Celso Lara Barbéris Print
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Thursday, 12 February 2009 11:02

Celso Lara Barbéris nasceu em São Manuel, cidade próxima a Botucatu, interior de São Paulo, em 28 de fevereiro de 1916.

 

Filho único (tinha uma irmã mais nova, mas esta era adotiva sua  mãe perdera uma filha durante uma gestação e seus pais adotaram uma menina) de um médico italiano, natural de Turim, radicado no Brasil e fazendeiro na região de Fartura, região oeste do estado, onde estabeleceu-se e passou, com o tempo a ser um importante produtor de café.

 

Para poder seguir os estudos, após concluir o antigo ginasial em Fartura, Celso Lara Barbéris mudou-se para a capital paulista aos 14 anos. Lá, além de estudar, interessou-se pela prática de esportes e começou a se revelar como atleta: Naquele mesmo ano, iniciando a sua carreira de esportista no Clube de Regatas Tietê como nadador e remador, migrando algum tempo depois no Clube Floresta (hoje é o Clube Espéria), também às margens do rio Tietê.

 

Como nadador, especializou-se nos 100 metros nado livre. Foi remador do mesmo clube conquistando 9 títulos paulistas e em 1934 tornou-se campeão brasileiro de "double-skiff", chegando a ser convocado para representar o Brasil nos Jogos Olímpicos de Berlim em 1936. Contudo, uma intoxicação o levou, na véspera do embarque, ao hospital onde ficou se recuperando por alguns dias, tempo suficiente para perder o navio onde viajou a delegação. (por mais incrível que possa parecer, naqueles tempos havia competições de remo e natação no próprio rio, algo impensável hoje em dia).

 

Em 1945, com 29 anos, Celso Lara Barbéris mudou-se para Avaré, onde assumiu a administração da fazenda de café da família em Fartura. Nessa época também mantinha, e dividia com seu primo José Fernando, um apartamento em São Vicente, devido à necessidade de acompanhar de perto a Bolsa de Café que funcionava na zona portuária de Santos.

 

No final da década, abraçou o automobilismo. Em 1949, com uma Alfa-Romeo Sport que havia pertencido a Fábio Crespi, contudo, em sua prova de esteia, fundiu seu motor nas primeiras voltas. Na sua segunda corrida, no mesmo ano, foi o quarto colocado dos 80 Km de Interlagos ao volante de um Simca Huit Sport.

 

Em 1950 ganhou esta mesma prova e de “apaixonado por carros modernos e possantes” a serio interessado em manter-se ativo nas corridas que ocorriam em Interlagos. Foi a única corrida que disputou naquele ano uma vez que estava com um outro projeto em andamento, que era a mudança com os pais para a capital paulista, o que só se concretizou em 1951, quando foi morar na rua Suécia, bairro do Jardim Europa. Naquele ano ainda conseguiu disputar uma corrida em Interlagos (Prova Carlos Jacomelli), mas seu Allard Ford não resistiu até o final da prova. 

 

Em 1952 participou de outras duas corridas (o V GP cidade de São Paulo e o Prova Sub-Prefeitura de Santo Amaro), não conseguindo chegar ao final em nenhuma delas. O grande evento daquele ano foi o casamento com Maria José. Já no ano seguinte nasceu sua filha Beatriz, mas o casamento só durou mais um ano, em 1954 eles se desquitaram.

 

Algumas das primeiras provas de Celso Lara Barbéris foi ao volante de um Simca, como sua penúltima, com este acima.

 

Foi justamente em 1954 que Celso Lara Barbéris voltou às suas atividades como piloto, disputando várias provas como o “Grande Prêmio Cidade de São Paulo”, em janeiro com um Simca de 1100cc. Em abril, foi para o Rio de Janeiro disputar o III Circuito do Maracanã, com um Simca de 1221cc, terminando a prova em 3° lugar. No Rio de Janeiro, alguns meses depois, disputou o Circuito da Quinta da Boa Vista, sendo o 4º na geral e vencendo na categoria até 1500cc.

 

Decidido a “subir de categoria”, comprou uma Ferrari 750 Monza e com ela venceu as 2 horas de Interlagos em maio daquele ano. Também venceu as duas primeiras etapas do campeonato paulista com este carro e as 100 Milhas do IV Centenário. Cleso Lara Barbéris se destacava entre os pilotos mais rápidos da época.

 

Sempre gostou de carros novos e possantes, chegou mesmo a mandar construir em 1955, um carro esporte exclusivo na oficina de Oliveira Monarca do bairro da Bela Vista, carro que foi construído por um jovem e promissor artesão que, na época, estava iniciando seu trabalho no Brasil: Toni Bianco.

 

Nos anos 50 Celso Lara Barbéris investiu em crros possantes, como a Ferrari 250MM (3º da Esq. para a Dir).

 

Em 1955 foram apenas duas corridas disputadas, ambas com a nova Ferrari 250 MM, recém adquirida. Um segundo lugar no IV Circuito do Maracanã, no Rio de Janeiro e a vitória na II Prova Prefeitura Municipal de São Paulo, com direito a melhor voltada corrida.

 

O ano seguinte foi de muita atividade, com oito corridas disputadas entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Mas o ano marcaria mesmo a sua estreia como piloto fora do pais, na disputa dos 1000 Km de Buenos Aires. O resultado não foi o esperado, mas as duas vitórias conquistadas em Interlagos e na corrida entre o Rio de Janeiro e Caxambu-MG, além do segundo lugar na Prova da ACB continuavam colocando Celso Lara Barbéris como um dos principais pilotos do país.

 

Em 1957 voltou a correr os 1000 Km de Buenos Aires, mas um acidente no decorrer da prova tirou qualquer chance de vitória. Também disputou o Triângulo Sul Americano conquistando o 5º lugar. Venceu as duas provas (III e IV Prova do Cinquentenário do ACB) e os 1500 Km de Interlagos, ao lado de Ruggero Peruzzo.

 

Celso Lara Barbéris parecia ter uma "afinidade natural"com os 500 Quilômetros de Interlagos. Foram três vitórias.

 

Neste mesmo ano, com a indústria automobilística brasileira dando os primeiros passos, o Automóvel Clube do Estado de São Paulo, para incentivar o acontecimento e ao mesmo tempo comemorar o 7 de Setembro, criou uma das mais importantes e tradicionais corridas que São Paulo conheceu: Eram os "500 quilômetros de Interlagos" somente comparado em tradição com a "Mil Milhas Brasileiras" criada um ano antes. Essa prova era realizada pelo anel externo do traçado original do autódromo, com aproximadamente 3.460m.

 

A sua primeira edição (1957) foi um grande acontecimento, tendo sido inclusive transmitida pela Rádio Panamericana (na época a emissora dos esportes), atual Jovem Pan. A narração foi de Wilson Fittipaldi (o "Barão"), pai de Wilsinho e Emerson.Os carros da categoria Força Livre eram antigos monopostos (apelidados de "charutinhos") como Ferrari, Maserati e Alfa. A criatividade brasileira equipava alguns desses carros com modernos motores Corvette (sensação da época) que davam uma sobrevida a estes carros tecnologicamente ultrapassados. Essa categoria recebia o nome de "Mecânica Continental".

 

Celso Lara Barbéris (à Esq) disputou algumas provas com Luis Américo Margarido (à Dir) como os 500 Km de 1958.

 

A corrida com 154 voltas teve 105 lideradas por Ciro Cayres (outro "monstro" da época) registrando o 1º recorde da prova em 1min14s. Porém o motor da sua Ferrari não agüentou o forte ritmo e Ciro foi obrigado a abandonar deixando a vitória para Barbéris que com uma Maserati-Corvette corria em 2º lugar. Celso completou as 154 voltas com a média de 132km/h em 3h46min27s.

 

Foi o 3º colocado no ano seguinte, nesta mesma prova, em sua segunda edição.
Celso venceria ainda os "500" de 1959 com Maserati 3000 e em 1960 com Maserati-Corvette.

 

Participou de cinco edições das "Mil Milhas" (57/58/59/60/61), além de algumas na categoria Turismo. Participou também de  provas Internacionais do "World Sports Car Championship" em Buenos Aires, Argentina, em parceria com Godofredo Vianna Filho (56), Eugênio Martins (57 e 58) e em 1960 com Christian "Bino" Heins, quando pilotando em dupla uma Maserati 300S conquistaram o 4º lugar. 

 

O meio do automobilismo tinha uma relação social muito boa naqueles tempos. Esta foto de um domingo sem corrida mostra isso.

 

Em 1958 tentou vencer, mais uma vez, os 1000 Km de Buenos Aires, mas uma quebra no meio da corrida o fez abandonar a prova. Ainda assim, nas sete provas disputadas naquele ano em território nacional, foram duas vitórias (Prova Crônica Esportiva Paulista e no I GP do Cinquentenário da Imigração Japonesa) e o 3º lugar com Luis Américo Margarido, na segunda edição dos 500 Km de Interlagos.

 

Depois de tantas corridas nos anos anteriores, em 1959 Celso Lara Barbéris deu uma “aliviada” no ritmo de competição, disputando apenas três corridas, mas poderia ter cravado um “100% de aproveitamento”. Depois de vencer a Prova Pedro Santa Lúcia em Interlagos e o III Circuito Poços de Caldas em Minas Gerais, na última prova, as Mil Milhas Brasileiras, quando corria em parceria com Luis Américo Margarido, viu o parceiro capotar durante a madrugada. Margarido nada sofreu, mas tiveram que abandonar.

 

Nesta corrida, os 500 Km de 1961, o trio Barbéris/Zambello/Ruggero conseguiu vencer e colocar outro carro em 3º.

 

Mas 1960 ele voltou com tudo e foi para os 1000 Km de Buenos Aires em parceria de Christian ‘Bino’ Heins. Conseguiram sua melhor colocação, um 4º lugar na geral. No II Circuito de Piracicaba, venceu na categoria até 2 litros, sendo 2º na geral. Foram todas as corridas do ano no pódio, se considerarmos os 5 primeiros, mas vitória apenas nos 500 Km de Interlagos, com uma Maserati 300S.

 

A primeira vitória em uma prova com pilotos internacionais veio em 1961, mas em Interlagos, no III Torneio Sulamericano, sendo o 2º na geral e 1º na categoria com a Maserati 300S. Voltou a vencer nos 500 Km de Interlagos, com Emilio Zambello e Ruggero Peruzzo com uma Maserati 450S, de 4450cc. O interessante desta corrida é que os pilotos se revezaram em outros carros e a Maserati 300S com os mesmos integrantes terminou na 3ª colocação.

 

A bandeirada de chegada mostrava a supremacia dos "brasilianos" diante dos concorrentes em Interlagos.

 

Apesar de ser um grande dominador dos 500 Km, Celso Lara Barbéris tinha com ele o grande desejo de vencer as Mil Milhas Brasileiras e naquele ano, tentou mais uma vez... sem sucesso. A Carretera Chevrolet com motor Corvette não resistiu e abandonou quando andava entre os primeiros.

 

Mostrando que sua versatilidade como atleta ainda estava em alta, em 1962, entre uma e outra competição, praticando Motonáutica, venceu os 100 Quilômetros da Represa de Guarapiranga. Nas pistas, foram dois abandonos nas quatro corridas disputadas, mas venceu uma, o Festival Automobilístico da ACESP.

 

Iniciou 1963 fazendo um 2º nas “12 horas de Interlagos” com um FNM-JK. Porém nos “500” Quilômetros daquele ano, já competindo com um carro nacional fabricado por Chico Landi e Toni Bianco com motor JK 2.000 (Esse carro quando equipado com motor até 1000cc. "de rua", era um Fórmula Jr. mas com esse motor era um “Mecânica Nacional até 2.500 cc.”. Pelo regulamento na época em vigor, era um carro que poderia disputar o campeonato de Fórmula 1). Celso teve um acidente fatal na 1ª volta da corrida na então chamada subida dos boxes, hoje curva do café.

 

Foto da largada dos 500 Km de Interlagos de 1963. Uma prova que marcou a história desta corrida e do autódromo.

 

Seu carro, após ter sido tocado pelo carro de nº 50 do piloto Amaral Júnior (pneu contra pneu) rodou, foi de encontro ao barranco (era esse o guard-rail da época) e capotou varias vezes. Barbéris teve fratura do crânio e esmagamento do tórax, sendo lançado a mais de 5m de distância (Na época os carros não tinham cinto de segurança).

 

Essa prova, inclusive, já começou trágica: Edmundo “Dinho” Bonotti faleceu em consequência dos ferimentos sofridos num acidente ocorrido durante os treinos.

 

O acidente (nunca devidamente esclarecido) criou várias polêmicas, tendo saído das páginas esportivas para as policiais dos grandes jornais da época. O piloto Amaral Júnior se recusou a permitir que o ACESP (Automóvel Clube do Estado de São Paulo) fizesse uma vistoria no seu carro. Alguns afirmam ter visto o piloto logo após o acidente parar no box e instruir seus mecânicos, que na volta seguinte em um ponto afastado da pista teriam trocado o pneu da batida.

 

Celso Lara Barbéris perde o controle do carro após um toque "roda com roda" com  Amaral Juniorainda na 1ª volta.

 

O piloto abandonou a prova algumas voltas depois, mas o pneu trocado nunca mais apareceu. Amaral Júnior também não compareceu a uma audiência para ouvir o piloto Ciro Cayres, principal testemunha do acidente no inquérito (encontrava-se entre os carros 2 e 50). Outros boatos surgiram, como o que dizia que os pilotos eram inimigos de longa data, (eram da mesma cidade, São Miguel - SP) ou que Amaral Júnior estaria a serviço de outro piloto “rival” de Barbéris fora das linhas automobilísticas. Fatos nunca provados ou comprovados.

 

A prova, que não chegou a ser interrompida, foi vencida por Roberto Galucci com Maserati-Corvette, mas ele nem comemorou (era a sua segunda vitória na prova).

 

No dia 9 de setembro a diretoria do Automóvel Clube, suas Comissões Técnicas e Esportivas com todos os membros presentes, decidiu pela eliminação de João Batista Amaral Júnior do quadro de corredores do ACESP. 

 

Com uma fratura no crânio e esmagamento no Torax, Celso Lara Barbéris ainda foi socorrido na pista, mas não resistiu.

 

Às 15 horas e 15 minutos do dia 7 de setembro de 1963, um campeão deixou interlagos para sempre e o Brasil perdeu um grande piloto. 

 

O acidente abalou de tal forma os parceiros Chico Landi e Toni Bianco que eles decidiram por destruir o carro (que poderia ser recuperado), cortando o chassi em 4 partes e abandonando qualquer possibilidade de vir a tornar este carro capaz de disputar corridas no exterior.

 


 

Fontes: Revista Quatro Rodas, Revista Autoesporte, Fotos da Família Lara Campos, CDO.

 

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Last Updated ( Monday, 15 September 2014 00:17 )