As diferenças entre Sepang e Interlagos. Print
Written by Administrator   
Wednesday, 30 December 2015 20:05

Caros Amigos, há cerca de dois meses escrevi sobre Interlagos e sua reforma, com direito a uma laje projetada para um convidativo “churrasco de gato”, destes que vendem nas esquinas e entradas de estádio de futebol, onde a temática foi a questão da reforma, sua necessidade, a pouca (ou nenhuma) eficiência de quem “tocou a obra” e o tempo que levou para deixarem aquilo tudo incompleto.

 

Nesta semana, a notícia que diz respeito a autódromos que mais me chamou a atenção foi o fato de que o moderno Autódromo Internacional de Sepang, na Malásia, que sedia as etapas da Fórmula 1 e da MotoGP, vai fechar entre 15 de fevereiro e 8 de maio de 2016 para obras de manutenção e recapeamento do traçado, com um claro e explícito objetivo: manter o ‘rating’ “FIA-1”, para competições chanceladas pela FIA e o ‘rating’ “FIM-A”, da Federação Internacional de Motociclismo.

 

Considerada como uma das melhores pistas do mundo, o traçado não sofrerá alterações, apenas trabalhos de melhoria. Quem vai sofrer mudanças são algumas áreas de escape, “agulhas” para atendimento de carros de socorro, reboque e segurança, além de melhoria nos espaços destinados ao público.

 

Segundo o diretor-executivo da pista, Dato Razlan Razali, nos últimos cinco anos o ‘Sepang International Circuit’ tem tido uma média ocupação com eventos (desde grandes acontecimentos como a Fórmula 1 e a MotoGP, a eventos locais, regionais da Ásia e mesmo eventos privados)de 98% de sua disponibilidade ao longo do ano. E é bom lembrar que eles, assim como nós, no Brasil, pagam para a Fórmula 1 correr por lá... e pagam uma fatura mais alta que a nossa, uma vez que somos considerados “tradicionais” (sabe-se lá até quando) para a FOM.

 

Mas o que podemos tirar como lições do que está acontecendo em Sepang, na Malásia, com o que aconteceu em 2015 (e que invadirá metade de 2016) em Interlagos?

 

Primeiro, a postura da administração do autódromo que em comunicado declarou lamentar causar desapontamentos e inconveniências por conta do fechamento do circuito, e agradeceu todos os que utilizam a pista pela compreensão, em um tom de subserviência e reconhecimento da importância do que é o ‘Sepang International Circuit’ para o país.

 

Como qualquer instalação esportiva, seja ela um ginásio, um estádio ou um circuito, a manutenção é uma prioridade e no caso de um circuito, não apenas o recapeamento, mas principalmente o trabalho de evolução, seja dos aspectos de infraestrutura, atendimento ao público e principalmente nas atualizações dos padrões de segurança são necessários para manter a disponibilidade contínua de uma pista de grande qualidade na Malásia.

 

Tal padrão de abordagem, diálogo, transparência e humildade são aspectos que passam longe da gestão dos pseudotecnocratas, ancorados nos seus cabides, como é o caso de todas as empresas de gestão pública, em qualquer esfera administrativa. Isso sem falar na enorme ineficiência em definir e cumprir prazos, entregar obras e manter as mesmas dentro dos valores orçados ou com um mínimo de variação.

 

Segundo, que ao contrário do que se vê por aqui no Brasil, na Malásia e em outros países, há uma parceria estreita entre os promotores locais de um mega evento internacional como são os casos da MotoGP e da Fórmula 1 para haver uma contrapartida compensatória a fim de manter com que o promotor continue interessado em realizar o evento e todos os lados ganhem dinheiro (A FOM com seus contratos, o Promotor local com o evento, e o país e a região de Sepang com a movimentação no comércio e turismo locais).

 

Terceiro que, o circuito malaio não é um “setentão cheio de botox e cabeleira acaju” como é o caso de Interlagos, hoje mutilado em seu espetacular projeto original e que carece de uma gestão que tenha os olhos voltados para frente (e andorinha solitária que lá havia era quase sempre voz solitária, foi abatida com uma canetada), para fazer as atualizações necessárias de forma preventiva e não corretiva. Que veja o circuito como uma fonte de desenvolvimento e consiga “ocupá-lo com 98% do seu calendário disponível”, em um país que certamente tem um potencial de desenvolvimento do esporte a motor maior que o da Malásia.

 

E quarto, que aqueles que usam de forma subsidiada as dependências de um autódromo com padrão FIA-1 tenham a consciência de que eles tem que trabalhar para que este autódromo onde eles vão “se confraternizar”, se “divertir”, deveriam lembrar-se que tal oportunidade só existe porque ainda ocorrem eventos rentáveis que geram receita para a sua manutenção (ou sobrevivência, se preferirem). Duvido que aconteçam por lá certas coisas que recebo relatos de ocorrerem por aqui.

 

Não bastasse toda esta diferença de visão, o potencial candidato do partido político favorito dos paulistas e paulistanos, um empresário de posições e excelência administrativa relativamente questionáveis bradou aos quatro ventos que, caso eleito, venderá o Pacaembu, o Anhembi e Interlagos...

 

Mas (na cabeça de alguns) Interlagos não é um “parque”? Estes deveriam então tentar logo uma permuta no projeto de campanha do candidato e ver se ele vende o Ibirapuera...

 

Um feliz 2016 a todos e até a próxima,

 

Fernando Paiva 

 

Last Updated ( Wednesday, 30 December 2015 22:36 )