O brasileiro gosta de automobilismo? Print
Written by Administrator   
Wednesday, 02 November 2016 20:21

Caros amigos, nestes dois últimos finais de semana (propriamente no domingo) tivemos a não transmissão dos GPs dos Estados Unidos e México por parte da rede de televisão detentora dos direitos comerciais da categoria em seu canal de TV aberta, legando a transmissão a um de seus canais por assinatura.

 

Tal fato já havia ocorrido no ano passado e, quando não havia o GP mexicano, a transmissão da corrida no Circuito das Américas também se dava da mesma forma, sob a alegação de que não haveria como transmitir dois eventos esportivos no mesmo horário no mesmo canal e a direção optava pelo que trazia maior audiência para os parceiros comerciais. No caso, a transmissão de um jogo do campeonato brasileiro de futebol.

 

Apesar dos protestos dos fãs de Fórmula 1 (uma minoria, na verdade), como argumentar contra fatos concretos? A Fórmula 1, transmitida normalmente nas manhãs de domingo, vem tendo uma oscilação de audiência entre 7 e 8 pontos na medição feita por processos que são aceitos por todas as emissoras e que eu tenho, confesso, uma grande curiosidade em entender mais sobre como ela é feita.

 

No domingo, 23 de outubro, enquanto Lewis Hamilton arrancava para sua quinquagésima vitória nos Estados Unidos, tinha início no Maracanã o jogo Flamengo x Corinthians, transmitido para todo o país pela referida rede de televisão – em sinal aberto – ao passo que a corrida era transmitida no canal por assinatura.

 

O grande “clássico nacional”, com os dois clubes de maior torcida no país, atingiu uma audiência de 23 pontos. Superando todos os seus adversários nas outras emissoras de TV aberta e também aquela que seria a “atração do gênero” no canal: um programa de auditório com música, variedades e presença de atores da emissora como convidados, que detém uma média de 16 pontos de audiência.

 

No domingo, 30 de outubro, entretanto, não havia rodada do futebol no campeonato brasileiro em virtude do segundo turno das eleições municipais. O horário das 17:00 horas estaria sem um evento esportivo e, consequentemente, haveria a possibilidade de termos o GP do México transmitido pelo canal aberto da emissora de TV detentora dos direitos. Contudo, a mesma optou por transmitir o seu programa de auditório ao invés da corrida no autódromo Hermanos Rodrigues, relegando uma vez mais a transmissão da corrida ao canal por assinatura.

 

A medição da audiência da tarde daquele domingo mostrou que a emissora que optou por não transmitir a corrida teve uma audiência oscilando em torno de 16 pontos, enquanto seus concorrentes oscilaram entre 11 e 14 pontos. Ou seja, comercialmente falando, a emissora detentora dos direitos de transmissão da Fórmula 1 no Brasil tomou a decisão correta.

 

Fosse dez, nove ou oito anos atrás, quando a audiência da Fórmula 1 nesta rede de televisão oscilava em torno de 16 pontos nas manhãs de domingo, quando tínhamos Felipe Massa conquistando vitórias e disputando o título mundial, quem sabe a emissora tivesse coragem de colocar a transmissão da corrida no canal de sinal aberto, mas sem um brasileiro na disputa, faria isso? A resposta é não!

 

Pouco se fala, mas em 1979, a referida emissora abriu mão dos direitos de transmissão devido à baixa audiência, depois dos anos de Emerson Fittipaldi conseguindo pontos esporádicos com o carro da equipe nacional, que foi para outra emissora 1980, retornando no ano seguinte graças ao vice-campeonato de Nelson Piquet.

 

Pior do que a frase que foi atribuída ao presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, de que “o brasileiro não gosta de automobilismo”, talvez seja admitir que o brasileiro gosta é de ver brasileiro vencendo, seja lá no que for, em termos de esporte. Se assim não o for, esquece. Ninguém vai assistir.

 

Se nem a nível de competições nacionais, onde o público encolheu em pelo menos 30% (eu tenho fotos das arquibancadas) entre 2012 e 2016, independente das assessorias de imprensa de das categorias que vendem entradas insistam em divulgar números que as imagens desmentem.

 

Acho que a pergunta: o brasileiro gosta de automobilismo? Talvez tenha uma resposta que nós, que trabalhamos com ele não gostemos da resposta.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva