A formação de pilotos no 3° Milênio - Pilotech Print
Written by Administrator   
Saturday, 18 January 2020 18:02

“Piloto de videogame”! Durante muito tempo isso foi uma ofensa dirigida para muita gente com um peso tão grande - ou maior – do que chamar alguém da rua de “motorista de domingo”. Ao longo dos últimos 15 ou 20 anos, e em uma velocidade cada vez maior, essa coisa de “piloto de videogame” tomou um nível de sofisticação e profissionalismo inimagináveis nos tempos dos títulos mundiais de Fórmula 1 dos nossos três campeões.

 

   Poucos leitores do Nobres do Grid com mais de 40 anos de idade não jogou pelo menos uma vez nesse jogo... Até mais jovens.

 

As principais equipes de competição vem investido há anos em simuladores cada vez mais sofisticados (esqueçam aqueles jogos de corridas que quem tem mais de 40 anos brincou em casa ou em lojas que haviam em suas cidades), softwares cada vez mais realistas e que por uma questão de praticidade, custo ou mesmo regulamento, como é o caso da F1, que restringe os treinos entre as corridas a poucos dias no ano, os simuladores são a ferramenta que os pilotos tem para treinar e os engenheiros para fazerem estudos de desenvolvimento.

 

Há cerca de uma década, a Nissan lançou um programa de formação de pilotos de GT em simulador – Nissan GT Academy – e entre os seus “formandos”, que foram para a pista e disputaram campeonatos, tivemos até pódio nas 24 horas de Le Mans, caso do inglês Jann Mardenborough, que venceu diversas corridas de GT na Inglaterra e na Europa. Fruto de um outro programa, o de simuladores da McLaren, onde hoje está o piloto brasileiro Igor Fraga, dois anos atrás, no evento esportivo e promocional, R.O.C, a corrida dos campeões, um jovem italiano – Enzo Bonito – fez bonito (trocadilho inevitável) e derrotou alguns pilotos consagrados como Lucas Di Grassi (campeão da F-E em 2017) e Ryan Hunter-Reay (campeão da F-Indy em 2012).

 

   A Nissan criou no final em meados da década passada um programa de formação e treinamento de pilotos em simuladores.

 

Na cidade que tem tudo que se possa imaginar no nosso país – São Paulo – temos também um local onde pilotos de qualquer idade e de qualquer tipo de carro, com qualquer nível de envolvimento, pode fazer um programa de treinamento que envolve não apenas a pratica de pista, mas um trabalho de aprimoramento físico, mental e técnico que irá desenvolver suas habilidades na pista que ele deseje enfrentar – ou não – na vida e, segundo o sócio principal do empreendimento, José Rubens D’Elia, prepara quem está ali não apenas para quem quer se aprimorar como piloto, mas também para quem quer se aprimorar como pessoa.

 

Formado em Educação Física e bacharel em Administração de Empresas. Pós-graduado em Fisiologia do Exercício pela Unifesp, Treinamento Esportivo e administração esportiva pela USP, D’Elia é consultor corporativo e esportivo. Fisiologista e preparador psicofísico de diversos atletas de alto rendimento, tendo trabalhado na formação e preparação de vários deles para algumas olimpíadas usando sua metodologia desenvolvida e aprimorada através de anos de trabalho, oficializada no seu Livro “Fábrica de Campeões”, é praticada como uma estratégia de sucesso para Atletas-Profissionais e Profissionais-Atletas.

 

   Provavelmente, apenas quem sabe do que se trata olha com mais atenção a discreta fachada da Pilotech, perto do Ibiarpuera.

 

O trabalho em equipe com os empresários e pilotos Luca Milani e Luiz Eduardo Nicolaci Santos levaram a criação da Pilotech, que é praticamente vizinha do parque do Ibirapuera, na Av. Quarto Centenário, que já desenvolveu programas individuais e coletivos, inclusive junto com a CBA, oferece ao interessado diversas opções para desenvolvimento físico, técnico e mental, apropriados para serem usados tano na pista como fora delas.

 

As instalações compreendem, além da recepção, vestiário, espaço para treinamentos específicos com diversos aparelhos, evidentemente a sala de simulador, com um equipamento dotado com software de alta precisão e uma sala de reuniões para avaliações dos resultados, além dos escritórios. Se, talvez, fisicamente a primeira impressão é de que trata-se de um local pequeno, esta impressão é desfeita quando vemos o tipo de trabalho que é desenvolvido pela equipe.

 

   As instalações da Pilotech oferecem ao cliente um ambiente voltado ao seu aprimoramento físico, técnico e mental como piloto.

