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O Gorila de Monza PDF Print E-mail
Written by Administrator   
Sunday, 16 June 2013 03:37

A nossa história deste mês virá de um país que tem tudo a ver com automobilismo. Na Itália, a velocidade parece vir no DNA, assim como o gosto pelo vinho, que acredito piamente ser dado aos bebês nascidos na bota ainda na mamadeira.

 

Segundo um vizinho meu, que é amigo do meu pai há quatro décadas, um piloto de corridas tem um lado genial e um lado insano. Certamente esta visão não cabe mais no mundo do atual do automobilismo, onde os pilotos são atletas de alto rendimento, conhecedores de informática, poliglotas... tem que saber pilotar, falar em público, vender produtos dos patrocinadores – tanto os da equipe como os seus particulares – tem assessoria de imprensa, ‘personal trainer’... o que tem feito do esporte uma bela porcaria!

 

Ele costuma dizer que corrida boa eram aquelas dos anos 70, onde o piloto segurava o carro na pista como se um toureiro tivesse que segurar um touro à unha, o que fica bem explícito quando vemos certas fotos dos carros na pista e dos personagens que eram as principais estrelas do Paddock. É claro que haviam pilotos ‘clássicos’, como Graham Hill, Denny Hulme, Jackie Stewart e até o nosso Emerson Fittipaldi, mas tinham também os ‘sem noção’ como Ronnie Peterson, Jody Schekter e o maior deles, Vittorio Brambilla.

 

Para os mais novos, o italiano era um misto de Pastor Maldonado com Romain Grosjean, só que tosco como um lenhador. Mas a Fórmula 1 era capaz de coisas tão impressionantes e imprevisíveis que este piloto, dono de tantas “qualidades”, conseguiu vencer uma corrida, considerada dificílima: o GP da Áustria de 1975, disputado sob chuva intensa. Tá certo que ele, na comemoração, perdeu o controle e bateu o carro, mas ganhou a prova.

 

 

Brambilla pilotava para a March na F1, equipe de Max Mosley, que viria a ser presidente da FIA. O italiano carregava sobre os ombros o singelo apelido de “o Gorila de Monza”, que segundo os mais próximos era uma forma “carinhosa” de tratá-lo. Dono de um corpo nada atlético e nenhum cuidado com a aparência, tinha também a sua capacidade intelectual seriamente questionada por seus colegas de pista.

 

A cena que será narrada a seguir é um retrato fiel do “jeito Brambilla de ser”. Em uma época em que os testes dos carros eram totalmente liberados, a March – uma equipe inglesa – estava realizando treinos no circuito de Brands Hatch e, no intervalo do almoço, o jornalista brasileiro Marcus Zamponi, que originalmente narrou esta passagem em uma de suas colunas na revista Racing foi convidado a partilhar a mesa com um diretor de uma das empresas que patrocinava a equipe, um italiano chamado Sandro Angeleri.

 

Se fosse apenas o dirigente, já seria uma honra para um jornalista que não era nem inglês nem italiano, mas além deles, a mesa foi dividida pelo piloto – Brambilla – e pelo dono da equipe, o próprio Max Mosley.

 

Numa hora dessas, o jornalista inteligente fica de boca fechada e ouvidos abertos. É hora para “fazer-se invisível” prestar atenção em tudo que se fala. Certamente vai sair coisa boa para se desenvolver.  E enquanto comia e ficava em silêncio durante quase uma hora o piloto – bem no estilo que proporcionou-lhe o apelido de “Gorila” – vociferava, em um italiano chulo, recheado de palavrões, contra um outro piloto (que não deu para identificar) que havia o atrapalhado no treino matinal. Furioso, prometeu várias vezes retribuir a “gentileza” ainda no treino daquela tarde: vinha coisa por aí!

 

 

Se a questão do almoço fosse apenas esta, já seria motivo para escrever bastante, mas outra coisa que deixou o jornalista boquiaberto foi o tanto que o piloto italiano comeu. Vittorio Brambilla devorou dois pratos transbordando de espaguete com molho de tomate e – como se não bastasse – entornou quase uma garrafa inteira de vinho tinto! Para fechar com “chave de ouro”, Mandou um arroto daqueles, potentes como um ‘Dó de peito’ do falecido tenor Luciano Pavarotti, antes de levantar da mesa.

 

Almoço findo, todos voltaram para os boxes. Depois de comer o tanto que comeu, seria no mínimo biologicamente normal o piloto dar um tempo para ‘processar’ o volume ingerido e baixar o teor de álcool no sangue... que nada!

 

No que ouviu o motor do carro do ‘desafeto do dia’ passar rasgando a reta, Brambilla enlouqueceu e disse que queria ir para a pista, já! “Encaixar” o italiano no cockpit e apertar o cinto foi um trabalho de Hércules, e olha que o cockpit dos carros da época não são estas coisas minúsculas dos carros de hoje em dia. Zamponi acompanhava de perto e podia vê-lo e ouvi-lo arfando sofregamente.

 

Ligaram o motor e o “Gorila de Monza”, no melhor estilo “esmurrar o próprio peito”, não permitiu sequer que o motor aquecesse devidamente. Arrancou com tudo para “caçar o desafeto do dia”, louco para dividir uma curva com ele.

 

A saída dos boxes de Brands Hatch é numa parte do circuito que além de não ser propriamente uma reta, ainda tem diferenças de nível, com subida e descida. Pouco depois da saída dos boxes, uma curva de média para baixa feita para a direita.

 

 

Brambilla acelerou fundo. Primeira... segunda... terceira... freada para curva... e a March passa reto na curva e vai pregar no guard rail!

 

Levaram mais de 10 minutos para arrancarem o piloto de dentro do carro. Imagina se tivesse teste antidoping ou mesmo um bafômetro na época? Da pista, entre um monte de palavrões e outro, Brambilla foi direto para um hospital.

 

Segundo o Zamponi, ao invés de soro, ele deve ter tomado sal de frutas!

 

Temos outra passagem hilária sobre o querido Vittorio Brambilla aqui no site. Para ler, clique aqui.

 

Felicidades e velocidade,

 

Paulo Alencar

 

Fontes de Consulta de texto e fotos: Coluna do Marcus Zamponi (Revista Racing); Revista Autosport; Revista Quatro Rodas.   

 

 

 

 

Last Updated ( Thursday, 27 June 2013 02:42 )