O paradigma de Woking Print
Written by Administrator   
Thursday, 22 June 2017 00:04

Caros Amigos, etimologicamente, a palavra “paradigma” deriva do grego (paradeigma), que significa modelo ou padrão, correspondendo a algo que vai servir de modelo ou exemplo a ser seguido em determinada situação. São as normas orientadoras de um grupo que estabelecem limites e que determinam como um indivíduo deve agir dentro desses limites.

 

O termo surgiu inicialmente em Linguística na teoria do signo linguístico criada por Ferdinand de Saussure, na qual relacionava o signo ao conjunto de elementos que constituem a língua. Em termos modernos, Thomas Samuel Kuhn (1922-1996), físico e filósofo da ciência, no seu livro “A Estrutura das Revoluções Científicas”, paradigma é um princípio, teoria ou conhecimento originado da pesquisa em um campo científico. Uma referência inicial que servirá de modelo para novas pesquisas.

 

A crescente onde de “conversas” apontando para um encerramento de parceria na Fórmula 1 entre a McLaren e a Honda tem mais implicações e consequências do que um simples “divórcio”, seja ele litigioso ou amigável. Contudo, é evidente que a aposta em um “revival” dos anos dourados do final da década de 80 tornou-se um pesadelo de proporções enormes.

 

A F1 mudou muito em 30 anos e o que era complexo, hoje é simples. Os atuais motores da categoria são chamadas de “unidades motrizes”, onde três sistemas se fundem para “empurrar” o carro: O motor a combustão, que tem uma limitação de consumo de combustível, e dois motores elétricos cinéticos (a MGU-K) e um outro que aproveita a energia gerada pelo turbocompressor do V6 (a MGU-H).

 

Outra coisa que difere muito é que os testes de pista desapareceram, não se pode mais testar quando quer, obrigando o desenvolvimento dos modelos em bancadas de teste – extremamente complexas e precisas – que reproduzem condições de pista, mas que os “puristas” vão dizer que “não é a mesma coisa”... e talvez não seja mesmo. Erros já foram cometidos por Ferrari e Renault na concepção de suas unidades motrizes, mas a Honda vem “errando a tempo demais”.  

 

Os japoneses não são de aceitar o fracasso. Culturalmente é algo por demais humilhante e eles não tem medido esforços para mudar a situação que estão vivendo, especialmente depois das não consumadas expectativas da pré-temporada. A Honda vem tentando fazer em meses o que não fez em 3 anos, mas o diretor do programa, Yusuke Hasegawa, relatou que um dos problemas descobertos, recentemente, é a diferença entre os dados obtidos nos ensaios da unidade motriz no banco de provas na sede da Honda, em Sakura, no Japão, e os revelados pelos sensores quando a unidade é instalada no chassi. O “mistério” é descobrir o porquê disso estar acontecendo.

 

A “sociedade” entre McLaren e Honda envolve muito mais do que glórias do passado, sonhos (frustrados) futuros. Envolve uma montanha de dinheiro! Uma grande parte do orçamento anual da McLaren desde 2015, quando a parceria com a Honda foi retomada, é fruto dos 70 milhões de euros que os japoneses investem no projeto McLaren-Honda. Além disso, a equipe inglesa não precisa pagar pelas unidades motrizes, o que custaria cerca de 20 milhões de euros se fossem ser usados motores de outro construtor. Ou seja, 90 milhões de euros/ano.

 

A Formula One Management (FOM) distribui as cotas de dinheiro para as escuderias também em função da sua classificação entre os construtores. O campeão recebe cerca de US$ 100 milhões e o último, US$ 40 milhões. Desde que passou a ser parceira da Honda, a McLaren passou a ocupar a parte de baixo da tabela no mundial de construtores e este ano, é a única equipe que não marcou pontos e isso traz um outro problema: patrocinadores... ou a falta deles!

 

A McLaren não tem um patrocinador principal desde a saída da Vodafone, no fim de 2013. Nestes últimos anos, a equipe tem estampado marcas de outros patrocinadores, como as marcas de bebidas Moet & Chandon, francesa, e Johnnie Walker, escocesa, a rede de TV a cabo CNN, norte-americana, e os relógios suíços Richard Mille. Mas nenhum com o volume de 45 milhões de euros que a companhia telefônica.

 

A conta, caso a Honda deixe a parceria passaria por uma obrigatoriamente volta às primeiras posições, a conquista de mais prêmios e necessariamente um patrocinador de peso como a equipe já teve nos tempos da indústrias tabagistas. Para isso, Zak Brown, um homem de negócios, um bem sucedido e premiado, jovem (45 anos) e respeitado tem um trunfo que ele tem feito de tudo para manter à mão: Fernando Alonso!

 

Se a McLaren quer mudar o cenário que está vivendo nos últimos três anos, o “pacote vencedor” passa, necessariamente, por ter um piloto capaz de fazer a equipe voltar a vencer e quem melhor senão o melhor piloto do Grid? Mas para isso, é preciso manter Fernando Alonso motivado a continuar lutando por seu terceiro título na Fórmula 1 e ainda pensar em “novos desafios”, como o vivido este ano nas 500 Milhas de Indianápolis.

 

É aí que, além de ver este “divórcio” como algo que pode não acontecer, desde que os japoneses operem um milagre e transformem a água em vinho com as próximas atualizações de sua unidade motriz, prometida para... breve, a relação entre McLaren e Honda pode ser um “acordo de cavalheiros”, com os planos de médio prazo da equipe inglesa se estabelecer nos EUA para uma disputa da Fórmula Indy, um litígio com os japoneses pode fechar uma porta importante na categoria norte americana.

 

Nunca é tarde relembrar que, quando a Honda voltou para a F1 nos anos 80 (eles participaram nos anos 60 e conquistaram uma vitória), a opção foi por uma equipe pequena, a Spirit. Só depois de uma temporada eles foram para a Williams. Quem sabe “dar um passo atrás” e isso seria a concretização de um acordo com a Sauber, possa tirar a pressão dos ombros dos japoneses e deixá-los trabalhar sob uma menor quantidade de holofotes. Nos anos 90, a Peugeot foi parceira da McLaren depois da saída da Honda e a falta de resultados, somada ao excesso de críticas, afastou os franceses com mágoas. No sentido contrário, a Mercedes (a futura fornecedora de motores?) iria assumir o risco de ver uma outra equipe ser campeã com seus motores? Se alguém no grid tem potencial para isso, esta é a McLaren.

 

Caso o divórcio seja mesmo inevitável, um outro fator tem que ser levado em conta e a decisão tem que ser rápida. O projeto do ano que vem não pode demorar a começar e para isso é preciso definir a unidade motriz de 2018 o quanto antes para que o engenheiro-chefe do projeto, Peter Prodromou, ter em mãos as características da mesma para trabalhar os parâmetros do conjunto aerodinâmico, da distribuição de pesos e dimensionamento das entradas de ar, que dependem crucialmente desses dados.

 

A McLaren corre contra os fracassos, as desculpas, as pressões e o tempo. Novidades podem surgir neste final de semana do GP do Azerbaijão.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva