O Big Brother da CBA (2ª Parte: Promotores e Chefes de Equipe) Print
Written by Administrator   
Tuesday, 26 February 2019 00:34

Na penúltima etapa da Stock Car em 2018, em Goiânia, as câmeras de TV mostraram uma novidade para o público e que nós apelidamos de “o Big Brother CBA”. A partir desta etapa os comissários técnicos passaram a utilizar câmeras para registrar imagem e vídeo se seu trabalho e de como seriam as relações com chefes de equipe, mecânicos e pilotos das equipes.

 

 

 

Além disso, os ‘briefings’ da direção de prova com os pilotos também seriam gravadas, bem como todas as imagens da torre de controle, com áudio e vídeo de todos os treinos, corrida e diálogos com pilotos ou chefes de equipe que forem até lá.

 

Não bastasse, pelo regulamento particular da competição ficou estabelecido que, em caso de investigação, as conversas entre piloto e equipe também seriam disponibilizadas.

 

Colocado em prática no final da temporada de 2018, este procedimento será implementado em todas as categorias nacionais a partir de 2019. O que será que os Promotores de Categoria e Chefes de Equipe pensam desta novidade que, pela CBA, chega para ficar?

 

Amadeu Rodrigues – Proprietário da Equipe Hot Car na Stock Car e Mercedes Challenge

Eu acho que eles (a CBA) estão indo por um caminho que é o que existe na Europa e nos Estados Unidos. Na NASCAR o telespectador escuta a conversa da equipe com o piloto, podem ver a câmera on board do piloto se tiver um equipamento para isso, são coisa que não temos aqui.

 

Para mim eu não acho ruim essa decisão da CBA. Quando você trabalha dentro das regras, sabe agir como um profissional deve agir, não tem com o que se preocupar. Algumas coisas, no entanto, tem que ter muito cuidado. Por exemplo: se eu estiver traçando uma estratégia de corrida diferente, eles não podem deixar este áudio vazar e as outras equipes ficarem sabendo. Salvo isso, eu acho que é uma evolução.

 

Existem muitas contradições nas punições tanto para o lado deles tanto para o nosso lado. Então, se minha equipe for punida e eu não tiver razão, a câmera vai registrar tudo e eu vou ser punido corretamente. Se eu estiver certo, eu vou ter como protestar e me defender usando as próprias imagens da CBA. Então eu não acho isso ruim, não.

 

A CBA tem que se preparar muito bem para fazer isso assim como nós temos que estar preparados também. Eu já passei por situações onde, se tivesse uma câmera gravando, ia mostrar que eu estava certo e o comissário errado. Eu tenho certeza que nessa evolução que o automobilismo está passando, todos nós temos muito o que aprender e a ganhar.

 

Carlos Col – Promotor da Copa Truck e Conselheiro da VICAR

Eu acho que a credibilidade é a chave de qualquer negócio, muito mais em uma competição onde temos diversos fatores envolvidos, onde há muito investimento envolvido, com diversas empresas de grande porte e renome, nacional e internacional expondo suas marcas em imagens de televisão, em mídias e redes sociais pela internet.

 

Todos estas partes envolvidas estão buscando o melhor resultado e o órgão fiscalizador que é a Confederação Brasileira de Automobilismo precisa garantir a transparência e tudo aquilo que pode ser feito para agregar transparência, vai ter sempre o meu apoio e esta iniciativa da CBA eu tenho visto como algo interessante.

 

Espero que a iniciativa tenha sucesso e que seja usada de forma sábia e correta, que os comissários estejam bem preparados para desempenhar o seu papel e que os profissionais do automobilismo também façam o seu trabalho de forma profissional.

 

Djalma Fogaça – Proprietário da equipe DF Motorsports na Copa Truck

Hoje eu entendo que antigamente eu ia contra muita coisa. Hoje eu acho que tudo faz parte do sistema. Você não pode chegar no avião e falar para a aeromoça que sabe que a saída lateral é aqui, que vai cair a máscara... faz parte do sistema aquilo lá. Mesmo ela sabendo que todo mundo no avião já tenha viajado várias vezes, ela tem que fazer aquela apresentação dos equipamentos.

 

No “briefing”, aqui no autódromo. Porque você vai no “briefing”? Eles falam sempre “essa faixa aqui é prá andar no máximo a 80. Nos boxes é 50”, é parte do sistema. O governo mudou, temos um novo presidente, mas o sistema está lá. O que ele vai fazer, o que todos tem que fazer, é seguir o regulamento que está lá escrito.

 

Se você está aqui pra correr, você não vai correr? Se levam este assunto para um patrocinador, você vai levar e ele, como um grande empresário, vai ouvir, vai analisar e se quiser participar, vai seguir o sistema. Mas o que é o sistema? Na minha cabeça é isso. Agora isso faz parte do sistema e não tem o que fazer. Se é pra ser assim, a gente vai assim.

 

Dener Pires – Promotor da Porsche Cup no Brasil

Talvez eu dissesse num primeiro momento que é desnecessário. Porque, desde que a autoridade seja competente para analisar e dar seu veredito, este deveria ser acatado pelos pilotos. Mas a gente sabe que nem sempre isso acontece e também sabemos que as vezes os pilotos tomam algumas medidas, atitudes, descabíveis.

 

Então acho que é uma iniciativa válida, uma vez que tudo estará gravado e contra fatos não há argumentos, nesta hora eu falo para as pessoas aqui na nossa categoria: se o objetivo é fazer o que é correto, ter tudo o que for feito gravado e que todos possam ter acesso a este material.

Na nossa categoria todos os carros tem câmera on board e todos os dados do sistema de aquisição de dados está sempre colocado à disposição da CBA e dos pilotos para qualquer apuração, investigação e penalização, independente de quem for ou esteja envolvido. Isso está sempre disponível.

 

Quanto a gravação de “briefing”, de torre, de secretaria, é vejo isso como uma garantia, uma proteção que a CBA está tomando para poder se resguardar de atitudes intempestivas por parte de quem for chamado até lá. É uma medida que pode ser valida, sim.

 

Juliano Moro – Proprietário da Equipe JMR no Brasileiro de Endurance

 

Para mim é uma grande novidade mesmo, estou sabendo desta decisão da CBA por vocês do site Nobres do Grid. Não fomos comunicados (até final de dezembro) na categoria de endurance sobre este procedimento que vai ser adotado a partir de 2019 e eu penso que isso deveria ter sido comunicado ao promotor, às equipes e aos pilotos da categoria.

 

Eu não gosto desta coisa de “big Brother” e eu me sinto de certa forma invadido. Não sei o que está levando a Confederação a tomar esta atitude e se ela se faz realmente necessária, mas de surpresa, assim, é difícil se colocar, ter uma opinião formada de imediato, mas eles devem ter motivos para fazer isso e devem acreditar que isso vai ajudá-los em algum aspecto. Em todo caso, eu vejo como um pouco constrangedor.

 

 

Mauro Vogel – Proprietário da Equipe Vogel Motorsports na Stock Car

Eu vejo isso com bons olhos, desde que as equipes também tenham direito a esta gravação. Se eu questionar a CBA por alguma decisão tomada por um de seus representantes e que tenha havido uma orientação diferenciada do “briefing”, esta informação deve servir para todas as partes e não ficar sob o monopólio da Confederação. Se for um caminho de duas vias, eu acho ótimo.

 

Conversa de piloto com equipe, também é ótimo, acaba com algumas dúvidas que ficam, tipo: algum piloto fez alguma coisa para favorecer outro da mesma equipe. Com tudo gravado, se alguma atitude antidesportiva for tomada, vai ficar registrado, não vai ter “disse-me-disse”. Neste caso, também, tem que ser algo aberto para as equipes e não ficar apenas de posse da CBA.

 

O que acontece é que muitas vezes eles falam uma coisa e depois vem dizer que não foi bem aquilo o que eles falaram. Não é que isso aconteça sempre, mas é algo que já aconteceu e se tem  áudio, tem a imagem, não vai haver contestação, seja da parte deles, seja da nossa parte, desde que ambos tenham acesso as mesmas informações. Eu acho isso ótimo.

 

Renato Martins – Proprietário da Equipe RM Competições na Copa Truck

Na realidade, eu acho que tudo o que vem, vem para ajudar. Agente, aqui na nossa categoria, quando o diretor de prova vem falar com a gente no rádio, direto no piloto e nos boxes. Um exemplo. Vem a mensagem: “número 9, fumaça”. Isso vem em todos os rádios dos pilotos, vai no rádio do chefe dos mecânicos e sai no alto falante. Daí eu sei, todo mundo sabe, que estou com excesso de fumaça.

 

Eu acho que essa iniciativa só tem a somar. Isso vai aproximar o pessoal dos boxes dos comissários, vai ter mais sintonia, mais entendimento e como vai estar sendo tudo gravado, mesmo na hora de um discordar do que o outro está dizendo, vai haver um tratamento mais correto, não vai ter aquilo de um disse e o outro não disse, isso vai deixar tudo mais claro e por dois lados.

 

Eu tenho para mim que isso vai corrigir falhas que aconteceram no passado e que com isso não vai ou não deve mais acontecer. Vai ser bom para todos na Copa Truck e em todas as categorias.

 

Serafin Junior – Chefe da Equipe W2/CIMED na Stock Light

Eu acho que é uma boa ideia porque muitas vezes ali no ‘calor’ da decisão rápida tanto um membro de equipe como um delegado da CBA falam coisa que depois realmente nem lembram. Não estou nem colocando a questão de se falar certo ou se falar errado, mas de não se escolher bem as palavras e nem o tom com que se fala.

 

Com a efetivação deste sistema isso vai acabar. Não vai ter mais aquela coisa de “eu não falei” e do outro lado o “sim, você falou”. E isso vai ser bom para que venha a haver um controle mais rigoroso, um aumento no respeito, no tratamento, tanto das equipes com os comissários quanto com os comissários para com os integrantes das equipes. Porque a gente sabe que há exageros dos dois lados e eu já vi acontecer... dos dois lados.

 

Eu nunca vi este tipo de procedimento em nenhum lugar em outra categoria fora do Brasil. Eu vi os comissários testando isso no ano passado, de início achei meio estranho, mas depois de ver como as coisas iriam funcionar, acho que vai ser bom.

 

William Lube – Chefe da Equipe CIMED na Stock Car

Isso tem a ver com o que aconteceu com a gente no Velocittà, quanto tivemos dois problemas com a luz de freio. O Marcos [Gomes] nós chamamos o piloto para Box e ele acabou deixando a corrida. No caso do Cacá [Bueno], o comissário veio falar comigo no intervalo entre as baterias e perguntou se havia um problema com o carro dele. Foi até o carro e constatou que a luz não estava acendendo. Pediu que tirássemos o carro do grid para ser reparado no Box e fizemos isso. Fizemos funcionar e mandamos o carro de volta pra pista.

 

A largada já tinha sido dada e para ele não perder a volta do líder, mandei sair. Daí o comissário mandou que ele voltasse para o Box porque ele não tinha autorizado o retorno, que não tinha verificado se o problema tinha sido resolvido. Eu perguntei onde estava escrito isso e disse que ele podia ver, na pista, se a luz estava funcionando ou não. Ele exigiu a entrada do carro nos boxes e tivemos que fazer isso. Com isso o carro veio pra Box, ele viu a luz funcionando e só aí liberou para voltar pra pista. Nisso perdemos a volta do líder e acabou nossa corrida.

 

A CBA foi na tecla de que havia um problema na luz de freio, e no conceito isso estava errado. Ele podia muito bem ver se a luz estava funcionando ou não, com o carro na pista, como ele viu no carro do Marcos [Gomes]. Mas ele exigiu a entrada do Cacá [Bueno] ao Box. Comissário está na corrida para julgar de acordo com o regulamento, não para julgar com seu próprio ego. Eu acho que esta coisa de câmera e gravação seriam desnecessários. Bastava que a gente tivesse atitudes coerentes e decisões justas. Mas se para que isso aconteça vai ser preciso filmar tudo, que assim seja. 
Last Updated ( Tuesday, 26 February 2019 00:59 )