Depois de encher a caixa de emails do site por conta da minha coluna sobre o fantasioso duelo entre James Hunt e Niki Lauda – e olha que não pude me expressar exatamente como gostaria – colocado desta forma pelos lunáticos que acham que este “duelo” existiu, preparem seus teclados para me xingar novamente, mas antes que isso aconteça, reflitam. Reflitam porque o assunto é sério, o risco é real e como é algo que costuma acontecer em quase tudo que é preso à questões políticas, para isso acontecer não falta absolutamente nada.

NÃO VAI TER GP DO BRASIL DE FÓRMULA 1 EM 2015... (E SE TIVER EM 2014)!

A super reforma que o Autódromo de Interlagos vai passar para atender as necessidades da Fórmula 1 tem – inicialmente – previsão para começar ainda agora, em 2013, segundo o cronograma da obra estabelecido na licitação que a Prefeitura municipal da cidade de São Paulo lançou algumas em junho passado.

Como todos sabem as exigências de tio Bernie – e que realmente são necessárias – incluem a execução de obras e serviços das edificações dos novos boxes, adequações geométricas e recapeamento da pista, além de obras de requalificação e modernização da infraestrutura do autódromo. É muita coisa e isso vai levar tempo pra ser feito (na prática). O problema maior é o tempo que vai se levar para se passar das discussões conjecturais para a ação propriamente dita!

Nem chegou o primeiro saco de cimento e a coisa já começou a complicar. O recebimento dos envelopes (em uma licitação é aberta uma concorrência onde os interessados em executá-la devem fazer propostas de valores pelos quais executarão a obra. Quem disser que fará por menos, ganha) estava programado para o dia 7 de agosto, mas a administração municipal publicou na edição da última quarta-feira do Diário Oficial o anúncio da suspensão. Pior, ainda não há uma nova data para o recebimento das propostas!

Uma vista aérea de Interlagos em todo o seu esplendor... com o traçado original ainda bem visível. 

A suspensão do processo licitatório é resultado de uma decisão cautelar tomada pelo conselheiro corregedor do Tribunal de Contas do Município, Eurípedes Sales. O Tribunal pediu a suspensão do processo licitatório após o recebimento de uma representação apresentada pela construtora e pavimentadora Firpavi, que alegava possíveis irregularidades no processo,  podendo estes causarem (mais) danos aos cofres públicos.

O mais interessante disto tudo é que este tipo de suspensão é considerada uma ação normal, não significando que exista, de fato, alguma irregularidade no processo. Como a representação da empresa chegou às vésperas da abertura dos envelopes, o procedimento precisou ser paralisado para que a documentação da licitação pudesse ser checada e a retomada do processo de concorrência depende agora das informações prestadas pela Prefeitura, por meio da SPObras – que é um órgão da mesma – e da análise mais detalhada desses dados por parte do corpo técnico e jurídico do Tribunal de Contas do Município de São Paulo. Desatado este “nó”, o processo continua. Agora, quanto tempo vão levar pra desatá-lo...

Apesar do adiamento da licitação, a prefeitura paulistana acredita que não haverá problemas para a execução das obras, uma vez que o tempo para tal é bastante grande (acho que os sete anos para fazer os estádios da copa ou os seis para fazer a estrutura para as olimpíadas também eram e são considerados assim...) e que não há preocupação por parte da prefeitura, especialmente porque a verba está garantida!

Sim! ‘Habemus’ grana (pelo menos na teoria)! No último dia 1º, o ministro do Turismo, Gastão Vieira (que nome sugestivo, não?), e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, assinaram um acordo que garante o repasse de R$ 260 milhões para investimento. Além das obras no autódromo, que receberão R$ 160 milhões, o montante compreende também uma reforma no complexo do Anhembi (R$ 60 milhões) e a construção das "Fábricas do Samba" (R$ 40 milhões). 

O 'S' da sacanagem... a reforma de 1989 que mutilou o templo e impediu que a tradição permanecesse. 

Além disso, a pasta também vai destinar outros R$ 19,5 milhões para a primeira etapa da implantação de infraestrutura de acessibilidade em rotas turísticas, que incluem os entornos do Parque do Ibirapuera e da Rua da Consolação. O projeto faz parte da programação do governo para a Copa do Mundo. O ministro salientou que a reforma de Interlagos é uma exigência da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) para que o Brasil continue recebendo o Mundial. Ainda de acordo com a pasta, as mudanças devem ser concluídas até 2015 e vão garantir a F1 na capital paulista até 2020. 

O problema é que uma coisa deste tipo, como tantas que acontecem no Brasil, costumam se tornar um problema sem tamanho, com orçamentos estourados, prazos não cumpridos e muitas coisas no pacote da obra sendo mal feitas, sem falar nas 'emendas' que os políticos (que não entendem coisa alguma sobre o assunto) costumam apresentar.

Acontece que a Fórmula 1 é diferente de uma copa do mundo ou de uma olimpíada. Uma copa do mundo tem ingressos sendo vendidos com 3 anos de antecedência, assim como uma olimpíada não muda de endereço porque uma obra aqui ou outra ali deixou de ser executada... a Fórmula 1 cancela uma corrida ou a coloca em outro país num piscar de olhos! Tem um monte de países e autódromos esperando esta oportunidade. Basta um vacilo e ‘tchau’!

Além de já estar escolado com a forma como as coisas acontecem aqui no Brasil e Não é de hoje que o bom velhinho, pressiona as autoridades paulistanas para a realização de obras de modernização no Autódromo José Carlos Pace, mesmo depois de sua “mutilação” em 1989 quanto foi ‘amputado’ para os atuais 4.309 metros, deixando para trás os quase oito Km de sonhos e glórias no passado.

Um quadro comparativo com uma vista do 'google' dá uma ideia de como ficará a reforma no circuito. 

A previsão é de que a reforma seja feita em duas fases: uma antes do Grande Prêmio do Brasil de F1 deste ano, que acontece entre os dias 22, 23 e 24 de novembro. E a segunda parte começando em dezembro, com conclusão para o início de 2015. O trabalho de pista, com a “adequação geométrica” do traçado (adorei este termo para substituir o meu ‘mutilação’) e do pit lane, com aumento da pista em 200 m e modificações na curva do Lago, além do recapeamento total da pista e modificações de segurança, de acordo com as normas da FIA, vai acontecer somente em 2014.

Uma destas coisas que são o óbvio ululante, mas parece que ninguém quer ver, são as declarações de que “ainda não está certo se a reforma do autódromo de Interlagos vai ou não atrapalhar o andamento do calendário nacional de competições”... Eu devo ser muito burro para não ver que uma obra que vai desmanchar uma curva para refazê-la e todo um recapeamento da pista não vai afetar o calendário de corridas de Interlagos. Só pode ser!

Acontece que a CBA não recebeu nenhum parecer da prefeitura sobre as consequências das obras ou o tempo que o circuito paulista terá de permanecer fechado a partir do início da construção dos novos boxes (E da pista? Vai ter corrida no barrão na curva do lago?). O presidente da CBA, o ‘Homem que Ri’, Sr. Cleyton Pinteiro, segue a linha de ação das autoridades nacionais e afirma que, como o circuito só ser interditado no ano que vem, ainda há tempo para a entidade definir o que vai fazer com as diferentes categorias. Será que ele está pensando nos regionais também?

Com o nosso Felipe Macarroni com a cabeça na guilhotina em Maranello e os pilotos da World Series andando no fundão do pelotão, longe dos holofotes e dos programas de jovens pilotos para chegar na F1, cai sobre os ombros do ‘turquinho’ Felipe Nasr ainda tentar manter um brazuca no grid. Se isso não acontecer em 2014, Interlagos pode vir a se transformar no que pensava a filósofa Marilena Chauí, que durante a prefeitura de Luiza Erundina, queria transformar Interlagos numa vila de casas populares!

Acima, um quadro a quadro do anteprojeto das novas instalaçãoes. Ficarem prontas a tempo é o grande desafio. 

2014 é ano de eleição, de tudo de podre que acontece na política nacional ficar ainda mais podre e, se Bernie Ecclestone quiser arranjar uma desculpa para tirar o GP do Brasil do calendário, nossos políticos estão prontos para dar todos os argumentos para ele.

Abraços,

Maurício Paiva