Lázaro e o pior dos mundos Print
Written by Administrator   
Wednesday, 30 January 2019 19:59

Caros Amigos, eu não poderia de iniciar minha coluna sem partilhar a enorme dor que todos nós, mineiros, e qualquer brasileiro com o mínimo de sentimento  está passando com a tragédia acontecida aqui em Brumadinho.

 

Lembro das inúmeras vezes que fui àquela região, que estive no Instituto Inhotim, das vezes que levei meus filhos até lá... tenho chegado em casa e evitado os canais de notícias, que estão cobrindo praticamente em tempo integral as operações de buscas e resgate dos corpos – ou pedaços destes – em meio a lama, destroços e vegetação arrancada pelo tsunami de lama. O sentimento de revolta por toda a negligência em todos os níveis de autoridade neste país são uma vergonha para o mundo.

 

Feito meu preâmbulo, preciso respirar fundo, pelo menos até onde meu pulmão permite, e abordar o assunto desta semana. Já faz um bom tempo que não escrevo sobre Fórmula 1, numa época de poucas notícias visto as definições relativamente precoces sobre a grande dança das cadeiras que aconteceu nas equipes e seus novos pilotos (alguns não tão novos) que iniciarão a temporada com um carro que sofreu interessantes alterações em seu regulamento sobre aerodinâmica e onde, espero, seja possível propiciar um cenário de disputas mais interessantes e envolvendo mais participantes.

 

Desde que o Grupo Liberty Media passou a ter o controle da Fórmula 1, alguns pontos interessantes tiveram progresso. É difícil precisar até onde as coisas foram feitas de forma programada ou até onde foram circunstanciais (o exemplo do torcedor mirim da Ferrari em prantos na arquibancada ao ver seu piloto favorito, Kimi Raikkonen, abandonando a prova no início do GP da Espanha de 2017 e o mesmo ter sido levado para o Paddock e ter encontrado seu ídolo foi uma dessas coisas que pareciam ser impensáveis nos tempos do comando de Bernie Ecclestone.

 

Há que se considerar que, nestes dois anos de Grupo Liberty Media foi revertida a queda constante de audiência na televisão no mundo inteiro, com dois anos de crescimento consecutivo, de acordo com o documento publicado pela divisão de marketing da empresa que apontou ter havido 490,2 milhões de espectadores únicos assistindo as corridas e treinos no ano passado. Esse montante corresponde a um aumento de 10% em relação a 2017, que já havia conquistado um aumento na audiência. O público acumulado no mundo subiu para 1,7 bilhão de telespectadores em 2018, com um surpreendente primeiro lugar de público no Brasil, que justamente neste ano ficou sem nenhum piloto na categoria.

 

Apesar deste número positivo, que certamente alegra a equipes e – principalmente – patrocinadores, a harmonia está longe de ser algo visto entre a atual gestão da categoria, as equipes que disputam o campeonato e os promotores de Grandes Prêmios. O principal ponto em questão é a quantidade de corridas no calendário, que chegou a 21 e tem previsão de crescimento, com a entrada do GP do Vietnã e o acalentado sonho de uma segunda corrida nos Estados Unidos sempre a espreita.

 

Em paralelo a isso, a associação dos promotores (FOPA) tem reclamado por não se sentir ouvida em questões como o movimento de saída da Fórmula 1 da TV aberta para canais por assinatura. Apesar do aumento na assistência televisiva, neste período a Itália, país de público apaixonado por velocidade, as transmissões dos GPs passaram da TV aberta para a TV por assinatura em 2018. Um documento assinado por 16 dos 21 promotores de corridas fez duras críticas a forma como o Grupo Liberty Media vem gerindo a relação com eles, onde a falta de colaboração e comunicação tem tornado a vida dos promotores mais difícil.

 

O ano de 2019 será um ano complicado na relação entre as entidades uma vez que é o ano de encerramento dos contratos com os GPs da Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha e México. Se para os mexicanos tudo parece correr bem e a festa por lá é sempre grandiosa, nos países europeus – especialmente na Alemanha e Inglaterra – as coisa podem ser bem complicadas. O contrato do GP Brasil termina em 2020.

 

Tal situação pode – e vai – criar novos pontos de desgaste entre os dirigentes do Grupo Liberty Media e os promotores das corridas nos diversos países envolvidos, algo que pode ter cosequências não muito agradáveis para os fãs do automobilismo e acabar criando possibilidades para que pessoas com visão aguçada possam tirar proveito da situação. Este é o caso de Bernie Ecclestone, que andou falando ao periódico inglês ‘Daily Mail’ que, se desejarem sua colaboração nestas negociações, ele adoraria fazê-lo. No final – ao seu melhor estilo – disse que não quer estar no leito de morte e ver ‘o esporte que criei’ (sic) indo ladeira abaixo! Até onde sei, a F1 nasceu em 1950. Ele já era adulto, mas não foi criador de coisa alguma àquela altura.

 

O mundo dos negócios é assim mesmo. Oportunidades se apreesentam de tal forma que mesmo pessoas que pareciam estar “fora do jogo”, podem encontrar um meio de ressurgir das cinzas, como a mitológica Fênix, e surgir brilhante, reluzente, revigorada e pronta para enfrentar um novo ciclo de desafios. Biblicamente, Bernie Ecclestone pretende ser como Lázaro, que retornou no mundo dos mortos. Acompanhemos de perto para ver se os dirigentes do Grupo Liberty Media não farão o papel de Jesus neste enredo e o trarão de volta à vida dentro dos escritórios de reuniões e nos paddocks pelo mundo.

 

Em tempo, Bernie Ecclestone tem um cargo que poderíamos chamar de “decorativo” no Grupo Liberty Media, depois da venda das ações que deram o controle das decisões à Chase Carey no final de 2016.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva