O risco da ribanceira Print
Written by Administrator   
Wednesday, 01 March 2017 23:22

Caros Amigos, após um carnaval onde longe dos sambódromos, passarelas e camarotes nos badalados eventos de algumas capitais do país, outro circo – o da Fórmula 1 – voltou a colocar seus blocos na rua. No caso, no circuito de Montmeló, próximo a Barcelona. Contudo, tenho certeza que este assunto será muito bem abordado por outros integrantes do site e em peso pela mídia especializada nestes dias de folias de Momo.

 

Diferente do que poderia ser diante deste retorno às atividades de pista, somados os desafios de ser a primeira temporada em mais de 40 sem a tutela de Bernie Ecclestone e a primeira sob o comando do triunvirato da Grupo Liberty Media, o meu foco está mais concentrado no ambiente interno do automobilismo nacional e nos desafios de uma conturbada relação interna e externa envolvendo a direção da Fórmula Truck, as equipes privadas e a Confederação Brasileira de Automobilismo.

 

Durante duas semanas fiz uma investigação profunda, colhendo informações de todos os lados e cruzando-as para que fosse possível ter a melhor ideia deste lamentável cenário que a categoria mais popular do Brasil de algum tempo atrás chegou e – temerosamente – pode vir a enfrentar no ano de 2017 por uma série de fatores, internos e externos, capazes de, no melhor cenário dar a base do renascimento que a Fórmula Truck tanto precisa, ou no pior, levar a cabo uma categoria com 20 anos de história.

 

Assumir erros é algo mais que necessário em um momento como este e, assumidos estes erros, é preciso energia e determinação para corrigi-los. Desde a precoce morte de Aurélio Batista Felix, um gênio do marketing e do empreendedorismo, criador de um fenômeno de público e imagem como a Fórmula Truck, a categoria ficou nas mãos de sua esposa e dos filhos. A história do Brasil é farta em exemplos de negócios familiares que ruíram algum tempo depois por falta de habilidade por parte dos herdeiros, mas haver a falta de pagamento a diversos profissionais que trabalharam por anos ou por algum tempo, conflitos como os ocorridos com alguns patrocinadores, em certos casos frontais e nada éticos ou com as autoridades de um evento com ameaça de agressão física é algo da qual nunca tive notícia em duas décadas acompanhando esta categoria.

 

O resultado da deterioração das relações comerciais e institucionais da Fórmula Truck levaram o negócio a uma situação financeira delicada, ao ponto dos autódromos estarem cobrando a quitação de dívidas e o pagamento adiantado por parte da categoria em algumas das praças anunciadas como sendo integrantes do calendário de 2017 para que a categoria possa se deslocar, instalar sua infraestrutura e realizar a etapa, além de um “racha” entre a administração da categoria, que detinha boa parte dos caminhões do grid até o início da temporada passada e as equipes particulares, incomodadas com a perda de qualidade, de público e alegadas condições de trabalho para continuar fazendo parte do espetáculo.

 

Todas as categorias nacionais precisam, por legislação, ter um contrato de responsabilidade de execução com o órgão gestor do automobilismo nacional, no caso a CBA. Neste contrato é assinado um contrato e é pago um valor à CBA para a realização do campeonato. É um procedimento que acontece em todos os países e não adianta a oposição derrotada nas últimas eleições e seus defensores, parceiros e interessados comercialmente dizer que é diferente, que seria diferente, porque não seria. Afinal, os apoiadores do candidato de oposição são presidentes de federações que há décadas se perpetuam em seus estados e onde a estrutura do automobilismo continua estagnada por todo este tempo.

 

A direção da Fórmula Truck tinha até o final de dezembro para renovar seu contrato com a CBA. Não o fez! As duas partes, quando indagadas, acusavam a outra de não estar retornando ligações, deixando de comparecer a reuniões e só no dia em que pudermos colocar as duas partes frente a frente, a Sra. Neusa Felix (que me recuso a chamar pelo sobrenome com o qual ela se apresenta e exijo o mesmo de todos que escrevem no site) e o Presidente Waldner Bernardo de Oliveira, darei razão a uma das partes. Isso não aconteceu.

 

Passados 30 dias, a CBA distribuiu uma nota à imprensa (mal escrita) informando que estava abrindo a possibilidade para empresas interessadas em promover e organizar a “Fórmula Truck” em 2017. Erraram feio! A marca “Fórmula Truck” pertence à Racing Truck, empresa que tem Neusa Felix e seus filhos como proprietários. A resposta veio em nota distribuída pelo excelente jornalista, Milton Alves, onde a direção da categoria frisou os direitos assegurados por registro sobre a marca e manifestou ainda estar lidando com a questão de filiação da categoria, uma vez que o calendário de etapas distribuído a equipes e à imprensa uma semana onde informava a realização de etapas na Argentina e no Uruguai, descaracterizando a categoria como “brasileira” e caracterizando-a como “continental”.

 

Acontece que a política é... política e a CBA é um dos principais pilares da Codasur. Assim ao buscar o órgão sulamericano, a direção da Fórmula Truck esbarrou na necessidade de anuência da CBA e a “concorrência aberta” para a organização de um campeonato com caminhões veio a ter dois grupos postulantes a realizá-lo: A Fórmula Truck e um outro grupo, ao qual estariam associadas as equipes privadas, dentro do prazo limite do dia 03 de fevereiro. Passadas duas semanas, no dia 16 de fevereiro, era anunciado que a Fórmula Truck, de Neusa Felix e família iria promover o campeonato de 2017, com um contrato de organização de um ano, a poder ser renovado por mais três, dando para o promotor o exíguo prazo de um mês até a abertura do campeonato para reunir um numero decente de competidores para a etapa do Velopark, marcada para o dia 19 de março (daqui há 17 dias) não ser um fiasco. Alguns pilotos já anunciaram participação em outras categorias, caso de Raijan Mascarello, que correrá o Mercedes Challenge e David Muffato, que correrá na Porsche GT3 Cup. Djalma Fogaça informou que sua equipe não irá alinhar no campeonato e a equipe Volkswagen havia dispensado todo o seu quadro antes do carnaval. É evidente que diante das definições tardias, não há como viabilizar presença na pista sob o ponto de vista comercial e a insistência em manter a abertura para o autódromo gaúcho a mim parece mais um capricho do que uma atitude sensata.

 

Vai ser um ano muito difícil e todos que vivem o automobilismo tem que buscar uma forma de ajudar a fazer a Fórmula Truck sobreviver este momento difícil e conseguir reverter esta situação na qual se meteu. A CBA e seu novo presidente tem o dever de buscar dar o máximo de meios, até com uma redução, uma amortização ou mesmo a isenção desse valor contratual para 2017 (afinal, os mais de três milhões em caixa falados em campanha devem servir para algo pelo e para o automobilismo), mas a Sra. Neusa Felix precisa mudar a forma como a categoria veio sendo conduzida nos últimos anos, sob o risco de não termos uma temporada de 2018 ou pior: a de 2017 não chegar ao fim, rolando uma ribanceira sem freios.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva