Jan Balder Print
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Monday, 23 March 2009 02:11

Jan Johannes Hendrix Balder nasceu em Amsterdã, na Holanda, no dia 21 de junho de 1946. Mas pode-se se dizer que ele foi um daqueles estrangeiros que se tornaram “brasileiros por opção e paixão”. 

 

Sua vinda para o Brasil, ainda criança foi devida a transferência de seu pai, Antoni Balder, engenheiro da “Fokker” (fabricante de aviões), para o Rio de Janeiro, onde moraram por 2 anos.

 

Junto com a família veio seu padrinho, Otto Kuttner, também funcionário da “Fokker”. Como é normal acontecer (os estrangeiros se apaixonam pelo Brasil), em 1956, com o encerramento de suas atividades comerciais no país, os funcionários começaram a ser realocados em outras sedes, mas o ‘seu’ Antoni e um outro funcionário (Otto Kuttner, que era também padrinho do nosso futuro As) decidiram ficar no Brasil, mudando-se para São Paulo e foram trabalhar na Vemag, no departamento de engenharia, onde vieram a conhecer, 2 anos depois, Jorge Lettry.

 

Foi naquele ano, em 1956, com seu pai como Engenheiro da Vemag e o Padrinho no Departamento de Testes que o “vírus da velocidade” foi inoculado naquele loiríssimo menino. Otto levava Jan para assistir a prova “Duas Horas de Velocidade em Interlagos”. O detalhe interessante e curioso desta primeira corrida foi que, sem dinheiro para comprar os ingressos, os dois entraram “pelos fundos”, passando pelos arames farpados!

 

Estava traçado o destino do garoto: Foi amor à primeira vista!

 

Do colégio onde estudava era possível ouvir os motores roncando e ir ao autódromo depois da aula era seu programa favorito, ao ponto de ficar conhecido e amigo dos zeladores do circuito (Orozímbo e Pernambuco).

 

 

Por trabalharem na área de desenvolvimento dos DKWs, era comum ter em casa pilotos e outros técnicos que iam até lá, trocar idéias sobre o que poderia se fazer.

 

A primeira referência de corrida para o jovem Balder foram os tempos de volta, os segundos que se ganhava ou se perdia dado a alguma mudança. Assim, a primeira coisa que ele aprendeu foi a manusear um cronômetro.  

 

Em 1959, com a formação da equipe de competições da DKW, Jan era o “cronometrista” e cronometrava os tempos não só dos pilotos a Vemag como dos outros e com isso “ganhou” uma nova função: A de “espião”. Todos vinham perguntar a ele os tempos de seus adversários!

 

 

Nestas tantas conversas e idas ao autódromo, um dia, voltou para casa de carona com ninguém menos que Chico Landi!!! Era demais!

 

O Papa-Omelete.

 

Jan era um “fã de carteirinha do Ciro Cayres e do Eugênio Martins (com uma nada discreta preferência pelo primeiro), mas foi um outro piloto que acabou por deixar uma marca que ele carrega até hoje: Em outubro de 1959, viajando com a equipe da Vemag, foi assistir os “III Circuito de Poços de Caldas” (MG). Na comemoração da vitória do “Marinho” Camargo, em um restaurante da cidade, pediu uma omelete. Veio uma coisa enorme, que passava da bordas do prato, que veio enorme. Quando alguém perguntou quem era aquele garoto com 13 anos, o preparador Sergio “Cabeleira” respondeu: “Não está vendo; é o 'Papa-Omelete'”!

 

Depois disso acabou se tornando o cronometrista oficial da equipe Vemag, iniciando nas “IV Mil Milhas”.

 

Em 1961, o padrinho – Otto – foi contratado pela equipe Willys e levou o jovem Jan para ser o cronometrista da equipe. De “adversário” ele passava a “companheiro” e logo conquistou a amizade e o respeito dos pilotos e mecânicos, em particular, marcou-lhe a vida a proximidade com o grande expoente da equipe, Christian “Bino” Heins.

 

1963 1964: Anos de Grandes Mudanças.

 

Acompanhando a equipe nas “12 Horas de Brasilia” cronometrou as Berlinetas, que foram quebrando, uma a uma. O fracasso nesta prova e um convite para retornar à “velha casa” levaram Otto – e, por tabela, Jan – de volta para a Vemag. Contudo, assim como foi para todos, veio o grande choque: Ouvindo os boletins pelo rádio, fica sabendo do acidente fatal do amigo Christian “Bino” Heins na prova 24 Horas de Le Mans.

 

Em 1964, aos 18 anos, Jan Balder fazia sua estréia nas pistas... só que com 2 rodas! Foi com uma moto de 75 cc que sua carreira iniciou e, em 3 corridas, venceu duas. Contudo, sua carreria de motociclista foi abandonada após uma batida com um caminhão destes de feiras, que atravessava a pista (algo impensável nos dias de hoje) durante os treinos que os pilotos faziam.

 

Como se costuma dizer, “para todo mal há de vir um bem” e no final daquele ano ele recebia de presente um carro (um DKW, claro!). Depois de recuperar-se do acidente, começou a disputar provas de rally.

 

Sua estréia nas pistas, desta feita com 4 rodas, aconteceu em 1966. E foi com tamanho impacto que, ao final do ano Jan Balder recebeu o Prêmio Victor como piloto revelação daquele ano (em 5 provas que disputou, venceu 3) das mãos de ninguém menos que Carlo Pintacuda, um dos mitos dos tempos de Grande Prêmio Brasil nas provas do circuito da Gávea (37 e 38) e que também venceu o trágico GP Cidade de São Paulo de 1936.

 

Contudo, a grande marca em sua carreira é, sem dúvidas, a oitava edição das Mil milhas Brasileiras. Alguns meses antes, a sua segunda corrida (IV Aniversário da APVC) marcava o encerramento das atividades da Equipe Vemag. A família mudava para São Bernardo do Campo (SP) mas o padrinho, Otto, continuou na Vemag.

 

 

Sem ser uma “equipe oficial de fábrica” Assumiu o volante de um dos 3 DKW Malzoni ao lado de Emerson Fittipaldi. Na corrida, largaram mal, mas ganham posições até que faltando 20 voltas, com a quebra do Karmann Ghia do “Moco” e “Totó” Porto, Assumiram a liderança... contudo, uma infelicidade, uma coisa pequena, tirou a vitória daqueles meninos.

 

 

 

Com um cilindro a menos (e o motor só tinha 3!), foram superados pela dupla Camillo Chrinstófaro e Eduardo Celodônio, na carretera 18, perdem também o segundo lugar para outro Malzoni da equipe, de Marinho Camargo e .... . Chegam em terceiro mas, até hoje, são chamados de os “vencedores morais” daquela corrida.

 

Décadas se passaram e Jan Balder pode se reencontrar com o DKW Malzoni - e seu velho amigo Miguel Crispim - no Festival de de Automobilismo de Interlagos, em 2007 e também em uma matéria especial feita na Alemanha, terra natal da Vemag. 

 

 

Apesar de disputar corridas, Jan não descuidava dos estudos. Em 1967, preparando-se para o vestibular (entrou no curso de Engenharia na FEI), e trabalhando à tarde na fábrica de volantes dos Fittipaldi, participava de provas de rally e kart, chegando a conquista do campeonato paulista de rally em 1969.

 

Ainda em 1967, chegava ao Brasil a Fórmula Vê, um monoposto com chassi tubular e mecânica monomarca VW. Sua primeira prova foram os “500 Quilômetros” pelo anel externo (da pista antiga) em dupla com “Maneco” Combacau, chegam em terceiro em sua primeira corrida de fórmula e com a  Vemag definitivamente fora das pistas, Jan aceitou o convite de Carlos Sgarbi para correrem a “IX Mil Milhas Brasileiras” com o Karmann Ghia/Corvair, emprestado pelo Eduardo Celidônio, que correu na carreteira com Camillo Christófaro no ano anterior.

 

Consolidando Seu Nome Como Piloto.

 

Em 1968, aos 22 anos, participa de sua primeira prova internacional, as “6 Horas de El Pinar” no Uruguai, a convite de Karl Iwers e o filho Henrique, seu cunhado agora, vencem a prova na classe 1,0 litro. 

 

Na Equipe CBE de Eugenio Martins fez dupla com Pedro Victor Delamare e conseguiram a primeira vitória da marca no Brasil, foi nas “500 Milhas da Guanabara” (RJ), em seguida faz dupla com seu ídolo de adolescência, Chico Landi nos “500 Quilômetros de Porto Alegre” (RS), como tinham gasolina nas veias, saem de Porto Alegre direto para outros “500 Quilômetros”, em Salvador (BA). Na equipe ainda fez dupla com Luiz Pereira Bueno nos “Mil Quilômetros da Guanabara” (RJ), e nas “12 Horas de Porto Alegre”, prova reservada à carros nacionais, participa com Henrique Iwers no DKW deste.

 

 

Em 1969, aos 23 anos, começa a trabalhar na Pirelli fazendo testes de pneus e na revista Autoesporte onde testa e faz avaliações técnicas de carros e motos. Após a reabertura de Interlagos em 1970 foram realizados os “1500 Quilômetros” e a Equipe CBE comprada por Aguinaldo de Góes Filho e rebatizada de CEBEM convida Jan a fazer dupla com Ciro Cayres, outro de seus ídolos da adolescência.

 

A bordo de uma BMW 2002 que teve sua capota cortada e foi logo apelidada de “esquife voador”. Na prova seguinte, “24 Horas de Interlagos”, reservada à carros nacionais participa com Ciro em um Opala, aproveitando para testar o cambio de 4 marchas, o motor de 4100cc e freios a disco dianteiros para a GM, onde Ciro trabalhava na engenharia experimental.

 

Nessa época vai para Milão fazer estágio na matriz da Pirelli, mas por causa da prova “12 Horas de Interlagos” adiou seu vôo de sábado para domingo e na corrida, que fez em dupla com Fernando Barbosa, saiu do autódromo duas horas antes do final para não perder o vôo, só ficou sabendo do resultado na Europa, por carta.

 

 

Foram sétimo. Aproveitando o estágio foi conhecer Monza e sua famosa parabólica, depois visitou o amigo Emerson, em Paul Ricard, quando este disputou uma uma corrida de F2 e o acompanhou na semana seguinte, para o GP da Alemanha de F1 em Hockenheim.

 

Ainda em 1970 corre as “X Mil Milhas Brasileiras” com Norman Casari a bordo de uma Lola T-70 da “Equipe Casari/Brahma”, mas na véspera da corrida seu pai sofre um grave acidente de transito e é hospitalizado desacordado, Jan pensa em desistir para ficar com o pai, mas este acorda de madrugada e o médico avisa que já estava fora de perigo, só então resolve participar da prova. 

 

 

Jan participou do "1º Rali da Integração Nacional", para veículos nacionais, em 1971. Correu de Puma com Alfred Maslowski de navegador. Venceram e ganham um convite para participar do Rali da TAP em Portugal.

 

Antes vai com Norman à África participar da prova “6 Horas de Nova Lisboa” em Angola, com a Lola T-70, mas o carro quebra nos treinos e não correm, na volta participam dos “XII 500 Quilômetros de Interlagos” no Casari/Ford A1, pois Norman havia perdido a Lola T-70 num incêndio nos treinos, depois a equipe é desfeita. 

 

 

Apesar da pouca idade, Jan Balder já era considerado um piloto experiente e competente. Com isso, montou a sua própria equipe para participar das “12 Horas de Porto Alegre” com um Volks em dupla com Fausto Dabbur e só então partem, ele e Alfred, para Portugal participar do Rali da TAP com um Puma 1800cc, mas, sem experiência em ralis de velocidade e sem apoio técnico adequado, resolveram desistir na metade da prova.

 

 

No ano seguinte, 1972, novo convite de Angola, dessa vez participam, ele e Norman, com um Porsche 907 de uma equipe suíça, mas um acidente liquida com a corrida deles.

 

 

De volta ao Brasil participa da “Copa Brasil” com um protótipo Avallone/Chrysler e sagra-se campeão na categoria esporte nacional (Divisão 4). Em 1975 novamente campeão, mas dessa vez Campeão Paulista e Vice-Campeão Brasileiro na categoria protótipo até 2.0, com um Polar/VW de 1950cc. Participa como piloto até 1976 quando aos 30 anos se casa e volta a morar no bairro do Brooklin.

 

Ampliando os Horizontes.

 

Em 1976, com a consolidação da categoria Super Vê, a Brahma o convida para chefiar a equipe na categoria e também Fórmula Ford, onde o piloto José Pedro Chateaubriand ganhou  o Campeonato Brasileiro.

 

 

Em 1979 chefia a equipe Gledson/Coca-Cola de Divisão 3, em 1980 volta à Super Vê chefiando a equipe Chantré/Fischer, onde o piloto Antonio Castro Prado vence 7 das 9 provas e ganha o campeonato brasileiro.

 

Nos dois anos seguintes constrói carros de fórmula 2 em parceria com Pedro Muffato como representante de Oreste Berta, aí em 1983 é convidado pela Ford, junto com Francisco Lameirão, para desenvolver uma versão de competição do modelo Escort e após 7 anos volta a pilotar, fazem 3 provas de longa duração. 

 

 

Em 1984, faz o mesmo com o modelo Voyage, da Volkswagen, e corre o Campeonato Brasileiro de Marcas e Pilotos em parceria com Fausto Dabbur. Sua última prova como piloto foi em 1986, nas “12 Horas de Porto Alegre” (RS). 

 

A partir de então, até os dias de hoje, Jan Balder tornou-se organizador de sucesso em eventos que envolvem rallies, tanto de automóveis como de embarcações na categoria regularidade, valendo-se de toda experiência adquirida ao longo dos anos de competição.  

 

 

Entre 1991 e 2003 foi comentarista automobilístico na Rádio Eldorado, atividade que voltou a exercer em 2006, mas na Rádio Band News FM. Em 2005 lançou o livro “Bastidores do Automobilismo Brasileiro” onde , além dos fatos que marcaram a sua vida no meio, retrata o panorama daqueles que foram os melhores anos das nossas pistas.

 

 

Fontes: Livro "Bastidores do Automobilismo Brasileiro", Revista Autoesporte, Bandeira Quadriculada, CDO.

 

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Last Updated ( Wednesday, 11 December 2013 21:48 )