A dança das cadeiras... Print
Written by Administrator   
Friday, 12 July 2013 02:22

Caros amigos, o anúncio precoce da saída de Mark Webber da Red Bull e da Fórmula 1 desencadeou uma reação imediata. Afinal, trata-se de um lugar na equipe tricampeã do mundo, que conta com o grande projetista da categoria, que tem uma excelente estrutura e um orçamento folgado – coisa rara nos tempos bicudos em que vivemos.

 

A Red Bull tem um programa de formação de pilotos que passa por diversas categorias, desde o kart até a World Séries by Renault – categoria quase no mesmo platamar de importância da GP2 – caminho percorrido, por exemplo, pelo atual tricampeão do mundo, Sebastian Vettel.

 

O último estágio deste processo, pelo menos até o caso de Vettel, era ser piloto da “equipe B” dos energéticos – a Toro Rosso – por algum tempo até estar pronto e surgir a oportunidade para ser “promovido” ao time principal. Esta oportunidade, em teoria, chegou para o australiano Daniel Ricciardo e para o francês Jean Eric Vergne. Contudo, tudo indica que a escolha do piloto que será o companheiro do futuro tetra campeão da categoria não irá passar pela equipe-satélite.

 

Quando, quase na mesma linha de atitude, Kimi Raikkonen decidiu “trocar o conteúdo da garrafa”, chutando o balde na Ferrari e indo se ‘divertir’ no Rally por dois anos teve o apoio – leia-se patrocínio = dinheiro – da Red Bull. Seu retorno à Fórmula 1 no ano passado mostrou um Kimi ainda vencedor, ainda capaz de ser campeão do mundo e qual o melhor lugar, hoje, para se buscar um título? Exato!

 

A turma da ‘Nega Genii’, chefiada por Eric Boulier e que de bobos não tem nada, perceberam logo os movimentos da rival e procuraram reagir... mas reagir, como? A equipe não tem dinheiro para competir em termos de proposta financeira com o time austríaco. Está tentando convencer o finlandês com um ‘pacote técnico’ competitivo... mas além de ter perdido um de seus mais importantes membros deste corpo técnico, o projetista ...... , do ‘outro lado do front’ tem Adrian Newey!

 

Neste conto de fadas taurino, quem não deve ter final feliz é a dupla da Toro Rosso. Caso seja consumada a contratação de Kimi ‘tomotodas’ Raikkonen, eles vão ter que ficar aguardando uma futura oportunidade de subir e ainda estarão ameaçados pelos talentos emergentes do programa de formação de pilotos da Red Bull: o português Antônio Felix da Costa e o holandês Robert Frinjs, que hoje estão na World Series e na GP2, tendo o Frinjs sagrado-se campeão em 2012 na categoria onde hoje corre o lusitano.

 

Não acredito que as crianças de hoje ainda brinquem de ‘dança das cadeiras’ como brinquei na minha primeira infância. Para os que não sabem do que se trata, os participantes da brincadeira andam em círculos em torno de cadeiras... e tem sempre uma cadeira a menos. No caso da Fórmula 1, a brincadeira é a de correr para sentar na cadeira cobiçada... mas há sempre o risco de se levantar de onde está e, além de não se sentar onde quer, acabar ficando de pé, sem contar os casos onde o participante ‘cai da cadeira’ onde estava sentado.

 

Com a possibilidade de a cadeira vaga deixar de ser na Red Bull e passar a ser na ‘Nega Genii’, que ao contrário da equipe austríaca não tem um orçamento folgado, quem for pra lá, se for com dinheiro, será muito mais bem vindo... e é com isso que conta o ‘ás bolivariano’, Pastor Maldonado. Incomodado com a presença do protegido – e competente – valtery Bottas, o venezuelano parece disposto a investir os petrodólares de seu país em outra equipe... o que deixaria a Williams de pires na mão.

 

Contudo, a ‘Nega Genii’ não quer só dinheiro – como a Geni do Chico Buarque – e está mais para a música dos Titãs, ela quer dinheiro e felicidade. Para conseguir a segunda parte é preciso um piloto rápido, consistente e capaz de – pelo menos – manter o atual nível de competitividade da equipe, algo que o inconstante Romain Grosjean não parece ser capaz de fazer.

 

Quem tem surgido como nome forte para uma vaga que Kimi pode vir a abrir é o alemão Nico Hulkenberg. O piloto que já teve que ficar fora do grid por falta de patrocínio, quando perdeu a vaga na Willians para Pastor Maldonado, parece estar com a carreira melhor gerenciada (o manager é o antigo manager do Schumacher, Herr Weber), aquilo que faltava, uma vez que talento ele sempre mostrou ter.

 

Caso ele saia da Sauber, onde está, será na equipe de Peter e Monisha (ela tem 1/3 da equipe), vai ficar com uma vaga em aberto e o que tem vindo nos ventos que sopram da Europa é que a equipe talvez troque de mãos. Boris Rotemberg, um banqueiro russo, estaria disposto a comprar a equipe e ele teria como sócio Nicolas Todt, o filho de Jean Todt – presidente da FIA – e empresário de Felipe Massa, que anda em total descrédito por parte da imprensa e da torcida italiana/ferrarista.

 

Se no ano passado Felipe ‘salvou’ seu contrato “na bacia das almas”, este ano pode ser que o mesmo não aconteça. Depois de um bom começo de temporada, o brasileiro caiu muito de rendimento, vem errando constantemente, batendo e rodando em treinos e corridas. Mesmo que ele ainda reaja, a ‘campanha’ contra ele está ainda mais forte este ano e todos sabem o quanto a imprensa italiana consegue pressionar a casa de Maranello.

 

Caso abra uma vaga na Ferrari, a briga vai ser feia... todos querem uma chance numa equipe de ponta, mas quem teria cacife – e subserviência – para aceitar ser o companheiro de Fernando Alonso? Paul di Resta há anos clama por uma grande chance na vida. O escocês não digere até hoje o sucesso de Sebastian Vettel, piloto que ele derrotou na Fórmula 3, e que hoje é a estrela da Red Bull enquanto ele tem que correr e tirar leite de pedra na mediana Force Índia. Empresariado pelo pais de Lewis Hamilton, caso o ‘Macarroni’ não consiga renovar seu contrato, Di Resta pode ser uma opção interessante para a equipe a nível de ‘esquentar’ a rivalidade com Vettel.

 

Se isso acontecer, abre-se uma vaga na Force Índia... e haja especulação!

 

Enquanto isso, no balcão do cafezinho...

 

A dança das cadeiras não se limita as salas de reuniões ou mesmo os motohomes e paddocks por aí. Tem autódromo inteiro indo e vindo e nesta gangorra sem certeza do futuro esta o mítico Nurburgring.

 

Colocado à venda em maio último, caso o negócio seja concluído e o local passe para mãos privadas, não haverá nenhuma garantia de que o mesmo possa continuar existindo.

 

Em 1984 o autódromo passou por uma grande reforma, sendo feita a pista onde nos anos 90 correu-se o GP da Europa por longo tempo e depois o circuito passou a revezar o GP da Alemanha com Hockenheim. Os investimentos continuaram até 2009, quando foi concluída uma grande obra de modernização que incluiu a construção de novos prédios para o funcionamento de centros comerciais, hotéis e um parque de diversões – apelidado de NüroDisney – com uma montanha russa à margem da reta dos boxes da pista. Entretanto, essas obras levaram a empresa Nürburgring GmhB, de propriedade do governo do estado de Renânia-Palatinado, à falência.

 

Como em termos de Comunidade Européia o controle sobre tudo é grande, o parlamento europeu proibiu que o governo colocasse mais dinheiro no “buraco sem fundo”. Com isso, a dívida foi ficando maior, mesmos com os baixos juros dos países civilizados.

 

Em termos de infraestrutura, Nurburgring fica no meio do nada. As cidades mais próximas ficam cerca de 70 Km distantes e não são nenhuma metrópole. Nos arredores, só vilarejos e pequenas cidades que não tem como gerar retorno para um investimento do porte que foi feito: erraram feio!

 

Mesmo com toda a dívida – estimada em 1 bilhão e 100 mil reais – mais de 100 candidatos apareceram para comprar Nurburgring. A operação do complexo do autódromo gera um lucro de aproximadamente R$ 170 milhões, que hoje não pode ser totalmente aproveitado por causa da dívida, dadas as penhoras e amortizações. Contudo, com um lucro anual destes, temos mostras que um autódromo pode ser um bom investimento.

 

A venda é inevitável, os riscos também, mas uma gestão austera pode ser a salvação do futuro do GP da Alemanha, que já teve 60 edições e que corre o risco de ficar sem palco por conta das também dificuldades financeiras enfrentadas por Hockenheim.

 

Pelo nosso lado, o edital para a reforma do Autódromo de Interlagos foi lançado. A obra está orçada em aproximadamente R$ 160 milhões (ou seja, vai custar o dobro e corre o risco de ficar uma porcaria como a ‘chicane do milhão’).

 

O projeto prevê a criação de uma nova área de boxes, que terá 40 boxes, na antiga Reta Oposta. E não serão ‘simples boxes’: serão três andares ao longo de todo o setor, com um mezanino destinado às estruturas técnicas das equipes, camarotes ‘super VIPs’ e uma nova torre de controle, bem como o espaço para o pódio e um novo Centro de Imprensa.

 

A obra deve fazer com que a curva do lago e do Sol sofram alterações e também está previsto o recapeamento da pista. Se os envolvidos na obra forem minimamente inteligentes, a mesma pode abrir a possibilidade de se recuperar a viabilidade do traçado antigo do circuito e o seu anel externo, transformando Interlagos em um verdadeiro complexo automobilístico. Se terão visão para isso...

 

Quem não viu nada foi o pobre Paul Allen, operador de câmera da FOM, que estava de costas quando o pneu traseiro direito do carro de Mark Webber saiu desgovernado pelo pit lane. Quem viu saiu da frente, mas o pobre câmera acabou atingido. Allen sofreu uma concusão cerebral e diversas fraturas.

 

O ocorrido gerou reações imediatas da FIA e algumas medidas que estavam previstas para entrar em vigor no ano que vem, já estarão em prática no GP da Hungria. A redução do limite de velocidade no trecho dos boxes passará de 100 km/h para 80 km/h (exceto em Melbourne, Mônaco e Singapura, onde o limite é de 60 km/h), podendo ser alterado pelos fiscais na sequência de uma recomendação do delegado de segurança da FIA.

 

Entre os profissionais de cada escuderia, passa a ser obrigatório o uso de capacetes para todos aqueles que lidam diretamente com o carro. Os mesmos devem se recolher para o interior dos boxes imediatamente assim que os trabalhos estiverem concluídos. Esta já provocou queixas de gente como Niki Lauda, que pendurou o capacete faz tempo.

 

Pior foi para o pessoal da imprensa: somente fiscais de pista e membros das equipes poderão circular pelo pit lane durante as sessões de classificação e as corridas. Desta forma, o acesso para a mídia credenciada ficará restrito ao pit wall. O ‘chefe’ vai “adorar” essa.

 

A última fica por conta da revelação dos dados dos contratos de Ayrton Senna e Nelson Piquet com a Lotus em 1987 e 1988. Além dos pagamentos estarem sendo feitos via um paraíso fiscal (uma mancha na imaculada imagem de ‘são’ Ayrton), revelou os valores dos contratos. Tricampeão do mundo, Piquet foi para a Lotus ganhando o triplo do que era pago a Senna.

 

Mas divertida mesmo foi a esdrúxula comparação que um jornalista fez ao mostrar um trecho do contrato onde Piquet era o nº1 da equipe e Nakajima era o nº2 (depois de ter acertado isso ‘só de boca’ com Frank Williams, o brasileiro não cometeria o mesmo erro). Daí a comparar isso com o veto de Senna à contratação de Derek Warwick em 1986... e ainda faltam 16 dias até a próxima corrida...

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva