Na ponta do lápis. Print
Written by Administrator   
Wednesday, 12 March 2014 22:43

Caros amigos, em décadas assistindo corridas de automóveis de diversas categorias, ouvi diversas vezes os narradores falando a expressão “na ponta dos dedos”, para a condução dos pilotos nas voltas ou nas curvas finais de uma corrida. Acredito que o amigo leitor também já ouviu esta expressão.

 

Na noite desta quinta-feira, quando a minha coluna já estiver publicada no site dos Nobres do Grid e no site Carros e Corridas, do nosso amigo e parceiro cearense, Roberio Lessa, o campeonato mundial de Fórmula 1 de 2014 estará oficialmente começando, com os primeiros treinos no circuito de Albert Park, em Melbourne, Austrália.

 

Durante os três períodos de testes pré temporada (um período de 4 dias em Jerez de la Frontera, na Espanha e outros dois – igualmente de 4 dias – no Bahrein), onde pudemos acompanhar com imagens, fotos, notícias e comentários dos próprios pilotos, os desempenhos dos carros que irão para pista neste final de semana.

 

Inicialmente, a maioria de nós deve estar pensando que os carros equipados com motores Mercedes irão largar com vantagem, devido ao comportamento dos carros não apenas da própria equipe, mas também das que receberão seus motores (Williams, McLaren e Force Índia – esta última já devidamente apelidada de “KBR”). Afinal, durante os 12 dias de pista, eles não só mostraram força, mas também resistência, com os pilotos andando rápido em determinados momentos e fazendo verdadeiras provas de resistência em outros momentos.

 

Diversas “simulações de corrida” foram feitas e em alguns casos, no final do dia eram expostos em todos os noticiários pelo mundo a excelente performance – e neste “pacote” podemos incluir a Ferrari – com enormes quantidades de voltas percorridas.

 

Tudo muito bom, tudo muito bem (exceto para quem está usando motores da Renault, claro), mas em nenhum noticiário, site, blog ou coluna de qualquer “especialista” no assunto, eu vi um questionamento que fosse sobre a “matemática” que pode vir a ser o fator crucial e decisivo nesta corrida de estreia e, talvez, o ponto crítico ao longo da temporada: o consumo de combustível!

 

O tanque de combustível dos carros de 2014 encolheu... e muito! Agora eles não terão condições de receber mais do que 100 Kg de combustível, o que – com a densidade do mesmo – para ser transformado em litros, que é algo mais comum para nós, chegará a algo em torno de 133 litros... e com os carros sendo quase 50 Kg mais pesados e tendo que percorrer as mesmas distâncias do ano passado!

 

O novo sistema híbrido de recuperação de energia, agora chamado ERS, terá capacidade de atuar durante 34 segundos por volta, muito mais do que o sistema anterior permitia, contudo, durante os testes, com todas as voltas  dadas e as “simulações de corrida”, em nenhum momento foi comentado se os carros completaram mais de 300 Km sem ter que parar para reabastecer. No caso da corrida de Melbourne, 307,574 Km... e tem que deixar alguns litros para coleta e análise.

 

Esta “conta” que ninguém comentou abertamente, e que quando foram perguntados, tanto pilotos quanto projetistas, engenheiros e chefes de equipe foram, no mínimo, evasivos ao responder, contudo, sem negar que haverá necessidade de se “economizar combustível” para completar a prova, poderá ser mais importante do que a real capacidade de gerar potência das “unidades de força” que equiparão os carros.

 

Assim, nas narrações deste ano, os locutores podem perfeitamente trocar o “na ponta dos dedos” por um “na ponta do lápis”!

 

Enquanto isso, no balcão do cafezinho...

 

O carrancudo do Ron Dennis voltou “com a corda toda” à linha de frente na batalha que é a gestão do automobilismo e nas últimas semanas andou atirando com munição pesada contra tudo e contra todos. Parece mesmo que os anos em que teve que amargar um “distanciamento estratégico” por conta do desgaste provocado no caso da espionagem da Ferrari só fizeram mal ao poderoso cartola da casa de Woking.

 

Ele já declarou ser totalmente contrário à criação do teto orçamentário na F1, afirmando que além de não ser hora para uma mudança desta monta, especialmente por conta da troca dos motores V8 pelos V6 Turbo, e tudo que veio atrelado a esta mudança, o chefão da equipe inglesa acredita que poderá haver “falhas no monitoramento” deste controle (em outras palavras, artifícios para burlá-lo).

 

Na visão de Ron Dennis, a criação de uma série de regulamentações para a parte fiscal da F1 vai gerar um conjunto de normas de grande complexidade e que irá ignorar o desenvolvimento dos carros. Além disso – no melhor estilo Ron Dennis – ele foi direto “na canela” dos donos das equipes com menos recursos, “Se você não tem recursos para fazer parte da F1, procure outra categoria, são várias opções no mundo do automobilismo”!

 

Mas não foi só as “pobrezinhas” que tiveram que “assimilar a canelada” do Ron Dennis. Ele também “abriu fogo” contra a Red Bull, outra equipe que não concorda com a criação do tal teto orçamentário, mas que nem por isso vai ser uma “parceira”, pelo contrário.

 

Depois dos testes de Jerez de la Frontera e do Bahrein, o ‘pitaqueiro’ de Woking afirmou que o péssimo desempenho pela equipe austríaca durante os testes não é fruto apenas do problemático motor Renault turbo – tanto que eles tem sido bem ‘suaves’ nas declarações sobre os propulsores – mas também de erros na concepção do carro que será usado nesta temporada, o RB10. Algo que a equipe constatou logo de cara.

 

Mas não é só a vida do pessoal da Red Bull que anda complicada. Os “herdeiros da coroa” tupiniquim tem passado por dificuldades neste ano de 2014. Nelsinho Piquet não conseguiu fechar com nenhuma equipe que ele considerasse “interessante” para fazer sua segunda temporada na Nationwide, nos Estados Unidos. A ideia parece ser correr algumas etapas, tentar mostrar serviço e, juntar dinheiro para correr no ano que vem.

 

Enquanto isso, com um custo menor e num “retorno às origens”, sua presença mais constante voltará a ser as pistas europeias, com a entrada na equipe de Antônio Hermann, ao lado de Cacá Bueno, na Blancpain Sprint Series, ao volante de uma BMW Z4, que no ano passado sofreu com os critérios de equalização.

 

O ‘primeiro sobrinho’, Bruno Senna, que no ano passado teve um desempenho bastante irregular no Mundial de Endurance no ano passado, sendo trocado de um carro da GTPRO para um da GTAM entre as etapas, acabou não mostrando interesse em continuar na equipe, que contratou Fernando Rees. O contrato que Bruno assinou até o presente momento foi como comentarista da TV inglesa na transmissão da Fórmula 1... e não para toda a temporada.

 

Por fim, ainda não se sabe o que fará Pietro Fittipaldi em 2014. Depois de deixar de lado o seu projeto de carreira para chegar à Sprint Cup, na NASCAR (um erro, no meu ponto de vista), indo para a Inglaterra correr de Fórmula Renault e Fórmula 4. No seu ano de estreia com monopostos, com os quais nunca tinha corrido, Pietro até saiu-se bem, chegando a vencer uma corrida. Contudo, todo o planejamento da carreira na Europa está montada na parceria financeira com a Telmex, de Carlos Slim, dona da Claro e da Embratel. Estamos em março e nada se falou, até o momento, sobre a continuidade ou não deste projeto.

 

Quem definiu sua vida mesmo foi Felipe Nasr. Depois de garantir a vaga como piloto de testes da Williams, Felipe assinou por mais uma temporada para disputar a GP2 com a equipe Carlin. Apostando na força na tradição da equipe e nas novas regras em relação aos pneus, o brasileiro acha que pode sair-se melhor do que no ano passado, quando terminou o campeonato na 4ª posição.

 

Neste último final de semana, quando finalmente passei a ter acesso ao canal Fox Sports 2 pela minha operadora de TV por assinatura, comecei a acompanhar as corridas da NASCAR, onde sou fã confesso do Jimmy Johnson (gosto de gente séria e competente). Contudo, quando tive a atenção chamada pelo meu primo, o Maurício, que também escreve aqui no site para as regras de como serão definidos os pilotos do ‘Chase’ este ano eu não acreditei?

 

“Esse regulamento parece que foi feito pela CBA”, ele disse. Afinal, as interpretações, as possibilidades, os “se ocorrer tal coisa” são tantos que me levam a crer que não adianta mudar a nacionalidade ou o idioma: dirigente é tudo igual! Foi quase como trocar um campeonato de pontos corridos por uma decisão de “mata-mata”, se formos comparar com o futebol.

 

O que não me deixou nem um pouco surpreso foi a mais nova confusão protagonizada pela nossa (nossa?) Confederação Brasileira de Automobilismo. Numa série de comunicados emitidos, desmentidos, remendados e constrangedores para qualquer um que leve o automobilismo a sério, e nisso eu incluo a VICAR, promotora de quatro categorias no país e que trata o automobilismo com uma visão empresarial – algo 100% necessário nos dias de hoje.

 

As idas e vindas do caso que ainda corre no STJD, do protesto do piloto Marcos Cozzi sobre a punição ao então colega de equipe, Gabriel Casagrande, na última etapa do Campeonato Brasileiro de Turismo, o que deu a Felipe Fraga o título de 2013. Foram tantos comunicados, proclamações, reclamações, notas de esclarecimento nos últimos 10 dias, incluindo o revelação de que uma sessão de um órgão do STJD, tida como ocorrida simplesmente não aconteceu que só dos deixa a impressão que ser claro, conciso e objetivo é algo ou muito difícil de ser feito ou muito desinteressante.

 

E neste final de semana o calendário brasileiro de competições brasileiras terá sua abertura em Caruaru, agreste pernambucano, com a realização da primeira etapa da Fórmula Truck, a exclusiva!

 

Como novidade, uma segunda mulher estará no grid, a nossa querida Michelle “Ai Jesus”, musa da nossa redação. Michelle de Jesus, que destacou-se no campeonato paulista de marcas e pilotos em 2010 e que nos anos seguintes andou correndo na Mercedes Challenge e na Cola Mitsubishi realizou seu primeiro teste em novembro passado, em Curitiba e, a princípio, deve correr toda a temporada.

 

Quem parece estar sob risco é o autódromo de Caruaru. Visivelmente mal cuidado, como pudemos constatar no final do ano passado, durante a realização da Copa Norte Nordeste de marcas e pilotos, encerrada precocemente quando um carro pegou fogo na área de escape e “incendiou o autódromo”, este pode se transformar, após a realização da etapa, no espaço da famosa feira de comércio e artesanato da cidade, que há anos vem carecendo de mais espaço. Seria algo mais a lamentarmos, caso venha a ocorrer. Seria um autódromo a menos no país, mas como os promotores de categoria e a “mídia especializada” ignoram solenemente não apenas Caruaru, mas também Eusébio, no Ceara, caso isso aconteça pode nem ser digno de nota.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva