Quando a conta precisa fechar Print
Written by Administrator   
Wednesday, 13 September 2017 21:15

Caros Amigos, quem vem acompanhando os números da economia brasileira e tem um mínimo de conhecimento das forças que movem o mercado mobiliário está vendo esta sucessão de quebra de recordes do fechamento do índice Bovespa com dois sentimentos: “é preciso aproveitar o momento” e “tem muito mais além de otimismo nessa conta”.

Os fatores econômicos que regem o mercado atuam tanto no Brasil como fora dele de maneira igual, salvo as intervenções que os governos fazem quando não há total independência. O caso é que no mercado mundial a maioria das empresas e negócios não tem interferência governamental por via direta, ficando assim exposta a todo tipo de ação, movimento ou interferência de acomodação entre os encaixes macro e microeconômicos, que podem causar de pequenos “desconfortos” a grandes “terremotos”.

O meio do automobilismo obedece estas regras de forma bastante simples: se falta dinheiro circulante no mercado, competidores escasseiam, equipes fecham ou reduzem suas atividades, potenciais patrocinadores reduzem seus investimentos, campeonatos perdem força e isso toma o “efeito bola de neve”, com um ciclo negativo que pode encerrar uma atividade.

Quando esta sequência de problemas começa a acontecer, é preciso que haja um “choque de mercado” para que este movimento seja estancado e posteriormente revertido. É isso que o Grupo Liberty Media está buscando como parte vital do seu projeto de modernização da Fórmula 1. Chase Carey e seus executivos (além de todos que acompanham a categoria) certamente viram o que por pouco não aconteceu no final da temporada de 2014 quando algumas equipes por pouco não alinharam seus carros para o GP dos EUA dadas as dificuldades financeiras que passavam.

Ainda hoje há um abismo considerável entre as equipes com mais recursos financeiros e as demais. Antes, as coisas ficavam sujeiras as “esmolas” dadas por Bernie Ecclestone, que “salvava do afogamento” as equipes quando a água lhes tocava o queixo. Tentativas de fazer um abrupto corte e a imposição de um teto orçamentário foi discutido várias vezes, mas não como o Grupo Liberty Media está propondo agora.

Os executivos do grupo sabem que uma categoria mais equilibrada aumentaria a competitividade e, consequentemente, tornaria a disputa nas pistas mais atrativa para o público. Uma das formas é tentar diminuir a diferença dos carros das grandes equipes para as menores, que possuem menos investimentos pode ser obtido em alguns anos com a implantação de um discutido e acordado teto orçamentário anual para as escuderias.

De acordo com o jornal alemão “Sports Bild” as conversas neste sentido já estariam em andamento e o projeto seria para implementar o teto em 2021, junto com o novo “Pacto da Concórdia”, a ser assinado em 2020. O valor inicial em questão é de 150 milhões de dólares (metade do que gastam hoje as grandes equipes), com um montante de 50 milhões voltados para investimento em marketing e na contratação, formação e pagamento dos pilotos.

O impacto direto desta redução no orçamento das maiores equipes seria a imediata diminuição de emprego nos quadros das mesmas. Contudo, com um orçamento mais factível, algumas equipes da Fórmula 2 poderiam – finalmente – dar um passo adiante e haver um aumento no grid da principal categoria do mundo.

Sem o dinheiro como combustível, o automobilismo não sobrevive. Um bom exemplo disso é a Fórmula 3.5 V8 World Series. Uma categoria que era tão forte tecnicamente quanto a GP2 (hoje Fórmula 2) passa por uma enorme dificuldade, com seu grid variando entre 10 e 12 carros. Nos Estados Unidos o campeonato da Fórmula Indy, que já teve grids de 28 carros largando há algum tempo, exceção feita às 500 Milhas de Indianápolis, tem sofrido para colocar 20 carros alinhados. Outra categoria que se viu esvaziada nos últimos anos foi o WTCC, com um grid de cerca de 15 carros e sem grandes estrelas entre montadoras.

Com a crise que abateu-se no Campeonato Mundial de Endurance, com a saída de três grandes montadoras, o meio do que vou chamar de “automobilismo convencional” parece estar sofrendo um ataque epilético, com a dispensa em massa de pilotos. Algo tão grave que uma vaga que surgiu na Schmidt Peterson, equipe média da Fórmula Indy atraiu 28 candidatos, entre eles alguns dos pilotos da equipe Porsche que é iminentemente campeã do WEC em 2017.

O caminho, como mencionei nesta coluna cerca de um mês atrás, aponta para a nova tecnologia e a inovadora visão de Alejandro Agag, que tem sido procurado pelas grandes montadoras alemãs para fazer parte do mundial de carros elétricos e já percebeu, junto com algumas montadoras – a Jaguar mais especificamente, ao menos por enquanto – estarão colocando na pista para a temporada 2018/2019 um carro de turismo, o I-Pace, com uma versão de competição e termos duas categorias correndo no evento: Fórmulas e Turismo, com o segundo podendo vir a cobrir a lacuna do Mundial de Carros de Turismo.

O mundo está se movendo rápido e rápidas precisam ser as decisões... mas não apenas rápidas, estas precisam ser acertadas. Não há margem para erros.

Um abraço e até a próxima,

Fernando Paiva