lewis Hamilton. Se no kart, a competição entre os pilotos pode começar dentro dos mesmos boxes, na Fórmula 1 isto é uma certeza.

 

 

Se nos testes de pré-temporada vai apenas um carro da equipe por vez e, entre os treinos de um dia para o outro as condições de pista são sempre diferentes, o parâmetro de comparação só viria em Adelaide, na abertura da temporada e este parâmetro veio... com Lewis andando na frente mais uma vez, como foi nos tempos do kart.

 

Na prova da Austrália um abandono por problemas elétricos tirou de Nico a chance de terminar a prova, mas ao longo dela foi sintomático que o ano já dava mostras de que seria mais difícil que todos os anos anteriores. Em nenhum momento, de disputa de pista, Nico ficou na frente de Lewis. Quando ficou, depois de uma parada de Box, foi ultrapassado. Seria sua sina?

 

Na corrida seguinte, na Malasia, novamente uma disputa interna, mas desta feita sem tanta vantagem. Nico viu que era possível ameaçar o adversário de tantos anos e com o mesmo equipamento. No final da prova, precisou ser contido pelo chefe da equipe por uma questão estratégica de campeonato. Lewis estava com 10 pontos e os 15 do terceiro lugar na Malásia o levariam ao quarto posto na pontuação geral. Nico protestou, pediu, mas no fim resignou-se e ainda teve que declarar diante da imprensa que “era compreensível e justificável” atender as ordens da equipe.

 

 

Para um piloto de corridas, fazer isso é como cravar uma faca no próprio peito. Eles são competitivos por natureza e abrir mão da competição é abrir mão da essência da própria vida. Desta feite é preciso ser ainda mais forte do que ver um carro parar por um problema mecânico ou ter que admitir que o companheiro de time é mais rápido que você.

 

Nico sabe que pode vencer. Se não é mais rápido, pode ser mais inteligente. Assim como no ano passado, Lewis demorou para aprender a usar os pneus, cada vez mais frágeis. É aí que a grande chance pode estar. Na Malásia os pneus de Lewis estavam destruídos no final da prova e isso poderá voltar a acontecer nas provas seguintes. É uma questão de mostrar que, mesmo não sendo o mais rápido volta por volta, Nico pode ser o mais rápido no final de todas elas.

 

 

O “café” é amargo, Nico, mas precisa ser digerido e você tem condições de fazê-lo.

 

Beijos do Meu Divã,

 

Catarina Soares   

 

 

 

Last Updated ( Monday, 01 April 2013 00:08 )