 

Antes da Pilotech existir, José Rubens D’Elia já fazia um trabalho de preparação física e mental com alguns atletas, inclusive pilotos e entre esses pilotos estavam os dois sócios da Pilotech, Luca Milani e Luiz Nicolaci, que fizeram a proposta para a criação da empresa nesses moldes em 2016 e segundo o entendimento dos sócios, a Pilotech foi além dos objetivos iniciais que foram pensados.

 

Segundo Nicolaci, a base foi aquilo que eles viram na Europa e que vem sendo feito há mais de duas décadas, com a integração da automação e eletrônica ao programa de condicionamento que José Rubens D’Elia já realizava. Estabelecido o espaço, era buscar um simulador que pudesse atender as demandas, inclusive para os kartistas. O retorno foi mais rápido que o esperado e a integração dos locais de treino físico com o simulador estão gerando parcerias.

 

O simulador.

Dentro do simulador conversamos com Eron Goulart, que acompanha os pilotos nos treinamentos de acordo com o que é solicitado ou dentro do planejamento de treinamento específico de cada piloto (pensamos em chamar de cliente, uma vez que as pessoas que buscam a Pilotech vão desde pilotos profissionais a pilotos “amadores”, que tem a pilotagem mais como uma segunda ou terceira atividade na vida).

 

Eron, que é estudante de engenharia mecânica, trabalha com telemetria há vários anos e através de um dos sócios da Pilotech, Luca Milani, que corria na categoria Sprint Race onde Eron trabalhava com a telemetria, ele já possuía em casa um simulador com o mesmo software, mas sem os equipamentos que existem na Pilotech. Dedicado, treinava em casa e usava o software de analise, o mesmo que usava na pista para aprimorar a parte de análise de dados, que era seu trabalho. O trabalho no simulador é dividido com outro profissional – Mike dos Santos – que não estava na Pilotech no dia da nossa visita e que tem mais tempo de empresa que o próprio Eron e que é, segundo seu colega, um dos melhores pilotos de simulador do mundo, vencedor de diversos campeonatos.

 

     O piloto que vai para o simulador da Pilotech tem uma enorme quantidade de recursos e informações à sua disposição.

 

O Simulador da Pilotech é moderno e perfeitamente ajustável para diversos tipos de clientes. Desde meninos do kart, com 5 ou 6 anos de idade até os pilotos das categorias master, que já tem idade para ter netos kartistas. Além disso, a variedade de programas é enorme e o grau de complexidade pode ser trabalhado para atender o cliente em tudo aquilo que ele deseja. Como o treinamento costuma ter um parâmetro comparativo inicial, os dados das performances de Mike dos Santos, que tem mais de 10 anos de experiência e exímia competência acaba sendo o parâmetro que o cliente que vem até a Pilotech terá para buscar seu aperfeiçoamento.

 

Dependendo do que o cliente está buscando, é possível fazer todos os ajustes de suspensões, molas, amortecedores, pedais, relações de marchas, cambagem, calibragem dos pneus... uma infinidade de detalhes que em um meio profissional o piloto lidaria com todos eles. Da mesma forma, pode ser feito apenas uma “condição standard”, mas em ambos os casos é gerada uma telemetria referente a aquilo que está acontecendo quando o piloto está utilizando o simulador e esta pode (certamente vai) ser analisada pelo piloto, pelo seu coach e pela Pilotech, que vai sempre trabalhar pelo aprimoramento do seu cliente.

 

   O simulador da Pilotech tem ajustes para altura, número de pedais, espostas no banco e no volante.

 

O software que faz a aquisição de dados na pista para as categorias que correm aqui no Brasil é o mesmo que é utilizado no simulador da Pilotech. Isso proporciona que o piloto tenha o mesmo tipo de avaliação de resultados, como se ele estivesse na pista, com uma vantagem extra: como no simulador costuma haver mais recursos, existem mais canais de aquisição de dados do que o que muitas vezes é oferecido na pista. Em outras palavras, é possível ter muito mais sensores no “carro do simulador” do que normalmente vai se encontrar no “carro da pista”.

 

Esse volume de informações vai propiciar ao piloto e ao seu coach uma quantidade maior de informações para serem analisadas sobre o que ele conseguiu fazer durante a sessão. Em um treinamento o piloto pode vir para o simulador para trabalhar desenvolvimento do carro, não apenas performance contra o cronômetro. Com a possibilidade de fazer alterações de setup, com o “carro do simulador” respondendo da mesma forma que o “carro da pista”, ou seja: cada alteração feita no balanço do carro vai ter resposta no desempenho de pista.

 

   Eron Goulart tem experiência de pista, é piloto de simulador e está terminando o curso de engenharia mecânica. 

 

Eron foi bem sincero: há uma similaridade de comportamento, mas não é algo 100% exato. Ele explicou que, por exemplo, se no simulador ele coloca uma determinada pressão nos pneus e consegue um determinado comportamento, isso não é garantia de que a mesma pressão nos pneus vá dar a mesma resposta na pista, mas as variações entre os ajustes, serão muito próximos dos experimentados no simulador. O simulador tem como, inclusive, estabelecer e variar a temperatura do asfalto como parâmetro de avaliação e treinamento do piloto, assim como simular chuvas, vento, visibilidade, noite ou dia.

 

Dentro do simulador da Pilotech o piloto encontra softwares de praticamente todos os carros que participam das categorias brasileiras. O mesmo simulador também tem softwares para kart, com ou sem marcha, além de carros de diversas categorias da Europa e Estados Unidos, com as pistas onde estas competem. No caso do software das categorias nacionais, o mesmo chama-se “Automobilista”, e é fruto do desenvolvimento de alguns anos de estudo e trabalho. O resultado é simplesmente impressionante! Muitas das pistas são escaneadas à lazer, então o simulador faz o piloto sentir os bumps, buracos, a altura das zebras, se ele coloca uma roda na grama ou na terra... tudo com muita fidelidade.

 

O simulador é muito real. Entre o volante e o controlador do volante tem a barra de direção que vai fazer o efeito de torção do mesmo simulando seu efeito. As pedaleiras tem cilindro mestre hidráulico onde a tensão nos pedais possa ser a mesma que o carro tem na pista. Os ajustes de banco, a resposta do que foi passado pela leitura do software para o piloto faz com que ele vire tempos muito próximos do que vira na pista, dentro do simulador, e vice versa. Os gráficos de telemetria mostram curvas muito parecidas, sendo difícil distinguir qual gráfico foi feito aonde.

 

O programa tem capacidade para simular, inclusive, em uma condição de uso por longa duração, alteração de peso do carro dado o consumo do combustível, alteração de comportamento dos pneus por desgaste, alteração da pista devido ao emborrachamento da mesma e até mesmo a lidar com situações de corrida que nem sempre são “limpas”, como levar um toque por trás em uma curva que vai fazer seu carro rodar. O objetivo é levar o usuário do simulador a ter uma condição muito próxima da que ele teria se estivesse no autódromo ou kartódromo.

 

Esse trabalho, no entendimento dos sócios da Pilotech, não extrapola ou invade o trabalho dos “coach” que trabalham com pilotos na pista e no caso muitos deles “empurram” seus pilotos para treinar em simulador e interagem com a Pilotech para fazer o trabalho de aprimoramento a quatro mãos. Os profissionais da Pilotech preferem evitar ir para a pista para que não haja qualquer questionamento ou disputa por um espaço.

 

Treino psicofísico.

Uma das particularidades do treinamento aplicado na Pilotech está no direcionamento dos exercícios físicos aplicados. Segundo Luiz Nicolaci, piloto e sócio da Pilotech, ele e o outro sócio, Luca Milani, observaram que além de ter que se deslocar – e isso demanda tempo em São Paulo, dependendo do horário, tempo demais – entre um local onde ele poderia treinar em um simulador e uma academia para fazer a parte de preparação física, as academias não possuíam determinados equipamentos que seriam aplicados como treinos específicos para a atividade automobilismo e reunir as duas coisas no mesmo espaço proporcionaria uma facilidade a quem viesse treinar.

 

   Cada trabalho desenvolvido na Pilotech é individualizado e direcionado para as necessidades e interesses de cada cliente.

 

Quem vê hoje a estrutura física de alguns pilotos – aparentemente magros demais – não faz ideia do que existe escondido por baixo do macacão. O treinamento específico da Pilotech consome os excessos e o piloto passa a ter um perfil físico adequado ao esporte que pratica. Nicolaci conta, com um sorriso no rosto, que o treinamento deixou-o com mais condição física que seus adversários, com mais massa muscular, fruto de trabalho em academias convencionais, aumentando sua resistência nas corridas.

 

Com a parte física cada vez mais ganhando importância dentro do cenário esportivo, e com a velocidade com que a informação é dissipada, os profissionais da área estão com trabalhos de preparação muito similar em diversos casos. É aí que entra o programa de se aliar ao trabalho físico, o trabalho psicológico.

 

   Com mais de 3 décadas de experiência profissional, D'Elia percebeu a necessidade de integrar treinamentos físico e psicológico.

 

D’Elia observou há muitos anos quando treinava a equipe nacional de ciclismo que o desgaste físico e psicológico dos ciclistas é muito grande nas competições. Acompanhando os atletas eu vi que teria que trabalhar esses dois lados para melhorar a condição deles. Neste momento eu comecei a escrever um livro, que deve ser lançado somente agora, sobre a dedicação e o trabalho intenso desses esportistas. 

 

Em 1992, quando começou a trabalhar com alguns pilotos da “geração pós-Senna (Rubens Barrichello, Cristian Fittipaldi, Luciano Burti, Alexandre Barros), que gostavam muito de usar a bicicleta como parte da preparação, viu-se desafiado a ampliar seus estudos. Foi aí que surgiu o conceito de Terapia Esportiva. Acompanhei o desgaste psicológico a que eles são submetidos durante as competições, que é algo comparado ao de empresários que trabalham 12, 14 horas por dia com extremas responsabilidades. A partir deste momento D’Elia começou a estudar psicologia para adequar seus treinamentos às necessidades dos pilotos, unindo os conceitos de preparação física e psicológica. O resultado trouxe, inclusive, outros “clientes”, como os velejadores, que trabalham com ele há anos. Podemos por algumas medalhas olímpicas na sala de troféus da Pilotech também.

 

   O treinamento não é padronizado. Cada piloto é avaliado e verificado seu nível de capacitação. Daí é feito o planejamento.

 

No caso específico do automobilismo, um piloto precisa reunir três características: ser forte, flexível e resistente. Isso se aplica não apenas ao corpo, mas também a mente. Após feita a avaliação inicial, é traçado um programa para atender aquilo que o cliente busca e dentro deste ele será desafiado de forma exaustiva na parte física e estimulado em sua capacidade mental para se obter um desenvolvimento simultâneo. Na Pilotech é feito um teste de avaliação sensorial onde se detectam 5 aspectos (tomada de decisão, controle muscular, atenção, visão periférica e reação), e é a partir daí que se torna possível se fazer um perfil do cliente, algo que antes lavava-se meses para ser traçado.

 

Dentro da Pilotech o piloto trabalha sua musculatura para estar condicionada e fortalecida para suportar movimentos repetitivos assim como seu cérebro precisa estar bem oxigenado para realizar com clareza o envio das reações, via sistema nervoso (reflexo) os comandos para ter o momento certo de acelerar em uma retomada, frear ou dividir uma curva. A capacidade de foco e concentração para conseguir aquela fração de segundo que será a diferença entre o primeiro e o último lugar do grid. 

 

Após um mês de trabalho o cliente já vê resultados. Após três meses, o ganho é notório, isso declarado pelos próprios clientes que buscamos após a visita à Pilotech. Muitos, que não são pilotos profissionais, inclusive relataram a melhora da sua relação no trabalho e de sua qualidade de vida.

 

   Nicolaci resalta que o treinamento pode começar desde o kart e, em alguns casos, o treinamento também é aplicado aos pais.

 

Esse trabalho é também extensivo para a além do piloto. Muitos meninos começam no kart “incentivados” pelos pais que andaram um pouco ou eram e são fãs de determinado piloto e acabam buscando realizar nos filhos um sonho que tiveram, mas não puderam seguir e não é incomum a “cobrança” sobre o menino ser negativa ao invés de positiva. Nesses casos a Pilotech faz esse trabalho psicofísico com o pequeno piloto e com o pai do piloto para que o pequeno piloto tenha um crescimento ou se recupere de um acidente que o tenha assustado, assim como ajuda o pai a entender mais tecnicamente o processo de aprendizado do filho. Dentro do simulador a informação é em tempo imediato e com metodologia o ganho é imensamente mais rápido.

 

Pistas serão passado?

Nas últimas décadas os simuladores vem sendo desenvolvidos a uma velocidade absurda. A cada versão lançada eles estão cada vez mais realísticos e com mais desafios aos que os utilizam. Para Luiz Nicolaci, o futuro da preparação e da formação de pilotos pode passar a ser 100% realizadas em centros de treinamentos e simuladores, com a possibilidade de até mesmo as principais competições passarem a ser disputadas em “ambiente virtual” (deve ter leitor esmurrando a tela nesse momento).

 

A verdade é que as principais empresas ligadas ao meio automobilístico tem investido pesadamente na criação de ambientes virtuais para treinamento de profissionais – pilotos, engenheiros e técnicos – e no desenvolvimento de novos produtos. As empresas de Fórmula 1 na Inglaterra como a Williams e a McLaren são verdadeiros centros de excelência neste seguimento e possuem, inclusive, centros de formação de pilotos e pilotos treinando e competindo representando estas empresas.

 

   O meio virtual e a computação é um caminho sem volta e o desenvolvimento será cada vez maior também como negócio.

 

O empresário entende que as competições como conhecemos hoje não vão acabar, que haverá sempre pessoas dispostas a ir para pista, disputar uma freada, correr o risco, mas que o seguimento do automobilismo virtual se tornará gigantesco, com as pessoas podendo ter uma sala de suas casas ou apartamentos um equipamento de simulador, com os recursos que sua condição financeira permitir, que propiciará a ele disputar corridas de qualquer categoria em qualquer parte do mundo. Esse é um caminho sem volta.

 

Da Redação

 

Last Updated ( Saturday, 18 January 2020 23:04 )