As incertezas na F3 brasileira Print
Written by Administrator   
Wednesday, 28 September 2016 23:39

Caros Amigos, Neste último final de semana acompanhei com extrema apreensão mais um fato negativo no nosso automobilismo, tão cambaleante, tão sofrido e que há bem pouco tempo, acenou com uma esperança, mas que está se mostrando mais um desvirtuamento dos caminhos que deveriam ser traçados – e seguidos.

 

Foi com grande felicidade que nós, do Site dos Nobres do Grid, fomos brindados com um furo de reportagem no final de 2013, quando o Presidente da CBA em pessoa, Sr. Cleyton Pinteiro, nos revelou os planos para termos em 2014 a Fórmula 3 mais barata do mundo, com uma temporada da categoria light saindo por menos de 200 mil reais (na época) e a normal por no máximo 450 mil reais.

 

Era um feito e tanto e a resposta foi imediata, com os carros saindo das garagens, pilotos entrando para as equipes e naquele primeiro ano, tendo grids de até 17 carros. Era um passo firme em direção ao sucesso, mesmo com alguns protestos que ouvimos pelos boxes em algumas etapas em que enviamos integrantes para os autódromos com relação à supremacia de Pedro Piquet.

 

Na última etapa do campeonato deste ano, em Londrina, foi entristecedor ver apenas sete carros alinhando para a corrida, apenas dois anos depois de um início tão promissor. É impossível não se perguntar: o que deu errado? E a resposta não é tão simples, envolvendo diversos fatores, alguns deles fora do controle dos pilotos, chefes e donos de equipe, da VICAR, da mídia e também da CBA.

 

O primeiro fator é financeiro e externo: o carro tem boa parte de seus componentes importados e no início de 2014 o dólar estava abaixo de dois reais, reduzindo os custos de importação e permitindo que a categoria se tornasse realmente mais barata, com a limitação – teórica – de equipamento, de treinos, pneus, etc. Só que a moeda norte americana dobrou de valor e isso fez o custo explodir, implodindo os planos dos aspirantes à categoria que, em vista do custo no Brasil ter ficado equivalente ao de algumas categorias iniciantes no exterior.

 

O segundo fator diz respeito a custos, mas envolve as pessoas: quando se buscou fazer uma categoria por um “custo mínimo”, não foi estabelecido um “custo máximo”. Nisso, os pilotos que contavam com mais recursos, a exemplo de Pedro Piquet, tinha mais peças, mais recursos e com isso, mais vantagem em relação aos adversários. Nestas horas, as ideias de teto de gastos que o ex-presidente da FIA, Max Mosley, tanto brigou e que acabou por desgastar sua relação com o amigo e presidente da FOM, Bernie Ecclestone, poderiam – na verdade deveriam – ter sido usadas, estabelecendo um limite, com uma faixa estreita entre o piso e o teto para minimizar as diferenças técnicas.

 

O terceiro fator é técnico: É conhecido que os carros utilizados pela Fórmula 3 no Brasil é um modelo defasado em relação aos campeonatos de Fórmula 3 que são disputados em outros lugares do mundo e até mesmo em relação aos Fórmula 4, carros mais modernos. Alternativas existem, como o Fórmula 3 que Jonathan Palmer fez na Inglaterra e que injetou um novo ânimo numa categoria que estava tecnicamente morta. Seria possível fazer isso no Brasil? Certamente! A Fórmula Inter está aí e com um projetista como José Minelli, seria possível se fazer um carro bom, eficiente e barato com a finalidade de ser uma categoria de formação, como é o propósito da Fórmula 3, propósito este cujo o objetivo pode ser questionado diante do conjunto de fatores exposto.

 

Assim, passados praticamente três anos, voltamos a ter a situação que vivíamos no final da temporada de 2013: a principal categoria de monopostos do continente (ao menos deveria ser, mas pode acabar perdendo este ‘status’ para a Fórmula 4 sulamericana) está esvaziada, com um grid pequeno e com perspectivas indefinidas para a temporada de 2017.

 

Aos dirigentes da CBA e aos promotores da VICAR, a palavra... nós e os jovens pilotos que estão deixando o kart merecem uma resposta.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva