O risco do curto-circuito Print
Written by Administrator   
Wednesday, 16 August 2017 22:38

Caros Amigos, No mundo corporativo, as pessoas que nele operam – usando uma terminologia nacional, sejam elas físicas e/ou jurídicas – sempre estão sujeitos a pressões das mais diversas naturezas e o lidar com isso é um ato quase tão natural quanto respirar.

 

As negociações em todo setor que se venha as ser analisado sempre terá no seu componente econômico um fator de extrema consideração, mesmo em casos que – nominalmente – as importâncias pareçam pequenas, mas ao considerarmos o volume de negócios envolvido as cifras podem atingir números consideráveis.

 

Este está sendo um dos temores que tem cercado os participantes da novíssima (afinal são apenas três temporadas) Fórmula E, com o anúncio da entrada – oficial – das gigantes alemãs, Mercedes Benz, BMW e Porsche (A Audi apenas “mudou de status”, quando anunciou que estaria passando a ter outro papel dentro da, originariamente, equipe Abt): uma corrida financeira atrelado ao desenvolvimento tecnológico voltado para o mercado consumidor de automóveis – que passará por um imenso (sem trocadilhos) choque nos próximos anos – e o conseqüente encarecimento da categoria

 

Acredito que boa parte dos meus estimados leitores estejam pensando que isso é “choro de perdedor” das montadoras que já estão lá presentes, como é o caso das francesas Renault e Citroen, bem como da inglesa Jaguar. Mas até que ponto iria o volume destas “lágrimas” é uma pergunta interessante e com direito a várias respostas e um enorme desafio para o promotor da categoria e para a Federação Internacional de Automobilismo para impedir que a Fórmula E se torne uma nova Fórmula 1, em tratando-se de custos.

 

O regulamento técnico da Fórmula E tem aspectos bem peculiares e possui restrições para algumas áreas nas quais as equipes são permitidas a desenvolver aspectos tecnológicos por conta própria. O trem de força é algo que os times podem desenvolver, mas o conjunto de baterias, atualmente fornecidas pela Williams, são as de “primeira geração” e a partir do próximo ano serão substituídas por uma nova geração de baterias, produzida pela McLaren. Tanto uma como outra são padronizadas para todos e esta padronização está garantida até o final da temporada 2020/2021.

 

Depois disso, para a temporada 2021/2022, são só incertezas e pressões que já começaram a surgir para liberar o desenvolvimento – não apenas das baterias, bem como de todo o carro – e aumentar os orçamentos envolvidos. A concepção e aerodinâmica, por exemplo, é extremamente restrita e certamente, assim como a área do trem de força e das baterias, esta também será alvo de pressões para que os times possam desenvolver novos conceitos. Ou seja, um desencadeamento de uma escalada de valores para os orçamentos que pode inviabilizar as operações de algumas das equipes atuais.

 

Os temores tem fundamento quando vemos equipes como a Mercedes Benz, Ferrari e Red Bull gastarem por ano mais de 300 milhões de dólares na Fórmula 1 e uma elevação brusca nos orçamentos vai de encontro do que hoje – além da tecnologia elétrica – atrai o maior interesse de todos os potenciais investidores e parceiros estimulados por esta proposta de inovação. Aceitar este desafio e convencer os que hoje fazem a categoria para juntos lutarem contra a explosão dos orçamentos é vital para se manter um grid equilibrado, para que a Fórmula E continue seu processo de crescimento.

 

Uma categoria nova como é a Fórmula E ainda tem um longo trabalho de consolidação e é hoje – em termos de marketing – a melhor categoria de competição sob a supervisão técnica e legal da FIA. Como qualquer produto de mercado que está fazendo sucesso, haver uma elevação de custos, aumento de investimentos e o envolvimento de grandes corporações vai gerar um interesse ou um conjunto de interesses que possa vir elevar estes custos além do racional como é o caso da Fórmula 1 e isso pode vir “provocar um curto-circuito” na categoria.

 

Um abraço e até a próxima,

 

Fernando Paiva