O começo do fim ou o renascer da Fênix? Print
Written by Administrator   
Wednesday, 07 May 2014 20:35

Caros amigos, depois da minha “cobrança” na semana passada (até parece), a justiça alemã finalmente começou o julgamento de Bernie Ecclestone pelo caso do suborno na venda das ações envolvendo a CVC, o banco BayernLB e seu banqueiro – Gerhard Gribkowsky – que já está cumprindo pena de 8 anos de cadeia.

 

O Bom Velhinho foi pessoalmente ao tribunal de Munique, mas só manifestou-se para informar que as perguntas feitas pelo juiz responsável pelo caso seriam respondidas por meio de seus advogados. Por meio de um comunicado em alemão, lido por sua defesa durante a sessão, o britânico de 83 anos agradeceu pela oportunidade de contar sua versão da história. 


Para Bernie Ecclestone e seus advogados, o tal “suborno presumido” nunca aconteceu. A acusação, feita com base em declarações, do banqueiro Gerhard Gribkowsky seriam falsas, confusas e pouco conclusivas. É com esta estratégia que o bom velhinho pretende se safar de mais um confronto com a justiça. Lembremo-nos, em fevereiro deste ano ele já teve que enfrentar um tribunal na Inglaterra... e conseguiu sair da saia justa (e do uniforme listrado).

 

Contudo, a situação e as questões que envolvem o processo na Alemanha são bem mais complexas e diferentes das alegações usadas na Inglaterra onde transação teria “atrapalhado negócios” e “reduzido lucros”. O que está sendo julgado em Munique é justamente a transação em si.

 

Apesar das alegações iniciais muito bem pautadas por seus advogados – que devem custar uma fortuna – Bernie Ecclestone e seus defensores ainda não conseguiu convencer o investigador Martin Bauer de que foi chantageado pelo banqueiro alemão Gerhard Gribkowsky. Diante da corte de Munique nesta sexta-feira, Bauer declarou que as alegações do chefão da F1 são “muito vagas”.

 

Duas sessões já aconteceram, nos dias 24 de abril e no dia 2 de maio. A próxima será no dia 9 de maio e a coisa vai longe. O julgamento tem previsão de ir até o mês de setembro, com uma pausa em agosto – período das férias do judiciário.

 

Apesar da aparente serenidade e autoconfiança que sempre demonstrou, o Chefão da F1 está incomodado com as coisas que estão aparecendo em torno de sua vida pessoal, não apenas os meandros financeiros que desenvolveu para tornar praticamente inviolável o segredo que rodeia as suas organizações, a FOM e FOWC.

 

Uma das revelações do julgamento que causou mais sensação foi a de que a ex-mulher de Ecclestone, a croata Slavica Radic, lhe tem transferido cerca de 70 milhões de euros por ano desde que se divorciaram em Março de 2009. Sabendo-se que Slavica – uma ex-modelo de relativo sucesso, mas nada perto de uma Gisele Bundchen – não tem fortuna própria e que Ecclestone é multi-milionário, esta revelação surpreendeu os inocentes, como diz aquela propaganda da televisão. A explicação para tais operações parecem bem evidentes e – definitivamente - não serve os interesses do Bom Velhinho no atual momento.

 

O dinheiro que a sua ex-mulher tem transferido para a sua conta é, simplesmente, o que o The Bambino Trust recebe anualmente dos lucros gerados pela Formula One World Championship Ltd, a empresa que detém os direitos comerciais da Fórmula 1. Aquele fundo, estabelecido em favor de Slavica e das duas filhas do casal, Tamara e Petra, detém 12,5% do capital da FOWC Ltd e recebe dividendos anuais a partir dos lucros gerados.

 

Como em média os direitos comerciais da Fórmula 1 rendem anualmente 1,2 bilhões de euros e metade desse dinheiro vai para as equipes, os pouco mais de 70 milhões de Euros que Ecclestone tem recebido da sua ex-mulher correspondem ao montante que o The Bambino Trust tem recebido anualmente e estão longe ser uma pensão de alimentos milionária – trata-se apenas de fazer regressar a Ecclestone o dinheiro que gerou ao longo de cada ano pelo seu trabalho à frente da enorme organização que dirige, evitando, uma vez mais, pagar impostos elevados.

