Guaporé - RS Print
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Sunday, 10 January 2010 11:09

 

 

As origens de Guaporé. 

 

A imagem por satélite do autódromo não mostra todos os encantos desta que é uma das pistas mais empolgantes do país.

 

A recém centenária Guaporé é uma daquelas pequenas cidades limpas, organizadas e aconchegantes como encontramos na região sul do país.  

 

Fruto da colonização italiana, quase todos os moradores – pouco mais de 20 mil – são descendentes o que já mostra que, como os italianos, são adeptos a boa mesa, ao bom vinho... e a velocidade! 

 

Contudo, foi preciso vir alguém de fora, de não tão longe, é verdade, e como a tida paixão pelas “macchinas” para que Guaporé fosse – além do maior pólo de produção de lingerie do estado e também de jóias – a dona de um dos autódromos de traçado mais empolgante, se não o mais, do Brasil. 

 

Nelson Luis Barro foi o grande responsável pela construção do autódromo de Guaporé. Médico, piloto e empreendedor. 

 

Corria o ano de 1967 quando chegou à cidade, oriundo de Caxias do Sul-RS, um jovem médico chamado Nelson Luis Barro. Além da medicina, uma paixão, ele tinha outra, por hobby: o automobilismo! Bom piloto que era, venceu o campeonato estadual com um SIMCA de Nº 34, na categoria de 1600 a 3000cc. 

 

Na mente daquele jovem, o esporte a motor poderia realmente trazer para a cidade e para toda a região um retorno de visibilidade e desenvolvimento. 

 

Seu feito contagiou a juventude da cidade e com seu poder de agregar pessoas logo foi fundada a AGA, Associação Guaporense de Automobilismo, em 1º de setembro de 1969. 

 

Inicialmente com piso de terra batida, em 1969 Guaporé ganhava seu autódromo e entrava no mapa automobilístico do país.

 

A projeção da associação e da região no cenário estadual não tardou a acontecer, mesmo sendo esta caracterizada por pequenas propriedades agrícolas e diminutos aglomerados urbanos.  

 

Mesmo com todos os fatores não apontando para uma grande perspectiva – e nem a topografia colaborava muito – da cabeça do Dr. Piloto surgiu naquele mesmo ano a idéia e a execução do grande desafio: Um autódromo! 

 

As obras foram feitas com agilidade e disposição impressionantes. Uma verdadeira maratona que contou com o apoio integral do Prefeito Municipal da época – Dr. Otalípio Dalbosco – e de toda a comunidade.  

 

O asfalto só veio em 1976, mas sempre sob a liderança de Nelson Luis Barro. Uma pessoa que marcou a história da cidade. 

 

Em apenas noventa dias o Autódromo de Guaporé, então com a pista de chão batido e encharcado com óleo, estava pronto para receber competições automobilísticas. 

 

A inauguração aconteceu no dia dezembro de 1969, sob aprovação, orientação e fiscalização da FGA – Federação Gaúcha de Automobilismo – que contou com a participação de 72 carros das mais famosas equipes do Rio Grande do Sul.  

 

A AGA conseguiu fazer um evento muito bem organizado, apesar de ter sido o primeiro e isso deu um enorme retorno e credibilidade aos organizadores, além projeção que deu ao município, uma verdadeira divulgação do desenvolvimento e progresso de toda uma comunidade. 

 

A AGA e seus mentores poderiam perfeitamente “deitar sobre os louros” do êxito inicial... mas foram exatamente na direção oposta: era preciso mais... muito mais. Assim, buscando angariar o apoio das esferas administrativas em todos os âmbitos, envolvendo inclusive as prefeituras das cidades próximas como Serafina Correa, Veranópolis, Nova Prata, Encantado, Anta Gorda e Bento Gonçalves, dos governos estadual e federal e também do 1º Batalhão Ferroviário e das empresas: Barcelos S.A, Braseu S.A e Toniolo Busnelo S/A, a AGA avançou no projeto de fazer daquele autódromo uma praça de esportes de nível internacional... e isso só aconteceria com a pista sendo asfaltada. 

 

Foram praticamente 7 anos de luta e perseverança, o asfalto e a construção dos boxes, e da torre de controle vieram alçar o autódromo a um outro platamar. Na época de sua reabertura, ele foi considerado o mais seguro do país, tanto para pilotos como para o público (os conceitos eram outros e os demais autódromos tinham menos preocupações ainda com este aspecto). 

 

Nos anos 70 o automobilismo era uma febre nacional com o sucesso de Emerson Fittipaldi, José Carlos Pace e Wilsinho Fittipaldi na Europa. 

 

Foi apenas em 1985 que o autódromo ganhou o status de internacional. Emerson Fittipaldi com Wilsinho em prova de endurance. 

 

A inauguração do novo Autódromo Municipal de Guaporé aconteceu no dia 17 de Outubro de 1976, com a realização da 5ª Etapa do Campeonato Brasileiro de Fórmula Ford, sendo vencedor da prova o piloto Amadeu Campos. Os membros da AGA e os cidadãos de Guaporé estavam tomados de satisfação e orgulho: Guaporé ganhava um novo status perante todo o país.  

 

Faltava apenas um degrau a mais para ser conquistado: elevar o autódromo a categoria de Autódromo Internacional. Foram mais 9 anos de trabalho duro até conseguir, em 17 de Novembro de 1985 quando da realização da 10ª Etapa do Campeonato Sul Americano de Fórmula 3, com a vitória do piloto gaúcho Leonel Friderich. 

 

Contudo, o tempo e o desgaste, além da falta de incentivo ao esporte de uma forma geral e ao automobilismo em particular, que é fruto de abnegados como Nelson Luis Barro, foram degradando este que é um dos mais belos autódromos do Brasil. 

 

Guaporé hoje. 

 

Chegar em Guaporé (a cidade) pode dar um pouco de trabalho, dependendo do trajeto que o visitante escolher. Em algumas opções o viajante pode deparar-se com trechos sem asfalto. A sugestão é chegar a Caxias do Sul e seguir via Bento Gonçalves, São Valentin do Sul e Dois Lajeados até chegar ao pórtico de entrada da cidade.  

 

Chegar ao autódromo é fácil: Basta atravessar a cidade e deparar-se com o pórtico com o nome de Nelson Luis Barro. 

 

Do pórtico para o autódromo é só seguir em frente pela avenida principal, a Silvio Sanson. O imponente pórtico de entrada do Autódromo Internacional de Guaporé é maior do que o da entrada da cidade, talvez pela sua grande importância para o automobilismo brasileiro, talvez expressando a paixão que o povo gaúcho pelo esporte a motor. O ponto principal é que foi uma visão deslumbrante a passagem pelo pórtico e a entrada nas dependências do autódromo.  

 

Era um final de tarde, com muito sol e calor e percebemos muitas pessoas caminhando na calçada e até mesmo na rua, indo em direção ao autódromo. Foi a primeira coisa que nos chamou a atenção. Na recepção do hotel, fomos informados que a AGA funcionava como um clube na cidade e que seus sócios tinham no perímetro do autódromo piscinas, quiosques com churrasqueiras e podiam usar a pista para caminhadas, andar de bicicleta, numa integração sem precedentes nos autódromos que visitamos até o momento. 

 

Mais do que um espaço para corridas, o autódromo de Guaporé é um espaço para a qualidade de vida da cidade. 

 

Não podíamos deixar de ir até lá e procurar ver esta interatividade entre comunidade e autódromo tão singular. Como já começava a escurecer, possivelmente não encontramos a quantidade de pessoas que possivelmente encontraríamos se tivéssemos ido 1 hora antes, mas ainda foi possível encontrar mais de uma dúzia de sócios correndo, caminhando, cuidando dos filhos... perguntamos a um jovem casal –  Jeferson e Katerin – como era esta integração de autódromo e espaço social e eles disseram que o autódromo faz parte da vida deles e da cidade. Realmente, pudemos ver quando saímos a noite para jantar como as pessoas falam bem de se ter um lugar como o autódromo na cidade. 

 

No dia seguinte tivemos que esperar a nevoa se dissipar um pouco antes de ir para a pista. A região próxima do vale dos vinhedos tem isso como característica na época que fomos fazer a matéria, mas com o sol e o céu limpo, foi possível ver a pista em detalhes. 

 

No centro da cidade, visitamos a sede administrativa da AGA antes de seguir para o autódromo. Guaporé é muito hospitaleira. 

 

Antes de irmos, falamos rapidamente com o Presidente da AGA, Dilvo Luiz Salvi e com a secretária, Rosane Balpian. A visita à sede da AGA foi de extremo proveito... Rosane tem mais de uma centena de fotos históricas! Tudo acertado para irmos para a pista, seguimos novamente para encontrar com a “Tata”, apelido carinhoso da D. Erilde Maurer, zeladora do autódromo. 

 

Passamos pelo túnel que leva até o portão da área de boxes... lá descobrimos um autódromo diferente dos demais.

 

Começamos nossa visita fotografando toda a área social do autódromo... em Guaporé tem laguinho, mini zoológico, parque de brinquedos, uma gruta com a imagem de Nossa Senhora além de mais quiosques para se fazer churrascos.  

 

Dentro do autódromo, um conjunto de espaços voltados para o bem estar e o "jeito gaúcho" de assistir corridas.

 

Na parte de trabalho, vimos os 40 boxes do autódromo, com um design parecido com o de Viamão, mas menores. Para uma equipe da Stock Car, por exemplo, seria preciso um Box para cada carro, mas as instalações estão bem cuidadas. O espaço para circular atrás dos boxes é bem largo, permitindo a manobra dos caminhões que fazem a carga e descarga ou podendo ser usado como espaço para boxes auxiliares. 

 

Acima, o pátio atrás dos boxes, a torre, os restaurantes e banheiros. A estrutura é antiga, mas funciona.

 

O posto de abastecimento e a borracharia são pequenas, mas não comprometem muito. Impressionou o fato de haver dois restaurantes nesta parte do autódromo, com bons banheiros e em dois andares, as pessoas que ali trabalham não passam aperto. 

 

Acima, os boxes, pequenos, mas bem cuidados, a borracharia e o posto de abastecimento. Abaixo, uma vista do interior dos restaurantes e os quiosques de suvenirs para os visitantes. Vir a Guaporé é um programa de família.

 

A área de camarotes sobre os boxes não é nenhum luxo, é bem rústico e sem divisões. Uma parte é coberta com telhas, a outra, recebe cobertura com tendas nos eventos. Como não poderia deixar de ser, nesta parte também há uma grande churrasqueira.  

 

Acima, a área para os convidados e camarotes, abaixo, parte das instalações da torre. A estrutura está bem cuidada.

 

Fomos visitar a torre, que apesar de aparentar antiga, está com seus espaços bem conservados. A torre possui sala de imprensa, credenciamento, secretaria, sala de comissários, e mesmo não sendo muito grande, pode atender eventos menores que a Stock Car, por exemplo, sem nenhuma dificuldade.

 

Ainda na torre, as salas de imprensa e dos comissários são boas e a vista do alto toma praticamente todo o traçado.

 

O posto médico tem um terraço superior que permite uma boa visão de quase toda a pista. As instalações refletem a idade do autódromo, mas com as UTIs móveis que atualmente atendem os eventos automobilísticos, isso deixou de ser um grande aperto, contudo, ter um bom centro médico é de fundamental importância quando se pensa em segurança. 

 

O posto médico é mantido semi-equipado, mas sua demolição e a construção de um novo é uma das prioridades da AGA.

 

Antes de irmos para a pista, Tata nos mostrou mais uma série de fotos históricas do anos 70. Pedimos que ela as guardasse com muito carinho, que não emprestasse a ninguém (hoje se faz fotos das fotos com enorme perfeição) que a história do autódromo tem que ser preservada. Ela falou com muita emoção sobre o criador do autódromo, Dr. Nelson Barro, de sua dedicação e de hoje ele estar com a saúde muito comprometida e sem condições de se deslocar até o autódromo para ver o trabalho dos dedicados membros da associação que ele criou. 

 

A pista. 

 

 

A reta dos boxes é larga, longa... e irregular. Muitos remendos, muito desgaste e muita irregularidades.

 

Seguindo a informação do Ricardo Maurício nos deu quando perguntamos sobre as placas de concreto com fraturas em Curitiba (que a reta pode ser até de barro), começamos pela reta... que tem uma boa extensão e uma largura de 17 metros. Percebemos que os guard rails tem apenas duas laminas ao invés de três como em autódromos mais modernos. Isso propicia que a barreira delimitadora da pista fique um tanto quanto baixa, especialmente para um caminhão e sendo Guaporé a “casa” da Fórmula Truck, uma lâmina a mais seria um fator tranquilizador para pilotos e público. O asfalto, como já havíamos sido alertados, está bastante prejudicado, com diversos remendos e algumas infiltrações. Um carro de turismo ou os caminhões podem até conseguir absorver as irregularidades, mas para um monoposto, é um massacre às colunas dos pilotos.

 

A curva 1 levantou uma questão interessante: a drenagem funciona? O bueiro na grama parece estar ok.

 

A aproximação da primeira curva faz o coração do mais frio dos pilotos disparar. A curva tem uma inclinação de mais de 10º e um raio amplo que permite um ataque mais veloz do que o que normalmente se faria.

 

A solução de segurança da curva 1 pode passar por uma cópia do utilizado em circuitos ovais, desde que aprovado pela CBA. 

 

Contudo, a área de escape entre o limite superior da curva e a barreira de pneus, postada junto ao muro é de pouco mais de dois metros... além disso, a barreira de pneus não tem tela de proteção após as fileiras entre a pista e o muro. 

 

As curvas de Guaporé mostram uma inclinação acentuada, propiciando o contorno em maior velocidade. 

 

A tomada da curva seguinte, para direita, também tem uma grande inclinação e possui a barreira de pneus com apenas uma fileira (o que podemos ver em todo o autódromo) não seria um problema muito grande devido a quebra da velocidade na curva um. 

 

A amarração dos pneus está em péssimas condições, quando não, simplesmente não existe. Um perigo extra para os pilotos. 

 

Com a inclinação tão grande e as zebras internas bem altas, foi impossível não pensar em como seria a drenagem em caso de chuva, apesar de termos visto os bueiros nas partes mais baixas do muitíssimo bem cuidado gramado das áreas internas do belíssimo autódromo. Na saída da curva 2 uma “lavadeira” corrugada propicia um apoio extra. 

 

Na passagem sobre o túnel, um remendo de cimento foi feito no asfalto, além disso, um risco extra na passagem. 

 

A curva do túnel tem um risco a mais antes da sua chegada. É exatamente no dito túnel que há um “dente” de uns 70 centímetros de concreto para dentro da pista. Mesmo protegido com uma coluna de pneus, poderia ser eliminado com uma elevação de uma “hipotenusa” para eliminar o ângulo reto.  

 

A veloz curva do túnel segue a mesma linha da curva 1: inclinada, com uma drenagem no gramado interno e sem escape! 

 

A curva em si é mais uma das empolgantes curvas criadas pelos construtores do autódromo. Mais de 10º de inclinação e um convite a fazê-la o mais rápido possível. Sua saída é rápida e leva a curva do Radiador, onde na abertura do campeonato da Fórmula Truck de 2009 o Danilo Dirani “voou” por sobre o muro e caiu de uma altura de mais de dois metros... pela televisão a altura parece maior, mas o susto deve ter sido grande. Ali o muro deve ser refeito ou elevado para ser compatível com uma corrida de caminhões. 

 

A curva do radiador vai receber um novo muro, mais seguro, para evitar acidentes como o de Danilo Dirani em 2009. 

 

 

Saindo do radiador, vai-se para o “S” e depois para a curva de acesso a reta dos boxes. Esta parte é a menos veloz do circuito e seu grande ponto está fora da pista. Ali fica a cabana, como chamam os habitantes da cidade. Trata-se de uma casa onde ao lado ficam duas caixas d’água, abastecidas por uma fonte de água mineral. A cabana fica no alto de uma encosta suave e nessa encosta fica um dos acampamentos de torcedores que vem aos eventos.  

 

A entrada do "S" tem o asfalto bem desgastado. estas são as curvas de menor inclinação do autódromo. 

 

Em Guaporé a torcida acompanha todo o final de semana do evento com o melhor estilo gaúcho, passando três, quatro, cinco dias acampada no entorno do autódromo e interagindo com a cidade, o circuito, os pilotos e todo o pessoal de bastidores das provas.  

 

A curva de acesso à reta dos boxes tem tela de proteção... mas só no final, começando a reta.

 

Voltando a pista, saindo do “S” vamos para a última curva, que leva de volta a reta dos boxes. Assim como a curva 1, tem raio longo, uma boa inclinação e quase nenhuma área de escape. Apesar da velocidade ali ser menor, foi lá que encontramos os maiores problemas.  

 

Aqui, além de não ter muro, o guard rail está em péssimo estado. Só há uma fileira de pneus e as estacas tem que ser trocadas. 

 

Não há um muro após a barreira de pneus e sim um guard rail de apenas duas lâminas, cujo a fixação está péssimas condições, feita com arame em estacas de madeira em estado de degradação. Aquele ponto tem um grande desnível após o guard rail e seria muito complicado o aumento da área de escape. 

 

Talvez a solução de segurança para Guaporé precise ser uma alternativa: muro de concreto com sustema de absorsão de impactos como os dos circuitos ovais, mesmo que seja um sistema semelhante ao de Jacarepaguá, com uma barreira dupla de pneus e com o revestimento de vinil. Contudo, que se use o sistema de fixação por parafusos ao invés de cintas nos pneus. Contudo, este é um ponto a ser estudado e analisado pelos membros da CBA. 

 

A entrada dos boxes foi modificada, para ficar mais lenta. o sensor de velocidade fica logo no início. 

 

Entrando na reta dos boxes, vemos a esquerda a rápida entrada dos boxes, que foi modificada para reduzir a velocidade de chegada dos carros ao pit lane. O asfalto ali está completamente degradado.  A saída dos boxes também está assim e, assim como a entrada, a saída é bem rápida e com um bom espaço de reta antes de chegar à curva 1. Assim completa-se a volta de 3.080 metros deste empolgante circuito que, quando receber sua nova cobertura asfáltica, voltará a ser um dos mais prazerosos para os pilotos e para os fãs do esporte a motor, independente do número de rodas! 

 

A faixa dos pits é estreita, o asfalto em certos pontos está péssimo e os boxes estão pequenos para os dias de hoje. 

 

Como sempre fazemos, iríamos buscar a palavra do administrador do autódromo após o almoço – ainda eram 12:30hs e não acabamos encontrando um pouco mais da maravilhosa interação entre comunidade e autódromo ao ver em dois quiosques – um perto do portão e outro perto da piscina – fazendo aquele tradicional churrasco como só os gaúchos sabem fazer. Aproveitamos para divulgar o site, o trabalho dos colaboradores e – claro, vivenciar um pouco da hospitalidade de uma cidade que muito nos encantou.  

 

O dia de sol convidava a todos para um banho de piscina e um churrasco com os amigos. A AGA é diferente de tudo! 

 

Sob as árvores dos quiosques e com o maravilhoso aroma daquele churrasco nos despedimos do autódromo e retornamos para a cidade para ouvir o Sr. Dilvo Luiz Salvi, Presidente da AGA. 

 

Com a palavra, o Presidente. 

 

NdG: O autódromo de Guaporé pertence ao município. Como surgiu esta parceria entre a Associação Guaporense de Automobilismo e o governo municipal para a gestão do autódromo? 

 

"Manter a obra idealizada por nosso fundador, Nelson Luiz Barro é antes de tudo um trabalho de doação". 

 

Dilvo Salvi: Foi um acordo onde temos por comodato a gestão do autódromo e que nós prestamos conta ao município do que fazemos, do que é preciso ser feito, de como vamos trabalhando e assim vamos fazendo o que é possível para fazer o que se pode fazer de melhor.

 

NdG: Quando fizemos nosso primeiro contato com a AGA, o senhor sugeriu que fizéssemos esta matéria após a eleição para a nova administração da Associação. Contudo, o senhor acabou sendo reeleito. O senhor achava que não o seria? O senhor não era candidato? 

 

Dilvo Salvi: Dois anos atrás eu fui eleito para tentar sanear as dívidas e organizar as coisas. Eu não sou uma pessoa do automobilismo, meu irmão foi residente da AGA e eu vim para cá para tentar tirar a gente do vermelho, graças a Deus conseguimos e hoje temos até um caixazinho. 

 

NdG: Chamou-nos atenção este detalhe específico do site da AGA: os senhores colocam a prestação de contas aberta para que todos possam ver o que se gasta e o que se arrecada. Isso é fantástico e é de uma transparência que não vimos até agora nos demais. Sem querer diminuir o trabalho dos outros administradores, mas expor as contas abertamente é uma forma muito interessante de permitir que a comunidade saiba quanto custa e como é difícil fazer um autódromo funcionar. Isto foi uma idéia sua? 

 

Dilvo Salvi: Começamos isso há dois anos por acharmos que a comunidade deveria saber exatamente como as coisas estavam e o que fomos fazendo para poder recuperar a saúde financeira da AGA e do autódromo. 

 

NdG: Este superávit que vem sendo conseguido, é suficiente para manter o autódromo? 

 

Dilvo Salvi: É difícil. Temos que fazer milagre para poder manter a pequena estrutura funcionando. E para fazer isso, fazemos de tudo... alugamos para shows, exposições, eventos de carros, motos, caminhões, arrancadas... Nós temos hoje 280 sócios e uma receita fixa de cinco a seis mil reais para uma despesa fixa de 15 mil! 

 

NdG: Estes 10 mil reais mensais de defict são compensados como? 

 

Dilvo Salvi: É aí que entra a nossa luta para realizar eventos. São nos eventos que buscamos a renda extra para cobrir a diferença e até conseguir ter um caixa. 

 

NdG: Em termos de evento de corridas, qual a maior dificuldade em se trazer um evento de automobilismo para Guaporé? 

 

Dilvo Salvi: Sem dúvidas é o estado da nossa pista. O asfalto precisa ser refeito para que possamos ser uma praça atrativa. 

 

NdG: Existem planos, perspectivas, possibilidades de que se possa ter este serviço executado aqui no autódromo? 

 

"Quando assumimos, pegamos a AGA com um grande defict. Em 2 anos, conseguimos pagar as dívidas e ter algum em caixa". 

 

Dilvo Salvi: Estamos com um pedido em tramitação no governo federal para conseguir a liberação de recursos para fazer a obra. 

 

NdG: Tem momentos que o senhor acha que está travando uma luta inglória, que por mais dedicação que o senhor dê o retorno sempre fica aquém? Isso pesou em sua decisão de não continuar e/ou, posteriormente, em continuar? 

 

Dilvo Salvi: É uma luta difícil. A Rosane (Rosane Balpian) que está na AGA há 15 anos e mais a nossa diretoria tem se esforçado muito e realmente, as vezes dá um desânimo, mas não desistimos e continuamos, mesmo sendo poucos, mas continuamos e como teremos um apoio maior do poder público para agora em diante, estamos mais animados. 

 

NdG: Outro aspecto interessantíssimo que vimos aqui foi a integração do autódromo à vida social da cidade, como um clube, com quiosques, piscina, as pessoas podendo usar a pista para fazer caminhadas, correr a pé ou de bicicleta. Como se deu este feito tão singular? 

 

Dilvo Salvi: Foi uma forma de procurar fazer a cidade e o autódromo se integrar. Nossa cidade é pequena, tem pouco mais de 20 mil habitantes e criar um espaço de lazer de socialização é algo importante. Nós buscamos com a AGA criar este espaço através do autódromo, da piscina, das churrasqueiras... o campinho de futebol logo vai estar pronto também. 

 

NdG: O que é preciso para ser sócio da AGA? Precisa ser piloto? 

 

Dilvo Salvi: Não, não precisa. Basta vir aqui, procurar a Rosane e fazer sua filiação. 

 

NdG: Quantos funcionários tem hoje na administração e manutenção do autódromo e do clube da AGA? 

 

Dilvo Salvi: são ao todo 5 funcionários, todos funcionários da AGA. 

 

NdG: Como é o procedimento da AGA quando vai acontecer um evento aqui no autódromo? Como funciona a Associação neste momento? 

 

 

"Para fazer renda e pagar os custos de manutenção, fazemos tudo: shows, feiras, encontros de motos... os sócios só não bastam". 

 

Dilvo Salvi: Depende do tipo de evento. Se é uma locação, Quem aluga o espaço vai estar arcando com toda a estrutura para o evento que vier realizar. Se for um evento que a AGA estiver à frente dele, aí nós cuidamos de tudo: Bandeirinhas, limpeza, secretaria, equipamentos, tudo é conosco.  

 

NdG: Em eventos grandes como a F. Truck ou o Brasileiro de Marcas, como funciona?

 

Dilvo Salvi: No caso da Fórmula Truck é uma parceria. Parte é da organização, parte somos nós que fazemos em troca de um valor que acertamos com eles. 

 

NdG: O que nós vimos na parte de visita à pista foi um asfalto muito desgastado, com diversos remendos, “bumps”... existe a possibilidade de Guaporé vir a receber um recapeamento completo. Como e quando isso se daria? 

 

Dilvo Salvi: Caso tudo saia de acordo com o esperado, seria após a etapa da F. Truck. 

 

NdG: Quanto tempo de obra? 

 

Dilvo Salvi: Duas semanas. 

 

NdG: Só duas semanas para fazer toda a pista? 

 

Dilvo Salvi: Nossa base é muito boa, o asfalto da construção da pista foi muito bem feito, caso contrário, não estaria aí até hoje. O que precisa ser feito é a raspagem, o nivelamento e a colocação da camada asfáltica nova. Nos poucos pontos onde há infiltração, retirá-la, refazer a base e colocar a camada nova. O segredo está na base ser bem feita. 

 

NdG: Em quanto está orçada a obra? 

 

Dilvo Salvi: Em um milhão e meio de reais. 

 

NdG: O outro aspecto da pista, que é fascinante, desafiadora, com curvas empolgantes, é a questão da segurança, que veio ganhando mais e mais importância ao longo destes anos e que, em termos de exigências dos dias de hoje, Guaporé deixa a desejar. Tem como melhorar, criar áreas de segurança nas curvas mais críticas como a 1 e a do túnel? Tem como melhorar a curva do Radiador? 

 

Dilvo Salvi: Estamos buscando atacar um problema por vez. O primeiro é a pista. O asfalto. Depois disso vamos ter que trazer gente que conheça, que entenda e que possa nos apresentar soluções para as áreas de escape, daí só vai ficar faltando a verba para fazer! No caso da curva do final da reta, pode se antecipar a curva e fazer com o mesmo contorno, só que um pouco antes e aí usar a curva antiga para servir de área de escape. 

 

NdG: Seria uma alteração de tamanho de pista também neste caso... não tem como fazer isso para fora? 

 

Dilvo Salvi: O problema é que, neste caso, o tamanho de um aterro seria de um custo muito alto. Ali há um desnível depois do muro e da barreira de pneus muito grande. 

 

"Os problemas são muitos. A pista é o maior deles, mas a lista de serviços inclui a segurança e novos boxes e posto médico". 

 

NdG: Falando em barreira de pneus, pudemos constatar que estas barreiras não relativamente pequenas em relação a outros autódromos e outras curvas, principalmente as de alta. Além disso, em alguns pontos não há nem amarração, os pneus são colocados de forma trançada. Vocês já tiveram contato com alguém sobre as barreiras de pneus presas por parafusos? 

 

Dilvo Salvi: Não. Não conheço este sistema. 

 

NdG: Ele é encontrado no autódromo de Curitiba e possibilita uma maior integridade da barreira, permitindo uma maior integridade da barreira em caso de impacto... 

 

Dilvo Salvi: Tem alguns aspectos novos de segurança que o nosso autódromo tem deficiências. Seria importante podermos trocar mais informações com as pessoas que conhecem do assunto para poder nos ajudar nisso. Sabemos que esta defasagem é grande e que nós precisamos nos atualizar... a lista de melhorias a fazer é grande e estamos fazendo o que podemos no momento. 

 

NdG: Então a “lista de serviços” a fazer inclui o que mais? 

 

Dilvo Salvi: Além do asfalto e da melhoria da segurança na pista, temos em pauta um novo ambulatório, uma nova torre de controle e a modernização dos boxes... mas tudo isso depende de verba. A Fórmula Truck vai fazer um novo muro com cerca de 300 metros lá na curva do radiador, mas são eles que estão fazendo isso em oferta para nós porque o Aurélio (Aurélio Batista Felix, criador da categoria) dizia que Guaporé era a casa da Truck. 

 

NdG: Foi feito o orçamento destes outros serviços? 

 

Dilvo Salvi: Ainda não. Por enquanto nós fizemos o pedido aos nossos apoiadores no governo para tentar a aprovação. Em conseguindo este retorno, daí orçamos a obra. 

 

NdG: Vimos que as zebras internas das curvas são bem altas, bem para desestimular os pilotos a querer fazer delas “parte da pista”... e com a inclinação que elas tem, nem precisaria. Mas, e a drenagem em caso de chuva? Vimos os bueiros na parte gramada interna. Como está a drenagem? 

 

Dilvo Salvi: Funcionando muito bem. Ano passado, inclusive, tivemos uma etapa do brasileiro de motovelocidade que choveu muito e não ficou nem uma poça, nada, na pista. A prova foi até interrompida, mas não por questão de água na pista. 

 

NdG: A administração do autódromo, como o senhor falou, é em comodato. Mas, no caso de haver esta harmonia tão grande entre a administração da cidade e a AGA, há alguma outra colaboração por parte da prefeitura a nível de liberação de encargos, benefícios ou alguma outra coisa? 

 

Dilvo Salvi: A prefeitura costuma ceder-nos uma UTI Móvel para os eventos. Nós só pagamos o motorista e o médico. Neste ano de 2010, pela primeira vez, nós vamos receber uma ajuda em recursos por parte da prefeitura. Serão 30 mil reais em março. A gente precisaria muito mais, claro, mas é uma ajuda e nó vamos procurar fazer o máximo com esse dinheiro. 

 

Rosane Balpian: "Um problema está ocorrendo é o aumento das pista no estado... é muito autódromo num estado só". 

 

NdG: Como está a relação da AGA com a Federação Gaucha e com a CBA? Está havendo um trabalho em harmonia? 

 

Dilvo Salvi: Sim, bastante. Nossa relação com a federação e com a CBA são as melhores possíveis. A gente até tem uma postura bem serena por estarmos com a pista no estado que está, mas quando estivermos com o asfalto novo, iremos buscar mais eventos para a cidade. 

 

NdG: O que já está agendado no calendário para 2010? 

 

Dilvo Salvi: Temos a Fórmula Truck, dia 7 de março, temos uma etapa do brasileiro de motovelocidade. O calendário regional nós só vamos montar depois do recapeamento.  

 

NdG: Como vocês analisam a chegada de mais uma pista como a moderna pista do Velopark ao cenário do automobilismo gaucho? 

 

Dilvo Salvi: Se por um lado é bom, por outro, para não não é tanto. Guaporé fica longe dos grandes centros, é uma cidade pequena e com outras tantas pequenas em volta. Temos poucos hotéis e isso é um problema, pois não tem como hospedar todo mundo num evento grande. Algumas categorias dizem que não termos um heliponto para termos como levar um acidentado para outra cidade é um problema também... temos muita coisa para fazer. 

 

NdG: A AGA é uma associação e sua diretoria são pessoas que trabalham remuneradas ou são todos voluntários? 

 

 

"Este ano, pela primeira vez, vamos receber uma ajuda financeira do município. É pouco, mas vamos fazer render ao máximo". 

 

Dilvo Salvi: Este é outro ponto que temos que considerar. Não é fácil dedicar anos de sua vida e diversas horas do dia, todos os dias, praticamente, sem remuneração. As pessoas que estão na AGA não recebem nada por isso, nem o combustível de ter que ir e voltar diversas vezes ao autódromo nós pedimos reembolso. Assim, tem que haver um rodízio de pessoas na AGA para que não fique tudo sempre nas costas da mesma pessoa ou das mesmas pessoas. 

 

NdG: A AGA consegue alguma ajuda ou incentivo fiscal para reduzir seus custos? 

 

Dilvo Salvi: Nenhum. Só este ano que teremos a verba da prefeitura, mas do estado, da união, nada. 

 

NdG: Mas a AGA tem na Fórmula Truck uma grande parceira, não? 

 

Dilvo Salvi: Nós temos uma gratidão muito grande pelo Aurélio e pela Neusa por tudo que eles vem fazendo por nosso autódromo, ano após ano ele sempre fazem algo para melhorar nossa condição e nós temos o maior prazer em recebê-los aqui na cidade e a vinda deles é uma das nossas maiores festas no ano. 

 

NdG: E nós temos uma gratidão enorme pela hospitalidade com que fomos recebidos e só temos a aplaudir a dedicação dos membros da AGA que não desistem de fazer de Guaporé um dos mais importantes centros do nosso automobilismo.

 

 

 

Last Updated ( Monday, 18 January 2010 16:54 )