Sim ao talento, não ao sonolento! Print
Written by Administrator   
Wednesday, 27 May 2015 21:34

Caros amigos, todos que assistem corridas de automóveis, seja lá desde quando começaram a fazer isso, sempre tiveram na imagem do piloto audacioso, arrojado, impetuoso um atrativo, um fascínio, um respeito. Acredito que neste ponto deve haver uma enorme concordância.

 

No último domingo, tivemos dois exemplos de pilotos que mostraram este ímpeto, este arrojo tão admirado e elogiado por quem gosta das corridas e que deveria ser também aplaudido, incentivado e copiado por aqueles que FAZEM as corridas... sejam os dirigentes, os promotores, os chefes de equipe e os próprios pilotos!

 

O que faz dos admiradores das corridas não esquecerem de um piloto como Gilles Villeneuve até hoje, mesmo sem ele ter sido campeão do mundo? O canadense que imortalizou-se correndo pela Ferrari era sempre capaz de protagonizar cenas de fazer os presentes nos autódromos e os telespectadores ao redor do mundo prender o fôlego e vibrar com sua audácia.

 

Contudo, cenas como a épica batalha de Dijon Prenois, travada entre Gilles Villeneuve e René Arnoux estão se tornando, na visão de dirigentes, comissários desportivos e mesmo pilotos da principal categoria do automobilismo mundial algo proibido, irresponsável, passivo de punição.

 

Foi com muito pesar que li as críticas feitas pelos nossos dois pilotos na Fórmula 1, Felipe Massa e Felipe Nasr, sobre o acidente envolvendo o piloto-adolescente Max Verstappen e o piloto franco-suiço Romain Grosjean, que vale lembrar tem um longo histórico de acidentes causados por ele em corridas na categoria.

 

Consegui acesso a um vídeo, enviado por um dos leitores do site onde mostra a diferença de traçado, freada e contorno da curva Saint Devote por parte do jovem piloto quando ele conseguiu, magistralmente, ultrapassar o piloto do outro carro preto (ao qual recuso-me a chamar de Lotus), Pastor Maldonado e como foi a manobra para fazer o mesmo com Romain Grosjean (veja aqui).

 

Pouco depois do primeiro minuto, é possível ver em sequência as duas manobras pela câmera do carro do piloto holandês. É visível que Romain Grosjean antecipa a freada e muda, levemente sua trajetória normal para tomada da curva, evitando assim dar espaço para que Max Verstappen conseguisse colocar o carro entre o seu e o guard rail.

 

É muito arriscado dizer que foi uma manobra com dolo no sentido de criar condições para que um acidente acontecesse. Nenhum piloto é louco de querer provocar um acidente há mais de 200 Km/h num circuito onde não há área de escape e as consequências de uma batida pode ser muito mais sérias do que seria como em um outro episódio, há 25 anos atrás, onde um piloto bateu no outro, intencionalmente, há mais de 200 Km/h.

 

Que críticas pode se fazer a um piloto de corridas que quer melhorar sua posição na corrida, tentando uma ultrapassagem num ponto aonde ele já havia conseguido fazer a manobra com sucesso? É proibido tentar? Se errar vai ser punido para a corrida seguinte? Então é melhor nem tentar... quem sabe, até nem correr!

 

Depois as pessoas que fazem a Fórmula 1 vem a público dizendo que estão preocupadas com a queda da audiência na televisão, com a falta de interesse do público mais jovem e que pretendem mudar a categoria para que a mesma se torne mais atraente. Estão mesmo? Até agora só ouço e leio falarem sobre medidas que gerarão ainda mais custos e que podem estar condenando a Fórmula 1 a ter mais equipes fechando as portas.

 

Quem sabe seja melhor extinguir a Fórmula 1 e promover a GP2 com seus carros bem mais baratos e orçamentos menores  para ser a principal categoria da FIA. O que se viu no último final de semana foi os carros da categoria de acesso sendo mais rápidos que alguns carros da categoria principal... e não apenas os da Manor, que é um absurdo vê-los se arrastar na pista apenas para completar o grid.

 

Enquanto isso, do outro lado do oceano atlântico, algumas horas depois, tivemos um grande espetáculo em Indianápolis... e, felizmente, sem “acidentes voadores” que tanto provocaram temor em toda a mídia do esporte a motor.

 

Assim como em Mônaco, um piloto foi além no quesito arrojo, ímpeto, espetáculo: aos 39 anos, Juan Pablo Montoya colocou até roda na grama enquanto perseguia a liderança da prova nas voltas finais, fazendo o público levantar (se é que havia alguém sentado naquele momento) nas imensas arquibancadas do mítico oval (veja aqui).

 

Isto lembrou-me de um sonolento GP da Inglaterra em Silverstone onde, depois da corrida, com as equipes desmontando seus equipamentos, todos pararam para ver uma espetacular disputa entre Emerson Fittipaldi e Nigel Mansell no GP de Cleveland, numa pista em um aeroporto, pela Fórmula Indy em 1993.

 

O arrojo, desde que não inconsequente, precisa ser aplaudido e não proibido ou punido. Aemoção é a essência do espetáculo!

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva