Entrevista: Cleyton Pinteiro Print
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Monday, 21 November 2011 00:53

 

 

Cleyton Tadeu Correia Pinteiro. Este empresário pernambucano está envolvido com o automobilismo há quase quatro décadas. Há pouco mais de dois anos e meio como presidente da CBA, é um alvo constante de duras críticas por parte da imprensa e de pessoas ligadas ao automobilismo. Em raros momentos o dirigente teve oportunidade de falar sobre automobilismo, administração, planejamento e a sua visão sobre o automobilismo brasileiro. O site dos Nobres do Grid foi até Recife, no bairro do Ibura, para uma conversa franca e direta, em mais de uma hora de entrevista.

 

NdG: Sr. Presidente, há pouco mais de dois anos e meio o senhor foi eleito presidente da CBA. Durante praticamente todo este tempo ouvimos e lemos que pessoas como o senhor e muitos outros dirigentes do nosso automobilismo “caem de paraquedas” neste meio, que nada tem a ver ou nada conhecem do esporte. Nossa primeira pergunta é: Quem é Cleyton Pinteiro?

 

Cleyton Pinteiro: Eu comecei minha vida no automobilismo como boa parte dos pilotos começam, no kart. Fui piloto de kart no início dos anos 70, fiz minha primeira corrida em 1973, quando aqui em Pernambuco ainda corríamos no estacionamento do Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães, que é conhecido como “Geraldão”. Fui campeão pernambucano de kart, mas vi que eu poderia fazer mais fora das pistas do que dentro delas e em 1976 candidatei-me e fui eleito um dos diretores do kart clube e ali comecei a fazer algo que realmente julgava importante, a contribuir mais para o esporte e não parei mais. Eu achava fantástico e maravilhoso eu chegar com meu kart no “Geraldão” e ver uma equipe de pessoas montando a pista, montando os boxes, fazendo a sinalização... esta pare de estruturação foi algo que me empolgou. Se eles podiam fazer aquilo para mim, eu queria fazer aquilo para os outros.

 

NdG: o senhor conciliou o kart, como piloto, e como dirigente?

 

 

Quando eu corria de kart, em Pernambuco, eu admirava muito aquelas pessoas que trabalhavam na montagem da pista. 

 

Cleyton Pinteiro: Eu abri mão da carreira na pista. Depois do kart clube, onde cheguei à presidência, fui diretor da Federação Pernambucana de Automobilismo, fui representante da CBA nas regiões Norte e Nordeste, presidi a FPA por três mandatos, fui vice presidente da CBA e atualmente, sou o presidente. São mais de 30 anos envolvido com a organização e a administração do automobilismo. Neste intervalo eu aprendi a ser bandeirinha. Comissário técnico, comissário desportivo, diretor de provas, chefe de segurança... quem fazia corridas no antigo autódromo da Ilha Joana Bezerra (nota dos NdG: Autódromo de 1,7 Km vizinho a uma grande favela em Recife e com características de pista de rua) sabe o que era difícil trabalhar ali. Por toda esta trajetória eu me sinto credenciado a ser presidente da CBA.

 

NdG: O senhor disse que foi presidente da FPA por três mandatos, isso corresponde a mais de uma década e não vemos hoje um real legado no automobilismo pernambucano. O autódromo de Caruaru foi fruto da vontade política e o kartódromo de Paulista é obra de um grupo privado, de entusiastas. O único legado que vimos foi a sede, abandonada, no bairro do Setubal. Isso não poderia ser o sinal de uma gestão fracassada?

 

Cleyton Pinteiro: Eu vou começar contando a história daquela sede. Regnaldo Bufaiçal destinou 20 mil reais para as federações estaduais. A região estava em processo de valorização e eu comprei aquele terreno. 48 horas depois, um fax com a cópia da escritura daquele terreno estava na sede da CBA. Naquele terreno, minha esposa, por sua vontade e expensas, custeou a construção da sede da FPA. Ela disse que era um presente, pois era meu último mandato como presidente da federação. Minha esposa era cronometrista quando eu corria de kart e, assim como eu, uma apaixonada pelo automobilismo. A violência e a insegurança é um problema muito sério aqui em Recife e aquela região sofre com problemas e por uma questão de segurança, foi preciso deixar de usar a sede, algo que me entristece muito.

 

NdG: E mesmo com todas as dificuldades que o senhor vivenciou ao longo de quase 25 anos no automobilismo senhor aceitou tomar parte de um projeto a nível nacional, primeiro como vice presidente do Sr. Paulo Scaglione, depois como presidente da entidade. Porque? 

 

Cleyton Pinteiro: Quando a gente gosta de uma coisa a gente faz, mesmo com sacrifício pessoal, destes de ter que ficar fora de casa vários finais de semana, acompanhando competições, de precisar me ausentar do meu trabalho, da minha empresa, é como um vírus... eu pensei que podia tirar isso de mim, mas acho que não tem cura (risos). Por isso eu aceitei continuar como vice presidente e agora por estes quatro anos como presidente da CBA.

 

NdG: Quatro anos? O senhor não pensa em reeleição?

 

 

O Dr. Paulo [Scaglione] falava que, quando aparecesse alguém querendo se candidatar à presidência da CBA ele sairia de cena. 

 

Cleyton Pinteiro: Hoje eu não penso nisso. Ainda tem mais um ano alguns meses de mandato e não é o momento para se pensar nisso. Não agora, não ainda. Tem tanta coisa para se fazer ainda... além do que, ninguém lança uma candidatura com dois anos de antecedência.

 

NdG: O senhor fez parte da CBA quando o presidente era o Reginaldo Bufaiçal. Depois, foi vice presidente do opositor dele, o Sr. Paulo Scaglione e pouco antes do final do segundo mandato do Sr. Paulo Scaglione, o senhor foi candidato à presidência. Não é um processo repetitivo este? Sempre as mesmas pessoas?

 

Cleyton Pinteiro: Em todos as vezes que fiz parte da diretoria da CBA eu fui convidado. Fui convidado pelo Reginaldo Bufaiçal, depois fui convidado a permanecer pelo Paulo Scaglione. Tem uma coisa importante que precisa ser dita: o Paulo Scaglione sempre falou que no dia que aparecesse alguém com uma candidatura à presidência da CBA ele não mais se candidataria. Durante o segundo mandato do Paulo Scaglione, começaram a surgir algumas divergências em algumas federações e estes divergentes me pediram para ser o porta voz deles e dizer que eles iriam lançar um candidato à presidência em 2009. Eu não sei por qual motivo, mas ele não gostou da idéia.

 

NdG: Então houve um rompimento dentro dos que apoiavam a gestão do presidente Scaglione ou havia um grupo de oposição à presidência e esta o pediu para ser o porta voz?  

 

Cleyton Pinteiro: Não havia por assim dizer um grupo de oposição. Foi um grupo, composto por alguns presidentes de federações, que decidiu lançar uma candidatura e com isso o presidente Scaglione acabou desistindo de lançar a sua candidatura a um terceiro mandato. Daí então eu fui convidado para ser o candidato a presidente. Aceitei e aqui estou.

 

NdG: O lema da sua candidatura foi “por uma CBA de verdade”. O que é uma CBA de verdade?

 

 

A CBA não existe sozinha. Ela é a união das federações. Se não tivermos um automobilismo regional forte, o nacional não será forte! 

 

Cleyton Pinteiro: É uma CBA que cuida não só do aspecto nacional ou internacional do automobilismo, mas também e principalmente no aspecto regional, valorizando os nossos filiados. A CBA só pode ser grande se seus filiados forem grandes e para seus filiados serem grandes é preciso fortalecer o automobilismo regional e isso em todos os aspectos. Não apenas velocidade na pista, no asfalto, mas também velocidade na terra, o rally, a arrancada e em especial o kart, que é a base de tudo. É importante que as pessoas entendam que a CBA por si só ela não é nada. Ela é o trabalho conjunto e a defensora dos interesses das federações. Uma das nossas principais metas e que nós estamos conseguindo fazer é o fortalecimento das federações.

 

NdG: Como o senhor e a CBA estão fazendo isso?

 

Cleyton Pinteiro: O início de tudo é o kart e sem um kart forte não existe um automobilismo forte. O número de inscritos nos campeonatos só tem crescido. Temos buscado criar regulamentos que favoreçam os pilotos e não os equipamentos, buscando diminuir a distância entre o piloto que tem um maior orçamento e o que tem um orçamento menor. Mas além disso, agora para 2012, estaremos fazendo a primeira copa das federações de kart. Este torneio vai ser um torneio como nunca se fez aqui no Brasil, onde os campeões e vices de cada campeonato regional irá disputar um torneio onde os karts, os motores, os pneus serão sorteados e entregues na hora, com motores equalizados. A pista será escolhida agora em dezembro e a copa vai acontecer em março. Durante este período, nenhum dos pilotos que participarão Ca copa das federações poderá treinar na pista. Não vai poder andar nem de bicicleta! Se for descoberto que ele esteve na pista, ele está fora da copa. Queremos criar as condições mais igualitárias para os competidores, para que o talento dos pilotos seja o fator primordial.

 

NdG: Nós ouvimos falar sobre este torneio há mais de um ano. Na verdade, esperávamos esta copa para 2010. O que impediu a realização naquele ano ou mesmo agora em 2011? 

 

Cleyton Pinteiro: Era preciso viabilizar outras coisas e que só conseguimos para fazer em 2012. Teremos o apoio de um fabricante de karts que entrará com o equipamento. A CBA vai dar 100 mil reais em prêmios, dinheiro da CBA e é a primeira vez que a Confederação faz isso. O vencedor irá representar o Brasil no FIA Academy com todas as despesas pagas. São três provas na Europa e esse piloto vai precisar colocar a mão no bolso para nada. Além disso, a família Massa vai dar 75% de desconto para o piloto vencedor participar da F. Futuro e 50% para o segundo colocado. Somando todos estes valores, a cifra ultrapassa os 500 mil reais e eu não me lembro de uma premiação neste valor para o kartismo brasileiro.

 

NdG: Mas isso não pode levar os pilotos que tem mais dinheiro a disputar os regionais em mais de um estado para ter mais chances de estar na copa das federações?

 

 

Agora, em março de 2012, iremos promover a 'Copa das Federações' de kart. Um campeonato como nunca foi feito no Brasil. 

 

Cleyton Pinteiro: Eu acho que, se um piloto de mais nível, que disputa um campeonato mais forte como é o paulista, por exemplo, for correr campeonatos em outros estados, vai puxar o pessoal que corre lá, vai estimular o desenvolvimento do kartismo naquele estado.

 

NdG: E sobre o automobilismo além do kart? Nos outros seguimentos como os campeonatos regionais e nacionais, no asfalto ou na terra, o rally, a arrancada... a CBA vem recebendo críticas constantemente. O que a entidade tem feito?

 

Cleyton Pinteiro: Sobre o automobilismo, também estamos buscando fortalecer o automobilismo regional, estamos usando o recém criado Campeonato Brasileiro de Marcas para fazer, paralelamente a este, o Festival de Marcas. Este ocorre como evento do calendário do Brasileiro, sendo uma preliminar deste, com as provas dos campeonatos regionais. No final deste ano, haverá uma competição entre eles e o campeão do Festival de Marcas vai poder correr no ano seguinte o Brasileiro de Marcas. É um incentivo para que os regionais se fortaleçam e que os pilotos tenham um caminho a trilhar.

 

NdG: Uma das maiores críticas que a CBA recebe é de que a entidade é uma mera distribuidora – ou vendedora – de “carteirinhas”. Ou seja, a CBA não cria campeonatos, não regulamenta campeonatos. A CBA tem sido omissa neste sentido ou, por conta do que o senhor acabou de apresentar, não há motivos para estas críticas?

 

 

A CBA tem que regulamentar os campeonatos que acontecem no país, fazendo com que seus regulamentos sejam cumpridos.  

 

Cleyton Pinteiro: Existem alguns aspectos que precisam ser analisados. Em 2010, fechamos o ano com 11.532 carteiras emitidas e/ou renovadas. São mais de 11 mil pessoas. Eu não acredito que alguém saia de sua casa para fazer um curso de pilotagem ou começar num campeonato de novatos para nada. Essas pessoas estão procurando um meio para praticar um esporte que eles gostam. Agora, existe uma diferença entre se criar um campeonato ou uma copa ou uma corrida e o que é o trabalho da CBA. A CBA tem que procurar fazer com que os campeonatos possam ser realizados. Os campeonatos são organizados pelas federações ou por promotores que investem na criação de um campeonato e apresenta o campeonato para a CBA. Apresenta o regulamento técnico, o regulamento esportivo, o planejamento, o esboço do calendário e a CBA vai procurar acertar o calendário daquele campeonato com os demais, vai tratar de designar os diretores de prova e os comissários para cada uma das provas e este é um trabalho imenso que temos que fazer e é com felicidade que vejo isso, pois temos hoje muitos campeonatos.

 

NdG: Sim, mas será que esta quantidade seria sinônimo de qualidade? Temos um campeonato de marcas que muitos criticam por usar o mesmo motor. Temos uma série de campeonatos monomarcas, mas não temos uma sequência, uma categoria escola forte para os pilotos que saem do kart. O modelo não está errado?

 

Cleyton Pinteiro: Vamos por partes. O Brasileiro de Marcas tem uma identificação, que é o torcedor ver o carro na pista e ver que aquele carro é igual ao carro que ele tem... ou que gostaria de ter. Como é uma competição, é claro que tem componentes que não são iguais aos dos carros de rua. Câmbio, suspensão, freios, claro que não são iguais aos do carro que anda nas ruas. Quanto aos campeonatos monomarcas, estes são quatro de marcas cujo os controladores são empresas alemãs: Porsche, Audi, Mini e Mercedes. Além desses, tem a copa Linea. Eu vejo como algo extremamente positivo. Nem na Alemanha existem campeonatos como estes monomarcas aqui do Brasil e eu acho que isso é uma prova de que estas montadoras acreditam no potencial do automobilismo brasileiro, caso contrário, não estariam participando dos projetos como participam.

 

NdG: Isso pode parecer muito bonito, Presidente... mas se elas, as montadoras, estão lá, é porque elas estão tendo retorno. A partir do momento que ela não ache que está tendo retorno ou o retorno planejado, ela sai e a categoria acaba. Este tipo de automobilismo é meramente comercial. Onde fica a continuidade da formação do piloto?

 

Cleyton Pinteiro: É claro que as montadoras investem em competição visando ter retorno. Em todo esporte quem investe busca um retorno. É marketing, é vendagem do produto, no caso do automobilismo vai do carro aos pneus, pastilhas de freios, todos os componentes e até o combustível. O esporte a motor tem isso há décadas e é assim no mundo todo. As principais categorias do mundo não são organizadas pelas confederações dos países ou pelas federações internacionais. Tem sempre uma empresa, um grupo que faz tudo e depois leva para as confederações e para a FIA homologar. Quanto a questão da categoria escola, falta quem faça isso no Brasil. Ou melhor, faltava. A gente tem que parabenizar o Felipe Massa e sua família pelo projeto da Fórmula Futuro.

 

NdG: Como o senhor se mostrou um entusiasta do automobilismo há décadas... e como presidente da CBA o senhor comparece a diversos eventos de automobilismo, que em sua maioria tem um público pequeno ou quase inexistente. Muitas vezes restritos aos patrocinadores e seus convidados, além de parentes e amigos dos pilotos. No passado temos registros de autódromos lotados e um público cativo. O que aconteceu e o que se pode fazer para trazer este público de volta aos autódromos?

 

 

Se em muitos das corridas o público é pequeno, parte desta conta tem que ser debitada para a imprensa, que não as divulga. 

 

Cleyton Pinteiro: Divulgação! Mas isso não compete a CBA.

 

NdG: Mas será que os donos e promotores das categorias são tão incompetentes assim, que não conseguem divulgar seus produtos?

 

Cleyton Pinteiro: Não é isso... outro dia, num final de semana,  vi uma foto num jornal do Rio, de 25x15 com um cidadão jogando peteca. Naquele mesmo final de semana havia uma etapa de uma prova de uma categoria nacional... tinha uma notinha bem pequena. Será que o campeonato de peteca tinha um patrocinador tão forte que conseguiu comprar aquele espaço e colocar a divulgação do campeonato? A imprensa também é culpada pela pouca ou nenhuma divulgação do automobilismo. Quando há divulgação, o público aparece. Até no Rio de Janeiro onde a GT3, a Stock e a Truck conseguem levar excelentes públicos ao autódromo.

 

NdG: Falando em autódromo do Rio de Janeiro, o que temos acompanhado é que as pressões para que o que restou de Jacarepaguá seja entregue antes mesmo do novo autódromo, seja ele em Deodoro, seja onde for, vier a ser entregue. O que o senhor pode ou tem a dizer sobre isso?

 

Cleyton Pinteiro: Você, os leitores do site e os brasileiros podem ter certeza de que eles não vão conseguir derrubar o que restou de Jacarepaguá, como você diz. Existe um documento assinado pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, pelo Ministério do Esporte e pela CBA onde está claro que o autódromo de Jacarepaguá só será entregue quando o novo autódromo for entregue e todos podem ter certeza de que a CBA vai usar este documento para impedir qualquer manobra política, mesmo que com o uso da justiça, para que o foi acertado e assinado naquele documento seja cumprido.

 

NdG: O que tem sido noticiado é que um outro “acordo” vem sendo negociado para permitir que as obras para as olimpíadas comecem o quanto antes...

 

Cleyton Pinteiro: Eu não tenho conhecimento disso e, mesmo que este documento venha a ser feito, nós não vamos concordar, não vamos assinar e vamos fazer valer o documento assinado anteriormente.

 

NdG: Mas presidente, o autódromo é do município, não é da CBA. O terreno é deles. Eles não podem fazer o que eles bem quiserem?

 

 

Os brasileiros, fãs de automobilismo, podem ter certeza: o autódromo de Jacarepaguá só será entregue quando recebermos Deodoro.  

 

Cleyton Pinteiro: O que foi feito na época da assinatura do documento foi um acordo judicial em que a CBA foi envolvida como parte interessada e constou a minha assinatura. Eles são obrigados por lei a honrar o que assinaram. Eu já tenho na sede da CBA o projeto do autódromo de Deodoro. É um projeto muito bonito, que vai envolver outros esportes, outras atividades e que vai ser uma coisa muito boa para os moradores daquela região, além de ser muito boa para o automobilismo. Vai ser um autódromo FIA 1, capaz de receber a F1. A última informação que tenho do Ministério dos Esportes (Nota dos NdG: Quando fizemos a entrevista, o ministro ainda era o Sr. Orlando Silva) é que a verba para a construção do autódromo já está designada, são 150 milhões de reais e está faltando apenas uma destas licenças, mas até a licença ambiental já saiu. É só começar a obra. Inclusive, eu já fui perguntado sobre quando eu liberaria o autódromo de Jacarepaguá. Eu disse que tendo a pista pronta, os boxes, a torre e a área murada, o autódromo de Jacarepaguá pode ser liberado. Nem vou dizer que tem que estar tudo pronto, mas já tendo condições de se fazer corrida, daí seria intransigência nossa.

 

NdG: Já que entramos no mérito da questão “autódromo”, gostaríamos de perguntar ao senhor sobre o poder da CBA sobre os autódromos. Sabemos que a CBA não possui nenhum autódromo. Eles são ou dos estados, ou dos municípios ou são propriedades privadas. Até onde a CBA pode exigir dos donos dos autódromos que os mesmos estejam em condições de receber eventos?

 

Cleyton Pinteiro: Este é um ponto muito delicado. Nós começamos há algum tempo a fazer uma série de visitas técnicas aos autódromos e entregando aos seus administradores um caderno de encargos para que eles tenham seus autódromos em condições de receber corridas. Nós começamos este trabalho pelos autódromos que recebem competições de nível nacional. A comissão nacional de autódromos, que é chefiada pelo Marcio Pimentel (Nota dos NdG: Marcio Pimentel é o administrador do autódromo de Tarumã-RS) já visitou os autódromos de Santa Cruz do Sul, Tarumã, Campo Grande e Brasília e esperamos que os administradores atendam a este caderno de encargos para continuarem recebendo as competições.

 

NdG: Vamos partir de uma situação: alguns destes autódromos visitados e que receberam os “cadernos de encargos” informam a CBA que não tem como cumpri-los. A CBA faz o que, cancela a homologação destes autódromos? Proíbe as corridas nestes locais? Se perdermos 3 ou quatro autódromos onde hoje ocorrem corridas, as tantas categorias que hoje correm no Brasil vão correr aonde?

 

Cleyton Pinteiro: Isso é pra que se tenha uma idéia do tamanho do problema que nós enfrentamos. Não podemos simplesmente retirar autódromos da cena nacional, também não podemos comprometer a segurança dos pilotos. É preciso muito jogo de cintura, muita argumentação e muita compreensão por parte dos proprietários dos autódromos para que se façam as obreas necessárias em termos de modernização, melhorias, segurança...

 

NdG: Quando visitamos o autódromo de Londrina para a série “Raio X dos autódromos brasileiros”, na entrevista com o administrador do autódromo, o Fabio Gôngora, ele falou que tinha vontade de organizar um fórum com os administradores dos autódromos para discutirem assuntos comuns e buscar se ajudarem na busca de soluções para melhoria dos nossos autódromos. A CBA poderia fazer com que esta idéia se torna-se realidade, não? 

 

 

Um episódio do qual me arrependo muito foi a não divulgação do caso de doping do Tarso Marques. Eu quis proteger o piloto. 

 

Cleyton Pinteiro: Espera... essa eu vou colocar na minha agenda. Essa é a agenda da CBA, onde eu vou tomando nota dos pontos para as reuniões com as comissões e esta proposta é muito boa. Acho que todas as boas idéias são bem vindas e que temos mesmo que trabalhar em conjunto para que possamos fazer o automobilismo brasileiro melhor. Realmente, reunir os administradores pode gerar soluções e melhorias. Nós temos feito diversos cursos e seminários com o pessoas das federações, com secretários, secretárias, comissários, temos procurado melhorar o nível de conhecimento e de treinamento destas pessoas para podermos ter uma organização melhor nas provas...

 

NdG: É, presidente... mas uma boa parte das queixas que lemos são justamente sobre as decisões dos comissários e diretores de prova. O que a CBA tem feito com relação a isso e como ela recebe estas críticas?

 

Cleyton Pinteiro: Qualquer competição onde aconteça um episódio que precise da interferência direta de um juiz vai ter sempre quem conteste. Toda rodada do campeonato brasileiro de futebol tem várias reclamações contra as decisões dos árbitros. Em outros esportes isso também acontece, então isso não é exclusividade do automobilismo ou do automobilismo brasileiro. Além do que, os comissários não inventam regras. Eles seguem aquilo que foi estabelecido no regulamento desportivo da competição. O que nós da CBA temos buscado fazer é fazer cursos de reciclagem, reuniões entre os comissários e diretores de prova, temos buscado aumentar os quadros de diretores e comissários e, este ano, começamos a convidar um piloto para estar na torre junto com os comissários e ser o “piloto consultor” nas provas para passar uma visão do ponto de vista de quem está na pista.

 

NdG: Sim, mas este ano estamos tendo alguns campeonatos com decisões que precisarão esperar uma decisão do tribunal ao invés de serem decididas na pista...

 

Cleyton Pinteiro: Desde que assumi a presidência da CBA eu venho tratando os assuntos das decisões do tribunal de justiça como eu acho que o tribunal deve ser: independente. Para que se tenha uma idéia, o tribunal que julga todas as decisões dos comissários não ficam no prédio da CBA e quando assumi, entreguei as chaves ao juiz com uma recomendação: se algum dia eu entrasse no tribunal para interferir em qualquer decisão dele, que ele me colocasse para fora. Mas não pra fora do tribunal, que me colocasse pra fora da CBA! O tribunal tem que agir e tem agido com total independência.

 

NdG: Pode ser, presidente, mas algumas decisões tomadas pelo tribunal e pela CBA durante seu mandato podem ser consideradas no mínimo pouco inteligentes. Tivemos um caso de doping de um piloto que a CBA identificou, puniu e que, posteriormente foi descoberto e divulgado pela imprensa. O senhor não acha que errou ao não divulgar o processo?

 

 

A CBA apresenta aos administradores dos autódromos um caderno de encargos para serem atendidos. Só que a CBA não é dona deles. 

 

Cleyton Pinteiro: Esse é um episódio do qual me arrependo muito. Eu quis preservar a imagem de um piloto. Um piloto que já esteve na F1 e hoje, reconheço, ter divulgado o resultado logo que este foi conhecido deveria ter sido a melhor decisão. Antes dele nós tivemos um outro caso de doping e nós divulgamos não só o nome mas a pena imposta (Nota dos NdG: o piloto em questão foi o Paulo Salustiano). Que as consequências sirvam de lição para esta e para as outras gestões.

 

NdG: Por falar em gestão, presidente, houve recentemente uma tentativa de alguns dos seus colaboradores de forçar a sua renúncia. Como foi lidar com isso?

 

Cleyton Pinteiro: Não foi nada como aquilo que andaram noticiando. Em todo lugar tem gente querendo ter poder, mandar, liderar e alguns acham que podem fazer melhor que outros. Algumas pessoas tentaram mobilizar um movimento, mas não levou a lugar nenhum. Foi uma coisa pequena e que não foi pra frente.

 

NdG: Mudando o rumo da entrevista, tem um seguimento do automobilismo que parece ter uma vida própria, que arrasta um grande público para seus eventos, mas que talvez não tenha a mesma cobertura por parte da CBA que outras categorias, especialmente sobre sua regulamentação, formação dos pilotos, adequação de locais para sua realização. Estamos falando sobre arrancadas. O que a CBA tem feito neste seguimento, onde andamos tendo acidentes, mortes, incidentes com público e uma série de coisas que, definitivamente, não podem acontecer?

 

 

Eu não tenho apego pelo cargo. Hoje, não penso em reeleição. Ainda tem mais de 1 ano de mandato pela frente, e muito a fazer.   

 

Cleyton Pinteiro: Você tocou num ponto muito importante. Realmente, o seguimento de arrancadas vem crescendo e ficando muito forte e precisamos cuidar melhor dos aspectos relativos a este seguimento. As precauções com segurança e formação destes pilotos precisa ser bem cuidada e é por isso que temos uma comissão de arrancadas na CBA que vem cuidando destes assunto. Infelizmente tivemos uma perda na comissão, uma pessoa muito boa e no momento estou procurando alguém para vir a compor esta comissão...

 

NdG: O senhor aceita uma sugestão?

 

Cleyton Pinteiro: Sim, claro...

 

NdG: Procure e convide o Jorge Fleck! Ele dá aulas no Velopark, conhece muito sobre arrancada e certamente seria uma grande aquisição para o quadro da CBA.

 

Cleyton Pinteiro: Essa é mais uma para colocar aqui na agenda.

 

NdG: Voltando ao assunto, o seguimento de arrancada tem vida própria. No Amazonas, um grupo privado fez uma pista para corridas de 402 metros de excelente padrão... e lá nem tem federação. Como controlar isso?

 

Cleyton Pinteiro: No caso do pessoal de Manaus, eles se associaram diretamente à CBA, mas a formação de pilotos para arrancada também é algo que nos preocupa. Para preparar o motor de um carro para correr 201 ou 402 metros. Isso se faz em qualquer lugar. A parte boa do seguimento de arrancada é tirar gente das ruas, gente que corria colocando a vida dos outros em risco, comprometendo a segurança no trânsito. Inclusive, quando da festa de 50 anos da CBA, o presidente da FIA, Jean Todt, falou sobre isso conosco, sobre a responsabilidade que temos também pela educação e segurança no trânsito. É um projeto da FIA e que a CBA também está abraçando.

 

NdG: Presidente, acho que já tomamos muito do seu tempo. Há algo mais que o senhor gostaria de acrescentar?

 

 

As pessoas que trabalham na CBA são pessoas sérias, que sacrificam suas vidas pessoais e profissionais por amor ao automobilismo. 

 

Cleyton Pinteiro: Eu quero agradecer ao site de vocês por terem vindo aqui e nos dado oportunidade para falar. Eu gostaria que todos soubessem que as pessoas que fazem a CBA são pessoas sérias, que abrem mão de seu trabalho, de horas e dias de convívio com suas famílias para trabalhar pelo automobilismo. Fazemos o melhor que podemos e vamos fazer ainda mais para que o automobilismo do Brasil seja cada vez mais forte. Hoje nós temos pilotos correndo no Brasil que são bem remunerados, pilotos que já correram na Europa e nos EUA e que hoje correm aqui. Precisamos de um automobilismo forte e estamos trabalhando para isso.

 

Last Updated ( Monday, 21 November 2011 12:41 )