Asas da liberdade Print
Written by Administrator   
Wednesday, 17 May 2017 21:03

Caros amigos, na coluna da semana passada eu mencionei algumas grandes empresas, no Brasil e no mundo que foram verdadeiras gigantes em seus respectivos seguimentos, mas que – por não perceberem as mudanças do mercado nos quais atuavam – acabaram encerrando suas atividades, em alguns casos de forma melancólica.

 

Para o empreendedor, o empresário, aquele que vê uma oportunidade e consegue encontrar um nicho de mercado ou um diferencial e determinado seguimento, alavancando sua empresa a um platamar bem acima do que estava é, definitivamente, um empresário ou empreendedor de sucesso. Contudo, aquele momento de alavancagem, de diferenciação, vai durar quanto tempo? O mundo a sua volta vai se adaptar, elevar seu padrão e tornar-se competitivo. O que fazer então?

 

Estes processos dentro do mundo atual são cada vez mais rápidos e precisam ser cada vez mais eficientes. Quando Bernie Ecclestone assumiu a Fórmula 1 ele desencadeou este processo, transformando aquele agrupamento de construtores de carros em seus galpões e garagens em um negócio bilionário, assistido pela televisão por todos os continentes, gerando negócios globalizados, envolvendo governos, empresários de diversos seguimentos e corporações.

 

Acontece que há alguns anos o grande “toque de Midas” daquele que comandou a Fórmula 1 por quatro décadas mostrava sinais de que estava “perdendo a magia”, algo possível de ser visto nas ações gerenciais, nas respostas de mercado e no avanço de outros seguimentos sobre um dado público alvo onde o esvaio de interesse vinha aumentando ano a ano e as novas medidas não estavam surtindo efeito, basicamente por tratar-se de mais do mesmo ou de tentar copiar modelos utilizados, porém “adaptados à visão de gestão” que já não vinha dando os mesmo resultados.

 

Era evidente o crescimento de uma distância entre aquele público – objetivo fim de todo espetáculo apresentado – com o espetáculo em si e seus donos. Corroborando com este problema de abordagem, havia ainda a descaracterização do esporte como disputa. Os julgamentos e punições que estavam acontecendo estavam servindo não como regulamentação, mas como fator de intimidação aos pilotos que evitavam os confrontos que pudessem vir a puni-los.

 

Tento imaginar, por exemplo, como teria sido julgado o episódio da disputa entre René Arnoux e Gilles Villeneuve no Grande Prêmio de Dijon Prenois, que pode ser encontrado facilmente na internet. Foram diversos toques de roda e carenagem, ultrapassagem dos limites da pista que, provavelmente, renderiam aos dois uma bandeira preta ou uma punição de perda de 10 posições para a corrida seguinte, pelo menos.

 

Nas últimas corridas temos visto ações mais “racionais”, com punições sendo dadas apenas aos casos de descumprimento de regras bem determinadas e não sujeitas a “interpretações”, como a passagem por linhas que seriam limites ou a ultrapassagem dos limites da pista com evidente ganho de vantagem. Eventos como o ocorrido na largada, onde houve o toque entre Valttery Bottas e Kimi Raikkonen e este atingiu Max Verstappen, que há bem pouco tempo poderia ter sido passível de punição por “causar colisão”.

 

Outro momento crucial, o toque de rodas entre Sebastian Vettel e Lewis Hamilton na curva em seguida à reta dos boxes logo após a segunda parada para troca de pneus do líder do campeonato e, até então, líder da corrida. Caso fosse tomada uma medida punitiva a qualquer um dos dois pilotos, o anticlímax se estabeleceria como em tantos momentos recentes vimos acontecer.

 

Evidentemente que a nova empresa de gestão da Fórmula 1, o Grupo Liberty Media, não tem poder – oficial – de ingerência sobre a FIA e seus comissários, mas não duvido que alguma conversa tenham acontecido entre as partes para que os critérios neste sentido não comprometessem nem a segurança e muito menos o espetáculo. Coincidência ou não, deu certo.

 

Mas é impossível não afirmar que o momento de maior emoção do GP da Espanha foi o protagonizado pelo menino francês de apenas 6 anos de idade e – segundo os pais – ferrarista desde o berço, literalmente, flagrado aos prantos quando viu das arquibancadas Kimi Raikkonen abandonar a corrida. Atento, o diretor de imagens continuou monitorando o pequeno(?) torcedor e o colocou nas telas por todo o planeta, comemorando a ultrapassagem de Sebastian Vettel sobre Valttery Bottas.

 

As pessoas que hoje trabalham para o Grupo Liberty Media foram rápidos e, apesar de Chase Carey negar ter dado alguma ordem – e se o tivesse feito, não seria demérito, pelo contrário – articularam com a Ferrari uma ação imediata de reconhecimento, estímulo e – por que não dizer – marketing que “viralizou” e talvez venha a ser a grande imagem da temporada.

 

Buscaram o jovem Thomas Danel e seus pais na arquibancada, levaram-no para o HC da Ferrari, entregaram credenciais VIP para eles e foram buscar Kimi Raikkonen que não aparece nestes lugares em hipótese alguma e transmitiram o encontro para o mundo inteiro, tirando as câmeras da pista. Fotos, um boné autografado, dezenas de entrevistas e um dia para nunca mais esquecer. É assim que se conquista jovens torcedores, ao contrário do que Bernie Ecclestone um dia declarou que os jovens não tinham dinheiro para consumir os produtos – normalmente caros – da Fórmula 1 e que os torcedores mais velhos e com dinheiro faziam isso. Ou seja, tal ação jamais teria acontecido sob o comando dele!

 

Que os novos ares deem cada vez mais asas à liberdade.. é preciso voar mais alto.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva