F3 Brasil: Custo x Realidade Print
Written by Administrator   
Tuesday, 15 July 2014 10:28

Ao longo dos últimos anos vimos a Fórmula 3 Sulamericana literalmente se arrastando de autódromo em autódromo, com grids minguados, pouquíssima divulgação e praticamente nenhum atrativo para os jovens pilotos oriundos do kart ou de categorias menores.

 

Se este fosse um problema localizado, interno ou do cone sul do continente, poderíamos responsabilizar nossos dirigentes como é de hábito. Contudo, o problema da Fórmula 3, categoria que um dia foi a maior escola de campeões do planeta, é profundo e atinge até mesmo o mais tradicional dos campeonatos da categoria.

 

Nesta temporada da Fórmula 3 inglesa, apenas 7 pilotos estão disputando o torneio regularmente. É um número ridículo se comparado aos anos 70/80/90, quando as corridas tinham mais de 30 inscritos e muita gente não largava. A pergunta é: o que será que deu errado?

 

Em Interlagos, mesmo com o tempo fechado e uma chuva leve, algum público já esteve presente nas arquibancadas. 

 

A resposta tem algumas partes, mas a principal é que a categoria deixou de ser uma escola aos “velhos moldes”, onde o piloto fazia o carro na garagem de casa a partir de um kit básico, reunia dois ou três “mecânicos” (muitas vezes amigos), rebocava o carro numa carreta de plataforma até o autódromo e ia correr.

 

Hoje os custos para se correr numa categorias de Fórmula, com toda a tecnologia embarcada nos carros atuais tornou o acesso a elas muito restrito e isso tem preocupado a FIA, Clubes e Federações pelo mundo a fora. Além disso, categorias patrocinadas por montadoras ou grupos empresariais passaram a rivalizar-se com as categorias tradicionais, pulverizando o número de pilotos e criando uma série de “caminhos” para as categorias maiores.

 

Visando isso a FIA está trabalhando com um projeto de padronização de regulamentos e escalonamento para que os pilotos de Fórmula possam “seguir um caminho” até a Fórmula 1. Este projeto inclui as Fórmulas 4; 3; e 2, com projetos a serem desenvolvidos Em todos os continentes.

 

Segundo nos relatou o Presidente da CBA, Cleyton Pinteiro, que também é membro do conselho da FIA para o esporte a motor, no continente americano, a Fórmula 4 deverá ser estruturada no Uruguai, com participação direta da Argentina. A Fórmula 3 será estruturada no Brasil e a Fórmula 2 no México. Mas será que este plano pode realmente funcionar?

 

A F3 Inglesa, outrora o objetivo de 9 entre 10 jovens pilotos do mundo, é uma categoria esvaziada nos dias de hoje. 

 

Uma das formas para se fazer dar certo é, inicialmente, baixando os custos destas categorias e, com isso, torná-las mais acessíveis. Neste aspecto, o que foi feito no Brasil chamou a atenção dos dirigentes estrangeiros. Em uma parceria entre o promotor (VICAR), equipes e a CBA, foi apresentado um projeto onde um piloto pode disputar o campeonato da Fórmula 3 light por 195 mil reais (menos de 100 mil dólares) e o da Fórmula 3 por 450 mil reais (cerca de 200 mil dólares).

 

A questão é tão impressionante que nós fomos até uma etapa da categoria para conversar com os chefes das equipes da Fórmula 3 para descobrir qual era o segredo... ou qual era a realidade. Afinal, é possível se fazer uma temporada de um campeonato de Fórmula 3 por um valor tão baixo? O que um valor como esse pode proporcionar a um jovem piloto? É uma limitação de investimento, tipo o tão discutido – e discutível – teto orçamentário que falam na F1 ou quem tem mais dinheiro pode gastar mais e ter vantagens? Com um pacote econômico atrativo, o Brasil pode se tornar um polo de atração de pilotos estrangeiros? Isso seria positivo, fortaleceria o campeonato? Melhor do que falarmos nós sobre o assunto, vamos deixar que eles mesmos falem.

 

Dácio dos Santos – Equipe Prop Car.

Realmente, temos conseguido levar adiante este projeto de se fazer uma Fórmula 3 com baixo custo e com muita luta tem dado certo. Muitos carros que estavam parados estão aqui, de volta à pista, pilotos do kart vindo correr na categoria, fazendo com que a Fórmula 3 voltando a ver o grid crescer. É uma conquista nossa conseguir fazer uma categoria como a Light por este valor de 195 mil reais e a principal na casa dos 450 mil reais, com carros que estão no mesmo padrão dos campeonatos europeus é algo muito importante para o Brasil.

 

É claro que estes valores são valores para que um piloto possa disputar o campeonato, que possa vir, treinar e correr. Agora, se o piloto quiser e puder investir mais, não é proibido. Ele pode trazer equipamentos melhores e isso, claro, provocará desequilíbrios e quem tem mais dinheiro vai ter mais condições para andar na frente.

 

A ideia do presidente Cleyton era e é a aposta no custo baixo, mas não há nenhum impedimento em que as equipes ou pilotos venham a investir mais dinheiro e ter um carro melhor, fazer mais treinos, ter mais pneus. Acho que isso foge da ideia de fortalecimento da categoria como um todo, mas a gente não vai desistir e vamos continuar trabalhando.

 

Fazer uma categoria interessante, competitiva e com custo baixo pode ser comercialmente interessante também. A RR Racing tem um piloto americano correndo lá e eu tenho recebido emails de pilotos da Europa e da Ásia mostrando interesse em conhecer a categoria aqui no Brasil. A princípio eles viriam fazer o Brasil Open em 2015, mas isso além de servir de preparação para as disputas dos seus campeonatos podendo, quem sabe, se interessar em correr por aqui.

 

Mario Souza – Kemba Racing

Eu não sei se o custo para correr a temporada é isso mesmo. Eu sei que só estou aqui porque estou recebendo uma ajuda da VICAR, caso contrário, a gente não teria condições de colocar o carro na pista. Agora, a inscrição por corrida que no ano passado era de 1.700 reais, este ano passou para 2.200. No caso dos pneus o custo baixou um pouco, mas vem aí pela frente outros gastos como centralina, chicote, cabeçote novo... as equipes pequenas como a nossa não vai ter vida fácil.

 

Pelo que a gente já gastou até o momento e com o que ainda teremos de gasto e provas pela frente, o custo da temporada vai ultrapassar estes 195 mil reais que falaram pra gente no início do ano. E eu estou falando de uma equipe onde tem eu, meu filho, Leonardo [Souza] que é o piloto e um mecânico. Somos só três pessoas. Para custear a preparação do carro, inscrição, combustível, pneu, alimentação, hotel, tudo... não fica por menos de 20 mil reais por etapa e isso que nós não temos engenheiro, telemetrista... e o custo é este. Tem equipe aí que está gastando 60, 70, 100 mil reais por carro por etapa.

 

No nosso caso, o que nos traz aqui é a nossa paixão por corridas. Não podemos dizer que estamos aqui competindo, disputando vitória. Estamos aqui participando. O Leonardo já tem 28 anos e no nosso caso, a vitória, a diversão é andar junto com os carros das equipes que gastam o dobro ou o triplo da nossa.

 

Mas, além disso, tem um outro ponto que deve ser levado em conta. Por este valor nominal, que não é real, não tem como se investir nos carros. Os carros estão rodados, estão usados, são os mesmos há anos. A gente tem as vezes um número de 15 ou 16 inscritos e vê três carros largando dos boxes, vê quatro ou cinco abandonando por problemas no meio da corrida. Tem coisas que estão sendo mudadas, melhoradas e o que todos nós queremos é que a categoria melhore tecnicamente, que os carros melhorem porque a gente aqui faz automobilismo por gostar, é por amor mesmo.

 

Lucílio [Luc] Baumer – Baumer Racing

Eu não digo que não é possível de ser feito, mas é preciso levar em questão o padrão de qualidade que vai se proporcionar com este valor. Com este orçamento, a qualidade compatível para ser competitivo e vencer corridas, este valor de 195 mil reais para a categoria light e mesmo os 450 mil para a categoria A não permite à equipe ou ao piloto sonhar em ser competitivo, mas ele vai estar ali, participando.

 

Como eu digo sempre que me perguntam sobre possibilidades e investimentos, eu falo pra quem me procura para me falar qual é o bugget que ele tem e aí a gente vê o que dá pra fazer com este orçamento. Por este valor, vamos tomar o carro da light, dá pra fazer? Dá... não estou dizendo que eu faça, mas tem quem faça. Só que quem fizer deve ser realista e falar a verdade para o piloto e para quem o financia. Precisa dizer que ele não vai ter um equipamento competitivo. Vai faltar material, mecânico e de pessoal.

 

Outra coisa que eu costumo dizer é que o mercado é quem deve ditar as regras e não alguém chegar e falar: é tanto e pronto. É o que vai ser. Isso não funciona. Se você tem 195 mil pra fazer uma temporada, manifeste-se, procure as equipe se veja o que elas podem fazer com isso. Tudo o que o piloto vai ter é o retorno do que ele investir. Se ele investir um milhão, eu garanto que ganha o campeonato... com folga! Talvez isso dê para duas temporadas de forma competitiva.

 

Talvez esta fórmula que está sendo apresentada me deixa desconfiado. Talvez acenda a fogueira hoje, este ano, mas não é garantia de continuidade. Outro dia estava falando com outro chefe de equipe aqui da categoria sobre isso que está acontecendo e sobre esta proposta. Ele disse que só tinha um jeito de se baixar custo: limitar treinos, motores, jogos de pneus, sobressalentes... mas isso vai de encontro ao que seria o propósito da categoria, que é o aprendizado do piloto. Ele precisa ir pra pista para treinar.

 

Se aqui no Brasil tivéssemos a categoria mais cara do mundo e com os carros com mais tecnologia, teríamos um grid de 30 carros, pelo menos 10 equipes fortes e além dos 30 pilotos, mais uma fila querendo correr aqui. É qualidade que atrai o piloto, não custo baixo. Custo alto sem qualidade, espanta, põe pra correr. Baixo custo sem qualidade não atrai quem quer investir e crescer. Sem qualidade umjovem piloto que quer se formar, não vai chegar a lugar algum. Não tem milagre nisso aí.

 

Augusto Cesário – Cesário Fórmula.

Em primeiro lugar a gente tem que elogiar o Cleyton [Pinteiro] pela iniciativa, feliz e de visão, pelo esforço em abraçar este projeto da Fórmula 3 e resgatar a categoria que já foi muito forte, que já revelou tantos grandes pilotos para ter uma reação.

 

Nos últimos anos, quatro ou cinco pelo menos, nós viemos trabalhando com muita dificuldade, com muito sacrifício, segurando a onda a duras penas a categoria funcionando e agora, diante deste projeto, estamos podendo ver uma luz no fim do túnel e a possibilidade de que a categoria possa voltar aos seus melhores dias.

 

Sobre a questão do custo, eu digo que é muito difícil a gente desligar, desvincular, não pesar o fator e a necessidade do investimento quando se fala em uma categoria de Fórmula. Além de se tratar de uma categoria onde o investimento tecnológico é constante e alto, sendo uma categoria escola, onde os pilotos precisam usar o carro, precisam aprender e a passagem pela Fórmula 3 aqui no Brasil é um passo importantíssimo para que nosso pilotos que forem para a Europa cheguem lá com condições de consolidar uma carreira no exterior e representar bem o nosso automobilismo.

 

A relação custo x desenvolvimento é uma relação antagônica. O piloto para se desenvolver é uma questão antagônica. Para se desenvolver o piloto precisa treinar. Para treinar tem que usar pneu, alugar autódromo, queimar combustível, levar uma equipe pra pista... e tudo isso custa dinheiro.

 

Encarar este desafio deste projeto era também uma questão de sobrevivência para a categoria. Achamos a ideia da CBA muito boa e usamos tudo que foi feito em torno desta nacionalização da Fórmula 3 também para desmistificar a questão dos valores da categoria, porque tinha muita distorção entre o que se falava e a realidade.

 

Os 195 mil reais por temporada na categoria Light é um valor muito justo, muito apertado, mas é um investimento. Ele serve como degrau para a categoria A. isso é importante para nós e eu acho que, com essa ação que está sendo feita agora, no futuro conseguiremos, junto com os pilotos, poderemos desenvolver com todos não apenas esta questão de custo, mas também aumentar a quantidade de treinos e fortalecer mais a categoria.

 

É claro que estes valores não são um limite. No mundo das corridas não tem como impedir, proibir que o piloto que tem mais recursos invista mais na  sua carreira. Você não pode impedir isso, da mesma forma que, o piloto só se desenvolve treinando e treinar tem custo. Pneus, combustível, peças... agora, poder proporcionar a um piloto, que não tem como investir mais possa, com um valor minimamente acessível, ir pra pista é importante, é positivo.

 

Uma coisa que é preciso ficar clara é que, a preparação de um piloto passa por um processo onde o investimento financeiro é fundamental. Se um piloto pensa numa carreira, num processo de aprendizado, ele tem que poder investir neste processo. Do contrário ele vai estar enganando a si mesmo. Os que não tem o dinheiro para investir hoje, mas que estão tendo a oportunidade de andar podem, com esta oportunidade, conseguir conquistar o espaço, o suporte necessário, para ter melhores condições numa temporada seguinte. Isso acontece em todas as categorias. A F1 é um exemplo disso. Hoje temos equipes pequenas lutando pra melhorar. A Force Índia melhorou muito ao longo dos anos, e começou pequena. No passado, temos o exemplo da Williams. Atualmente temos a Red Bull, que não começou grande.

 

Aí vocês vejam o exemplo do Pedro [Piquet], que está correndo aqui conosco. Você vai impedir, proibir o menino de se desenvolver? Se ele não fizer isso aqui no Brasil vai fazer lá fora, gerando empregos lá fora. Automobilismo também é geração de empregos. Vejam quantos mecânicos, técnicos e engenheiros temos trabalhando aqui na equipe e no autódromo neste final de semana? Isso tem que ser levado em conta também quando se fala de automobilismo.

 

Vejamos o caso de um piloto que vá correr hoje na Fórmula 3 inglesa. Ele não vai gastar manos de 250 mil libras numa temporada. Isso é mais do que o dobro daqui, considerando o câmbio. É gasto na casa de um milhão de reais. Ver vocês da imprensa aqui, fazendo um trabalho como este, ver o apoio que a CBA decidiu dar e que a VICAR está investindo para nos dar é de fundamental importância para que esses meninos possam se desenvolver e que a categoria se torne atraente para pilotos de outros países, que eles venham pra cá para aprender, se desenvolver e aumentar o nível de competitividade da nossa F3, tornando-a atraente para pilotos e patrocinadores.

 

Robson Lopes – Capital Motorsport

Na verdade as equipes procuraram se adaptar a esta proposta e tentar cumprir com este valor de orçamento para que o piloto consiga fazer as provas. Este seria o valor para o piloto participar das corridas do campeonato. Só que o piloto que vem para uma categoria como a Fórmula 3, que é uma categoria para ele aprender a guiar um carro de corridas ele tem que treinar, certo? E este valor aí falado é para os finais de semana de corrida. Treino é um custo por fora. Se a gente for fazer um pacote de treinos que seja mínimo, este valor já vai subir para uns 250 a 270 mil reais.

 

No ano passado a gente vinha trabalhando com um custo, incluindo a temporada, treinos e peças de reposição, que é um fator importante pra gente considerar é que o piloto que sai do kart e vem para correr num carro de Fórmula está buscando algo a mais. Esse piloto, no kart, provavelmente ele tinha equipamento, pneu e competitividade. Aqui elevai querer o mesmo. Só que o orçamento aqui é maior e o piloto vai ter que ou encontrar meios ou se adaptar ao que dá pra fazer com o orçamento que tem.

 

Mas certas coisas não mudam. Uma delas é: quem tem mais dinheiro vai andar na frente. O que a gente precisa ter de condição é que todo mundo tenha dinheiro, aí vai ter equilíbrio, coisa que hoje não tem. Se um piloto tem três motores e um engenheiro só pra cuidar disso, ele vai andar na frente. Quem tem mais, tem mais possibilidades, provavelmente vai andar na frente porque não é na corrida que ele vai se desenvolver, é treinando e quanto mais ele treinar ele vai se desenvolver. Só que pra treinar é preciso ir pra pista fora dos finais de semana de corrida e isso custa caro.

 

De alguma forma o que está acontecendo está sendo positivo. No momento está difícil para um piloto que queira correr na categoria light encontrar um carro para colocar no grid. Houve busca, houve procura. Agora a gente precisa aproveitar o momento e fazer com que a categoria cresça, que venham novos carros, novos equipamentos e mais pilotos possam correr. Se vier gente de fora correr aqui, acho que vai ser bom. Pode incentivar aos meninos do kart a passar por aqui antes de tentar correr lá fora. Tem muitos que a gente não teve chance de ter contato por irem do kart direto para a Europa.

 

Sergio Brüger – RR Racing

No que diz respeito a categoria Light está sendo perfeitamente viável. Este projeto está sendo muito importante que o piloto que sai do kart tenha acesso aos carros de Fórmula. Hoje temos até algumas opções para este início, com diferentes níveis de investimento como são os Fórmulas aqui em São Paulo e a Fórmula Junior no Rio Grande do Sul, que tem orçamentos mais baixos que a Fórmula 3 light e que pode ser até uma preparação para esta categoria.

 

Esse trabalho conjunto das equipes em parceria com a VICAR, que está promovendo o campeonato e a CBA que entrou com algumas isenções e a Pirelli, que fornece os pneus conseguimos chegar neste valor e dar meios para que a categoria pudesse se tornar mais acessível, mais atrativa.

 

É claro que este valor é uma espécie de “pacote básico”, onde o piloto tem acesso aos treinos e as corridas. Para treinar fora dos finais de semana de corrida, para ter mais jogos de pneus para usar em treinos e corridas logicamente este custo aumenta e não há proibição nem restrição para que o piloto tenha acesso a isso.

 

No caso da Light eu nem vejo esta questão do aporte de dinheiro como algo que venha pesar tanto, pelo menos inicialmente. Acho que quem corre na categoria A, que é aquele piloto que está visando ir para a Europa, entrar num outro nível de competitividade, este sim precisa de mais equipamento de ponta embarcado, de mais contato com o que há no mercado em termos de tecnologia.

 

Este projeto de incentivo à Fórmula 3 tem dado bons resultados com o aumento do interesse de pilotos em vir correr na categoria, no crescimento do grid e mesmo no interesse de pilotos de fora do Brasil virem correr aqui no Brasil. Este ano nós tivemos a sondagem e o contato com dois pilotos ingleses, um indiano e um americano que inclusive já está integrado à equipe nesta etapa. Ele está começando um processo, ele já andou na F. 2000 nos Estados Unidos e espero que assim como ele, outros venham para o Brasil.

 

Eu tenho uma visão muito crítica com relação a certos “managers” que levam um piloto saído do kart para correr numa categoria de Fórmula abaixo da Fórmula 3 no exterior. Esse piloto correndo aqui na Fórmula 3 Light ele tem condições de treinar muito mais do que treinaria na Europa com o mesmo investimento, tem a questão da proximidade com a família onde, nesta fase de transição, ter a família e os amigos por perto é importante. Isso vai dar a este piloto uma melhor preparação para chegar na Europa com melhor condição pra competir.

 

Um outro ponto que vejo é este processo de unificação dos padrões de Fórmula que a FIA quer fazer e eu tenho meus temores com relação a isso. Em uma das últimas reuniões que tivemos eu defendi uma posição que é minha, que seria nós buscarmos, nos termos um apoio efetivo de uma fábrica, de uma montadora brasileira para nos fornecer o motor, mas isso é complicado porque não ésó o motor, mas o desenvolvimento dele. Por isso eu falei que o melhor para nós seria manter a relação com o Berta, que produz um motor muito bom, robusto, que tem uma potência boa e com este processo todo, eles estão dispostos a trabalhar no desenvolvimento deste motor. e o mais importante é que eles deixaram claro que tem interesse em investir na categoria.

 

Rodrigo Contin – Hitech Racing

Nós na Hitech estamos conseguindo trabalhar com este planejamento de fazer a temporada da Fórmula 3 Light por 195 mil reais. Até o ano passado nós não tínhamos carros na categoria, apenas na categoria A e este ano iniciamos a temporada com dois carros na Light, mas no momento estamos com apenas um.

 

Nós aqui na equipe trabalhamos da seguinte forma: o pacote para as corridas é fechado por este valor, incluindo o final de semana inteiro e todos os treinos. Os treinos entre uma temporada e outra é um pacote fechado em separado, dependendo de quantos treinos o piloto for fazer.

 

É claro que vai ser na quantidade e na qualidade dos treinos que o piloto vai crescer em aprendizado, vai descobrir como explorar melhor as características do carro, vai ter vantagem sobre aquele que tem apenas o pacote de corridas. Isso é algo que é do esporte, que acontece em toda categoria pelo mundo. O pacote de treino está custando entre sete e oito mil reais por treino. Em um categoria escola como é a Fórmula 3, treinar é a etapa mais importante.

 

A Hitech quando se estabeleceu aqui no Brasil, tinha como objetivo além de trabalhar valores, pilotos, brasileiros, também abrir espaço para pilotos estrangeiros, como tivemos alguns por aqui no Brasil Open. hoje não tem uma atividade de pista. Pode ser que algumas pessoas não saibam, mas o grid da Fórmula 3 aqui no Brasil é hoje maior que o grid da Fórmula 3 na Inglaterra.

 

Hoje o trabalho que está sendo feito aqui no Brasil estase mostrando positivo. Nós temos contato com diversas equipes não apenas na Inglaterra e na Fórmula 3, mas em outros países também. Contudo, o nosso compromisso hoje, com a categoria e com a CBA é o de investir na formação de pilotos brasileiros, mas não estamos fechados a ninguém.

 

 

Depois de ouvir os chefes de equipe, voltamos a entrar em contato com o presidente da CBA, Cleyton Tadeu Correa Pinteiro, para saber o que ele teria a dizer em relação a tudo o que questionamos e a tudo o que ouvimos.

 

NdG: Presidente, conversamos com os chefes de equipe da Fórmula 3 e todos falaram sobre os valores que os pilotos e as equipes estão tendo que investir na Fórmula 3 Brasil e, apesar do esforço para se baratear a categoria, os 195 mil reais/ano para se correr na Light não tem sido uma realidade, com as equipes tendo que investir mais do que isso. O piloto compete ou participa? O que o senhor tem a dizer sobre isso?

 

Cleyton Pinteiro: A questão do valor é que ele é o valor para que o piloto possa correr a temporada inteira e isso está sendo praticado pelas equipes. Isso de participar ou competir é muito relativo. Meu irmão quando corria de kart em Pernambuco tinha o pior equipamento entre os concorrentes e foi campeão. O que nós conseguimos fazer foi baratear o custo para que o piloto pudesse correr. Agora, se um piloto quiser investir mais, nada o impede, desde que ele cumpra o regulamento. Uma coisa que a gente não pode fazer é nivelar por baixo, proibindo quem tem mais recursos de buscar peças no exterior, de comprar mais jogos de pneus. Ele só não pode deixar de cumprir o regulamento da categoria.

 

NdG: Ninguém pode tirar o mérito da CBA, da VICAR e das equipes pelo que está sendo feito este ano, mas não seria o caso de também se estabelecer um teto como o Jean Todt está tentando fazer na F1 para diminuir os custos na categoria e aproximar as equipes em nível de competitividade?

 

Cleyton Pinteiro: O teto é o regulamento. O que a gente pode fazer é reavaliar o regulamento e analisar se algo pode ser mudado. O regulamento não pode impedir que uma equipe, que um piloto compre uma peça nova para o carro se a peça é permitida dentro do regulamento. Mas vamos ter atenção neste ponto que vocês estão questionando.

 

NdG: Os chefes de equipe também disseram que tem sido procurados por pilotos de outros países buscando mais informações e demonstrando interesse em vir correr no Brasil. Como o senhor vê isso?

 

Cleyton Pinteiro: Vejo com muita felicidade e aposto no crescimento da categoria, com pilotos estrangeiros ou brasileiros. Ainda temos alguns carros tanto da Light quanto da categoria A que estão parados porque teve gente que não acreditou no nosso projeto e agora estão vendo que está dando certo. Espero que estes que não acreditaram no nosso projeto de reestruturação possam voltar a colocar seus carros na pista e aumentar ainda mais o grid.

 

NdG: Uma pessoa que nós vimos, no caso revimos, foi o Oreste Berta Filho, que estava com o Zequinha Giaffone e andou conversando com os chefes de equipe. Eles demonstraram uma certa preocupação com uma possível mudança dos motores da categoria. Pelo projeto da FIA, os motores terão que ser trocados. Será que isso não pode ser negociado e até mesmo os argentinos vir a fornecer motores em outros países?

 

Cleyton Pinteiro: O cenário de momento não oferece muitas alternativas. O plano da FIA de escalonamento para acesso à Fórmula 1 passa pela padronização dos carros da categoria e isso inclui os motores. Se a categoria não adotar os motores recomendados pela FIA não será impedida de correr, mas não poderá ser um dos degraus da escada de acesso à Fórmula 2 para então o piloto poder chegar à Fórmula 1. Talvez isso possa levar mais tempo, estes motores ser mais utilizados, mas a mudança é necessária se a categoria quiser fazer parte deste processo. Caso não queira, pode continuar sendo uma categoria de formação, de treinamento, mas para correr na Fórmula 2 o piloto terá que correr numa Fórmula 3 com os equipamentos homologados pela FIA. Isso já foi discutido e normatizado pela FIA: o piloto pra chegar na F1 terá que, obrigatoriamente, passar pela F4, F3 e F2 em países que usem o regulamento unificado. Esta unificação vai se dar em mais três ou quatro anos, mas vai acontecer e este prazo foi algo que nós, membros do conselho pedimos, para dar tempo de todos nós, em todos os países, nos adaptarmos.

 

 

Last Updated ( Wednesday, 16 July 2014 16:21 )