Alex Caffi: Da F1 para a F. Truck Print
Written by Administrator   
Thursday, 29 November 2012 23:42

 

 

Depois da etapa de Curitiba, enquanto a Fórmula Truck começava a desarmar o 'circo' e quase todos os pilotos já tinham ido embora, era a hora de Alex Caffi entrar na pista para tomar seu primeiro cnotato com um caminhão de corridas.

 

Piloto da Fórmula 1 por 6 temporadas, este italiano de Rovato, uma pequena vila na Lombardia, Brescia, circulou discretamente pelo Autódromo Internacional de Curitiba. Sabendo disso, perguntei ao editor do site, o Flávio, se ele teria como saber mais detalhes desta vinda ao Brasil.

 

Mandei as perguntas e saiu esta rápida entrevista onfde o italiano abriu o jogo e mostrou a que veio. Acelera aí com a gente.

 

NdG: Alex, o que chegou aos nossos ouvidos é que você e sua assessoria preparou um projeto de 3 anos na Formula Truck. Este processo, obviamente, prevê a fase de adaptação e obter resultados competitivos. Diante do que você viu na etapa de Curitiba quais as suas expectativas para esta fase inicial de adaptação a um campeonato de caminhões?

 

Alex Caffi: Nós consideramos que um período de três anos é algo compatível para que possa conseguir bons resultados uma vez que estarei pela primeira vez dirigindo um caminhão em minha vida e, logo de cara ao invés de dirigir o caminhão eu terei que pilotá-lo como um carro de corridas porque estes caminhões são verdadeiros carros de corrida. O que pude ver neste final de semana aqui em Curitiba é que as disputas são muito intensas e os caminhões muito velozes. Vi coisas maravilhosas como três caminhões praticamente lado a lado na reta a quase 200 Km por hora e isso é algo que os italianos nunca viram na vida. Espero que as corridas venham a ser transmitidas para lá, pois a Fórmula Truck Brasileira é uma categoria fantástica e eu espero conseguir me adaptar bem a este novo desafio e poder usar algo da minha experiência como piloto para conseguir um bom resultado.

 

NdG: Se a Fórmula Truck é algo tão distante do seu mundo na Itália, como você “descobriu” a Fórmula Truck Brasileira e como a categoria “descobriu” você? Como surgiu este contato e esta aproximação?.

 

NdG: Alex, o que chegou aos nossos ouvidos é que você e sua assessoria preparou um projeto de 3 anos na Fórmula Truck. Este processo, obviamente, prevê a fase de adaptaç!ao e obter resultados competitivos. Diante do que você viu, quais as suas expectativas para esta fase inicial de adaptação a um campeonato de caminhões? 

 

 

Alex Caffi: Atualmente e tenho interesses comerciais na área de transporte e com a economia estagnada na Europa, investir na América do Sul é algo que pode dar um melhor retorno. Fizemos contatos no início deste ano [2012] com potenciais parceiros comerciais no Chile e na Argentina e nosso programa é o transporte modal sobre rodas, os caminhões e assim tomamos um primeiro contato pois nos foi falado que havia corridas de caminhões no Brasil. Eu pude assistir uma corrida de caminhões do campeonato europeu e eu achei bem interessante a corrida e decidimos ver como era a categoria brasileira. Pesquisamos nos sites da internet, inclusive no de vocês, e meu manager fez uma pesquisa mais profunda, tendo ficado inicialmente impressionado com o nível de desenvolvimento e competitividade daqui. Entramos em contato com o Djalma Fogaça e fomos conhecer a estrutura de uma equipe e através dele, fomos conhecer a gestão da categoria em Santos e hoje estamos aqui e, sem falar para agradar ninguém, posso dizer seguramente que este é o melhor campeonato de caminhões do mundo em todos os aspectos. Técnico, de competitividade, de exposição de marcas, de resposta de público.

 

NdG: O campeonato da Fórmula Truck tem 10 etapas, sendo 9 no Brasil e uma na Argentina. Deve ser assim também em 2013. Além de Interlagos, onde você pilotou nos anos de Fórmula 1, você já esteve em algum dos outros autódromos, seja para pilotar, seja para uma visita como aqui em Curitiba? Testes como este que você está fazendo aqui em Curitiba acontecerão em outros autódromos?

 

Alex Caffi: Os autódromos do Brasil que eu conheço bem são Interlagos e Jacarepaguá...

 

NdG: Lamento dizer a você, mas Jacarepaguá agora é história. O governo do Rio de Janeiro está destruindo o autódromo para construir no local parte das instalações olímpicas e que depois darão lugar a empreendimentos imobiliários. 

 

 

Alex Caffi: Oh... não posso acreditar! É uma pena que estejam fazendo isso, destruindo um autódromo e a pista de Jacarepaguá era fantástica. Eu lamento muito que estejam fazendo isso, é inacreditável. Jacarepaguá terá sempre um lugar especial na minha vida pois foi onde realmente comecei minha trajetória na Fórmula 1. A abertura do campeonato era lá e minha primeira temporada completa começou no Brasil, no Rio de Janeiro. Diga-me, vão construir outro autódromo lá?

 

NdG: Eles dizem que sim, mas a comunidade do automobilismo, pilotos especialmente, está  muito cética quanto a isso. Os dirigentes falam que será feito um autódromo de padrão internacional, com condições de receber a Fórmula 1, mas até agora só se vê e lê declarações e promessas. Voltando a questão sobre as pistas e seus testes...

 

Alex Caffi: Sim, bem, o planejamento é fazer o primeiro contato aqui, ‘descobrir’ o que é a pilotagem de um caminhão e também a pista aqui de Curitiba que eu nunca tinha visitado e achei muito boa. Aqui vou ter minha primeira experiência e ver se consigo me adaptar a esta realidade que é a categoria. Caso eu consiga me sair bem vamos poder pensar na temporada de 2013 por inteiro. Agora, neste período entre as temporadas, vamos procurar viabilizar a realização desta temporada. Dezembro e janeiro serão meses muito importantes e onde estarei muito ocupado com reuniões e negociações, mas em correndo tudo bem, poder estar aqui em fevereiro e fazer mais alguns testes. Se for em algum outro autódromo, melhor. Os simuladores são muito bons, mas nada como sentir a pista.

 

NdG: Você afirmou que o campeonato de caminhões na Europa está em um nível abaixo do nosso campeonato aqui no Brasil, o que podemos considera um motivo de orgulho para todo brasileiro. A sua vinda para cá e uma divulgação maior do que é a Fórmula Truck no Brasil poderá vir a atrair outros pilotos europeus a querer conhecer a categoria e vir a, quem sabe, pilotar aqui? 

 

 

 

Alex Caffi: Realmente, o campeonato europeu de fórmula Truck não tem caminhões tão desenvolvidos como aqui no Brasil o que foi interessante de ver e que despertou ainda mais meu interesse pela categoria de vocês. Antes de pensar em voos tão altos eu preciso pensar em me adaptar a nova realidade que será pilotar um caminhão. Dando certo, acho que a minha presença aqui no Brasil pode ser algo bastante positivo para a categoria. A Mídia hoje é muito dinâmica, com os jornais e a internet dando notícias em tempo real e com uma penetração muito grande. Mostrar um campeonato bom, competitivo e forte para o resto do mundo vai ser muito positivo para a Fórmula Truck. Se eu conseguir ser um bom ‘garoto propaganda’ isso pode vir a atrair o interesse de outros pilotos em vir para cá e mesmo em levar a categoria daqui para correr em outros países, correr na Europa e, quem sabe um dia, termos um campeonato mundial da categoria. Se isso acontecer, as equipes europeias terão que trabalhar muito para se desenvolver mais.

 

NdG: Agora no início de 2013 você está inscrito para correr o Dakar, ou como nos chamamos, o “DE CÁ” (Ele riu quando traduzimos o DE CÁ como “from here”, muito longe de Dakar). É uma competição muito dura, com grandes variações de terreno, de altitude, de temperatura... você vem fazendo provas de Rally há algum tempo, mas chegou a visitar algumas localidades onde passará a competição daqui? Que estudos e que preparação você tem feito?

 

Alex Caffi: Nosso principal objetivo é chegar ao final da competição, participando de todas as etapas. Não competiremos com um caminhão de grande força como os favoritos então vencer é algo que, caso aconteça, vai ser uma destas “coisas de corrida” e nossos patrocinadores estão conscientes disso. Nossa equipe andou estudando as etapas anteriores do “DE CÁ”, como vocês chamam (risos), e nossa análise, comparando com o Dakar na África é que aqui há uma competição mais intensa, que lá o grande problema é se orientar e não se perder no deserto ao passo que aqui é competição contra o relógio mesmo, com as dificuldades que devem ser incríveis. Estou curioso para ver como se comporta um motor a quase cinco mil metros de altitude. Se em Interlagos com 700 metros sentíamos o motor do Fórmula 1 perder potência, imagine com um ar tão rarefeito? Estou ansioso por esta experiência. Fizemos uns testes no deserto africano este ano, mas certamente vai ser tudo novo aqui.

 

NdG: Voltando um pouco no tempo, falando sobre seus anos de Fórmula 1, o que você guarda de boas lembranças e o que também ficou de más lembranças?

 

Alex Caffi: Minha passagem pela Fórmula 1 foi apenas por equipes pequenas, não venci nenhuma corrida, mas posso assegurar a você que foram os melhores anos de toda a minha vida. Eu consegui realizar um sonho, aquela coisa que você deseja desde criança e que consegue tornar realidade. Quantas pessoas conseguem fazer isso no mundo? Certamente muito poucas. Lembro de cada corrida, mesmo das que não consegui me classificar para largar e tudo para mim foi muito positivo, ao ponto de não ter, assim, más lembranças. Talvez possamos por nesta conta alguns acidentes, mas estes fazem parte das corridas. Eu só lamento mesmo o que aconteceu no GP de Phoenix em 1989, que eu assumi a 2ª posição após o abandono do [Ayrton] Senna, o Prost liderava e aquele seria meu primeiro pódio. Quando fui colocar uma volta sobre meu companheiro de time, o [Andrea] De Cesaris ele me jogou contra o muro e eu abandonei a corrida...

 

 

NdG: Mas você foi procurar encrenca logo com o De Cesaris? (risos)

 

 

Alex Caffi: (gargalhadas) Pois é, cara. E eu conhecia todo o “potencial” dele... não sei onde eu estava com a cabeça. (mais risos)

 

NdG: Como você mesmo falou, você correu apenas em equipes pequenas em seus anos de Fórmula 1. Que teria faltado para você conseguir uma chance em uma grande equipe?

 

Alex Caffi: Assim como todos ou quase todos, fui um “piloto pagante” na Fórmula 1. No primeiro ano, na Osella, precisei conseguir patrocinadores para a equipe, mas nos anos seguintes, passei a receber salários. Nenhuma fortuna, mas não precisava mais pagar para correr. As equipes grandes são poucas e as oportunidades pequenas e é assim para todo mundo. Há que se ter a felicidade de se estar no lugar certo na hora certa. Em 1989, minha melhor temporada, mantive negociações com a Williams e chegamos perto de assinar contrato. O Frank queria apostar em um piloto mais novo, mas esbarramos em uma cláusula do meu contrato com a Scuderia Itália em que teria que ser paga uma multa de 1 milhão de dólares para minha liberação e, bem, todos conhecem a fama do Frank Williams (risos). Eu também cheguei a conversar com a Ferrari e até testei em Fiorano, mas também não fechamos. O processo causou um desgaste na Scuderia Itália e eu acabei indo para a Arrows, que não era uma má equipe, por vezes conseguia classificar bem seus carros, mas cheguei num momento de declínio do time. 1991 foi um ano terrível para todos ali. Aquele ano acabou por precipitar o fim da minha passagem pela F1.

 

NdG: Nestes seus anos como piloto de competição, deu para fazer alguma amizade? Ou se está sempre ‘competindo demais’ para se fazer amigos?

 

Alex Caffi: Realmente, a gente tem uma vida tão focada no trabalho que falta tempo para este lado mais social. Nos tempos de início de carreira tinha uma proximidade maior com os pilotos italianos da minha geração. O [Ivan] Capelli, o [Nicola] Larini, mas a relação mais próxima que tive com colegas de pista foi com o [Michelle] Alboreto. Trabalhamos juntos por dois anos na Arrows-Footwork e ele era uma pessoa espetacular, em todos os sentidos. Era quase que um irmão mais velho para mim. Era o melhor piloto italiano dos anos 80, pilotou pela Ferrari e havia além da amizade a admiração. Era uma grande pessoa e um grande caráter.

 

NdG: Vamos fazer um “pit stop”  aqui, pois você tem que se preparar para o teste. Mas depois vamos querer conversar novamente para saber o que você achou de seu primeiro contato com o caminhão, pode ser?

 

 

Alex Caffi: Sim, claro, será um prazer.

 

Após quase 30 voltas completadas, com algumas paradas nos boxes para troca de impressões com o pessoal da Mercedes (Inicialmente o teste seria com um caminhão da IVECO, mas os caminhões de Beto Monteiro e Isgué terminaram a corrida muito danificados. Assim, foi utilizado o Caminhão nº 99, de Luiz Lopes, da equipe de Leandro Totti). Depois de descer do caminhão, um eufórico Alex Caffi nos relatou suas impressões sobre este primeiro contato.

 

Alex Caffi: Foi incrível! Adorei. Confesso estar surpreso com o desempenho de uma coisa tão grande na pista. Assisti os treinos, assisti a corrida, mas do lado de dentro, com o volante nas mãos, é completamente diferente.

 

Fiquei impressionado com a capacidade de frenagem do caminhão. No final da reta, com aquela chicane, chegando a quase 200 por hora, pisar, virar o volante e fazer o traçado foi fantástico. A guiada do caminhão é muito suave, parece com a de um carro de turismo.

 

Alex Caffi: Sim, claro, será um prazer. 

 

 

Após poucas voltas o pneu já conseguiu chegar a uma boa temperatura e a aderência também me surpreendeu, assim como a transferência de potência. O turbo me lembrou os tempos da Fórmula 1. Sem giro o motor “desaparece”, mas quando se acelera, você “cola” no banco. Eu vou gostar muito de correr aqui, especialmente agora depois deste primeiro contato.

 

NdG: Você virou um tempo fantástico para quem nunca havia guiado um caminhão de corrida e que não conhecia o autódromo. Você fazia a freada do radar?

 

Alex Caffi: Sim, com certeza. Se eu não fizesse não teria como ter uma real ideia do meu desempenho. O pessoal da equipe me mostrou onde frear e com que rotação passar no ponto do radar. Claro que sem o sensor instalado eu posso ter passado um pouco acima em uma ou outra volta, mas eu fiz exatamente o que me orientaram. Para mim, o que consegui em termos de tempo de volta (1m41.7s) foi muito melhor do que eu esperava.

 

NdG: E o que você achou do traçado do Autódromo Internacional de Curitiba?

 

 

 

Espero que vocês tenham gostado.

 

Abraços do Rio,

 

Fabiano Esteves

 

 

 

Crédito das fotos e do áudio: Flavio Pinheiro

 

 

 

Last Updated ( Saturday, 29 December 2012 12:29 )