 

O problema desta revelação, do ponto de vista de Ecclestone, é que volta a deixar bem claro que é ele quem controla o The Bambino Trust, fato que negou por repetidas vezes em tribunal na Inglaterra, pois caso seja provada essa ligação terá de pagar impostos milionários no seu pais, algo que o patrão da Fórmula 1 quer evitar a todo o custo.

 

Caso seja condenado, o Bom Velhinho pode pegar até 10 anos de prisão! Será que ele fica bem de listras?

 

Piadas à parte, o próprio Bernie, no final do ano passado, deu uma entrevista ao jornal inglês ‘The Mirror’ onde, sem admitir a possibilidade de uma condenação ou de estar preocupado com isso, que estaria na hora de pensar em se aposentar (numa dessas ele vem pescar no Mato Grosso junto com o Colin Chapman, não é mesmo?).

 

Aos 83 anos (faz 84 em 28 de outubro), ele negou que o processo de suborno que enfrenta na Alemanha não tem qualquer relação com suas reflexões sobre a aposentadoria. “O importante é saber quando você tem que pendurar suas luvas para você não acabar entrando no ringue e ser nocauteado”.

 

Dizer o que vai acontecer neste processo até a sua conclusão seria um exercício de adivinhação. A condenação parece inevitável, mas em se tratando de Bernie Ecclestone, tudo pode acontecer... e o Bom Velhinho renascer das cinzas, como a mitológica Fênix.

 

Enquanto isso, no balcão do cafezinho...

 

Assunto que temos discutido há algumas semanas, o controle orçamentário na Fórmula 1 volta a ser assunto no paddock no GP da Espanha (que uma autoridade local, por conta das rivalidades divisionistas dentro do território espanhol, quer que seja chamado de GP de Barcelona – para não chamar de GP da Catalunha).

 

Depois de ver os planos de implantação de um teto orçamentário ir para o vinagre – via “Grupo de Estratégia” – e dos protestos vindos das equipes menores, com uma carta que foi parar no parlamento europeu, Jean Todt e a FIA tentarão remediar o estrago, ouvindo os signatários da tal carta e buscando soluções nas sugestões da Sauber, Caterham, Marussia e KBR, ainda tentando uma solução para 2015.

 

A União Europeia já avisou que iria começar a monitorar as ações econômicas na F1 e o jornal inglês 'The Times' afirmou que o envolvimento da entidade na situação – algo que nenhuma equipe deseja – fez com que Jean Todt e as equipes (as grandes, inclusive) buscassem uma saída rápida para a crise de relacionamento que vem sendo instalada.

 

Um dos problemas que o processo enfrente é o tempo. Na verdade, a falta dele. Neste caso a Fórmula 1 estaria correndo contra o relógio, tendo até o final de junho para alterar o regulamento da temporada 2015. Para que isto aconteça, é necessário que a maioria dos times esteja de acordo com a mudança proposta... e ainda levando em conta o poder de veto da Ferrari. Depois de vencido este prazo, as coisas se complicam, uma vez que as alterações só poderão entrar em vigor se houver unanimidade entre as equipes.

 

A situação de Jean Todt não é nada confortável. Afinal, a FIA não poder para “forçar” uma redução de custos na F1, embora esse seja o desejo do ‘tampinha roedor de unhas’. Em recente declaração, Jean Todt afirmou que a influência da federação sobre os gastos é “mais ou menos zero”.

 

Na verdade, isto é um exagero e uma artimanha política por parte do francês, uma vez que na criação do “Grupo de Estratégia”, a FIA detém um terço dos votos, cabendo uma outra terça parte à FOM – leia-se Bernie Ecclestone – e o outro terço à seis equipes: Ferrari, McLaren, Williams, Mercedes, Red Bull e ‘Nega Genii’.

 

Qualquer dirigente com o mínimo de bom senso no circo tem consciência de que a F1 está cara demais, e de que algo precisa ser feito. Por isso a incompreensão por parte do presidente da FIA na recusa das outras partes votantes, em especial as equipes, não aprovar as alterações que levariam ao estabelecimento de custos menores já para a próxima temporada.

 

Tean Todt não é, pessoalmente, partidário da ideia de se estabelecer um teto orçamentário para a categoria. Acha que esta iniciativa tem que partir das equipes, mas – surpreendentemente – apesar da maioria achar que é necessário se conter os custos, as equipes votantes no “Grupo de Estratégia” votaram contra, mesmo com algumas como a Williams e a ‘Nega Genii’ estando longe de gozar de uma boa situação financeira. Com isso, a alternativa (ou falta dela) vai ser usar do regulamento para impor a redução nos custos.

 

É provável que um novo pacote de propostas venha a ser apresentado durante este final de semana de ‘início da temporada europeia’ da categoria. Diga-se de passagem, o que não faltam são expectativas – e esperanças – para esta 5ª etapa e para as seguintes, em grande parte fundamentada nas evoluções que os carros deverão apresentar para tentar se aproximar das Mercedes.

 

A McLaren, que até deu esperanças de uma recuperação em relação à péssima temporada de 2013 e que começou bem, com um pódio, foi ficando pra trás, mas acredita que conseguirá recuperar o terreno perdido, depois de fracas atuações nas últimas três provas. O pacote de medidas daequipe de Woking inclui uma reestruturação técnica e novos nomes para o setor de aerodinâmica.

 

De acordo com a revista inglesa 'Autosport', parte desse processo de reorganização do time está na contratação do engenheiro Tony Salter, da Sauber, e de Guillaume Cattelani, da Lotus. Ambos terão a missão de preparar todo o setor aerodinâmico antes da chegada de Peter Prodromou, ex-braço direito de Adrian Newey na Red Bull. Contudo, quem prestou atenção – e não precisou muita – percebeu que a equipe está sem um patrocinador de porte desde a saída da Vodafone.

 

A equipe não quer esperar a chegada da Honda para voltar a ocupar uma posição de destaque no mundial de construtores e recuperar o espaço perdido na categoria. A mudança de fornecedor tem gerado uma situação que foi alertada pela atual fornecedora de motores da equipe com relação ao que vai acontecer em 2015.

 

A equipe inglesa tem acesso as informações dos motores alemães e nada impede que estes dados cheguem até o Japão e ajude a Honda no desenvolvimento dos seus propulsores, que são um grande diferencial este ano. O conceito do motor Mercedes é muito diferente, mas os demais fornecedores não devem estar dormindo, buscando diminuir esta diferença o mais rápido possível.

 

Quem não fez lá muita diferença nesta “primeira parte do campeonato” foi o Kimi ‘tomotodas’, contratado para ser uma incomoda sombra ao principado lamuriante de Fernando Alonso. Até o presente momento, em nenhuma das corridas disputadas, o finlandês deixou a equipe no ponto de passar qualquer possível ordem de rádio, codificada ou não.

 

Em todo caso, a Casa de Maranello mostrou-se feliz com o pódio conquistado na China, considerando ter havido um avanço em relação aos concorrentes. Contudo, o que se viu ainda émuito pouco para uma equipe que tem um orçamento estratosférico – e que não quer reduzi-lo – um super piloto como o espanhol e que não ganha um título desde 2007. A corrida de Barcelona será uma prova de fogo. Se as evoluções do carro funcionarem, ótimo. Caso contrário... haja lamúrias!

 

Quem também espera desmanchar o beiçinho é o tetra campeão ‘Darth Vettel’. Depois de ter que ouvir no rádio a ordem para deixar o ‘Ricardão Pegador’ passar, o alemãozinho, outrora soberano no reino dos touros vermelhos, vai receber um chassi novinho em folha para a corrida de Montmello.

 

Dos carros que usamos motores Renault, a Red Bull é – disparadamente – a que melhor tem andado e chegou mesmo a fazer tempos surpreendentes nos treinos, bem diferente do que foi visto na pré-temporada. Contudo, o desafio de ir atrás dos carros prateados ainda parece algo quase inatingível para este ano. Ou seria possível o Adrian Newey tirar um elefante da cartola?

 

Mas tem uma outra pergunta que anda me intrigando... o que é que o Ross Brawn estava fazendo “a passeio” em Maranello?

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva



 
Last Updated ( Wednesday, 07 May 2014 20:51 )